terça-feira, 30 de setembro de 2008

Homem-Aranha 4 (e 5!)

As notícias mais quentes das últimas semanas dizem respeito à continuação da série Homem-Aranha. Ou melhor, continuações. Os episódios 4 e 5 serão rodados juntos (modelo realizado com sucesso pela série "O Senhor do Anéis"). Sam Raimi já foi confirmado na direção e Tobey Maguire irá retornar no papel do protagonista. O ator receberá uma bolada em torno de US$ 50 milhões pelos dois filmes e algumas fontes afirmam que ainda terá direito a participações nos lucros. Além disso, as filmagens deverão ocorrer apenas no período vespertino, pois Maguire deseja dedicar suas manhãs e noites à sua filha Ruby (também deve pesar o fator saúde, já que ele certamente não deseja voltar a sentir as fortes dores nas costas que atrasaram as filmagens do episódio 3).

E hoje tivemos a confirmação de Kirsten Dunst, a Mary Jane Watson, no elenco. Mais uma vez ela abriu o bocão numa entrevista à matriz da MTV e disse: "estou dentro". Na realidade, a Sony iria fazer o anúncio oficial esta semana, mas a loira se antecipou. O roteirista será James Vanderbilt (de Zodíaco) e a estréia de "Homem-Aranha 4" está prevista para maio de 2011. Teeempo...

Lista da Empire


E a revista norte-americana Empire realizou uma pesquisa para definir mais uma lista de melhores de todos os tempos. Desta vez, ela consultou cerca de 10.000 leitores, 150 especialistas de Hollywood e 50 críticos de arte. O mais interessante é que, entre os 10 mais, vários coincidem com os 10 mais do IMDb, conforme comentei há alguns dias aqui no blog. Inclusive, "Um Sonho de Liberdade" também figura no top 10 da Empire, cuja primeira colocação coube à unanimidade "O Poderoso Chefão" . Abaixo, seguem os 1o primeiros:

1) O Poderoso Chefão - Francis Ford Coppola;

2) Os Caçadores da Arca Perdida - Steven Spielberg - Quer Saber? Achei muito justo! E viva Indiana Jones;

3) O Império Contra-Ataca - Irvin Kershner;

4) Um Sonho de Liberdade - Frank Darabont - Olha ele aí de novo!

5) Tubarão - Steven Spielberg - Hein? Certo, "Tubarão" é um clássico, mas daí a colocá-lo na 5ª posição vai um certo exagero...

6) Os Bons Compaheiros - Martin Scorsese - A verdade é que eu preciso rever este filme. Ele entra em todas as listas de melhores de todos os tempos mas, eu, Fábio Henrique, não achei lá grande coisa ao assisti-lo (nos meus já meio distantes 14 anos);

7) Apocalypse Now - Francis Ford Coppola - A única coisa que tenho a falar sobre este filme é que ele saiu essa semana na coleção de DVDs da "revistinha" (Veja). Se você já não tem e resolver perder esta oportunidade é porque está precisando rever seus conceitos enquanto ser humano que pretende ter algum conhecimento cultural na vida...

8) Cantando na Chuva - Stanley Donen e Gene Kelly - Um musical incrível, sem dúvida;

9) Pulp Fiction - Quentin Tarantino - É, Tarantino está mesmo indo "pras cabeças" ultimamente;

10) Clube da Luta - David Fincher - Um certo exagero aqui. O filme é bom, mas não para figurar em um top 10. Merecia mais "Touro Indomável", de Scorsese, que vem logo atrás dele em 11º.

A lista completa, com 500 filmes, você pode conferir aqui. Há muita coisa interessante, como "Magnólia" (posição 89), "O Cavaleiro das Trevas" já alcançando as primeiras posições (15), a série "O Senhor dos Anéis" figurando inteira entre os 100 primeiros, mas também algumas bombas inexplicáveis, como a presença de "Superman - O Retorno" (vá entender). Listas, sempre listas...


domingo, 28 de setembro de 2008

A Culpa é do Fidel!

Infância x Comunismo

Inevitável a comparação entre este “A Culpa é do Fidel!” e “Persépolis”, do qual tratei na minha última resenha postada neste blog. Inevitável porque ambos tratam de acontecimentos políticos vistos sob a ótica de meninas nos seus 8 ou 9 anos. Se neste último temos a visão da iraniana Marjane Satrapi sobre os principais acontecimentos da história do Irã nos últimos 30 anos, no primeiro acompanhamos a trama ficcional de Anna de la Mesa , uma garotinha francesa, acostumada aos prazeres da vida burguesa, quando seus pais acabam por abraçar a causa comunista (nos tempos de Salvador Allende e guerra do Vietnã) e seu cotidiano vira de ponta-cabeça.

Dirigido por Julie Gavras (filha de Costa Gavras), com roteiro baseado na obra “Tutta Colpa di Fidel!”, da jornalista italiana Domitilla Calamai, vemos com muito bom-humor todas essas transformações na rotina de Anna (Nina Kervel-Bey, encantadora). Estudante de colégio católico, tendo o hábito de passar as férias na casa dos seus avós em Bordeaux e pouca afeita a brincadeiras de “corre-corre” com as demais crianças, imagina-se com que insatisfação ela enxerga a mudança de uma das irmãs de seu pai da Espanha franquista para a casa da família em Paris após a perda do marido vítima da bárbara ditadura então vigente no país ibérico. A crescente proximidade dos pais (interpretados por Stefano Accorsi e Julie Depardieu, filha de Gerard Depardieu) com os “comunistas” também a assusta, já que a sua babá, uma cubana que deixou a ilha desde a revolução promovida por Fidel Castro, afirma que esses “vermelhos barbudos” são o demônio, opinião compartilhada por sua avó. E a situação vai ficando cada vez mais difícil para Anna, já que sua mãe acaba deixando seu trabalho na revista Marie Claire para escrever um livro sobre a liberdade de contracepção feminina, e a família se vê obrigada a mudar para um apartamento de proporções bem mais modestas que a antiga residência. Apartamento este que passa a ser cada vez mais freqüentado pelos tais barbudos que tanto odeia, amigos de seu pai que lutam pela vitória de Salvador Allende no Chile. Ademais, sua antiga babá é substituída por várias outras que vão se sucedendo, todas refugiadas políticas.

Eu, que cresci em uma família cheia de militantes de esquerda, não pude deixar de me identificar com várias passagens do filme. Meu avô, por exemplo, é um comunista convicto e, até hoje, quando em visita aqui em casa, ao ler alguns artigos da Rolling Stone (sempre tem uma no centro da sala), não deixa de apontar os vários “maquinismos burgueses” presentes nestas publicações. Aos olhos de uma criança, tudo isso não passa de uma imensa chatice, que só existe para atrapalhar seus pequenos hábitos, já que ler um gibi de Mickey torna-se proibitivo devido ao caráter “fascista” do personagem (assim como os americanos e o napalm, como diz o irmãozinho de Anna, François, o personagem mais espirituoso do longa). E essa perspectiva, como já salientado mais acima, é mostrada de maneira muito divertida. Várias são as seqüências hilárias e com toques sempre muito inteligentes. Um verdadeiro alívio diante das piadas descerebradas que andam predominando no cinema norte-americano e isso é mais uma prova de que é possível fazer rir com conteúdo.

Ao fazer a comparação com “Persépolis” também não posso deixar de realçar o contraponto sobre um aspecto que deixei explícito no meu texto sobre o longa de Marjane. Se na animação mencionei que em muitos aspectos temos uma visão excessivamente feminina sobre os fatos políticos mostrados, fiquei satisfeito em ver que “A Culpa é do Fidel” não padece do mesmo defeito. Julie Gravas mostra-se realmente capaz de mostrar uma história a partir de uma personagem feminina, sim, mas este aspecto é deixado de lado diante de uma perspectiva sem gênero. O que vemos é o olhar de um ser humano, não de um homem ou uma mulher. E é sempre satisfatório quando um artista consegue atingir esse elevado degrau artístico. Outro aspecto é que “Persépolis” abrange um período bem mais extenso da vida da protagonista, enquanto o longa ora resenhado centra-se em um período de tempo bem mais curto, o que retira o caráter “episódico” que normalmente surge em filmes que procuram abranger um longo espaço de tempo nas vidas de seus personagens.

Entretanto, mais do que o pano de fundo político, o que interessa aqui é a nova visão de mundo que Anna adquire. Antes uma menina egoísta, uma típica “burguesinha” para utilizar o termo usado pelos “comunas”, que sequer conhecia o significado da palavra “solidariedade”, a menina passa, ao longo de tantas novas experiências, a ter uma perspectiva menos limitada, obtusa, da realidade que a cerca. E também mais contestadora. Afinal, se há algo que uma visão “marxista” pode lhe dar é exatamente uma posição mais desafiadora diante do mundo. Emblemática a brilhante cena final em que a pequena Anna parece começar a entender que a palavra “solidariedade”, antes de ser entendida, é para ser vivida. Cena simples e bela como a citada palavra.

Classificação: ***** (cinco estrelas)
Nota: 10,0

sábado, 27 de setembro de 2008

Paul Newman: 26/01/1925 - 26/09/2008

"Raindrops keep fallin' on my head
And just like the guy whose feet are too big for his bed
Nothin' seems to fit
Those raindrops are fallin' on my head, they keep fallin'

So I just did me some talkin' to the sun
And I said I didn't like the way he got things done
Sleepin' on the job
Those raindrops are fallin' on my head, they keep fallin'

But there's one thing I know
The blues they send to meet me won't defeat me
It won't be long till happiness steps up to greet me

Raindrops keep fallin' on my head
But that doesn't mean my eyes will soon be turnin' red
Cryin's not for me
'Cause I'm never gonna stop the rain by complainin'
Because I'm free
Nothin's worryin' me

It won't be long till happiness steps up to greet me

Raindrops keep fallin' on my head
But that doesn't mean my eyes will soon be turnin' red
Cryin's not for me
'Cause I'm never gonna stop the rain by complainin'
Because I'm free
Nothin's worryin' me"

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Estréia sem entusiasmo

Começou hoje o Festival do Rio, o qual já se tornou a tradicional prémiére dos mais variados lançamentos nacionais e internacionais na Terra Brasilis. E o nosso concorrente ao Oscar, "Última Parada 174" já deu suas caras por lá, tendo uma recepção bem morninha por parte de critica e público. Nada que os Barreto fazem é confiável. Seus filmes são ruins até surgir alguma prova em contrário. Mais uma vez não teremos chance alguma no Oscar. E mais uma vez não custa lembrar que um filme não será melhor nem pior se ganhar ou deixar de ganhar um Oscar. Assim como o cinema brasileiro não será melhor apenas por ganhar um prêmio da Academia (muito embora todo reconhecimento seja bem-vindo). É tudo tão cansativo...

terça-feira, 23 de setembro de 2008

"Elite Squad"


Esse é o título que "Tropa de Elite" tem nos Estados Unidos, onde está sendo exibido desde sexta-feira 19, e esse é o poster do filme por lá. Observem a frase promocional: "Nas ruas do Rio somente a elite sobrevive". Daqui a pouco alguém vai acusar a distribuidora de estar mostrando uma imagem negativa do Brasil e uma polêmica semelhante àquela do episódio dos Simpsons vai surgir. O trailer ianque também já está disponível no site da Apple. Clique aqui para ver. E mais uma vez coloco o meu questionamento: se Tropa de Elite obteve o Urso de Ouro em Berlim e ainda pode concorrer ao Oscar (já que só agora está sendo exibido nos EUA), porque não indicá-lo para a seleção de filme em língua estrangeira? Parece que o lobby mais forte do cinema nacional é mesmo dos Barreto, os queridinhos da Globo Filmes...

sábado, 20 de setembro de 2008

Persépolis

Memórias animadas

Rotineiramente, costumamos elogiar os estúdios Pixar por realizar com suas animações obras adultas, que serão bem mais compreendidas pelos pais do que pelas crianças durante as suas exibições. Todavia, a Pixar nunca esquece um certo tom lúdico que não descarta o envolvimento dos pequenos, o que normalmente pode ser explicado pela sua necessidade de retorno financeiro. Quantias enormes são investidas nos seus longas e é óbvio que ninguém é louco de investir tanto dinheiro sem ao menos uma perspectiva razoável, nem que seja apenas para saldar os custos.

Todavia, com um aparato técnico menos ambicioso, este “Persépolis” mostra que é possível, sim, criar longas de animação inteiramente voltados ao público adulto, excluindo as crianças como um alvo em potencial. Baseado na série em quadrinhos homônima, lançada originalmente em 4 volumes, o filme narra a história real de Marjane Satrapi, uma iraniana exilada por seus pais na Europa após o recrudescimento do totalitarismo iraniano ocorrido com a chamada “revolução islâmica”. Marjane, também diretora da animação ao lado de Vincent Paronnaud, passou, de sua infância até a idade adulta, pelos mais importantes fatos da recente história do Irã, e nos mostra, de forma descontraída, como vivenciou estes anos difíceis. Assim, vemos sua infância, quando ainda observa os acontecimentos de uma forma um tanto distanciada (como é comum nessa fase da vida), muitas vezes sendo seduzida por um certo clima “aventureiro” daquilo que lhe é passado pelos mais velhos. Já na adolescência, quando é enviada à Europa pelos pais devido a seu temperamento rebelde, são mostrados seus anos típicos de juventude, de descobertas e também de muita frivolidade. Aliás, Marjane parece ser o tempo todo honesta com o público ao mostrar que, enquanto seus compatriotas estavam vivenciando o caos gerado pêra guerra Irã-Iraque, ela se entregava a uma vida de hedonismos em Viena, muitas vezes até negando suas origens apenas com a perspectiva de ser aceita pelos grupos com quem convive, ao mesmo tempo em que se sentia extremamente culpada por seu egoísmo. Mais tarde, em conseqüência da vida marginal que estava levando em terras austríacas, a jovem retorna à terra natal, onde acaba vivenciando os anos mais duros de repressão religiosa.

Com dito acima, apesar de toda sua carga bastante pesada, a história é narrada com muito bom humor e, ainda, enorme inventividade gráfica. Predominantemente em preto e branco, os diretores, todavia, souberam brincar com os diversos tons próximos a este binário de cores, como o cinza, o que torna a animação muito mais bela que o preto e branco em contraste da HQ. Também interessante a idéia de ser mostrada graficamente a imaginação da menina Marjane, o que gera cenas muito divertidas e intrigantes como aquela em Deus e Karl Marx dialogam (hilário!). Ou ainda a forma bem-humorada como são mostrados os absurdos gerados pelo regime totalitário, como na seqüência em que ela busca por fitas de música ocidental no mercado negro. As cores são utilizadas em poucas seqüências, mas o seu tom ameno corrobora para o tom poético do filme. As vozes de interpretação também são ótimas. Chiara Mastroianni faz a voz de Marjane em sua adolescência e idade adulta; sua mãe, Catherine Deneuve, faz a voz de sua mãe na ficção, enquanto a voz de sua avó é interpretada por Danielle Darrieux (uma das melhores personagens do filme, por sinal).

Contudo, apesar de toda sua beleza e originalidade, alguns aspectos me deixaram um pouco com “um pé atrás”. Não sei se o meio da animação seja eficaz para transmitir a contundência que uma trama tão política exige. Muito embora a comédia seja eficiente e até desejável em assuntos complexos, desde que bem utilizada (como são exemplares geniais filmes como “O Grande Ditador” e “Dr. Fantástico”), e nisso “Persépolis” sabe investir muito bem, o tom de “animação” sempre deixa no espectador um sensação de “irrealidade”, e esse tom ameno um pouco excessivo acaba por tirar a força dos dramas políticos. Só a título de comparação e utilizando como exemplo a ditadura militar que se abateu sobre o Brasil ao longo de 21 anos, imaginemos que um filme em que as torturas aos presos políticos fossem narradas através de imagens animadas de um castelo semelhante a uma prisão e que os assassinatos fossem mostrados através de elipses narrativas. Seria estranho, não? Foi essa sensação de estranheza que tive ao fim da exibição, pois que muitas vezes não sentimos o real impacto dos eventos narrados. E isso me faz ter a impressão de que o formato da animação talvez seja realmente inadequado para tramas de viés político tão acentuado. O filme acaba, desta forma, tornando-se apenas didático, mas pouco eficaz em nos fazer sentir a realidade daquelas pessoas.

Um outro ponto a ser debatido: muitas das situações são mostradas dentro uma perspectiva excessivamente feminina. “Claro, ela é mulher e deve passar a sua visão feminina”, dirão as leitoras. Sim, Marjane é mulher, mas tratar de assuntos políticos dentro de uma perspectiva de gênero me parece uma limitação, não uma virtude. Isso me faz lembrar de uma entrevista que vi há algum tempo, no programa “Entrelinhas” da TV Cultura. Nesta, a escritora Sabina Anzuategui falou algo bastante interessante ao afirmar que os homens conseguem, em muitas ocasiões, criar suas obras sem fazer a barba, enquanto as mulheres criam suas obras sempre passando o batom. Talvez seja essa perspectiva neutra, uma visão dos fatos apenas como ser humano, e não como homem ou mulher, algo que também faça falta ao longo da projeção. Em um regime brutal e totalitário, todos são vítimas, não apenas um dos sexos.

De qualquer forma, “Persépolis” é mesmo um filme para ser visto, e sua não indicação ao Oscar de filme estrangeiro este ano foi um dos maiores equívocos da premiação nos últimos anos. Sua indicação para o prêmio de melhor animação acabou soando apenas como um consolo.

Cotação: ****1/2 (quatro estrelas e meia)
Nota: 9,5

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Another Way To Die


E já estamos na contagem regressiva para mais um episódio da série mais longeva do cinema. "Quantum of Solace", o próximo filme com o imortal personagem James Bond, o agente 007, tem sua estréia marcada para o dia 07 de novembro. E o título deste post é exatamente o da canção tema do filme, composta e interpretada por Jack White e Alicia Keys. Confesso que gostei bastante e vocês podem ouvi-la clicando no link baixo:

"Another Way To Die"

O filme é uma continuação do grande sucesso de público e crítica "Cassino Royale". Agora, Bond quer vingança. Para tanto, terá ajuda da linda Camille (Olga Kurylenko) para seguir os rastros de Dominic Greene, o vilão interpretado por Mathieu Almaric (o Jean-Do de "O Escafandro e a Borboleta"), o qual faz parte de uma organização criminosa que controla uma grande fonte de recursos naturais aqui na nossa América do Sul. A direção é de Marc Forster (só espero que ele não erre a mão como fez com "O Caçador de Pipas"). Aguardando!

terça-feira, 16 de setembro de 2008

O Concorrente

"Última Parada 174" será o filme brasileiro que irá disputar uma das 5 indicações ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira em 2009. Como muitos já devem saber, o longa, dirigido por Bruno Barreto, trata da vida de Sandro Nascimento, o responsável pelo assalto ao ônibus da linha 174, do Rio de Janeiro, exibido em rede nacional de televisão. Já adianto que a premissa do filme não me agrada. Barreto colocou elementos fictícios ao narrar a história de Sandro Nascimento, meio que para tornar a mais do que pesada história do rapaz em algo mais palatável e comercial. Ou seja: vai tentar travestir uma ficção por realidade. Não tenho qualquer simpatia por isso. Ainda não vi o filme, claro, mas de antemão já recomendo a todos verem "Ônibus 174", o impecável documentário de José Padilha sobre os mesmos eventos. Pelo menos assim todos já terão uma referência a ser tomada.

O filme escolhido etréia em circuito nacional no dia 24 de outubro. E sobre Liha de Passe, segue abaixo a justificativa de sua ausência, dada pelo próprio Walter Salles no site oficial do filme (trechos):

“Participar da campanha pelo Oscar de melhor filme estrangeiro é um processo mais complexo do que parece. Já percorri essa estrada e sei que sem uma dedicação de vários meses, as chances de um filme selecionado por um país chegar à final e possivelmente ganhar são escassas. (...)

Uma campanha realmente competitiva para o Oscar começa nos prêmios que são outorgados no final do segundo semestre pelo National Board of Review, a mais antiga associação de críticos dos Estados Unidos, e continua com os prêmios da crítica especializada das maiores cidades daquele país. Para cada um desses eventos, é necessário apresentar o filme, realizar debates, fazer dezenas de entrevistas desde meados do segundo semestre.

Em anos especialmente disputados, lançar o filme nos Estados Unidos até outubro ou novembro é um trunfo importante. Quando Central do Brasil ganhou o prêmio de melhor filme estrangeiro do National Board of Review em dezembro de 1998 e depois o Globo de Ouro, já tínhamos lançado o filme nos Estados Unidos e realizado dezenas de debates através do país. Roberto Begnini, que ganhou o Oscar em março de 1999, lançou o seu filme ainda mais cedo, mudou-se para Los Angeles e passou vários meses em campanha. (...)

Para fazer algo pela metade, é melhor não fazer. Se tivéssemos inscrito Linha de Passe e ganhado a indicação do Brasil, não teríamos como representar o país com a responsabilidade que se faz necessária. Agradecemos a todos que torcem pelo filme e desejamos o melhor ao longa brasileiro que for escolhido pela comissão.” - Walter Salles

domingo, 14 de setembro de 2008

O Escafandro e a Borboleta

Corpo doente, mente sadia

Jean-Dominic Bauby era editor da revista Elle, importante publicação francesa sobre moda. A partir desta frase já podemos concluir muito de sua personalidade e estilo. Claro que todo pré-julgamento é injusto, mas você não estará enganado se imaginar que sua vida era impregnada de dinheiro, luxo e belas mulheres. Imagine, logo em seguida, que este mesmo homem sofre um acidente vascular cerebral, entra em coma e, ao acordar, descobre que está paralisado, conseguindo apenas mover o seu olho esquerdo. Pronto, tudo que você precisa saber sobre a trama de “O Escafandro e a Borboleta” já está dito. Só apenas mais um detalhe. Através de um código desenvolvido por uma ortofonista e com a ajuda de uma enfermeira, Bauby consegue escrever uma autobiografia apenas com o movimento do olho (ele pisca e assim são decifradas as letras), livro que dá título ao filme.

Óbvio que uma história como essa poderia gerar um excelente filme. Mas também poderia dar ensejo a uma obra sofrível, vez que é fácil e tentador apelar para o piegas e melodramático com um texto que, por si só, já dá ensejo a muitas lágrimas na platéia. Procurando fugir desta armadilha, o diretor Julian Schnabel utiliza recursos inusitados. Felizmente, com muito sucesso.

Logo no início percebemos suas interessantes estratégias. Durante a primeira metade do filme, praticamente só vemos os acontecimentos dentro da perspectiva de Bauby. Os nossos olhos são os olhos do personagem. Podemos então fazer uma idéia de sua imobilidade, “sentir” (assim, entre aspas, pois só quem vive uma situação pode realmente afirmar como ela é) como é estar preso dentro do seu próprio corpo. Um corpo que se torna um escafandro. Palmas para Janus Kaminzki, diretor de fotografia fiel parceiro de Steven Spielberg. A “voz” de Bauby em off também nos dá uma perspectiva interessantíssima e contribui muito para a nossa empatia com o personagem. É como se estivéssemos conhecendo, de fato, seus pensamentos o que gera uma imediata intimidade com o espectador e, ao mesmo tempo, evita que este acabe por sentir uma pena excessiva do protagonista. Percebe-se que Bauby continua sendo o mesmo, com suas mesmas fraquezas humanas, apenas agora se encontra em uma condição física diferente.

Ao mesmo tempo, Schnabel também sabe utilizar os aspectos mais emotivos a seu favor. Os flashbacks mostrando momentos relevantes na vida de Bauby são deveras cativantes e fazem com que possamos conhecer ainda mais sua personalidade. A escolha de momentos marcantes a serem mostrados, como o dia dos pais após o derrame, também é muito feliz (são esses momentos os mais capazes de levar o espectador às lágrimas). Vê-se, assim, que o roteiro de Ronald Harwood (de “O Pianista”) também foi fundamental para que o filme ganhasse em qualidade, sendo muito feliz na forma como adaptou o livro às telas.

Outro ponto crucial são as atuações de peso. Mathieu Almaric, com a garra de sempre, está impecável. Muito estranha a sua não indicação ao Oscar de melhor ator na última edição do prêmio, ainda mais se lembrarmos que a Academia adora esse tipo de papel. E aqui vai uma curiosidade: o personagem estava previsto para Johnny Depp, o qual foi responsável pela indicação de Schnabel para a direção. Temos ainda as participações de Emmanuelle Seigner (como Céline, a mãe dos filhos de Bauby), Max von Sydow (como o pai, já bem idoso, responsável por alguns do melhores diálogos do longa), Marina Hands (a Lady Chaterlley da última adaptação para o cinema) e uma das últimas atuações de Jean-Pierre Cassel, famoso ator da Nouvelle Vague e pai de Vincent Cassel, além de Marie-Josée Croze, como a fonoterapeuta Henriette (linda, diga-se de passagem).

O filme acabou sendo indicado a vários Oscars este ano, e talvez até injustiçado em algumas categorias (foi indicado nas categorias de direção, roteiro, fotografia e edição) , levou prêmio de melhor direção em Cannes 2007, e ganhou dois Globos de Ouro (filme e direção). E, além de ser uma história de superação, é também uma bela mostra do quanto velhos ressentimentos, desencontros e amores partidos podem gerar um imenso tempo perdido, tempo este que, sabemos, jamais irá retornar. O passado é imutável; o futuro, tão bem representado pela paralisia de Bauby, totalmente incerto; só nos resta humanizar o presente.

Não é pra perder.

Obs. Trilha sonora pop interessante que tem até uma pequena inserção de “Céu de Santo Amaro" em certa seqüência, além de “Pale Blue Eyes” do Velvet Underground (mesmo que ambas só no instrumental).

Cotação: ***** (cinco estrelas)
Nota: 10,0.

sábado, 13 de setembro de 2008

Encarnação do Demônio

Horror e Erotismo

José Mojica Marins é o primeiro e único diretor brasileiro a dedicar-se ao gênero do terror. O seu personagem, o coveiro Josefel Zanatas (satanaz ao contrário, perceberam?), mais conhecido como Zé do Caixão, é um dos raros casos do cinema nacional em que um tipo transpõe os limites de um mesmo longa para tornar-se figura constante de uma série (algo tão comum nos EUA, não?). Série que, por sinal, agora chega ao fim. “Encarnação do Demônio” é o último capítulo de uma trilogia iniciada ainda nos anos 60 com “À Meia Noite Levarei Sua Alma” (1964) e “Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver” (1967). Incompreendido pela crítica em seu tempo e sendo extremamente censurado pelo controle dos militares, Mojica, entretanto, logo se tornou um enorme sucesso de público, o que parece não repetir nesses tempos de cinema cosmético e pouco autoral. O lançamento do filme em circuito nacional, no início de agosto, foi um enorme fracasso nas bilheterias (fato que pude constatar na sessão a que assisti nesta sexta-feira, quase vazia), talvez porque os espectadores atuais o vejam como algo “démodé”, “cafona” ou muito “trash”.

Neste novo longa, Mojica retoma suas velhas obsessões: o seu ateísmo, a crença de que não existe nada além da carne e que a única forma de superar a finitude da existência é gerando um filho, a continuidade do sangue. Para tanto, ele busca encontrar uma fêmea “superior”, que demonstre ser capaz de gerar o herdeiro perfeito. E isso após passar 40 anos na cadeia, condenado pelos terríveis crimes do passado (um pouco de incongruência com o sistema penal brasileiro que não admite que um sentenciado cumpra mais de 30 anos de reclusão, mas tudo bem...). Na verdade, ele meio que decide “se garantir” e escolhe 7 fêmeas para copular (número, segundo o próprio diretor, escolhido por motivo de superstição e significado), todas lindas (e bota lindas nisso), corajosas e submissas (e nuas!). Para demonstrar a mencionada capacidade de gerar o filho perfeito, as mulheres serão submetidas a duras provas, com sessões de tortura com ratos, cachorros e insetos. Vale dizer que durante as filmagens foram usados espécimes vivos (as baratas eram de laboratório, perfazendo cerca de 3.000). Portanto, dá para imaginar que, conforme dito pelas próprias atrizes em entrevistas, o medo demonstrado em certas cenas era real.Todavia, para atingir seu objetivo, Josefel terá que enfrentar ainda outros obstáculos. Vários desafetos do passado planejam sua vingança contra o coveiro, entre eles dois irmãos oficiais da polícia (um dos quais interpretado por Jece Valadão, que faleceu ainda antes do término das filmagens) e um religioso que se auto-flagela, interpretado por Milhem Cortaz (o soldado “02” de Tropa de Elite, lembram?). Também acaba encontrando várias de suas vítimas do passado na forma de espíritos ou alucinações. A dúvida se são almas ou fruto de uma mente perturbada é o que mais atormenta o coveiro. Afinal, a presença desses mortos pode significar o fim de sua crença na existência apenas da carne e, por outro lado, caso sejam alucinações, isso pode significar que ele realmente não possui domínio de suas faculdades mentais. Até mesmo o demônio (Zé Celso Martinez, o qual sempre me pareceu com cara de esconjuro mesmo) parece querer atrapalhar seu caminho, levando-o a uma “tour” no inferno que parece lembrar a viagem de Dante acompanhado por Virgílio na “Divina Comédia”.

Importante notar que toda a produção é feita com capricho, nunca o cineasta tendo antes tanto dinheiro à disposição. Os efeitos especiais são convincentes, a fotografia é competente e o roteiro (escrito pelo próprio Mojica ao lado de Denisson Ramalho), apesar de algumas falhas, não compromete. O figurino, por sinal, ficou a cargo de Alexandre Herchcovitch, o que já é um bom argumento para você, mulher, ter vontade de assistir ou, você, homem, convencer sua namorada/esposa/ficante/amiga-com-segundas-intenções a acompanhá-lo (e ela provavelmente não vai conseguir convencer aquela amiga “empatona” a acompanhar vocês).

Entretanto, há lago que incomoda no filme, talvez justamente a intenção de realizar algo mais bem produzido e comercial, com intuito globalizado, como bem ficou sublinhado pela sua exibição na mais recente edição do Festival de Veneza. Essa embalagem mais cosmética-sabonete acaba por distanciar a obra de Mojica de certos elementos mais brasileiros, regionais, presentes nos dois primeiros capítulos da trilogia. Só para citar um exemplo, falemos do tal figurino de estilista. Zé do Caixão continua com sua roupa de capa preta que remete ao visual clássico dos vampiros eternizados por Hollywood. Todavia, há um certo ar de sofisticação em suas vestimentas que acabam por distanciá-la de uma outra referência, qual seja, a de Exu, entidade mitológica e maléfica da umbanda. É a ausência desses elementos, os quais talvez não façam falta ao público que costuma ir às salas de shopping centers, que acaba prejudicando a apreciação do longa por parte daquele que espera algo mais de Mojica além de um mero filme de sustos. Aliás, no caso, mais violência que sustos, o que também não é novidade em tempos de “Jogos Mortais” e “O Albergue”. Muito embora, também é até justo lembrar, Mojica tenha sido um precursor dessa violência gráfica, como poderá ser visto pelo espectador através das cenas dos longas anteriores inseridos neste capítulo (como uma forma de flashback). Além disso, o sexo é mostrado de uma forma muito mais adulta e erótica que nesses filmes que o cinema americano produz para adolescente ver.

À parte estes defeitos, é bom ver o cinema nacional produzir algo diferente do conflito do tráfico nas favelas ou estudos sociológicos (esse ano ainda teremos “Última Parada 174”, é bom lembrar). O Brasil precisa de uma maior diversidade em sua produção que, em muitas ocasiões, mais parece uma monografia de final de curso. E, mesmo que esteja em um patamar inferior a suas primeiras produções, José Mojica Marins conseguiu mais uma vez engendrar algo diferenciado e substancioso. Muito recomendável, nem que você não esteja nem aí para o terror cabeça do diretor, mas apenas interessado em ver as lindas beldades nuas que enfeitam a tela em meio ao bocado de bizarrices exibidas (se for só por isso, digo que realmente vale à pena...).

Cotação: ***1/2 (três estrelas e meia)
Nota: 8,5

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Filmes Para Ver Antes de Morrer

Ontem foi 11 de setembro e é impossível qualquer ser humano que tinha o mínimo de discernimento na ocasião não lembrar dos eventos ocorridos nesta data há 7 anos. No embalo, as emissoras de TV programaram para esta semana filmes que remetem a tais eventos. Só para citar o exemplos dos canais abertos, a Globo exibiu em sua "Tela Quente" o filme feito para TV "Vôo 93", piegas e cheio de patriotadas. Já a Record exibiu ontem este que aqui recomendo "Vôo United 93", de Paul Greengrass, talvez o melhor filme feito até aqui sobre os fatos que marcaram esta década. Segue abaixo a resenha que escrevi na época do lançamento em circuito nacional.

Vôo United 93

(United 93)


Documento do Terror


Impactante. Talvez seja esta a melhor palavra para definir “Vôo 93” (ou “Vôo United 93”, conforme traduzido por alguns), o novo longa de Paul Greengrass. O filme narra a história do único avião seqüestrado no dia 11 de setembro de 2001 que não atingiu seu alvo, o qual seria provavelmente o Capitólio ou, em uma segunda hipótese, a Casa Branca.

Utilizando uma técnica quase documental, já experimentada em “Domingo Sangrento” (sobre os mesmos episódios irlandeses que levaram o U2 a compor “Sunday Bloody Sunday”), Greengrass nos coloca quase que em contato direto com os personagens mais próximos dos eventos daquele triste dia. Idéia esta ainda mais reforçada pela presença de pessoas que realmente estavam lá, como alguns dos controladores de vôo que vemos em cena, além de Bem Sliney, que faz seu próprio papel no filme como diretor da F.A.A. (órgão responsável pela administração da aviação nos EUA). Neste ponto, vale a observação de que “Vôo 93” é mais um longa que atenua os limites entre ficção e documentário, tendência que vem se tornando forte nos últimos anos, não só com os “ficções aproximando-se dos documentários”, como também no sentido “documentários aproximando-se do estilo ficcional”.

E talvez seja esta a melhor forma de narrar um evento traumático que abalou toda a sociedade contemporânea. As peripécias emocionais mostradas por Oliver Stone em “As Torres Gêmeas” soam descartáveis diante de um episódio por si só suficientemente dramático (muito embora o longa de Stone tenha seus bons momentos e não chegue a ser a “bomba” que alguns afirmaram por aí). Em casos assim, frieza e objetividade falam melhor do que qualquer apelação piegas. Qualquer adicional pode soar como uma extravagância.

A câmera nervosa de “Vôo 93” nos conduz à situação de tensão dos controladores , na primeira parte do filme (que mostra a dificuldade dos mesmos entenderem o que estava acontecendo). Já na segunda metade, o foco se concentra, com uma carga de tensão ainda maior, nos passageiros do United Airlines que dá título ao filme. Somos levados a acompanhar toda a situação de desespero pela qual eles passaram, mostrada em todos os detalhes, desde o espanto no momento em que tomam conhecimento do seqüestro, até a resignação com a morte, quando então começam a se despedir de seus entes queridos através dos telefones. Ou mesmo a tentativa, que acabou se mostrando suicida, de escapar de destino tão terrível.

Aliás, talvez o melhor do filme seja mostrar que a tentativa de tomar o controle do avião, em uma atitude desesperada, não se deveu a sentimentos “patrióticos”, como tentou fazer-nos acreditar o governo americano, durante os dias que se seguiram ao 11 de setembro. Eram seres humanos como eu e você que lê esta resenha: queriam apenas seguir suas vidas, junto às pessoas que amavam.

Classificação: ***** (cinco estrelas).

Nota: 10,0.

Lista para o Oscar

Foi divulgada esta semana (terça-feira) a lista dos filmes brasileiros que participarão da seleção que irá definir o concorrente nacional para o prêmio de melhor filme em língua estrangeira no Oscar 2009. O resultado será divulgado no próximo dia 16.

Vejam a lista:

A Casa de Alice, de Chico Teixera
A Via Láctea, de Lina Chamie
Chega de Saudade, de Laís Bodanski
Era Uma Vez..., de Breno Silveira
Estômago, de Marcos Jorge
Meu Nome Não é Johnny, de Mauro Lima
Mutum, de Sandra Kogut
Nossa Vida Não Cabe num Opala, de Reinaldo Pinheiro
Olho de Boi, de Hermano Penna
Onde Andará Dulce Veiga?, de Guilherme de Almeida Prado
O Passado, de Hector Babenco
Os Desafinados, de Walter Lima Júnior
O Signo da Cidade, de Carlos Alberto Riccelli
Última Parada 174, de Bruno Barreto



Só um detalhe: cadê "Linha de Passe", de Walter Salles e Daniela Thomas? Será que eles não inscreveram o filme na concorrência? Estranho...

O próxima edição do Oscar acontece em 22/02/2009.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Revolta parte II

Mais uma vez deixo aqui registrada minha revolta com os exibidores de Natal. "Ensaio Sobre a Cegueira" terá sua estréia nacional nesta sexta-feira 12. Mas quem disse que Natal faz parte do circuito nacional? Como sempre, um lançamento importantíssimo não será exibido em nossas telas. Vale dizer que "Linha de Passe", o filme que deu o prêmio de melhor atriz a Sandra Corveloni no último Festival de Cannes, também não pintou em terras natalenses (sua estréia nacional foi na última sexta-feira 05/09). E olha que estes filmes são dirigidos pelos diretores brasileiros mais famosos da atualidade (Fernando Meirelles e Walter Salles). Pelo menos, para "compensar", teremos a oportunidade de conferir dois fimes relevantes, ambos no Moviecom. São eles "Encarnação do Demônio", o novo filme de José Mojica Marins, e "O Escafandro e a Borboleta", filme que concorreu em diversas indicações na última edição do Oscar contando a história real de Jean-Dominic Bauby, editor da revista Elle francesa, o qual sofreu um derrame cerebral e perdeu sua locomoção. Ele passou, então, a se comunicar com o mundo piscando seu olhos esquerdo. Para quem quiser algo ainda mais "cabeça", o Cineclube Natal exibe dia 14/09, às 17h, o filme "O Enigma de Kaspar Hauser", do cineasta alemão Werner Herzog. Todos os filmes citados merecem sua presença.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Premiação em Veneza

Saiu a premiação do Festival de Veneza no último sábado. O vencedor do Leão de Ouro foi "The Wrestler", filme de Darren Aronofsky (de "Requiém Para Um Sonho" e próximo diretor da série "Robocop"), que trata da vida de Randy "The Ram" Robinson, astro da luta-livre aposentado devido a um ataque cardíaco. Ele, todavia, deseja voltar aos ringues, mesmo sabendo do sério risco que isso trará. O personagem é interpretado por Mickey Rourke que, pelos comentários que circulam, deverá ser indicado ao Oscar por sua performance inspirada (nesse caso, não deixa de ser curioso que ele não tenha levado o prêmio de melhor ator no Festival). O filme conta ainda com Marisa Tomei, como a stripper com quem o lutador vive, e canção-tema de Bruce Springsteen . O Leão de Prata de melhor diretor foi para o russo Aleksey German Jr pelo filme "Soldado de Papel". Nenhum dos filmes que contavam com co-produção brasileira recebeu premiações do júri presidido por Wim Wenders. Já a nossa Alice Braga (gostosa!) integrou o júri da premiação "Luigi de Laurentiis", destinada ao melhor filme de um diretor estreante, entregue a "Pranzo Di Ferragosto", de Gianni Di Gregorio. Abaixo, vocês podem conferir todos os premiados.

Leão de Ouro para Melhor Filme

The Wrestler, Darren Aronofsky (EUA)


Leão de Prata para Melhor Direção

Aleksey German Jr., Bumažnyj Soldat ("Soldado de Papel" - Rússia)

Prêmio Especial do Júri

Teza, Haile Gerima (Etiópia, Alemanha, França)


Coppa Volpi para Melhor Ator

Silvio Orlando, Il papà di Giovanna (Itália)

Coppa Volpi para Melhor Atriz

Dominique Blanc, L’autre (França)


Prêmio Marcelo Mastroianni para Melhor Jovem Ator ou Atriz

Jennifer Lawrence, The Burning Plain (EUA)


Osella para Melhor Fotografia

Alisher Khamidhodjaev e Maxim Drozdov, Bumažnyj Soldat (Rússia)


Osella para Melhor Roteiro

Haile Gerima, Teza (Etiópia, Alemanha, França)


Leão Especial pelo Conjunto da Obra

Werner Schroeter

Prêmio Luigi de Laurentiis para um Filme de Estréia

Pranzo Di Ferragosto, Gianni Di Gregorio (Itália)

domingo, 7 de setembro de 2008

O Nevoeiro

Sociologia assustadora

É provável que você já tenha assistido a um do filmes de George A. Romero, o sensacional diretor de filmes como “A Noite dos Mortos-Vivos”, “Dia dos Mortos” e “O Despertar dos Mortos”. Romero é incrível na forma como impregna seus filmes de um enorme contexto sociológico, mesmo que muitas vezes o espectador desavisado apenas perceba um amontoado de zumbis perseguindo aqueles que ainda são “humanos”. O diretor normalmente coloca seus personagens encurralados em algum ambiente “simbólico”, como uma loja, um supermercado ou mesmo um shopping center, como que para representar os privilegiados (os que estão dentro) e os “excluídos” (os que estão fora), estes últimos sempre representando uma “ameaça” aos primeiros. O estilo de Romero se tornou clássico e imitado por muitos.

Pois bem, mesmo que não se possa afirmar que Frank Darabont seja um herdeiro ou imitador de Romero, é nítido que em seu mais recente trabalho, este “O Nevoeiro”, as marcas do cineasta dos zumbis se fazem presentes. Se não há personagens que possamos identificar como “excluídos”, há um subtexto de “ameaça” presente e essa forma mais “imprecisa” de metáfora pode trazer outras conotações. Primeiramente, falemos sobre a trama.

No roteiro, escrito pelo próprio Darabont, vemos um dia logo após uma grande tempestade em uma pequena cidade do nordeste dos EUA. De uma hora para outra, um imenso nevoeiro toma conta de toda a região. Nesse momento, David Drayton (Thomas Jane, de “O Justiceiro”), que estava no centro para comprar alguns reparos e mantimentos para sua casa, a qual sofreu avarias na noite anterior, acompanhado de seu filho Billy (Natham Gamble), encontra-se em um supermercado da localidade. Ambos, juntamente com um grupo de moradores que também faziam compras naquele momento, se vêem confinados pela súbita e espessa névoa que não parece ser um evento rotineiro da natureza. Aos poucos, o fenômeno vai revelando sua verdadeira faceta, aparentando trazer consigo criaturas assassinas. O medo se instala entre as pessoas ali presentes e muitas delas começam a revelar suas piores facetas. É como, resumidamente, é dito pelo personagem de David a certa altura: “somos civilizados desde que as máquinas funcionem e o serviço de emergência atenda”. Darabont, então, estabelece um microcosmo da sociedade, colocando personagens que se tornam representantes de suas diversas faces. Há os solidários, corajosos, egoístas, covardes, a fanática religiosa, o advogado, militares, entre outros tipos. É nesse ambiente de confinamento e com esse microcosmo social que Darabont destila uma afiada crítica a todas essas vertentes humanas. Ele parece disparar uma metralhadora giratória, sobrando tiros certeiros para todos os lados. Da mesma forma que o fanatismo religioso é alvo, o uso irresponsável e sem ética da ciência sofre ataques duros (para citarmos dois exemplos), ou mesmo acabam sobrando tiros para destemidos ou acomodados, ou para qualquer “representante” de arquétipos sociais. Ninguém é poupado. E se Romero costuma brincar com o conceito de luta de classes, como já realçado mais acima através de seus zumbis, as criaturas da névoa parecem representar toda e qualquer forma de ameaça que possam deixar uma comunidade amedrontada: você pode tanto enxergar nelas a violência urbana asfixiante que domina os grandes centros (principalmente dos países “em desenvolvimento”), como também os terroristas que se tornaram a maior preocupação dos países tidos como ricos, entre outras metáforas possíveis.

É interessante notar ainda como Darabont parece ter uma preferência por tramas que se passam em ambientes de confinamento. Os seus dois filmes mais conhecidos, “Um Sonho de Liberdade” e “À Espera de Um Milagre” tem sua ambientação em presídios e, nesta nova produção, temos uma espécie de penitenciária circunstancial. E também parece palpável que sua crença no ser humano esteja diminuindo a cada novo projeto levado às telas. Seu pessimismo com relação à humanidade é mostrado de forma escancarada neste “filme B” inteligente. Aliás, isso parece ser uma perspectiva comum também a Stephen King, o autor dos três livros em que foram baseados os dois filmes de Darabont citados e mais este que aqui se resenha. Confesso que nunca li uma obra de King, mas ele parece mesmo ser mestre nessas situações de claustrofobia. Basta lembrar que “O Iluminado” (o qual se tornaria uma obra-prima cinematográfica nas mãos de Stanley Kubrick), que se passa em um hotel durante o inverno, também estabelece clima semelhante. E King sempre mostra não acreditar muito no ser humano em suas obras cine-adaptadas.

Mas nem só de “experiências sociológicas” vive “O Nevoeiro”. O longa também é muito eficiente enquanto terror. Em vários momentos é possível ter a sensação de também estar naquele supermercado. O clima de medo, sensação de impotência e claustrofobia (ou mesmo de estranheza diante de fatos tão desnorteantes) é passado com extrema eficácia para o espectador. O suspense é angustiante em certas passagens.Com certeza muitos darão pulos da cadeira ao longo da projeção e será possível ouvir aqueles assistentes empolgados, sempre apontando como os personagens devem proceder. Para tanto, a fotografia com câmera nervosa contribui muito e os diversos closes nos rostos dos personagens são muito eficientes para captar suas expressões de temor e angústia. O elenco, obviamente, também se torna fundamental para que adentremos neste clima. Se Thomas Jane se mostra apenas competente como David (mas muito melhor que em “O Justiceiro”, nem se preocupem), aquele que de certa forma conduz a trama, Marcia Gay Harden dá um show com a Sra. Carmody, a fanática religiosa que acaba deixando a situação ainda mais insustentável. Também muito interessante a atriz que faz Amanda (Laurie Holden), personagem que faz par semi-romântico com David que, além de bela, mostra-se bastante eficiente. Um outro aspecto relevante é a quase ausência de trilha sonora, o que talvez gere uma sensação ainda maior de realidade (em dado momento, quando ela surge, até estranhamos sua presença, criando uma sensação mista de tensão e melancolia). Por outro lado, talvez devido ao fato de não contar com um orçamento gigante, alguns efeitos mostram-se não muito eficientes em alguns momentos, muito embora não cheguem a comprometer o resultado final. Prepare-se para sensações fortes. Se você for daquelas pessoas mais impressionáveis, não veja à noite, pois pode ter o seu sono comprometido.

Darabont mostra-se, inclusive, muito corajoso com o desfecho do filme, um verdadeiro risco, sem concessões para um público acostumado a soluções previsíveis ou, ainda, alentadoras. Talvez estejamos finalmente percebendo que ele, realmente, não é apenas mais um diretor de encomendas de Hollywood. Pelo contrário, deixa suas marcas em cada obra, as quais estão se fazendo cada vez mais visíveis, mesmo que por trás de um imenso nevoeiro povoado de monstros.

Cotação: **** (quatro estrelas)
Nota: 9,0.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Mas não é que a "revistinha" fez algo de útil!?


Deus sabe o quanto está me custando escrever isso, mas tenho que parabenizar a revista Veja pela bela iniciativa de proporcionar aos leitores (e não leitores também) uma ótima "cinemateca", que pode servir de incentivo para que muitos iniciem suas coleções. Principalmente porque ela não se resumirá a títulos de grande popularidade, como é o caso da primeira edição (Titanic). Filmes como "Kagemusha", de Akira Kurosawa, integrarão a coleção, além de clássicos como "Disque M Para Matar", de Hitchcok, e "Quanto Mais Quente Melhor", de Billy Wilder, uma das mais geniais comédias de todos os tempos. Isso sem falar de obras primas como "2001- Uma Odisséia no Espaço" e "Apocalypse Now". Cada DVD é acompanhado por um pequeno fascículo (60 páginas cada) bastante rico em informações não só sobre os filmes, mas também sobre os respectivos diretores e elencos, com a filmografia de cada um deles e essenciais informações biográficas. Vale dizer que os discos parecem corresponder aos produtos simples que as distribuidoras lançam no mercado (o DVD de Titanic, por exemplo, é o mesmo DVD que encontramos nas lojas por 12,90), e ainda acompanhado por esse "plus" que é o mencionado livreto. Não gosto de fazer marketing para a "revistinha", mas é bom acompanhar os lançamentos semanais. Muita coisa boa vem por aí!

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Mais duas listas, mas até interessantes

Bastante interessantes duas listas que conferi esta semana na internet. A primeira delas é do melhores filmes segundo os votos dos internautas freqüentadores do IMDb, a maior base de dados cinematográficos da rede. Nela, percebemos o quanto a opinião popular pode estar distante da opinião dos críticos, mas ainda assim resultar em um apanhado interessantíssimo. Uma grande curiosidade já se vê no topo de lista. Segundo a média de notas apuradas, “Um Sonho de Liberdade”, do diretor Frank Darabont (atualmente em cartaz nos cinemas com “O Nevoeiro”), com Tim Robbins no papel central e Morgan Freeman como principal coadjuvante, é o melhor filme de todos os tempos. Algo posso falar de verdade: não conheço uma pessoa que não tenha gostado desse longa, realmente uma unanimidade difícil de ser atingida. Em segundo lugar, uma outra unanimidade, se bem que esta não tem nada de surpresa: “O Poderoso Chefão”. Assino embaixo. Confiram os 10 mais:


1) Um Sonho de Liberdade – Frank Darabont (1994);

2) O Poderoso Chefão – Francis Ford Copolla (1972);

3) O Cavaleiro das Trevas – Christopher Nolan (2008). Pois é! Nosso amigo Batman já foi catapultado às seleções de melhores de todos os tempos;

4) O Poderoso Chefão Parte II – Francis Ford Copolla (1974);


5) Três Homens em Conflito (ou “O Bom, o Mau e o Feio”, como queira) – Sergio Leone (1966). Aqui fica registrado o imenso sucesso que Leone sempre teve junto ao grande público;

6) Pulp Fiction - Quentin Tarantino (1994). O meu preferido de Tarantino é Kill Bill, mas achei interessante um filme dele estar tão bem posicionado;

7) A Lista de Schindler – Steven Spielberg (1993). Na minha opinião, muito justo!


8) Um Estranho no Ninho – Milos Forman (1975). A verdade é que todos somos fãs do Jack Nicholson;

9) O Império Contra-Ataca – Irvin Kershner (1980). O melhor de todos os filmes da série Star Wars, sem dúvida!


10) 12 Homens e Uma Sentença – Sidney Lumet (1957). Essa é uma tremenda surpresa. Esse filme é mesmo sensacional, mas pouco lembrado em listas. Estou pensando em escrever um resenha sobre ele.

Estes são os 10 primeiros, mas há muitas outras curiosidades dignas de nota. Uma para nós brasileiros é toda especial: Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, ocupa a 18ª posição, vejam só! Interessante, não? Bem, vocês podem conferir a lista dos 250 mais do IMDb no link abaixo:

http://www.imdb.com/chart/top


Outra seleção bem interessante foi realizada pelo site Tccandler.com. Acho que todos os que apreciam cinema são vidrados nos pôsteres dos filmes. Pensando nisso, a equipe do mencionado site fez uma seleção com os melhores pôsteres de todos os tempos. A lista é interessantíssima, além de bela, e também tem suas curiosidades. O primeiro lugar ficou para um filme bastante obscuro de 1933, sobre uma mulher condenada à cadeira elétrica por um crime que afirma não ter cometido, “The Sin of Nora Moran” (nunca vi). É este que segue abaixo.

Realmente: o que há de mais belo que o corpo feminino? :) Talvez seja por isso que nos três primeiros do “grid” (em segundo, “Beleza Americana”, em terceiro, “Pulp Fiction”), há três imagens femininas. Minha reclamação contra essa lista de 100 vai para a ausência de Kill Bill vol.1, um dos meus preferidos. O endereço segue abaixo, não deixe de conferir. Até mesmo porque, a lista não é definitiva. Você pode contribuir com sugestões e, quem sabe, ajudar a montar uma seleção posterior. Só uma observação: "Um Sonho de Liberdade" também comparace nesta lista, na 14ª posição. Pois é...