sábado, 28 de julho de 2012

Filmes Para Ver Antes de Morrer

Adaptações de HQ: 7 filmes essenciais



Bryan Singer certamente não imaginava que estava criando uma nova era no cinema quando, em 2000, foi o responsável pela direção de “X-Men – O Filme”. Foi o êxito deste longa-metragem sobre os mutantes da Marvel Comics que fez surgir uma década dominada por grandes lançamentos cinematográficos baseados em HQs. Mesmo que Richard Donner já tivesse mostrado ao mundo, ainda nos anos 70, que era possível fazer um bom filme a partir de um personagem egresso dos quadrinhos, foi apenas com o longa de Singer, um sucesso tanto de público quanto de crítica, que surgiu uma onda de adaptações da Nona Arte, não restritas apenas a histórias de super-heróis, passando até mesmo por dramas de caráter político (como a animação “Persépolis”). Este ano, já tivemos “O Espetacular Homem-Aranha” invadindo as telas e, neste fim de semana, temos o desfecho da trilogia do homem morcego com “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge”. Diante de tantas produções, o Cinema Com Pimenta lista aqui sete filmes essenciais para quem quer se aventurar nas adaptações de quadrinhos sem ter que encarar bombas como “Lanterna Verde” ou “O Justiceiro”. Vamos a eles!


7) Homem de Ferro (Iron Man, 2008) – A primeira experiência da Marvel enquanto estúdio de cinema resultou em uma ótima diversão e o resgate da carreira de Robert Downey Jr. após seu ostracismo devido à dependência de drogas, levando-o ao estrelato e transformando-o em uma figura extremamente pop. Com este longa, a Marvel ganhou confiança e iniciou uma série de lançamentos que culminariam com “Os Vingadores”, filme que reúne os heróis anteriormente apresentados em episódios solo. O personagem de Downey Jr, o empresário playboy Tony Stark, tornou-se referência como personagem “cool”. Mas é melhor ficar com este aqui, pois a continuação “Homem de Ferro 2” acabou ficando aquém do original;

6) Estrada Para Perdição (Road to Perdition, 2002) – O espectador eventual pode nem se dar conta, mas esta é uma adaptação de quadrinhos. Dirigido por Sam Mendes, vencedor do Oscar por “Beleza Americana” (Amaerican Beauty, 1999), e protagonizado por Tom Hanks, tendo ainda participação do lendário Paul Newman e Jude Law, além de um ainda desconhecido Daniel Craig. A trama, baseada na graphic novell escrita por Max Allan Collins e ilustrada por Richard Piers Rayne, narra a fuga do mafioso Michael Sullivan (Hanks) com seu filho (Tyler Hoechlin) após este último testemunhar uma execução e ter a vida ameaçada pelos gangsters. O ambiente é o dos anos 30, durante a grande depressão e vale à pena conferir não só pela bela e precisa reconstituição de época, mas também pela linda fotografia, ótimas atuações (Newman arrasa) e desfecho interessante e emocional sem cair em pieguismos. Um longa injustamente esquecido em premiações e que comprovou o talento de Mendes, uma diretor egresso do teatro que realizou uma obra completamente cinematográfica;




5) V de Vingança (V For Vendetta, 2006) – Adaptação de uma obra do genial Alan Moore, trata-se de um filme que merecia maior repercussão do que aquela que obteve. Isso se explica possivelmente devido ao boicote e crítica feroz que partiu de meios midiáticos conservadores (no melhor exemplo FOX News), pois que o filme tem seu foco em um subversivo conhecido por Codinome V (Hugo Weaving). A história se passa em 2020, em uma Grã-Bretanha dominada pelo governo fascista de Adam Sutler (John Hurt), onde a censura impera em todos os meios de comunicação. É quando o tal Codinome V, no dia 05 de novembro, aniversário da conspiração de 1605 em que Guy Fawkes tentou destruir o parlamento inglês e destituir o rei James I, convoca a população, em rede nacional de TV, a se rebelar contra esse estado de coisas. A verdade é que a figura de V acabou se tornando muito popular com o passar do anos, sendo que sua indefectível máscara se tornou símbolo de luta contra o sistema e é usada hoje por grupos de protesto como o Anonymous. Produzido e roteirizado pelo irmãos Warchowski, trata-se de uma obra inteligente e de impacto e que ainda guarda a memorável imagem de Natalie Portman de cabeça raspada. Sensacional!;


4) X-Men 2 (X2, 2003) – Continuação do referido “X-Men – O Filme”, este segundo episódio da franquia, também dirigido por Bryan Singer, é a mais perfeita tradução cinematográfica dos mutantes da Marvel. Sem as limitações orçamentárias impostas ao primeiro longa, Singer nos entrega um filme espetacular, onde tudo do primeiro é melhorado. Ainda lembro de ver esta sessão no cinema, encontrar uma antiga colega da faculdade (que não era nerd nem nada) ao ascender das luzes e vê-la comentando: “que filme bom, hein?”. Basicamente, a trama nos mostra os mutantes ainda mais perseguidos pela sociedade e pelo Estado após uma mal sucedida tentativa de assassinato do presidente dos EUA pelo mutante Noturno (Alan Cumming). Poucos filmes são fortes e claros na sua mensagem anti-preconceito (qualquer deles) quanto este. Um problema que nunca perde a atualidade, infelizmente;


3) Homem-Aranha 2 (Spider-Man 2, 2004) – O melhor filme da trilogia de Sam Raimi sobre o mais popular personagem da Marvel Comics, superando o já ótimo primeiro filme, realizado em 2002. O Aranha (Tobey Maguire com a melhor cara de bobo do cinema) é aquele herói cujas características o tornam o mais próximo dos espectadores: um nerd cheio de problemas, que tem que ralar para ganhar dinheiro; estudar; cuidar da tia idosa e viúva, além de enfrentar problemas de relacionamento com sua namorada e, no meio disso tudo, arranjar tempo para deixar de ser Peter Parker e salvar Nova York de supervilões. Enfim, é gente como a gente. Aqui, ele enfrenta o Dr. Octopus (Alfred Molina) e, mais uma vez, sua infinidade de problemas de rapaz comum. Repleto de sequências espetaculares, como a cena em que ele para um trem desgovernado à beira de um desastre, e contando com uma química perfeita entre os personagens, este é um daqueles que sempre vale uma olhadinha nas reprises que passam tanto na TV aberta quanto fechada. Poucos filmes foram tão eficazes em apreender e transmitir as essência de uma HQ quanto este aqui;


2) Batman – O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008) – Filme revolucionário que fez com que todos, tanto público como a crítica, deixassem de ver os filmes de super-heróis apenas como uma diversão para adolescentes. O longa de Chritopher Nolan levou o verdadeiro Batman para a telona e ainda nos rendeu a mítica interpretação de Heath Ledger para o Coringa, colocando-o entre os vilões mais marcantes da história do cinema, ao lado de outros como Norman Bates e Hannibal Lecter. Pela primeira vez um filme baseado em HQs rendeu um oscar, no caso para o citado Heath Ledger (mesmo que póstumo). Hoje, vemos o lançamento retumbante de “O Cavaleiro das Trevas Ressurge” e toda a expectativa gerada em torno deste se deveu principalmente ao segundo episódio da trilogia. O resto é história.


 

1) Superman – O Filme (Superman – The Movie, 1978) – Esse filme é tão mítico que inspirou até música de Gilberto Gil. É a adaptação de HQ mais cara à minha memória (tem até a minha idade), dada a minha empolgação quando eu o via ainda garoto. Tudo nele funciona (tudo bem, o Lex Luthor de Gene Hackman é meio chatinho), desde a trilha sonora icônica de John Williams até a interpretação clássica e inigualável que Christopher Reeve deu ao personagem. Mesmo a participação econômica de Marlon Brando, como Jor-El, é simplesmente memorável. Um filme ao mesmo tempo lúdico, inspirador e empolgante que nos deixa um sorriso no rosto após vê-lo, mesmo que seja pela 15ª vez. Palmas para Richard Donner!

sexta-feira, 20 de julho de 2012

O problema não é o filme


Eu estava pensando se realmente faria uma postagem sobre este tema, pois não gosto de sensacionalismo. Porém, acabei de ler que a Warner Bros. está cogitando cancelar a estreia de "Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge" nos EUA e fico me perguntando se isso é uma atitude de respeito às vítimas e familiares arrasados com o assassinato de 12 pessoas durante uma sessão do longa-metragem em uma cidade perdida do Colorado ou pura e simplesmente razões comerciais, uma vez que, diante de tamanha repercussão negativa, o filme que certamente teria a maior estreia de todos os tempos correria o risco de ver sua bilheteria diminuir consideravelmente. O que mais me intriga é esta segunda (e mais provável) hipótese. Por que as pessoas deixariam de assistir a um filme devido a um evento tristemente sinistro como esse?

Interessante, mas parece que está acontecendo o mesmo tipo de reação que o público teve aqui no Brasil em relação a "Clube da Luta", o filme de David Fincher que estava sendo exibido em uma sala de cinema em São Paulo, anos atrás, quando um estudante de medicina desequilibrado atirou a esmo fazendo várias vítimas. As pessoas parecem "com medo" de ver o filme, como se houvesse algo nele que fosse responsável pela violência, como se todos que assistissem à obra corressem um risco iminente de ser baleados. É provável que esta sensação seja ainda maior agora por se tratar do grande filme do ano, esperado impacientemente por uma multidão de fãs. Entretanto, é importantíssimo frisar: nenhuma obra artística pode ser responsabilizada por atitudes de doentes mentais. Nunca vi qualquer filme para sair com vontade de atirar ou espancar pessoas por aí. E uma atitude como esta, de adiar em meses um lançamento tão aguardado, só iria prejudicar mais ainda a carreira de um filme que, aparentemente, tem tudo para ser um dos destaques positivos do ano, não apenas pela sua arrecadação. Que as pessoas saibam separar alhos de bugalhos e que o estúdio não tome esta lamentável decisão. O cinema merece e nós espectadores também.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Cinema Com Pimenta: 4 anos!


Não é fácil manter um blog sempre com postagens atualiazadas e interessantes. No meu caso, está sendo tão complicado que o aniversário do Cinema Com Pimenta, ocorrido no último dia 11/07, passou batido, sem nenhuma postagem especial. Sendo sincero: apenas quando realizei a postagem sobre "O Espetacular Homem-Aranha" acabei me dando conta que a data havia passado em brancas nuvens. Bem, mas nunca é tarde para, se não fazer uma festa, pelo menos convidar os amigos para um bolinho. Afinal, este último ano teve um considerável acréscimo no número de visitantes no blog. A média diária de acessos quase dobrou e o número de comentários nem se fala. Lembro que quando o espaço foi inaugurado em 2008, receber um comentário em uma postagem já era algo incomum. Hoje, apenas um comentário por post tornou-se uma exceção e tal êxito se deve a vocês, leitores do blog e amigos que ajudam divulgando-o em seus respectivos espaços (vou até me abster de citar nomes para não cometer injustiça com ninguém). Apesar das dificuldades do cotidiano, este espaço, seja muito ou pouco atualizado, é sagrado para este cinéfilo que, mais do que qualquer outra coisa, deseja compartilhar seus poucos conhecimentos com aqueles que também apreciam a 7ª Arte. É importante recordar que qualquer conhecimento só se torna relevante quando compartilhado e e éxatamente este o objetivo primordial do Cinema Com Pimenta: compartilhar conhecimentos e experiências , aprender e discutir esta forma de expresão artística que, tal como a música, atinge de forma imediata e impactante nossas mais íntimas emoções, fazendo-nos rir ou chorar como se de fato estivéssemos vivendo o que vemos na tela, transformando dor em beleza, tristeza em reflexão e potencializando ainda mais sentimentos como alegria, esperança, perseverança e determinação.


Abaixo, segue uma sequência de "Cinema Paradiso" (Nuovo Cinema Paradiso, 1988), o longa-metragem de Giuseppe Tornatore que acabou se tornando uma peça cara na memória de qualquer amante da 7ª Arte . Poucos (ou talvez nenhum outro) filmes traduzem tão bem a paixão pelo cinema quanto este e poucas cenas declaram de forma tão poética este sentimento quanto esta. O vídeo está sem legendas, mas não é necessário entender italiano para apreciar. Como diz o pequeno Totò: "Alfredo, é belíssimo!". Ah, e linda também a trilha de Ennio Morricone, não?


Um grande abraço a todos, muito obrigado e que venham mais 4 anos!



quinta-feira, 12 de julho de 2012

O Espetacular Homem-Aranha



Reboot para quem precisa

Sempre fui contra o reboot da franquia “Homem-Aranha” nos cinemas. Apesar de algumas liberdades tomadas pelo diretor Sam Raimi na sua trilogia iniciada em 2002, como a criação da teia orgânica (no lugar dos famosos “lançadores”), considero os seus filmes como muito fiéis ao espírito das HQs, onde o nerd Peter Parker acaba picado por uma aranha radioativa e adquire poderes excepcionais, semelhantes aos de um aracnídeo. Sim, eu gosto de Tobey Maguire, com aquela cara meio de bobo, travado, uma vez que isso demonstra inteiramente como um rapaz tímido, impopular no colégio e isolado no seu conhecimento acadêmico acima da média se sente tendo de enfrentar a realidade de possuir grandes poderes e, com isso, surgirem “grandes responsabilidades”. Mesmo o terceiro filme da franquia, criticado por muitos, acabou me agradando (mesmo que seja, de fato, o ponto de menor qualidade na série). Para que, então, realizar um reboot de algo que foi sucesso de público e crítica (razões inteiramente opostas àquelas levadas a cabo pela Warner com o personagem de Batman)? Não podem ser outras razões senão as comerciais, o vil metal que é o objetivo primordial dos produtores de Hollywood. É importante, inclusive, frisar que o fim da participação de Raimi na franquia se deveu a divergências com os produtores, os quais queriam dar um norte para os episódios posteriores divergente do pretendido pelo diretor. O resultado abaixo do esperado da terceira parte da trilogia já denunciava essa falta de sincronia entre produção e direção. Ou seja, como para bom entendedor meia palavra basta, entre finalidades comerciais e artísticas.

Nessa queda de braço, normalmente quem leva a disputa é quem tem mais dinheiro e é claro que a Columbia (Sony), detentora dos direitos de adaptação das aventuras do teioso para o cinema, não saiu perdendo. Excluiu Raimi da direção (o que também levou à saída de Maguire) e resolveu reiniciar toda a franquia, partindo do zero como se nada houvesse ocorrido antes. Uma ideia pra lá de estranha, já que os filmes de Raimi são muito recentes e costumam ser reprisados à exaustão, tanto na TV aberta quanto na fechada. Contudo, não nego que as notícias que chegavam aos poucos pela net, como a escolha do bom ator Andrew Garfield para o papel de Peter Parker, bem como de Emma Stone para interpretar Gwen Stacy, acabaram por me deixar um pouco mais aliviado. Ambos são bons atores, o que já garantiria personagens convincentes. Um pouco mais desconfiado fiquei com a opção de Marc Webb para a direção, pois que até então ele havia dirigido apenas “(500) Dias Com Ela” (500 Days Of Summer, 2009), uma comédia romântica criativa e agradável, mas que está muito distante do gênero aventura/ação. No entanto, o que mais temia era o roteiro, que buscaria recontar a história da origem do Homem-Aranha de uma forma nova. E foi justamente o roteiro que me deixou estremecido na cadeira da sala de exibição.

O que mais irrita em toda esta nova adaptação é o fato de Pater Parker deixar de ser um CDF nerd para ser caracterizado como um rapaz até descolado, que anda de skate para se locomover nos corredores do colégio, usa um cabelo cool e não é exatamente um rejeitado pelas garotas. Antes de ser um garoto que se torna um herói por acaso, parece ser um herói por vocação, uma vez que na escola já se mete a defender os fracos dos valentões, mesmo que inevitavelmente acabe apanhando junto. Esta é uma mudança enorme que pode passar despercebida por boa parte da plateia, para os não leitores de HQs principalmente, mas que para os fãs do personagem (que são muitos, diga-se de passagem) soa como uma verdadeira heresia. Essa “atualização”, que tenta captar um novo público para o herói, é tão irritante quanto inserir na trama a busca pela origem dos pais de Peter, algo totalmente desnecessário e que, caso excluído, pouparia tempo na película para mostrar mais do cotidiano do rapaz e sua relação com os tios Ben e May Parker (Martin Sheen e Sally Field, respectivamente), os quais são e sempre serão suas verdadeiras figuras paternas. Ver o adolescente Peter logo no início da película envolvido em investigações para descobrir o paradeiro dos genitores é de franzir a testa, já que tira muito do caráter jovial do personagem.

Esse roteiro, escrito por James Vanderbilt e Alvin Sargent, mostra-se repleto de coincidências e situações forçadas para seguir adiante. Acreditar que a colegial Gwen Stacy pode ser uma competente estagiária dos laboratórios da Oscorp é algo bem duro de engolir, assim como aceitar que o Dr. Curt Connors pudesse criar um laboratório cheio de tecnologia nos esgotos de Nova York (logo em uma cidade repleta de paranoias com atentados terroristas) sem ninguém desconfiar. Além disso, a solução de fazer Peter Parker comprar os famosos lançadores de teia via internet (em um conhecido site de vendas on-line) chega a ser risível. Tropeços desta monta tornam a experiência frustrante e/ou irritante em várias passagens. É sempre desagradável quando a narrativa de um filme parece duvidar da inteligência do espectador e este é bem o caso.

Por outro lado, não se pode negar a química do casal central, ainda maior que a de Maguire e Kirsten Dunst na versão de Raimi. Contribui para tanto o fato de que eles estão namorando também fora das telas, mas seria leviano afirmar que este é o único motivo. Afinal, Webb teve como seu único trabalho anterior justamente uma comédia romântica que procura fugir dos clichês e que tem nas atuações um dos seus destaques e aqui ele demonstra mais uma vez sua competência em criar climas românticos na medida certa. Da mesma forma, a relação entre Peter e Tio Ben revela-se melhor desenvolvida do que no longa de Raimi (ainda mais quando lembramos da ótima atuação de Sheen). O que mais chama a atenção, entretanto, é que Webb demonstrou ser um ótimo diretor de cenas de ação, com certeza o ponto mais alto de todo a produção. Se neste aspecto os longas de Raimi já eram bons, este aqui faz jus ao seu título e se revela simplesmente espetacular. É realmente impactante ver o personagem que você acompanhou anos a fio nos quadrinhos ter a sua plástica imagética transposta de maneira tão precisa para a tela e ainda com o adendo daquelas velhas piadinhas do Aranha entre um salto e outro. A sequência final, com uma perfeita utilização do 3D (como é bom ver filmes que usam deste recurso de forma inteligente e não gratuita), é simplesmente de arrepiar. E tal afirmação vem de alguém que saiu verdadeiramente arrepiado da sala de projeção.

Tal sensação derradeira, contudo, não nos faz esquecer os tropeços inaugurais, levando-nos a novamente questionar: qual a finalidade deste reboot? Para responder à questão, vou parafrasear uma longeva banda do rock nacional: reboot para quem precisa; reboot para quem precisa de reboot. Bem, ao menos este escrevinhador não precisava de um reboot. Se a proposta era realizar uma adaptação mais fiel às origens nas HQs, o filme talvez fracasse ainda mais do que os longas de Raimi, que preservaram o espírito da fonte original, mesmo que tenha partido para algumas liberdades pontuais. Aqui, mesmo que em suas ações o filme lembre mais as histórias do aracnídeo, a essência destoa significativamente, o que talvez deixe a película menos envolvente e vibrante que aquelas da primeira trilogia. Um decréscimo decorrente da menor identificação do espectador com o personagem encarnado por Garfield, o qual se assemelha a Peter Parker, mas que não é exatamente aquele rapaz tímido que adquire poderes fantásticos e se vê compelido pelas circunstâncias a se tornar, por acaso, um herói.



Cotação:
Nota: 7,5

terça-feira, 3 de julho de 2012

Para Roma, Com Amor




É tudo uma questão de expectativas


É comum a expectativa pela nova obra de um artista aumentar logo após um grande êxito em sua carreira. Não é assim apenas no cinema. Fico até imaginando o quanto a cantora Adele Adkins deve estar se sentindo pressionada a realizar um disco depois do estrondoso sucesso que foi o seu “21”, CD que arrebatou tanto o público quanto a crítica especializada. Afinal, não é fácil estar à altura do que as pessoas estão esperando, no caso, mais um disco cheio hits impactantes emoldurados por sua belíssima voz. Este excesso de expectativa, entretanto, pode, com frequência, gerar frustrações em quem espera uma nova obra-prima. É o mesmo que sucede com este “Para Roma, Com Amor”, o novo longa-metragem de um dos maiores cineastas vivos. Não bastasse já ocorrer uma certa ansiedade por se tratar de um filme de Woody Allen, o que por si só já causa burburinho no meio cinéfilo, ele ainda gerou mais questionamentos por se seguir a “Meia-Noite Em Paris”, um dos longas do diretor que, dentro da sua extensa filmografia, será no futuro lembrado como uma de suas obras mais destacadas.

Talvez alguns apontem “Para Roma Com Amor” como um fracasso de Allen exatamente devido a esta “expectativa”, mas designá-lo desta forma seria um tanto equivocado. É certo que esta sua nova produção está abaixo de “Meia-Noite Em Paris”, pois não possui a sua coesão, inspiração e inventividade. Nem mesmo usa Roma da maneira orgânica e apaixonada com que Woody usou Paris no seu sucesso recente, onde a Cidade Luz se apresenta também como um personagem da trama e não apenas uma paisagem turística que serve como um eventual pano de fundo para a narrativa e esta talvez seja, de fato, a maior desvantagem deste novo longa em relação ao último vencedor do Oscar de melhor roteiro original. Até mesmo porque a proposta de “To Rome With Love” seria de contar histórias que supostamente só poderiam se passar na Cidade Eterna, o que não condiz com o que é visto na tela. Na verdade, qualquer das várias tramas paralelas poderia se passar em vários outros lugares do mundo, o que acaba por se tornar possivelmente um demonstração de que Allen não conhece ou não tem uma afinidade tão grande com a cultura italiana como o tem com a francesa.


Tendo como referência o “Decamerão” (não é à toa que o primeiro título para a produção era “The Bop Decameron”), Woody nos apresenta quatro narrativas paralelas que não se comunicam, a não ser pelo fato de se passarem em Roma. Como é de se imaginar, elas se mostram oscilantes na sua qualidade (como normalmente acontece nesse tipo de filme), algumas despertando maior interesse, outras menos. A mais fraca delas é a protagonizada por Roberto Benigni, o qual interpreta um homem comum que de repente se vê caçado por jornalistas e paparazzi, numa óbvia alegoria a respeito das atuais celebridades instantâneas. Benigni até convence no papel, com bons momentos cômicos, mas a mencionada obviedade da estória soa mal diante do refinamento comum nos filmes de Allen. Do lado oposto, a trama que conta com Jesse Eisenberg, Ellen Page e Alec Baldwin é, sem dúvida, a melhor. Nela, vemos um arquiteto de meia-idade (Baldwin) encontrar um jovem estudante de arquitetura (Eisenberg) que está morando em Roma. Este acaba se apaixonando pela amiga (Page) de sua namorada que vai passar uns dias no apartamento onde o casal está morando, apesar dos alertas do recente amigo mais velho. Há algo na relação entre os dois que não irei revelar, pois aqueles que não viram o longa deixariam de ganhar com a surpresa. No entanto, este é o “conto” que mais transborda inteligência e reflexão, fazendo valer a ida ao cinema.


O mais cômico deles, entretanto, é o protagonizado pelo próprio Allen (voltando a atuar, já que desde “Scoop” ele não passava para a frente das câmeras), interpretando um produtor de óperas que, aposentado, jamais obteve sucesso junto à crítica. Em viagem para Roma, pois que sua filha noivou com um italiano esquerdista, ele conhece o pai do genro, um proprietário de funerária que possui uma autêntica voz de tenor. O problema é que ele canta bem apenas no chuveiro. É a deixa para o diretor investir no humor nonsense que também o caracterizou em obras anteriores, como no seu episódio de “Contos de Nova York” (New York Stories, 1989). A trama realmente traz cenas hilárias, aptas a agradar os mais diversos sensos de humor. Também apto a agradar o grande público é a narrativa do casal provinciano que está em Roma devido a uma oportunidade de trabalho do marido (Alessandro Tiberi). Uma vez no hotel, sua esposa (Alessandra Mastronardi) sai para procurar um salão de beleza, mas acaba se perdendo. É quando ocorre uma série de coincidências que levam o rapaz a fingir que a prostituta Anna (Penélope Cruz) é sua esposa, enquanto a mulher acaba se envolvendo com um galã italiano. Esta é a mais “apimentada” das narrativas e com maior destaque feminino (Mastronardi é uma atriz muito bonita e Cruz está sensualíssima, embora não tão brilhante como em "Vicky, Cristina, Barcelona") e possui aquele toque sofisticado com que Allen costuma tratar de sexo, longe de vulgaridades.

O espectador atento à carreira do diretor irá perceber os seus velhos temas mais uma vez abordados. Estão lá a sexualidade, as divergências políticas, o profissional frustrado que busca sucesso e realização pessoal, a crítica à cultura das celebridades (é bom lembrar que ele fez um filme apenas para tratar deste tema há alguns anos), as diferenças culturais, entre outros. Pena que desta vez o resultado não tenha sido tão primoroso, mesmo que trate as temáticas com leveza e nos faça rir em diversos momentos. Mas aí entramos de novo na tal questão das “expectativas”. Se você estiver esperando mais uma obra de excelência, certamente ficará frustrado(a). Contudo, se estiver esperando apenas rir de maneira inteligente, provavelmente sairá do cinema satisfeito(a). E, mesmo que aqui Roma tenha servido apenas como pano de fundo, dá uma baita vontade de visitar a Fontana de Trevi logo depois da sessão.


Cotação:

Nota: 8,0

domingo, 1 de julho de 2012

Quero Ver Novamente #18


Esta semana, tivemos o aniversário dos 30 anos de “Blade Runner – O Caçador de Androides” (lançado precisamente em 25 de junho de 1982), filme que pode ser considerado o “cult entre os cults”, uma vez que fracassou quando do seu lançamento, mas hoje é adorado como obra-prima por crítica e público. Jamais esquecerei do impacto que tive ao assistir a primeira vez a concepção sombria do futuro idealizada pelo diretor Ridley Scott (atualmente em cartaz nos cinemas com “Prometheus”), mostrando-nos uma Los Angeles escura e castigada por uma chuva ácida onde carros voam e robôs (denominados no filme como “replicantes”) se confundem com seres humanos. Um deles é Roy Batty (interpretado por Rugter Hauer), o qual deseja ardentemente evitar o seu desligamento automático programado para quatro anos por seus fabricantes. É ele o responsável pelo diálogo com Deckard (Harrison Ford), o tal caçador de androides do título, na sequência que você pode ver abaixo, a qual podemos afirmar ser um das mais belas e filosóficas das história do cinema. Roy poupa Deckard porque entende o inigualável valor da vida. Sublime!

Só um alerta: se você ainda não viu Blade Runner, talvez seja melhor ver o filme antes, já que a cena faz parte da conclusão da trama.