quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Os 30 melhores da década - A lista do Cinema com Pimenta


Bem, a luta foi grande. Minha intenção era conceber uma lista com 10 títulos. Depois aumentei pra vinte. No fim da contas, para não me sentir cometendo injustiças, acabei aumentando para 30 filmes. Essa é a minha lista com os melhores da década que termina (passou rápido, não?). Agora, podem atirar as pedras. Afinal, listas servem para isso mesmo. Abraços e um feliz 2010 para todos, cheio de realizações!


1) Cidade de Deus, de Fernando Meirelles (Brasil, 2002);

2) O Senhor dos Anéis – Trilogia, de Peter Jackson (EUA, 2001, 2002 e 2003);

3) O Pianista, de Romam Polanski (França/Alemanha/Reino Unido/Polônia, 2002);

4) Kill Bill Vols. 1 e 2, de Quentin Tarantino (EUA, 2003 e 2004);

5) Encontros e Desencontros, de Sofia Copolla (EUA, 2003);

6) Menina de Ouro, de Clint Eastwood (EUA, 2004);

7) O Labirinto do Fauno, de Guillermo Del Toro (Espanha/México, 2006);

8) A Viagem de Chihiro, de Hayo Miyazaki (Japão, 2001)

9) A Vida dos Outros, de Florian Henckel von Donnersmarck (Alemanha, 2006);

10) Amor à Flor da Pele, de Wong Kar-Wai (Hong-Kong, 2000);

11) Adeus, Lênin!, de Wolfgang Becker (Alemanha, 2003);

12) Ônibus 174, de José Padilha (Brasil, 2002);

13) O Escafandro e a Borboleta, de Julian Schnabel (França/EUA, 2007);

14) Os Infiltrados, de Martin Scorsese (EUA, 2006);

15) Wall-E, de Andrew Stanton (EUA, 2008);

16) Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, de Michel Gondry (EUA, 2004);

17) O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, de Jean-Pierre Jeunet (França, 2001);

18) Cassino Royale, de Martin Campbell (EUA/Reino Unido/Alemanha/Rep. Checa, 2006);

19) Apenas Uma Vez, de John Carney (Irlanda, 2006);

20) Pequena Miss Sunshine, de Jonathan Dayton e Valerie Faris (EUA, 2006).

21) Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen (Espanha/EUA, 2008);

22) Na Natureza Selvagem, de Sean Penn (EUA, 2007);

23) A Queda – As Últimas Horas de Hitler, de Oliver Hirschbiegel (Alemanha/Itália/Áustria, 2004);

24) Piaf – Um Hino Ao Amor, de Olivier Dahan (França/Inglaterra/República Checa, 2007);

25) Batman – O Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan (EUA, 2008);

26) Juno, de Jason Reitman (EUA, 2007);

27) Homem-Aranha 2, de Sam Raimi (EUA, 2004);

28) Gladiador, de Ridley Scott (EUA, 2000);

29) O Tigre e o Dragão, de Ang Lee (China/Hong-Kong/EUA/Taiwan, 2000);

30) Inimigos Públicos, de Michael Mann (EUA, 2009).

domingo, 27 de dezembro de 2009

Sempre ao Seu Lado



Bela história lacrimejante

Você quer assistir a um filme pra chorar em bicas? Pois então vá ao cinema conferir este “Sempre ao Seu Lado”. O filme é uma adaptação nos moldes americanos para uma emocionante história real japonesa, a do cão Hachiko. O canino da raça Akita acompanhava o seu dono, um professor, todos os dias à estação de trem de Shibuya, além de esperá-lo todos os dias no horário em que voltava. Depois da morte do professor, contudo, Hachiko continuou a realizar os mesmos hábitos diariamente, esperando o dono que nunca retornou. Tal fato começou a ganhar repercussão na imprensa e após a morte de Hachiko este tornou-se estátua na referida cidade, além de despertar uma verdadeira mania de criação de akitas no Japão, uma vez que a história se tornou uma verdadeira lenda no país. Só com esta breve sinopse, já dá pra imaginar que será difícil você conter as lágrimas durante a projeção.

Nesta versão hollywoodiana, o professor universitário é interpretado por Richard Gere, o qual encontra o pequeno Hachi na estação de trem da cidade. Em princípio, ele reluta em adotar o cãozinho, principalmente devido à resistência de sua esposa (Joan Allen), um tanto avessa à ideia de um cão em casa. Contudo, como diz o amigo de Parker Wilson, o japonês Ken (em um filme americano sempre há um japonês para explicar a cultura oriental), não foi ele que escolheu Hachi, mas Hachi que escolheu Parker para ser seu dono. Ele tem uma vida tranqüila e feliz até o infarto que o vitima quando dava uma aula na faculdade. Esta tranquilidade da vida de Parker poderia tornar “Sempre ao Seu Lado” uma banalidade, não fosse a direção segura e suave que caracterizam a obra de Lasse Hallström, cineasta sueco responsável por outras obras com o mesmo teor, podendo-se citar aqui como um exemplo próximo em sua filmografia o longa “Minha Vida de Cachorro” (filme que o projetou para o mercado internacional). É ele o responsável pelo longa não ganhar ares de “sessão da tarde”. Apesar da vida feliz de Parker, há uma certa tristeza presente em toda a narrativa, o que já prenuncia e faz o espectador, mesmo que desconheça a história de Hachiko, perceber que algo de ruim irá acontecer.

Hallström também utiliza recursos elegantes e mesmo inusitados para desenvolver a narrativa. A utilização da visão do cão em alguns momentos, com a paleta em cores muito reduzidas, quase em p&b (tal como os cientistas afirmam ser a visão dos cachorros), é interessante e não me lembro de ter visto essa ideia em algum outro filme sobre caninos. Da mesma forma, o uso de uma árvore para demonstrar a passagem do tempo é algo inteligente e clássico. O diretor parece saber, ademais, que não é necessário super-valorizar a trama com toques excessivamente melodramáticos. Ela já possui os ingredientes necessários para fazer o público chorar. Desta forma, temos uma trilha sonora adequada, com um certo tom de melancolia, mas que não procura guiar os sentimentos do espectador.

“Sempre ao Seu Lado” é um filme pequeno, sem grandes ambições, a não ser a de emocionar o espectador e este objetivo é plenamente alcançado sem que seja necessário um espetáculo melodramático. Talvez porque a obra fale de um amor incondicional, apego este incapaz de ser reproduzido por qualquer ser humano. Aqueles que possuem cães, obviamente, irão se emocionar em dobro. Durante a sessão, uma das espectadoras chorava aos soluços, provavelmente lembrando de algum cãozinho de estimação. Se está preparado para enxugar os olhos, o programa certo para você é, decididamente, “Sempre ao Seu Lado” (por sinal, o título em português é bem melhor que o original “Hachiko: a Dog’s Story”).

Cotação: * * * ½ (três estrelas e meia)
Nota: 8,0

sábado, 26 de dezembro de 2009

Fiasco em Show de Padre Fábio no Machadão


Pausa no cinema para uma crítica construtiva.

O Padre Fábio de Melo realizou um show lamentável, ontem, em Natal. Tinha tudo para ser uma apresentação histórica, tendo em vista que sua realização estava agendada justo para o dia do Natal, que coincide com o aniversário da cidade, além de comemorar os 100 anos da diocese local. Contudo, o que se viu foi um show de desorganização e segregação explícita promovida pelos responsáveis pelo evento. Só tinham acesso ao gramado alguns poucos privilegiados portadores de uma pulseira verde, obviamente ideia da equipe da prefeita Micarla de Souza, a qual deve ter promovido a distribuição de tais pulseiras entre seus parentes e apadrinhados. O povão ficou restrito às arquibancadas. Pra completar, o palco foi armado não ao centro do campo, como seria natural e como vinha se fazendo em shows realizados no Machadão. A estrutura foi erguida do lado oposto ao da arquibancada a qual o público tinha acesso. Resultado: o padre era visto como um ponto distante da multidão (a qual se resumiu a pouco mais de 10.000 pessoas, aquém do esperado), sendo sua figura bem visualizada apenas através dos telões. Pra completar, o principal elemento em um show, o som, também não estava a contento, não sendo possível ouvir com clareza as suas reflexões e mensagens. Um fiasco que levou muitos dos presentes a deixarem o estádio antes do fim da apresentação. Na saída, o que mais se ouvia eram comentários como “se é de ver assim, melhor ficar em casa e assistir pela TV”. Como cereja do bolo, houve tumulto após o término do show, já que apenas um dos portões estava aberto, sendo necessário a polícia militar agir para evitar problemas maiores, abrindo um outro portão.

Admiro o Padre Fábio pela sua oratória e estímulo a uma fé aliada à reflexão, diferente de muitos religiosos que estimulam uma fé ingênua. Suas músicas também costumam ser inspiradas e dentro desta linha reflexiva. No entanto, mesmo que, obviamente, ele não seja o responsável pela organização dos eventos, deveria ter cuidado de alertar os responsáveis para não promover autênticas segregações e distanciamentos das massas, em detrimento do conforto deferido a uma casta de privilegiados. Afinal, como sabe o padre mais do que ninguém, todos somos iguais perante os olhos de Deus e, ainda, como diz uma de suas canções: “todo homem é bom”. E é com respeito que merece ser tratado.

Em tempo: e foram R$ 221 mil gastos do dinheiro público para promover este festival de elitismo. Realmente, lamentável...

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Um Feliz Natal!


É, mais um ano se passou rapidamente. Quando me dei conta, já estava no fim do mês de dezembro, o qual sempre passa voando, naquele clima de festa inerente às maiores festividades do mundo ocidental. Como sempre, o número de posts cai bastante, afinal, tal como todos, sou envoldido por aquela correria característica destes dias. Mas não poderia deixar de desejar, neste espaço, um feliz Natal para todos. Pretendia escrever alguma resenha sobre um filme de teor natalino, tal como fiz ano passado com "A Felicidade Não Se Compra". Mas, nao deu. De qualquer forma, o que mais importa é que todos estejam imbuídos pelos espíritos de amor e solidariedade que foram a razão de ser do Homem cujo nascimento se comemora nesta data. Um abraço a todos! Deus está com vocês, dentro dos seus corações! E continuem acompanhando o blog! Até a próxima!

domingo, 20 de dezembro de 2009

Avatar


Será mesmo uma revolução?

Decididamente, este é um dos filmes mais aguardados de todos o tempos. Há aproximadamente dez anos, James Cameron, um dos cineastas mais bem sucedidos da história, o homem responsável pelo sucesso gigantesco e avassalador de “Titanic”, começou a levar a efeito a concepção de um longa-metragem que há muito tempo habitava sua mente. Segundo o próprio Cameron, desde sua infância, quando lia gibis de ação, super-heróis e ficção científica. O longo caminho percorrido deve-se a um fator de fácil compreensão, mas fundamental: Cameron teve que desenvolver a tecnologia necessária para rodar o seu projeto. O mundo que imaginara jamais seria crível e impactante com a tecnologia de 10 anos atrás. Assim, Cameron terminou por incorrer em um hiato enorme nas salas de cinema, com muita gente acreditando que isso se devia ao fato do diretor ter medo de encarar um novo lançamento após aquele fenômeno que foi o mencionado “Titanic”.

Mas esse termo, “medo”, não é algo que combina com James Cameron. Ele sempre foi ousado o suficiente para desafiar os estúdios, estourando seus orçamentos, mas sempre trazendo retornos espetaculares. Talvez seja por isso que ele não tenha tido muita dificuldade em encontrar quem bancasse este seu novo devaneio, o qual, segundo números divulgados recentemente, beiram a cifra de US$ 500 milhões (isso mesmo!). Não fosse conhecido o potencial brilhante deste cineasta, iríamos pensar que tudo isso iria resultar em um enorme constrangimento, um fracasso de proporções tão grandes quanto seu custo. Mas todos sabíamos do que Cameron é capaz. E este fato só ajudava a aumentar a expectativa. Segundo enormemente divulgado, uma revolução estava por vir nas telas cinema.

E eis que agora temos o resultado. E ele atende a tanta expectativa? Para responder a esta pergunta, faz-se necessário entender a concepção que o diretor tem de cinema e, também, aquela que você próprio, leitor(a), tem sobre a 7ª arte. Diretores como Cameron partem do pressuposto de que o cinema, antes de tudo, é a arte da imagem. Para este cineastas, a trama deve ser narrada, antes de tudo, pela forma imagética. Diálogos são necessários? Sim. Mas, antes de tudo, é necessário mostrar o que acontece. Não se deve confundir cinema com teatro. Eu mesmo me coaduno com esta forma de pensar, muito embora reconheça que existem ótimos filmes bastante verborrágicos (adoro Woody Allen e nos seus filmes o que não falta são diálogos enormes). Vale dizer que Cameron não está sozinho na sua concepção. Gênios absolutos como Alfred Hitchcock e Charles Chaplin (que durante muito tempo relutou em deixar o cinema mudo) também faziam da imagem a sua grande arte. E este é o ponto que fará você saber que o longa atende ou não ao que esperava.

Confesso que, pelo menos a mim, atendeu apenas em parte. De fato, o filme leva a arte gráfica do cinema para outros patamares e a grande ambição de vários outros realizadores de agora em diante será atingir esse nível de excelência. Tudo para narrar uma trama em que o planeta Pandora, dotado de uma natureza exuberante, tem seu equilíbrio ameaçado pela chegada dos humanos, os quais já esgotaram tudo que a Terra tinha a oferecer e descobriram no planeta um mineral capaz de produzir uma enorme energia, o unobtnanium (um único quilo deste minério pode custar 20 milhões de dólares). Contudo, os humanos terão de enfrentar a resistência dos Na’Vi, humanóides locais azuis com cerca de três metros de altura. Um povo que vive em perfeita integração com a natureza, a quem denominam de “Eywa”, inclusive possuindo formas físicas de se conectarem a outros seres vivos (tentáculos existentes em suas longas tranças). Os cientistas, liderados pela Dra. Grace (Sigourney Weaver, voltando a trabalhar com Cameron depois de “Aliens”), que estudam a natureza de Pandora, buscam também entender a cultura dos Na’Vi, buscando evitar que a violência e a brutalidade sejam usadas para avançar na exploração do minério. Para tanto, eles desenvolveram os avatares, reproduções dos corpos dos Na’Vi que misturam DNA alienígena e humano e podem ser controlados pelo cérebro (numa forma de integração que lembra bastante as experiências virtuais de “Matrix”). Entre os integrantes do grupo de mercenários contratados pelas empresas exploradoras está Jake Sully (Sam Worthington, competente), um ex-fuzileiro naval, agora paraplégico, que vê uma nova oportunidade nesse projeto dos avatares. Na pele de um avatar, ele conhece e se apaixona por Neyriti (Zöe Saldana), uma guerreira Na’Vi, passando a entrar em contato com a cultura e forma de enxergar a vida desse povo.

Com se vê, a trama não tem nada de muito original. Trata-se de uma mistura de “Dança com Lobos”, "Pocahontas" e “Matrix” ambientada em um planeta distante. Mas esse não é o principal problema. Afinal, críticas ao imperialismo e arrogância das grandes potências são sempre bem-vindas. Ademais, o filme possui um óbvio contexto ecológico que, nesses tempos de total fracasso de conferências sobre o clima, como esta de Copenhague, torna-se bastante pertinente. Entretanto, ele se faz tão repleto de clichês que acaba tudo resultando numa previsibilidade que redunda numa perda de força do conjunto. Em vários momentos da projeção, já imaginamos como será o seu final e a confirmação do que imaginamos antecipadamente é decepcionante, principalmente ao percebermos que em alguns momentos Cameron tem a oportunidade de fugir desses esquematismos, mas não o faz. Claro que se pode realizar uma trama com clichês e ainda assim render um filme excelente. O próprio Cameron deu provas disso com o seu “Titanic”. Contudo, o filme do naufrágio mais famoso de todos os tempos contava com dois grandes atores como protagonistas e isso já faz uma sensível diferença em um texto limitado. É importante mencionar ainda que “Titanic”possuía uma tragédia inevitável que só aumentava a angústia da plateia com relação ao destino dos protagonistas. Aqui, por mais que a tecnologia tenha conferido aos Na’Vi proporções de realidade nunca dantes vistas, mesmo que você veja numa sala 3D (que foi o meu caso, sendo a minha primeira oportunidade com essa tecnologia), ainda assim temos a sensação de estar observando algo que não é real. E a verdade é que isso pode causar um certo distanciamento e falta de identificação com os personagens.

Mas há elementos que realmente impressionam. Se os personagens ainda precisam evoluir mais para fazer o espectador esquecer que eles não são reais, a natureza criada por Cameron em parceria com a Weta de Peter Jackson é algo de arrepiar. Eles conseguiram simplesmente conceber todo um belíssimo ecossistema e muitas vezes é possível acreditar que estamos vendo árvores e insetos de verdade. Um deslumbre tecnológico que possivelmente, quando se tornar mais acessível financeiramente, será utilizado para substituir externas e viagens desgastantes para locações complicadas em florestas reais. Mostra-se que, realmente, tudo é possível de se fazer através da sétima arte. E a demonstração de que não há limites para o cinema é o grande feito de Cameron neste longa. Ele demonstra, ademais, que o cinema vai conseguir se recuperar do baque provocado pela pirataria e downloads ilegais ao conceber filmes que só podem ser apreciados em sua inteireza dentro de uma sala de projeção.

Por outro lado, Cameron volta a dar demonstrações de que é, possivelmente, o melhor diretor de cenas de ação em atividade no cinema. E ver longas sequências repletas de elementos, mas em que ao mesmo tempo conseguimos vislumbrar tudo o que acontece na tela, é um alívio diante dos lixos visuais de um Michael Bay.

Assim, num balanço entre deslumbre técnico e problemas de roteiro, posso afirmar que vejo em “Avatar” um ótimo filme, mas ainda aquém de todas as expectativas que foram criadas em torno dele. Todavia, imagino que Cameron poderá superá-lo em uma próxima investida, levando os espectadores a, além de se deslumbrarem com as imagens, se emocionarem com a narrativa mostrada, tal como aconteceu em “Titanic”. Só espero que ele não leve mais 10 anos para fazer isso. E se o filme é ou não é uma revolução, creio que só o tempo poderá afirmar.

Cotação: * * * * (quatro estrelas)
Nota: 9,0

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Herbert de Perto


Vida e Apredizado

Se você viveu os anos 80 deve guardar com muito carinho as memórias da três bandas mais representativas do período em que ocorreu a grande explosão do rock nacional. Eram elas a Legião Urbana, os Titãs e os Paralamas do Sucesso. A primeira era a banda que aglutinava multidões em torno da aura messiânica de Renato Russo, o grande porta-voz da geração 80, aquele que soube traduzir melhor em canções as esperanças, angústias e frustrações dos jovens do seu tempo (e talvez de qualquer tempo). Já os Titãs desenvolveram um rock mais pesado e de grande contestação social, atuando como uma espécie de metralhadora giratória (a polícia, as religiões, a televisão: tudo foi alvo da língua ferina de seus integrantes). E os Paralamas formavam a banda com o tom mais leve que, embora não abandonasse a crítica social, explorava o lado mais leve e romântico da juventude e, principalmente, constituía o grupo com maior virtuosismo musical. Os três integrantes estão entre os melhores do Brasil em seus respectivos instrumentos. Contando com esse talento, os Paralamas souberam fazer uma ótima fusão entre rock, música brasileira e jamaicana, sob influência de grupos como o Clash, precursor deste tipo de trabalho com seu álbum “London Calling” (e, diga-se de passagem, pelo menos aos meus ouvidos, os Paralamas sempre soaram melhores que o Clash). E é na figura mais conhecida dos Paralamas do Sucesso, Herbert Vianna, que é centrado este documentário dirigido e roteirizado por Pedro Bronz e Roberto Berliner.

A primeira boa ideia deste longa-metragem é contrapor momentos de passado e presente do famoso cantor e compositor. Uma das primeiras imagens, em que Herbert, ainda nos seus vinte e poucos anos, dá declarações presunçosas e imaturas é logo confrontada com outra, em que o Herbert maduro assiste a tal entrevista e logo exclama: “que é que esse cara tá falando?”. São baseados nessa contraposição que os diretores vão construindo o caleidoscópio que nos possibilita entender a história e a pessoa de um dos músicos mais importantes dos anos 80. Passamos pela sua infância, em que o pequeno Herbert já mostrava um talento diferenciado para tocar violão. Em seguida, vemos o mesmo, já na cadeira de rodas pós-acidente, tocando no seu primeiro violão, o qual guarda com carinho até hoje. É assim que sua vida é mostrada.

Passamos também pelos depoimentos dos parentes e amigos (obviamente com muitas falas de seus parceiros Bi Ribeiro e João Barone) sobre o compositor, recurso sempre necessário a um documentário sobre um personagem específico. E vamos descobrindo que os Paralamas, ao contrário do que muita gente pensa, não foi uma banda formada em Brasília, mas no Rio de Janeiro. Também vamos vislumbrando os elementos que compunham o cenário musical da época: a explosão da Blitz, que possibilitou e estimulou as gravadoras a investirem no pop-rock brasileiro; a importância de espaços como o Circo Voador, no Rio de Janeiro, verdadeiro objetivo de qualquer banda iniciante (“meu sonho era tocar no Circo Voador”, diz Herbert em certa passagem); e a grande explosão no Rock In Rio, show que acabou levando a banda a excursões em que chegava a realizar dois shows na mesma noite. Os aspectos mais pessoais também foram merecedores de fortes tintas, mostrando seu envolvimento e casamento com Lucy Needham, mãe de seus filhos e falecida no acidente com o aeroplano pilotado pelo próprio Vianna. Neste momento, vale dizer, os realizadores pegam uma veia emocional que deve sensibilizar a todos, sejam ou não fãs. O depoimento de Dado Villa-Lobos sobre as circunstâncias do acidente é mesmo consternador.

Contudo, numa visão mais atenta, percebe-se que o longa não é apenas sobre o líder de uma banda de rock ou sobre um momento musical de determinada época. Há muito no documentário sobre o amadurecimento do personagem, mostrando que o mesmo soube aprender com os tropeços da vida. O que, por extensão, mostra o quanto o ser humano pode evoluir e se adaptar às mais diversas possibilidades e dificuldades. Em determinado momento, um dos depoentes menciona que quase todas as músicas de Herbert tratam de seu amadurecimento, do constante evoluir, das novas perspectivas que vida traz a cada momento. Há verdade nisso, assim como há muita verdade neste “Herbert de Perto” (embora possa-se acusá-lo de ser “chapa branca” até certo ponto), película obrigatória não apenas para os fãs da banda ou do rock oitentista, mas para todos aqueles que desejem acompanhar uma bela trajetória de vida.


Cotação: * * * * (quatro estrelas)
Nota: 9,0

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Globo de Ouro 2010 - Indicados


Saiu hoje a lista do indicados ao Globo de Ouro 2010, sua 67ª edição. Seguindo a tendência já mostrada pela Associação de Críticos de Nova York, o filme que recebeu o maior número de indicações foi "Amor Sem Escalas", protagonizado por George Clooney e dirigido por Jason Reitman (de "Juno"), sendo 6 ao todo. Outros Que tiveram boas indicações foram "Invictus", o novo de Clint Eastwood (incluindo melhor diretor e melhor ator dramático e ator coadjuvante: Morgan Freeman e Matt Damon) e "Bastardos Inglórios" (lembrado em ator coadjuvante, filme-drama e diretor), além de "Nine", o tal remake musical de "8 1/2" (calafrios...), com 5 indicações (incluindo atriz coadjuvante para Penélope Cruz). Confiram a lista abaixo. Estou com preguiça de comentar, pois ando muito cansado e sem tempo. E não me encham o saco perguntando sobre as indicações para TV, pelamordeDeus... Ah, a entrega do prêmio acontece em 17 de janeiro.



Melhor atriz coadjuvante

* Mo-Nique, por Preciosa
* Julianne Moore, por A Single Man
* Anna Kendrick, por Amor sem Escalas
* Vera Farmiga, por Amor sem Escalas
* Penelope Cruz, por Nine

Melhor ator coadjuvante

* Matt Damon, por Invictus
* Stanley Tucci, por Uma Olhar do Paraíso
* Christopher Plummer, por The Last Station
* Christopher Waltz, por Bastardos Inglórios
* Woody Harrelson, por The Messenger

Melhor filme animado

* Coraline e o Mundo Secreto
* O Fantástico Sr. Raposo
* Tá Chovendo Hambúrguer
* A Princesa e o Sapo
* Up - Altas Aventuras
Melhor filme estrangeiro
* Baaria
* Abraços Partidos
* The Prophet
* The White Ribbon
* The Maid

Melhor canção original

* "I Will See You" (Avatar)
* "The Weary Kind" (The Crazy Heart)
* "Winter" (Entre Irmãos)
* "Cinema Italiano" (Nine)
* "I Want to Come Home" (Simplesmente Complicado)

Melhor trilha sonora

* Michael Giacchino, por Up - Altas Aventuras
* Marvin Hamlisch, por O Desinformante!
* James Horner, por Avatar
* Abel Krozeniowski, por A Single Man
* Karen O. e Carter Burwell, por Onde Vivem os Monstros
Melhor ator em comédia ou musical

* Matt Damon, por O Desinformante!
* Daniel Day Lewis, por Nine
* Robert Downey Jr., por Sherlock Holmes
* Joseph Gordon Levitt, por 500 Dias com Ela
* Michael Stuhlbar, por A Serious Man

Melhor atriz em comédia ou musical

* Sandra Bullock, por A Proposta
* Marion Cotillard, por Nine
* Julia Roberts, por Duplicidade
* Meryl Streep, por Simplesmente Complicado
* Meryl Streep, por Julie e Julia
Melhor ator em drama

* Jeff Bridges, por A Crazy Heart
* George Clooney, por Amor sem Escalas
* Colin Firth, por A Single Man
* Morgan Freeman, por Invictus
* Tobey Maguire, por Entre Irmãos
Melhor atriz em drama

* Emily Blunt, por The Young Victoria
* Sandra Bullock, por The Blind Side
* Helen Mirren, por The Last Station
* Carey Mulligan, por Educação
* Gabire Sadibe, por Preciosa
Melhor comédia ou musical

* 500 Dias Com Ela
* Se Beber, Não Case
* Simplesmente Compicado
* Julie e Julia
* Nine

Melhor filme dramático

* Avatar
* Guerra ao Terror
* Bastardos Inglórios
* Preciosa
* Amor sem Escalas

Melhor diretor

* Kathryn Bigelow, por Guerra ao Terror
* James Cameron, por Avatar
* Clint Eastwood, por Invictus
* Jason Reitman, por Amor Sem Escalas
* Quentin Tarantino, Bastardos Inglórios

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A Princesa e o Sapo

Reciclagem Divertida


Quando os estúdios Pixar lançaram, em 1995, a animação “Toy Story”, uma polêmica começou a tomar conta das rodas de discussão voltadas para a arte e o entretenimento. Os mais puristas torciam o nariz para a nova forma de confeccionar animações trazidas pelos estúdios de John Lasseter. Nela, o emprego da tecnologia digital era completo, sendo todo o processo de elaboração realizado por computadores, e não apenas algumas etapas de finalização, como acontecia com as animações da Disney. Alegavam os puristas que isso diminuía o valor artístico da obra, já que a elaboração artesanal da mesma, por si só, já agregaria um valor que não estaria presente nos desenhos criados por meio de pixels. Os adeptos da nova tecnologia argumentavam com as novas e quase infinitas possibilidades que se vislumbravam, principalmente com o maior realismo que cada cena poderia ter, além de efeitos especiais nunca dantes vistos.

Com o passar do tempo, a discussão mostrou-se estéril. Se a companhia de Lasseter conseguia cada vez mais aumentar suas bilheterias e o respaldo da crítica com tramas divertidas e inteligentes, além de cativar o público com a emoção, o japonês Hayo Miyasaki continuava deslumbrando o mundo com suas obras de arte geradas no modelo artesanal de animação (um exemplo já clássico é “A Viagem de Chihiro”). O que estava ficando claro é que a Disney estava passando por uma crise criativa, incapaz de produzir longas que acertassem no humor característico das novas gerações ou atingissem aquele status de arte tão característico dos filmes de Miyasaki. Com os sucessivos tombos, a Casa do Mickey adotou o procedimento mais típico do capitalismo moderno: se não pode vencer o inimigo, compre-o. E assim, colocou a Pixar como mais uma subsidiária do seu enorme conglomerado, assumindo John Lasseter a função de diretor criativo não apenas do estúdio que criou, mas de toda a divisão de animações da Disney.

E Lasseter mostra, com este a “A Princesa e o Sapo” (em que atua como produtor executivo), que, realmente, o mais importante não é a forma, mas o conteúdo da obra levada às telas. Trata-se da primeira produção da Disney em anos no formato artesanal e, ademais, retoma ainda um dos seus temas mais gratos: o conto de fadas envolvendo príncipe e princesa. Todos conhecemos as mais clássicas animações do estúdio que, aproveitando contos já famosos, passaram a fazer, de forma irremediável, parte do inconsciente coletivo. Afinal, qual a menina que nunca se encantou com a estória de “Cinderela” ou de “A Branca de Neve”? Mesmo nos tempos modernos, com a toda revolução feminina, estes mitos continuam poderosíssimos, mesmo que muitas mulheres não percebam e até neguem isso. Contudo, o que torna “A Princesa e o Sapo” uma animação a ser vista é atualização empreendida por seus mentores a este mito do príncipe-princesa-que-vivem-felizes-para-sempre.

Antes de mais nada, Tiana, a tal princesa do título, não faz o padrão de garota que tem como grande objetivo na vida encontrar o “príncipe encantado”. Seu grande objetivo é realizar o sonho de seu pai e abrir um restaurante de fina gastronomia. Para tanto, trabalha arduamente, de sol a sol, nunca saindo com os amigos para se divertir, nem muito menos namorar. Por seu turno, Naveen, o príncipe que foi transformado em sapo, encontra-se também um pouco distante dos príncipes das antigas lendas, sempre virtuosos e destemidos. Ele faz o estilo playboy, que nunca trabalhou para sobreviver, preocupado apenas com festas e namoradas. Entretanto, seu pai lhe corta a mesada e, para não ser forçado a trabalhar, ele tem de encontrar uma rica solteira para se casar. Outro fator de inovação é a ambientação. Saem os castelos e vielas medievais de outras eras e entram as ruas de Nova Orleans, a boêmia cidade americana onde surgiu o jazz, a única onde se comemora o carnaval (muito embora de uma forma um tanto distinta da brasileira). A própria cultura da cidade serve de mote para o desenrolar da trama, uma vez que é um feiticeiro vodu o responsável por transformar Naveen em um sapo, feitiço que só poderá ser quebrado se ele for beijado por uma princesa. Tiana acaba beijando o príncipe anfíbio, só que, como não é princesa, ela acaba também se transformando em um anfíbio. É a partir disso que os dois vão, juntos, tentar desfazer o encantamento.

Os diretores John Musker e Ron Clements tiveram, a partir de então, a sacada de utilizar o velho artifício das comédias românticas, o casal que se detesta e depois acaba se amando, para desenvolver a trama (que teve roteiro dos próprios diretores juntamente com Rob Edwards). E isso, dentro de um contexto de conto de fadas, soa inusitado e não apenas repetitivo, como no acima mencionado gênero. O uso de coadjuvantes saídos da cultura e ambiente de Nova Orleans, como o crocodilo trompetista Louis (numa clara homenagem a Louis Armstrong), também é uma boa ideia, ajudando no clima leve e divertido do longa. A utilização de uma trilha sonora de tom bastante jazzístico é uma ótima sacada, distanciando esta animação do clima choroso e meloso das trilhas sonoras de filmes anteriores da Disney.

O resultado final aparece como uma renovação para uma ideia já batida e, principalmente, mostra que o essencial não está na forma, mas na essência do que é mostrado. Não foram as animações de estilo clássico e artesanal que se tornaram ultrapassadas, mas a ideias da Disney que estavam distantes de um novo público. Aqui, tal como acontece nos longas característicos da Pixar, não apenas os pequenos, mas também os mais velhos poderão ser fisgados. E o conto de fadas de princesas e príncipes mostra-se perfeitamente reciclado e divertido. Não há história que ainda não tenha sido contada. O que existe são formas batidas de se contar essas histórias. Felizmente, aqui os estúdios Disney não voltaram a incorrer neste erro.


Cotação: * * * ½ (três estrelas e meia)
Nota: 8,5

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Floriano Bezerra de Araújo - Uma vida de lutas agora em livro


Pausa no cinema.

Nesta quarta-feira, dia 09 de dezembro de 2009, Floriano Bezerra de Araújo, a quem posso orgulhosamente chamar de avô, lançará o seu livro de memórias "Minhas Tamataranas: Linhas Amarelas", na livraria Siciliano do Midway Mall, às 19h! Todos estão desde já convidados.

Não é por ser meu avô, mas Floriano é o ser humano mais íntegro que conheço! Um homem dotado de um espírito altruísta, sempre consequente nos seus atos e pensamentos. Parafraseando a nossa atual ministra da casa civil, um homem que mentiu sob tortura. E só os verdadeiros e dignos seres humanos são capazes disso. Um homem que sempre caminhou em uma estrada reta, sem dúvidas de que o caminho a seguir era sempre o da honestidade, solidariedade e altruísmo!

Saiba, Floriano, que o senhor atingiu aquela que deveria ser a maior ambição de qualquer ser humano: tornar-se um exemplo. Saiba que o maior desejo desse seu neto é seguir estes caminhos de retidão e caráter que foram o norte de sua vida. E saiba que a realização deste seu sonho é a realização de toda a nossa família!

Um grande abraço!

Ah, imagino que Dona Quinquinha está sorrindo em algum lugar neste momento... ;=)

domingo, 6 de dezembro de 2009

Atividade Paranormal

Mais um do cine-youtube

Na minha resenha sobre “Distrito 9”, mencionei que esta produção de ficção-científica tinha seu estilo inspirado em algumas obras recentes do gênero terror, as quais usavam um fórmula similar a um documentário para envolver o espectador e trazer novos ares para o susto. O precursor desta tendência foi “A Bruxa de Blair”, tendo continuidade em filmes como “[Rec]” e, agora, este “Atividade Paranormal”. O que se pode constatar, contudo, é que a fórmula já está se tornando desgastada e cada vez mais não me agrada.

Não agrada porque acredito ser essencial a um filme de horror todo aquele clima macabro que nos é dado não apenas por efeitos especiais competentes, mas também por uma direção segura que sabe utilizar os vários outros elementos da arte cinematográfica em prol deste intento. A trilha sonora, por sinal, é um destes elementos fundamentais e que se torna ausente nestes filmes “vídeo-verdade”. Alguns podem afirmar que isso é questão de gosto. Talvez seja, mas garanto que quem assim pensa não deve ter visto “O Iluminado”, o clássico de Stanley Kubrick que possivelmente é o filme mais assustador de todos os tempos.

Outro aspecto verdadeiro é que os filmes vídeo-verdade se escoram muito em campanhas massivas de marketing para se tornarem grandes bilheterias e “Atividade Paranormal” se tornou o grande exemplo disso. Dirigido e roterizado pelo amador Oren Peli, que se baseou em experiências próprias ao se mudar para uma casa em que eventos estranhos aconteciam, o longa custou a quantia ínfima de 15 mil dólares e já arrecadou cerca de 120 milhões de verdinhas apenas nos Estados Unidos, tornando-se provavelmente o filme mais lucrativo da história. Mas, provavelmente, isso nunca teria acontecido não fosse a participação de um padrinho muito forte na jogada. O longa vinha sendo exibido dentro do circuito alternativo, em festivais de cinema independente ou voltados especificamente ao gênero, quando caiu nas mãos de ninguém menos que Steven Spielberg. Obviamente, Spielberg percebeu todo o potencial pop do que tinha em mãos e logo se encarregou de promover uma ampla distribuição no circuito comercial. De antemão, encarregou-se de proferir comentários que deixariam qualquer um curioso, pois afirmou que tinha começado a ver o filme à noite em casa, teve muito medo e só concluiu na manhã seguinte. Também se encarregou de dar seus pitacos ao sugerir que o final fosse alterado e que a ordem de algumas seqüências fosse trocada (o que, por sinal, já deixa entrever que o orçamento da versão final que está nos cinemas deve ser bem maior que os tais 15 mil dólares). E o estúdio Paramount realizou um muito bem bolado trailer que se tornou sucesso no mundo virtual.

Entretanto, mesmo o melhor marketing não é capaz de produzir medo ou grandes sustos. A narrativa dos malassombros vividos por Katie e Micah (vividos pelos atores homônimos Katie Featherston e Micah Sloat, amigos do diretor, sendo ela especialmente boa atriz) assusta em alguns momentos, é verdade. Contudo, possui uma primeira metade bastante aborrecida, onde sobram conversas e faltam assombrações. A espera do público para que aconteça algo de realmente relevante é longa e isso complica o envolvimento do espectador. Ademais, algumas das ideias usadas no longa são tão claramente retiradas de outras produções que nos faz sempre ficar com a sensação de “dejá vu”. A encenação totalmente baseada na perspectiva da câmera usada por um dos protagonistas é o fio condutor do mencionado “[Rec]” (posteriormente refilmado em Hollywood com o título de “Quarentena”), só que este último tinha a justificativa plausível de toda narrativa mostrada estar sendo exibida em um programa de TV. Em “Atividade”, tal perspectiva soa falsa, já que a partir de determinado momento não haveria mais motivo para Micah continuar filmando e carregando sua câmera o tempo todo pra cima e pra baixo (a personagem de Katie em alguns momentos reclama disso e eu concordo: que cara chato!).

Recentemente, tivemos nas telas uma amostra de terror em sua versão mais clássica, o longa “Arraste-me Para o Inferno”, o retorno de Sam Raimi à suas origens com resultados muito mais assustadores do que este cine-youtube em questão. Lamentavelmente, com resultados em bilheteria muito mais modestos. O que demonstra que, para as grandes massas, até o medo agora é resultado de campanhas de marketing bem realizadas. Não há mesmo nada mais irritante que o capitalismo...

Cotação: * * ½ (duas estrelas e meia)
Nota: 6,5

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

As prévias do Oscar começaram


Saiu o primeiro prêmio que serve de termômetro para o Oscar. Trata-se da premiação do National Board of Review, associação formada por 110 membros votantes, entre cinéfilos, acadêmicos, cineastas e estudantes de cinema da região metropolitana de Nova York. E o vencedor da láurea de melhor filme foi "Amor Sem Escalas" (Up In The Air), o novo filme de Jason Reitman, o diretor de "Juno", e estrelado por George Clooney e Vera Farmiga. O filme estreia no Brasil em fevereiro. Vendo a lista abaixo, você pode perceber também que mais uma vez Clint Eastwood está no páreo, já que recebeu o prêmio de melhor diretor pelo seu "Invictus". Bom ver também um filme como "(500) Dias Com Ela" figurando entre os melhores do ano. A largada já foi dada!




Melhor filme
Amor sem Escalas

Top 10 de Filmes (em ordem alfabética)
500 Dias com Ela, Bastardos Inglórios, Guerra ao Terror, Invictus, Onde Vivem os Monstros, Sedução, Star Trek, Um Homem Sério, Up - Altas Aventuras, The Messenger

Melhor filme em língua estrangeira
A Prophet (Un Prophète)
Top 5 de Filmes Estrangeiros (em ordem alfabética, em inglês)
The Maid, Revanche, Song of Sparrows, Three Monkeys, The White Ribbon

Melhor documentário
The Cove
Top 5 de Documentários (em ordem alfabética, em inglês)
Burma VJ: Reporting from a Closed Country, Crude, Food, Inc., Good Hair, The Most Dangerous Man in America: Daniel Ellsberg and the Pentagon Paper

Melhores filmes independentes (em ordem alfabética)
Amantes, Amreeka, Distrito 9, Goodbye Solo, O Dia da Transa, In the Loop, Julia, Me and Orson Welles, Moon, Sugar
Melhor Ator
George Clooney - Amor sem Escalas
Morgan Freeman - Invictus
Melhor Atriz
Carey Mulligan - Sedução

Melhor Ator Coadjuvante
Woody Harrelson - The Messenger

Melhor Atriz Coadjuvante
Anna Kendrick - Amor sem Escalas

Melhor Elenco
Simplesmente Complicado

Melhor Ator Novato
Jeremy Renner - Guerra ao Terror

Melhor Atriz Novata
Gabourey Sidibe - Precious
Melhor diretor estreante
Duncan Jones - Moon
Oren Moverman - The Messenger
Marc Webb - 500 Dias com Ela

Melhor Diretor
Clint Eastwood - Invictus
Melhor Roteiro Adaptado
Jason Reitman e Sheldon Turner - Amor sem Escalas
Melhor Roteiro Original
Joel e Ethan Coen - Um Homem Sério
Melhor Longa de Animação
Up - Altas Aventuras
Prêmio especial de conquista cinematográfica
Wes Anderson - O Fantástico Sr. Raposo
Prêmio William K. Everson por história no cinema
Jean Picker Firstenberg
Liberdade de expressão
Burma VJ: Reporting from a Closed Country
Invictus
The Most Dangerous Man in America: Daniel Ellsberg and the Pentagon Paper

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Eu quero esse pôster # 4

"Nine", a refilmagem em formato musical de "8 1/2", uma das obras magistrais de Federico Fellini (confira aqui mais detalhes), ainda nem estreou, mas os posters do longa já podem facilmente entrar na galeria dos mais memoráveis, pelo menos para o público masculino. Confiram abaixo essa beleza de arte e, principalmente, a beleza de suas figuras femininas (o que também já transforma esse post em mais um da série "Musas do Escurinho").



quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Trilha Sonora #9


Hoje, revi, muito bem acompanhado, "Amor à Flor da Pele", filme pura arte dirigido pelo incrível Wong Kar-Wai. Impossível lembrar desse longa e não lembrar das canções interpretadas por Nat King Cole que pontuam diversos momentos da narrativa. Uma delas é "Aquellos Ojos Verdes", canção que, segundo o próprio diretor, traduz o encatamento que os personagens sentem um pelo outro naquele momento (muito embora nenhum dos dois tenha olhos verdes!:)). Kar-Wai é um fã de Nat King Cole, até porque faz lembrar sua mãe, a qual considerava a voz de Nat a mais bonita do mundo! Talvez ela tivesse mesmo razão... Abaixo, você pode escutar esse verdadeiro remédio para os ouvidos.



segunda-feira, 23 de novembro de 2009

"Lua Nova" bate recorde


E "Lua Nova", a continuação de "Crepúsculo", bateu um recorde importante. O longa destronou "O Caveleiro das Trevas" como o filme que mais arrecadou no primeiro dia de exibição, atingindo a marca de US$ 72,7 mihões nos U.S.A (contra US$ 67,2 milhões do filme do Batman). Claro que a menor duração do longa dos vampiros, com suas 2h10min., contribui para tanto, já que as 2h40min. do "Caveleiro" redundavam em um menor número de sessões. Somado todo o primeiro final de semana, entretanto, "Lua Nova" arrecadou US$ 140,7 milhões, perdendo tanto para "O Cavaleiro...", que arrecadou US$ 158 milhões, como para "Homem-Aranha 3", o segundo colocado, com US$ 151 milhões.

Ao que tudo indica, o filme também deve arrebentar a boca do balão na Terra Brasilis. Na sexta-feira eu passei em frente à entrada de um cinema aqui de Natal e as filas de adolescentes com hormônios a mil não eram nem um pouco pequenas... Ah, e não me perguntem nada sobre o filme. Não dá para encarar sessões onde seus tímpanos acabam sofrendo tanto quanto se estivessem próximos a uma turbina de avião...

domingo, 22 de novembro de 2009

"Versão brasileira: Herbert Richers" - Herbert Richers: 1923 - 2009


Estou fazendo aqui o registro com um certo atraso (falta de tempo mesmo), mas fica a memória: o produtor Herbert Richers faleceu no último dia 20, aos 86 anos, vítima de problemas renais. Imagino que qualquer brasileiro(a), mesmo os que não são muito ligados em cinema, devem lembrar da frase que abre muitos filmes exibidos na TV: "versão brasileira: Herbert Richers". Richers foi o fundador de um dos maiores estúdios de dublagem do mundo, sinônimo de qualidade, e ainda responsável por cerca de 70% das dublagens para o mercado brasileiro. Ademais, produziu cerca de 60 filmes, possuindo também uma distribuidora. Parabéns pelo trabalho, Sr. Richers!

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Musas do Escurinho #11


Uma bela presença feminina em "2012", Thandie Newton é dona daquela beleza um tanto exótica, que distoa um pouco dos padrões estéticos ocidentais. Na realidade, isso a torna ainda mais sexy. Pena que no filme catástrofe que anda arrasando nas bilheterias, esse seu lado não seja tão explorado.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Festival de Brasília - Estreia polêmica


Tópico apenas para registrar que a abertura do Festival de Cinema de Brasília aconteceu hoje com a exibição (fora de competição) de "Lula, O Filho do Brasil", filme que já nasce polêmico pela própria natureza (mas é bom logo ressaltar que dos seus R$ 12 milhões de custo, não há dinheiro público). Panfletário ou não, a verdade é que a vida do nosso atual presidente realmente dá um filme. Ou romance, novela, peça teatral ou seja lá o que for. Na estreia, boa parte dos convidados era de políticos, mas houve superlotação, com gente sentada no chão, ao longo das escadas. Mas o presidente não apareceu. O filme estreia no circuito comercial em 01 de janeiro.



domingo, 15 de novembro de 2009

2012


O juízo final de Roland Emmerich


Roland Emmerich já destruiu o mundo em pelo menos duas oportunidades. A primeira delas em “Independence Day”, quando o planeta Terra se via invadido por seres extraterrestres violentos que destruíam o Empire State Building numa cena realmente memorável que, posteriormente, com os eventos de 11 de setembro de 2001, tornou-se estranhamente real e familiar. Alguns anos depois, Emmerich resolveu dar sua espetada nas questões climáticas e promoveu a destruição do planeta por meio de eventos climáticos que acontecem em decorrência da irresponsabilidade humana e, se no primeiro filme mencionado ele deixava transparecer um sentimento ufanista made in U.S.A, neste último o espírito crítico domina e vemos ianques procurando abrigo em países mais ao Sul, menos afetados pelos tais eventos naturais.

A questão é que o diretor não se deu por satisfeito e, inspirado por uma tal profecia maia que foi bastante divulgada na internet há algum tempo, resolveu promover a maior destruição em massa já vista nas telas de cinema. O tal prognóstico dos maias afirma que, em 21/12/2012, a Terra vai inverter seus polos e isso provocará o maior evento sísmico de todos os tempos. E é exatamente isso que é mostrado nas telas. E talvez seja exatamente isso o que o povo quer ver nas telas! Pude chegar a essa constatação durante uma sessão completamente lotada, como acho que não via desde os tempos de “O Senhor dos Anéis” ou da trilogia “Homem-Aranha”. Ainda não temos os números globais da estreia de “2012”, mas, com absoluta certeza, pelo menos no Brasil o filme foi um sucesso retumbante (teve até promoção na capa de um certo periódico de qualidade duvidosa, mas que tem, ainda, grande influência sobre a classe média dita “esclarecida”).

Como sempre, a hecatombe é mostrada ao espectador pelo filtro de um homem comum, aqui interpretado por John Cusack, o qual interpreta um escritor fracassado, separado da sua esposa porque esta afirma que ele dava mais atenção ao que escrevia do que à família. Por vias meio tortuosas, ele acaba descobrindo o que está para acontecer e dos planos dos governantes de sobreviver em uma espécie de arca de Noé tecnológica, juntamente com uma “elite” humana. Literalmente, já que eles enchem a tal nave também de bichos, procurando salvar pelo menos uma parte das espécies existentes. Obviamente, isso não inclui a maior parte da humanidade, a qual irá sucumbir num mar de terremotos gigantes e tsunamis mais gigantes ainda. É bom lembrar que o tal link familiar, que serve para ligar o espectador aos eventos apresentados, não é exclusividade de Emmerich, sendo usado em praticamente todos os filmes catástrofe (vide o exemplo recente de “Guerra dos Mundos” de Steven Spielberg).

Há ainda o contexto político. Agora, temos Danny Glover como presidente dos EUA, numa mais do que clara alusão a Barack Obama. Sintomático também que o presidente toma a decisão heróica e altruísta de aguardar os acontecimentos juntamente com a população, recusando-se a embarcar na tal nave-arca. Talvez isso denote a nova perspectiva que os americanos estão passando a ter de si mesmos e de seu líder. Os EUA agora não mais oprimem a humanidade, eles se solidarizam com ela (até onde isso é verdade, ainda estamos por saber). Mas é verdade que Emmerich (ele próprio autor do roteiro em parceria com Harald Kloser) também dá seu recado crítico, ao tocar no ponto da exclusão social, mostrando que aqueles que sobrevivem são os de alguma importância “política” ou que possuem dinheiro suficiente para comprar sua sobrevivência.

Obviamente, toda essa catástrofe é mostrada com a característica competência Hollywoodiana de sempre. Os efeitos visuais são mesmo impressionantes e o longa está correndo o sério risco de ser premiado com o Oscar da respectiva categoria. Não deixa de ser curioso, ademais, ver a imagem do Cristo Redentor se desintegrando e isso me leva a pensar que realmente o Brasil está adquirindo um outro status aos olhos da população global (e também fiquei me perguntando o quanto a Globo pagou para inserir um merchandising na dita cena). Entretanto, confesso que uma cena me doeu em especial: a da destruição do Vaticano. Ver as obras de Michelangelo se despedaçando foi realmente de uma tristeza profunda... Ainda bem que era apenas ficção...

O resultado das longas 2:30h de projeção é bastante oscilante. Algumas sequências realmente empolgam (afinal os filmes de fim do mundo de Emmerich sempre se tornam melhores se os enxergarmos como filmes de ação), mas algumas machadadas roteirísticas, nitidamente colocadas para gerar um final-família típico de blockbusters incomodam em excesso, assim como a punição para os gananciosos e aquelas que, de alguma forma, se prostituem. Ou seja, Emmerich promove mais uma vez o seu juízo final e, colocando-se na condição de Cristo julgador, escolhe quem deve viver e quem deve morrer. E também escolhe o continente que escapará a todo esse cataclismo. Não vou dizer aqui para não colocar um spoiler, mas vai a dica: é algo politicamente bem correto. Todavia, ao sair da sala de exibição, pude perceber o quanto filmes assim ainda agradam às massas. Uma garota que estava ao meu lado exclama: “nossa, eu tava até chorando...”. Eu e minha namorada olhamos um para o outro e começamos a rir e exclamar: “menos, por favor, menos...”. ;=)

Cotação: * * ½ (duas estrelas e meia)
Nota: 6,5

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Fúria de Titãs - Trailer

Quem não se lembra de "Fúria de Titãs", o já clássico filme dirigido por Ray Harryhausen em 1981 que mostrava as façanhas do herói grego Perseu em combate contra seres mitológicos como a Medusa? Provalmente, todos que viveram os anos 80 têm boas recordações dele. Como muitos devem estar sabendo, a Warner está providenciando um remake do longa, com direção de Louis Leterrier e com Sam Worthington no papel do herói helênico . E eis que temos agora o primeiro trailer do longa, cujas imagens me fizeram lembrar um certo filme sobre Esparta lançado nos últimos anos. De qualquer forma, vale conferir. Vamos ver no que dá.


segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Os Fantasmas de Scrooge

Relendo um clássico

“A Christmas Carol”, obra escrita por Charles Dickens em 1843, é um dos textos mais adaptados para as telas na história do cinema. Existe até uma versão com os personagens clássicos de Walt Disney, como o Tio Patinhas na pele do velho Ebenezer Scrooge, um homem ranzinza e extremamente mesquinho, avarento, incapaz de compreender o espírito do Natal. Um belo dia, no entanto, ele é visitado por três espíritos que lhe mostram o passado, o presente e o futuro, tanto do próprio Scrooge quanto daqueles que o cercam, fazendo com que o velho avarento passe a enxergar a vida com outros olhos. E eis que mais uma vez temos a mesma história sendo levada aos cinemas, desta vez pelas mãos do papa do cinema 3D, Robert Zemeckis (mais conhecido do grande público como “o diretor de Forrest Gump”), responsável por experiências anteriores em novas tecnologias, como a utilização da técnica da captura de movimentos de atores em “O Expresso Polar” e do emprego do 3D, aliado à mencionada técnica, em “A Lenda de Beowulf”.

A utilização destas modernas técnicas também é o mote desta nova versão do conto de Dickens. Zemeckis vem aprimorando a tecnologia de captura, que está cada vez mais realista. Em novos espectadores, ainda não acostumados com esse padrão, é comum expressões de admiração como “nossa, parecem atores de verdade” (muito embora seja importante lembrar que, em certos momentos, os olhos dos personagens ainda apareçam de um forma um tanto sem vida). Pena que o recurso 3D ainda esteja restrito a um pequeno número de salas em solo brasileiro. Aqui em Natal não há sequer uma sala com este tipo de projeção o que me impossibilitou avaliar o emprego da tecnologia. Entretanto, é possível afirmar que algumas seqüências são de um acabamento gráfico e criatividade visual excelentes, como os planos aéreos sobre a Londres vitoriana, lindamente realizados, muito embora algumas seqüências tenham sido perceptivelmente orquestradas para gerar maiores efeitos 3D.

Contudo, não é a questão gráfica o que mais desponta aos olhos do espectador nesta nova adaptação, mas sim o tom sombrio conferido à animação. O produto, tal como resultou, talvez seja até mesmo pouco recomendável para os pequenos. Algumas cenas chegam a ser dignas de filmes de terror [SPOILER] como aquela em que vemos a cidade repleta de almas penadas, todas arrastando as correntes de uma vida repleta de erros [FIM de SPOILER]. As concepções visuais, neste ponto, mostraram-se ainda mais felizes, traduzindo perfeitamente o mundo espiritual em que Srooge vivia e o destino que se lhe reservava caso sua conduta não sofresse modificações. Também importante destacar que Jim Carrey foi o responsável pela caracterização e vozes não só de Scrooge como de três dos fantasmas que o assombram. Pena que as versões legendadas do longa sejam restritas e a grande maioria do público não poderá acompanhar o seu trabalho de voz (além dele, também participam Gary Oldman e Collin Firth).

Alguns podem afirmar que Zemeckis apenas choveu no molhado com mais essa adaptação do conto de Dickens para a película. Mas isso não é verdade. Na música, por exemplo, muitas vezes uma canção é exaustivamente executada, ganha inúmeras versões, mas também é verdade que alguns artistas conseguem dar uma nova cara para uma melodia já manjada. Aqui, esse me pareceu o caso. Ademais, a trama pode até ser amplamente conhecida no países de cultura anglo-saxã, mas não o é nos países de cultura latina, ainda mais em locais em que a população, historicamente, teve pouco acesso à cultura, como o Brasil. O que é bom deve sempre ser perpetuado e a iniciativa de Zemeckis já seria louvada apenas por esse motivo. Ou será que devemos criticar alguma orquestra por executar, pela bilionésima oportunidade, a 9ª Sinfonia de Beethoven? Nunca é demais reler um clássico, mesmo que essa releitura seja feita através de um filme.


Classificação: * * * * (quatro estrelas)
Nota: 9,0

sábado, 7 de novembro de 2009

Bravo, Anselmo! (Anselmo Duarte - 1920 - 2009)


E nesta madrugada faleceu, aos 89 anos, Anselmo Duarte, o galã que se tornou diretor e foi o responsável por uma das grandes obras do cinema brasileiro: a adaptação para o cinema de "O Pagador de Promessas", peça de Dias Gomes que teambém se tornaria, nos anos 80, minissérie global. É bom lembrar que este é o único filme nacional a receber a Palma de Ouro no Festival de Cannes, em um ano em que concorria com obras de ninguém menos que Michelangelo Antonioni e Luis Buñuel! C0mo disse Federico Fellini, logo após a exibição de "O Pagador de Promessas" no Palais du Festival, "bravo, Anselmo! Bravo!". Abaixo você pode conferir uma entrevista de Anselmo Duarte para o programa de Jô Soares.




terça-feira, 3 de novembro de 2009

Cidade de Deus - O melhor da década


E mais uma façanha é alcançada por "Cidade de Deus". O filme de Fernando Meirelles foi eleito pela revista norte-americana "Paste" como o melhor longa-metragem desta década, superando até mesmo a trilogia "O Senhor dos Anéis". Segundo o periódico, a obra traz "um olhar sem medo a um mundo esquecido pelos ricos e poderosos, ignorado pela polícia e alheio à lei e à ordem". É bom lembrar que "Cidade de Deus" já entrou até na lista do IMDB de melhores filmes da década e vem sempre sendo lembrado em eleições do gênero. Recentemente, nada menos que a "Time" colocou o filme entre os 100 melhores de todos os tempos, enquanto o canal britânico "Film4" destacou o longa na 3ª posição entre "50 filmes para ver antes de morrer. Abaixo, segue a lista dos 10 melhores da década da "Paste". Confira.


1) "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles
2) "O Fabuloso Destino Amélie Poulain", de Jean-Pierre Jeunet
3) "Quase Famosos", de Cameron Crowe
4) Trilogia "O Senhor dos Anéis", de Peter Jackson
5) "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças", de Michel Gondry
6) "Beau Travail", de Claire Denis
7) "Encontros e Desencontros", de Sophia Coppola
8) "O Filho", de Jean-Pierre e Luc Dardenne
9) "Onde os Fracos Não Têm Vez", de Joel e Ethan Coen
10) "Os Excêntricos Tenembaums", de Wes Anderson.

A lista completa você confere aqui.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Besouro


Ação Made In Brazil

O cinema brasileiro costuma receber fortes críticas pela enorme dificuldade que apresenta em lidar com o cinema de gênero. Nossas produções praticamente, e principalmente depois da chamada “retomada”, se limitam a apresentar comédias e filmes de caráter histórico e/ou crítica social, neste último caso com uma forte ênfase na violência urbana (vide “Cidade de Deus” e “Tropa de Elite”). A investida eu outras vertentes do cinema se limitam a espasmos como os longas de terror de um Zé do Caixão ou mesmo produções de caráter biográfico-popular como “2 Filhos de Francisco”. Parece faltar coragem aos produtores e diretores de se aventurarem em gêneros como aventura, ação ou suspense. E foi procurando suprir esta lacuna que diretor estreante João Daniel Tikhomiroff, egresso do ramo publicitário (já ganhou inúmeros prêmios no festival de publicidade de Cannes) realizou seu primeiro longa-metragem.

“Besouro” nos apresenta a história de um lendário capoeirista (interpretado no filme pelo novato Aílton Carmo, escolhido entre praticantes da arte) responsável por liderar uma revolta de negros durante os anos 20, quando estes ainda viviam em condições análogas a de escravos, sem direitos respeitados e com sua cultura ainda totalmente reprimida. A capoeira, por exemplo, era uma prática proibida por lei e reprimida com violência pelos coronéis, os quais meio que faziam a função da polícia nos rincões do país. Aqui, na versão romanceada levada à tela, o roteiro (escrito pelo próprio Tikhomiroff ao lado de Patrícia Andrade e baseado no livro “Feijoada no Paraíso”, de Marcos Carvalho) utiliza a velha ferramenta, normalmente presente nos filmes de artes-marciais, do “mestre” que ensina ao discípulo não apenas a luta em questão, mas também lições de honra, respeito, disciplina e coragem. E assim, no início, temos o pequeno protagonista ao lado de seu mentor, o mestre Alípio, o qual lhe diz que todo capoeirista deve escolher um nome pelo qual deverá ser lembrado. O pequeno não titubeia e escolhe “Besouro”. Logo em seguida com um corte que revela uma longa passagem no tempo, vemos que mestre Alípio é assassinado, o que levará o personagem-título a iniciar uma revolta contra a opressão em que ainda vivem os negros da região.

Todavia, talvez a inexperiência leve os autores a conduzir um filme que se pretende de ação/aventura de forma um tanto titubeante. Besouro mostra-se muito mais um personagem em dúvida com relação à sua “missão” do que um verdadeiro líder capaz de aglomerar seu povo em torno de um objetivo comum. Um herói que se mostra reflexivo demais, contemplativo em excesso. Suas divagações acabam sendo mais presentes que as sequências de ação. E o foco da trama ainda é desviado para um triângulo amoroso entre Besouro e seus amigos de infância Dinorá (Jéssica Barbosa) e Quero-Quero (Anderson Santos de Jesus) que pouco contribui para o desenrolar dos acontecimentos. Tikhomiroff já chegou a afirmar que um herói precisa de um amor, o que é uma assertiva boba e que talvez mostre o quanto o diretor poderia estar apegado a clichês na concepção de sua obra. Porque é isso que muitas vezes “Besouro” parece, uma sucessão de clichês aventureiros levados para um ambiente tupiniquim.

Entretanto, há aspectos muito positivos a serem ressaltados. O principal deles é a abordagem da cultura e mitologia afro-brasileiras. Estamos habituados a ver este tipo de abordagem em relação a culturas e elementos mitológicos estrangeiros, como nos casos clássicos de “O Senhor dos Anéis” e de vários filmes de artes-marciais como “Herói” e “O Clã das Adagas Voadoras”. Assim, torna-se desde logo interessante vermos a representação de divindades do candomblé como Exu, Ogum e Iansã, trabalho que é realizado de forma fluida e sem forçação de barra, de maneira perfeitamente natural. A questão técnica também é outro ponto a ser elogiado. Filmado em Igatu (BA), na Chapada Diamantina, a fotografia é primorosa, e a utilização de atores em sua maioria desconhecidos, alguns deles escolhidos entre capoeiristas locais, contribuem para a imersão do espectador na trama, emprestando-lhe maior veracidade. Os efeitos especiais também são competentes, principalmente se levarmos em conta a pouca familiaridade de nossos cineastas com esses recursos. E a vinda do coreógrafo Huen Chiu Ku, o mesmo de “Kill Bill” e “O Tigre e o Dragão”, para elaborar as cenas de luta foi extremamente bem-vinda. Essa importação de especialistas, muito frequente em Hollywood, deveria ser mais praticada pelos produtores nacionais, que não costumam fazê-lo não se sabe muito bem o porquê (nem mesmo os custos me parecem uma justificativa muito plausível). Também vale destaque a trilha sonora, com canção tema “Besouro, Cordão de Ouro” interpreta pela Nação Zumbi.

O resultado de “Besouro”, que antes de ser lançado teve uma boa divulgação na internet, com vídeos pipocando no Youtube (o que deve lhe garantir uma boa bilheteria) é uma obra irregular, mas que merece ser conferida pelo gostinho diferente que traz para o cinema nacional. Afinal, você lembra de ter visto algum filme de ação brasileiro nos últimos anos? A iniciativa é interessante e sair do marasmo é sempre uma boa ideia.


Cotação: * * * (três estrelas)
Nota: 7,0

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Nowhere Boy - Trailer


Hoje aconteceu a premiére mundial de "Nowhere Boy" no encerramento do festival de cinema de Londres. Como já se sabe, o filme retrata a adolescência de John Lennon (que será interpretado por Aaron Johnson), enfocando a sua relação com a tia Mimmi e o seu encontro com Paul McCartney. Abaixo, você pode assistir ao trailer da produção, o qual possui narração do próprio Lennon, em um áudio usado anteriormente nos documentários Imagine (1988) e The Beatles Anthology (1995), a partir de uma entrevista concedida pelo ex-beatle ao apresentador de TV Mike Douglas, em 1972. Confira. O longa estreia no Natal deste ano no Reino Unido, mas não há previsão de estreia na Terra Brasilis. Ah, e a imagem ao lado é o poster da produção.



Michael Jackson's This Is It


Belo Epitáfio

Em 25 de junho do corrente ano, qualquer ser humano vivo e pensante sabe o que sucedeu neste planeta Terra. Michael Joseph Jackson, o denominado “Rei do Pop”, faleceu vítima de uma overdose de medicamentos. Nomes como Propofol e Demerol caíram na boca do povo enquanto a necropsia era realizada e, mais importante, uma comoção tomou conta do mundo inteiro, que finalmente parecia esquecer as esquisitices do ídolo do pop para enxergá-lo como o grande artista que sempre foi e, principalmente, como um ser humano, não apenas uma espécie de “ET” que servia de chacota em programas humorísticos e tabloides sensacionalistas.

Quando de seu falecimento, MJ havia finalizado os ensaios para o início de sua nova temporada de shows, após anos fora dos palcos. Seriam 50 apresentações em Londres, todas com ingressos esgotados com meses de antecedência. Tristemente, o astro não chegou a realizar sequer uma apresentação. Felizmente, a sequência enorme de ensaios, os quais, segundo a mídia, teriam levado o astro a uma estafa e a sentir fortes dores (consequência do ritmo forte da preparação aliado a problemas reumáticos), foi registrada em mais de 80 horas de gravações, um tesouro que, obviamente, poderia ser lapidado e levado aos fãs como um presente. Obviamente, tal iniciativa não substituiria os shows que a estrela faria e que foram cancelados pelo destino. Entretanto, a ideia era boa e foi exatamente isso que aconteceu. Alguns podem afirmar que “This Is It”, o documentário resultado da edição das mencionadas 80 horas de gravações, seja oportunista e caça-níquel. É uma afirmação que tem seu teor de verdade, principalmente se levarmos em consideração o caráter da família Jackson, mercenária até a raiz da alma. Mas também é verdade que o material merecia mesmo ser levado ao público, tal o conteúdo emocional e verdadeiro que se percebe ao longo de toda exibição do longa.

Dirigido com muita competência por Kenny Ortega, as escolhas das cenas levadas à projeção não poderiam ser mais felizes. Inicia-se com os depoimentos de vários daqueles que integraram a produção do show. Diretores, assistentes, dançarinos, todos vão falando sobre a experiência que era trabalhar com o mega-astro. E não há como negar a sinceridade das palavras e emoção. Afinal, quando das declarações, Michael ainda estava vivo e, é preciso dizer, num momento de grande baixa na carreira, gerado pelo processo judicial em que foi acusado de abuso sexual contra menores e o fracasso comercial do seu último trabalho, o álbum “Invincible”. O depoimento de alguns dançarinos, ao afirmarem que MJ foi a razão deles trilharem essa profissão, realmente atinge o coração do público. Em seguida, vemos o desenvolvimento dos ensaios como se fosse o próprio show. Vamos passando por vários clássicos do artista, como “You Make Me Feel”, “They Don’t Care About Us”, ‘I’ll Be There”, entre outros. Mas alguns merecem ser destacados. A execução de “Thriller” ganha novos ares com a exibição do vídeo em 3D que estava sendo elaborado para o espetáculo. Já “Beat It” tem sua coreografia minuciosamente detalhada e, mais ainda, conta com uma grande participação da loura-gata e guitarrista Orianthi Panagaris, que rouba mesmo a cena em várias sequências (tenho a impressão que essa menina vai receber uma profusão de propostas de trabalho a partir de agora). Um grande momento é a execução de “Smooth Criminal”, com MJ inserido nas imagens de “Gilda” (bom ver a Rita Hayworth)e contracenando com Humphrey Bogart. Outro ponto marcante é a apresentação solo da coreografia de Michael para Billie Jean, aplaudida entusiasmadamente por toda a equipe presente. Aliás, a ideia concebida por Ortega foi justamente a de elaborar o documentário como se fosse realmente o show que os fãs não tiveram oportunidade de assistir. Em determinado ponto, são mostrados até mesmo os efeitos especiais que seriam vistos apenas em Londres, quando alguns dançarinos têm suas imagens multiplicadas centenas de vezes. Uma das grandes curiosidades, ademais, é ver o Michael dos bastidores, com seu jeito extremamente exigente, mas sempre educado (ao contrário de muitas estrelas pop por aí que, com bem menos talento, são grosseiros e estúpidos com aqueles que os cercam).

É impressionante também notar algumas coincidências. No documentário, percebemos que os ensaios já haviam sido concluídos e que Michael morreu exatamente entre o fim dos preparativos e a estreia da série de shows. A despedida e agradecimentos ao fim soam estranhamente como um adeus do ídolo, e a conclusão se torna extremamente triste quando nos damos conta que todo aquele esforço foi despendido por um show que nunca aconteceu (vale ressaltar inclusive a boa forma de Michael, que nunca denotaria um estado de saúde comprometido).

A experiência se tornou ainda melhor ao pegar uma das primeiras sessões de exibição, repleta de fãs. Ao término, vários dos presentes aplaudiram de maneira empolgada o que viram e, se agradou desta forma aos muito exigentes fãs do astro, o longa deve ter mesmo atingido o pleno objetivo de tentar eternizar o momento que acabou se tornando o epitáfio de um gênio da cultura popular. E o seu título, “É isso” em português, também soa como o resumo de uma ópera que foi acompanhada pelo mundo inteiro desde a infância de Michael Jackson. Mesmo que você não seja fã, vale muito à pena conferir. Não será sem méritos se o filme vier a receber o Oscar na categoria melhor documentário ano que vem (e o trabalho se torna ainda mais impressionante se lembrarmos o pouco tempo que levou para ser realizado). Parabéns, Michael, pelo imenso talento que teve e pelo ser humano que foi. E, mesmo que sua família procure apenas os bônus financeiros do tesouro é que seu legado, se ao menos continuar entregando aos cuidados de gente competente como no caso deste “This Is It”, sua memória estará bem protegida.

Cotação: * * * * * (cinco estrelas)
Nota: 10,0

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Terror independente no topo das bilheterias

E o terror "Atividade Paranormal" alcançou, após um mês de exibição, o topo das bilheterias norte-americanas no último de fim de semana. Um feito raro, já que o mais comum são as produções começarem no topo e irem gradativamente reduzindo seus ganhos. Mais raro ainda se lembrarmos que o custo da produção foi de meros e rasos 15 mil dólares... O filme é mais um daqueles no estilo video-verdade de "A Bruxa de Blair", baseado nas experiências do próprio diretor (novato) Oren Peli com barulhos estranhos ao se mudar para uma nova casa. Com os 22 milhões arrecadados no último fim de semana, o longa alcançou a quantia de 62,5 milhões no total. Que lucro, hein? A estreia no Brasil está prevista para 4 de dezembro. Confira o trailer abaixo.




domingo, 25 de outubro de 2009

Te Amarei Para Sempre


Amor, tempo e ficção-científica

Filmes românticos não costumam primar pela originalidade. Não estou querendo dizer, com esta afirmação, que filmes românticos sejam sempre carentes de bons roteiros, não é isso. A questão reside no fato de que os textos deste gênero baseiam-se principalmente na força dos diálogos e em situações limite que colocam à prova o amor do casal. As diferenças costumam residir apenas na natureza de tais situações. Em um momento, pode ser a oposição das famílias, em outro uma longa distância a ser superada ou, até mesmo, uma guerra a ser lutada (como no caso emblemático de “Casablanca”). Neste “Te Amarei Para Sempre”, as dificuldades ao amor eterno do casal de protagonistas surgem de uma situação inusitada. O rapaz é portador de uma anomalia genética que o faz viajar no tempo da mesma forma que um epiléptico tem as suas crises. Ou seja, desaparece e ressurge em diversos momentos cronológicos de forma alheia à sua vontade, sem poder determinar quando isso irá acontecer.

Roteirizada por Bruce Joel Rubin (o mesmo de “Ghost”, ou seja, um especialista na área), que realiza uma adaptação do livro de Audrey Niffenegger, esta situação limite traz um sopro de originalidade a esta película (que teve produção executiva de Brad Pitt), fazendo-nos respirar novos ares em um gênero que vinha sendo um tanto maltratado nos últimos tempos. É verdade que, para isso, utilize um elemento já consagrado no mainstream hollywoodiano: a viagem no tempo (vide as séries “De Volta Para o Futuro” e “O Exterminador do Futuro”). Mas o fato é que essa mistura de romance e ficção-científica surte um ótimo efeito.

As próprias circunstâncias da ação acabam por nos apresentar ótimos personagens. Vivido por Eric Bana (em sua melhor presença desde “Munique”, de Steven Spielberg), Henry DeTamble é um homem que parece trazer em si uma constante melancolia. Devido ao poder-doença que possui, ele visita inúmeras vezes a ocasião em que sua mãe faleceu, quando ainda era garoto. Entretanto, o acidente jamais tem o seu desfecho transformado, já que não consegue interferir no curso dos acontecimentos quando viaja através do tempo. Por outro lado, consegue conviver com as pessoas dentro do fluxo temporal, o que lhe permite sempre rever e conversar com sua mãe (mesmo que esta não saiba que aquele é o seu filho já crescido). E, ainda, conhecer Clare Abshire (Rachel McAdams, atriz que já está se tornando figura constante em filmes melados de açúcar, basta lembrar de “Diário de Uma Paixão”), sua futura esposa (e isso não é um spoiler, pois a tradução literal do título em inglês é “A Esposa do Viajante do Tempo”). Esta última personagem também se mostra extremamente interessante, já que tem de conviver com um homem que pode sumir e reaparecer na sua vida a qualquer momento. E isso é uma metáfora perspicaz, pois as pessoas, de fato, podem entrar e sair de nossas vidas a qualquer instante, apenas não nos damos conta disso.


No entanto, nem tudo são maravilhas. As idas e vindas temporais geram furos no roteiro (como acontece na maioria dos filmes que lidam com viagens no tempo) e, a partir da segunda metade do longa, acabam tornando a trama um tanto confusa. Cabe até uma interrogação: por que Henry só viaja para momentos cronológicos a partir de sua existência? Um ilogismo do roteiro que pode causar um certo incômodo para aqueles mais atentos aos pormenores das tramas. Contudo, a direção segura de Robert Schwentke cuida para que o espectador não perca o envolvimento emocional ao longo da projeção. Ressalte-se, inclusive, a sua direção de atores. Como pincelei acima, Eric Bana consegue uma boa atuação, traduzindo sempre o tom melancólico característico do personagem. Já Rachel McAdams faz de Clare uma mulher forte, emotiva e romântica que lembra bastante a sua persona no mencionado “Diário de Uma Paixão” (e, convenhamos, ela tem um rostinho lindo que faria qualquer um se derramar). A fotografia também se mostra bela e adequada à temática, bem como a trilha sonora (prestem atenção, inclusive, na inserção de “Love Will Tear Us Apart”, do Joy Division, em certo momento, com um arranjo bem diferente).

Schwentke, assim, realizou uma boa demonstração de que é possível fazer um filme água com açúcar pouco previsível, muita embora ele ainda encontre uma forma de jogar um happy end. Entretanto, mesmo este final feliz é pouco convencional e, vamos admitir, dotado de muita beleza e sensibilidade. E que faz com que o título nacional para o longa também se torne bastante adequado. Um filme feito “com açúcar, com afeto” e boas pitadas de competência.

Cotação: * * * ½ (três estrelas e meia)
Nota: 8,5

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O novo de Eastwood


Clint Eastwood é um daqueles diretores que conseguem reunir um ótimo elenco, mesmo que seja apenas "por um punhado de dólares" (Woody Allen é outro caso notório no atual cinema americano). Este cartaz acima, divulgado hoje pela Warner, é o de seu novo filme, intitulado "Invictus", com as estrelas Morgan Freeman (que também é o produtor) e Matt Damon no elenco. O filme trata das circunstâncias em que ocorreu a Copa do Mundo de rugby na África do Sul, em 1995, e de como Nelson Mandella (interpretado por Freeman no longa), então presidente, procurou usar o evento para unir brancos e negros logo após o fim do apartheid. Damon faz o papel do capitão do time sul-africano (os Springboks, como é conhecida a equipe). O longa tem estreia nos EUA em dezembro e no fim de janeiro no Brasil. Ou seja, é bem aquela época propícia para filmes que têm pretensões ao Oscar. De qualquer forma, já tem meu ingresso na contabilidade. É sempre bom ver um filme do velho Clint.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Distrito 9


Apartheid alienígena

Na última década, vem ganhando força uma forma de se fazer cinema surgida a partir de alguns filmes de horror. Trata-se de narrar uma trama ficcional de uma forma semelhante a documentários ou programas jornalísticos. São os casos de filmes como o famoso “A Bruxa de Blair” e a recente produção espanhola “[Rec]”, onde a apresentadora de um programa jornalístico, juntamente com seu cinegrafista, mostra os acontecimentos em uma madrugada em um prédio residencial, tudo dentro de um estilo vídeo-verdade que procura transmitir aos espectadores a sensação de que tudo aquilo realmente está acontecendo. Essa fórmula vem encontrando êxito junto ao grande público e trazendo uma enorme rentabilidade, já que tais produções costumam ter baixo orçamento, fazendo a alegria dos estúdios.

Agora, este “Distrito 9” traz esse formato vídeo-verdade para o terreno de outro gênero cinematográfico, a ficção-científica. E não apenas isso. Insere um contexto de crítica social que poucas vezes se vê no gênero, o qual se tornou terreno fértil para os diretores explorarem questões existenciais e até mesmo teológicas (vide o clássico absoluto “2001 – Uma Odisséia no Espaço”), mas que pouco é utilizado como ambiente para tratar de discussões de caráter mais sociológico.

Dirigido pelo novato Neill Blomkamp e ostentando como produtora a grife de Peter Jackson, o longa foi desenvolvido a partir de uma curta-metragem que acabou caindo nas graças do famoso diretor de “O Senhor dos Anéis”. Na trama, alienígenas vivem em guetos-favelas na cidade de Johanesburgo, África do Sul, uma vez que sua nave não possui mais combustível para retornar e flutua há 20 anos sobre a metrópole. Os aliens são semelhantes a crustáceos gigantes e por isso são apelidados pejorativamente pelos humanos de “camarões”, sofrendo todo tipo de discriminações e humilhações. Uma clara alegoria do regime do apartheid sul-africano e também das várias formas de marginalização de grupos étnicos ou sócio-econômicos existentes no mais diversos agrupamentos humanos. Tudo isso mostrado de forma realista em uma estrutura documental, onde especialistas falam sobre os fatos mostrados na tela, além de repórteres e câmeras de TV noticiarem os fatos. A ausência de atores conhecidos só reforça a sensação de realidade, aliada a uma fotografia que lembra muito as imagens televisivas e, em outros momentos, remetem às técnicas usadas por Fernando Meirelles para filmar as favelas gigantes em “O Jardineiro Fiel”. Uma certa estranheza domina a primeira metade de projeção, jogando o espectador num amontoado de sensações atípicas.

Contudo, é necessário estabelecer links emocionais entre a plateia e a narrativa (afinal, apesar da estrutura documental, é bom lembrar que não se trata de um documentário). E é nesse ponto que o roteiro (escrito pelo próprio Blomkamp em parceria com Terri Tatchell) começa a apresentar suas oscilações. Busca-se estabelecer a ligação com o espectador através do personagem de Wikus Van De Merwe, um funcionário da MNU (uma espécie de ONU deste mundo fictício), incumbido de realizar o remanejamento da população de aliens das favelas onde eles vivem para um assentamento mais afastado do centro de Johanesburgo, num toque que lembra bastante as origens da Cidade de Deus no Rio de Janeiro (e, obviamente, isso não é mera coincidência). Durante sua missão, Wikus entra em contato com uma substância alienígena que afeta seu DNA, o que o leva a se aliar inevitavelmente com os aliens para obter sua possível cura (esse é um ponto em que “A Mosca”, de David Cronnenberg, vem logo à mente). A figura do mocinho que antes era meio-vilão, mas que passa a enxergar as coisas de uma outra forma após se sentir como aqueles a quem perseguia já se tornou um tanto clichê, muito embora o intérprete de Wikus, Sharlto Copley (amigo de longa data do diretor), seja bastante convincente em sua atuação.

A segunda metade do filme, desta forma, acaba se tornando um tanto previsível em várias nuances, principalmente porque parece esquecer a crítica social e mergulhar no cinema de ação de forma irrefreável e, assim, os furos de roteiro vão se tornando cada vez mais aparentes (afinal, se as armas dos aliens funcionavam, porque eles não as usavam contra os humanos?). O longa só não cai na pasmaceira total porque várias seqüências são mesmo bem realizadas e os efeitos especiais (obviamente vindos da Weta de Peter Jackson) são extremamente eficientes (mesmo com um alardeado baixo orçamento de US$ 30 milhões), muito embora caiba destacar aqui um certo excesso de violência desnecessária (sangueira e corpos partidos são freqüentes). Outro fator que depõe contra “Distrito 9” é sua trilha sonora, a qual também bebe da fonte de filmes como “O Jardineiro Fiel” e “Diamante de Sangue”, mas que aqui soa deslocada, querendo dar a impressão de estarmos vendo um filme denúncia e não uma ficção científica (o que para alguns pode ser considerado um mérito, tendo em vista as pretensões do diretor).

De qualquer forma, trata-se de um bom começo para Blomkamp, mostrando que Peter Jackson parece ter faro para encontrar novos talentos. E, dentro do quadro atual de Hollywood, alguém que tenha novas ideias, com a de trazer a crítica social mais direta para o terreno da ficção científica, é sempre bem-vindo. Confesso, além disso, que gostei mais do estilo ficção-documentário neste gênero do que no terror, o qual sempre perde em envolvimento ao assumir esta forma. Uma mistureba interessante que vale uma passadinha no cinema mais próximo.

Obs. As legendas estão um lixo. Em alguns momentos os aliens falam e simplesmente não aparece a tradução na tela (só as legendas originais em inglês). Pra completar, o(a) tradutor(a) parece ser fã de “Tropa de Elite”, já que coloca termos como “BOPE” e “Caveirão” na tradução, em uma mediocridade escandalosa (e mesmo idiota).

Cotação: * * * (três estrelas)
Nota: 7,5

sábado, 17 de outubro de 2009

Musas do Escurinho #10

Sessão dupla do "Musas do Escurinho". E homenagem à mais nova e poderosa obra de Tarantino, seguem imagens da duas musas do seu filme. A primeira é Diane Kruger, a linda agente dupla loira e fatal Bridget Von Hammersmarck (como sempre há em todo filme de Segunda Guerra).


A seguir, a bela francesinha Mélanie Laurent, a qual encarna uma personagem já detinada à imortalidade: a judia Shossana Dreyfuss. As francesas...ah, as francesas!