domingo, 20 de janeiro de 2013

Cinemúsica

La Bamba
(La Bamba, 1987)



Rigorosamente meteórico


Se você gosta de música, mais especificamente de rock, já deve ter ouvido falar do “dia em que o rock morreu”. A alcunha foi atribuída ao dia 03 de fevereiro de 1959, data em que um avião fretado caiu depois de enfrentar uma tempestade de neve. Entre os passageiros estavam três jovens astros ascendentes na música pop: Buddy Holly, Big Bopper e o mais novo deles, Ritchie Valens, então com apenas 17 anos. Valens teve uma carreira rigorosamente meteórica. Desde que foi descoberto pelo produtor Bob Keane até o fatídico acidente aéreo, transcorreram apenas 8 meses durante os quais ficou famoso ao lançar sucessos como “Come On Let's Go”, “Donna” e a versão rock 'n roll para a tradicional música mexicana “La Bamba”, a qual também acabou se tornando o título da cinebiografia do cantor produzida em 1987 e que acabou se transformando em um dos clássicos oitentistas, dada a grande popularidade que alcançou.

Escrito e dirigido por Luis Valdez, diretor eminentemente de filmes televisivos, o longa-metragem conta de forma redonda a vida do astro (interpretado por um inspirado Lou Diamond Phillips), cujo nome verdadeiro era Ricardo Esteban Valenzuela Reyes, estadunidense de ascendência mexicana nascido em Pacoima, distrito de Los Angeles. Apesar de sua origem latina, Valens pouco falava espanhol e possuía uma identidade cultural mais ligada aos Estados Unidos, sendo perceptível a enorme influência de Elvis Presley em sua breve carreira. Entretanto, mais do que o aspecto profissional, é sobre a vida pessoal do rapaz que o roteiro se debruça, esmiuçando sua vida familiar e o conturbado relacionamento com o irmão, Bob (Esai Morales), rapaz-problema que não consegue sair da delinquência. A vida marginal poderia ser o mesmo destino de Ritchie caso ele não fosse apaixonado pela música o suficiente para acabar não nutrindo outros interesses. Sua única outra fonte de atenção era Donna Ludwig (papel da desconhecida Danielle Von Zerneck), seu amor de colégio que inspirou a composição do mencionado hit “Donna” (e que canção pegajosa, hein?) 


Curioso como, ao longo da projeção, algumas cenas possuem tamanha força que elas continuam em nossa memória mesmo depois de muitos anos sem vermos o filme. Em “La Bamba”, a sequência em que Valens apresenta sua composição “Donna” para a própria musa inspiradora (que hoje ainda é viva), de violão em punho em uma cabine telefônica, nunca me saiu da mente e é de um romantismo pra lá de eficiente. Da mesma forma, a sua primeira apresentação cantando “La Bamba” é memorável, jogando na tela toda a energia roqueira da versão de Valens, que transformou a canção folclórica em um sucesso mundial até hoje. E ainda temos os momentos no aeroporto antes da partida do avião, quando o protagonista pega o voo depois de disputar a sorte na moeda com um outro possível passageiro. Percebe-se, assim que Valdez é hábil com as imagens e ótimo em construir o clima narrativo, aproximando-nos do astro e nos fazendo sentir como um parente seu. Ou seja, o envolvimento com a narrativa é inevitável, mesmo que você já saiba como a história terminará.

Entretanto, Valdez acaba se deixando levar por armadilhas clichês, principalmente nas derradeiras cenas, onde adota elementos como imagens em câmera lenta de Valens, um dos mais pobres recursos típicos da televisão, caindo em uma pieguice desnecessária. Ademais, o elenco mostra-se muito oscilante. É certo que Lou Diamond Phillips tem aqui a grande atuação de sua carreira, que estava ainda em um momento de ascensão. No ano seguinte, inclusive, ele seria indicado ao Oscar de ator coadjuvante por “O Preço do Desafio” (Stand and Deliver, 1988) e ainda participou de sucessos como “Os Jovens Pistoleiros” (Young Guns, 1988). Contudo, acabou enfrentando uma declínio não muito explicável e hoje se limita a fazer papeis coadjuvantes em séries de TV. Outro que mostra talento é Esai Morales na pele do irmão problemático de Valens. Por outro lado, Danielle Von Zerneck é uma atriz fraquinha, fraquinha e entendemos logo porque ela não teve muito futuro depois deste longa, mesmo com um papel de destaque.


Mas, vale ressaltar: ao fim do longa é quase impossível não se consternar com o destino daquele rapaz cheio de vida e que teve sua trilha de sucesso tristemente encurtada. O nosso Raul Seixas, inclusive (outro nome da música que morreu antes do que deveria), ressaltava que no fatídico dia da queda do avião, a música não perdeu apenas três jovens astros, mas também toda a produção posterior que eles certamente iriam legar, tanto em termos quantitativos quanto em influência para os artistas seguintes. Talvez por isso, mesmo que frequentemente obras como “La Bamba” se mostrem imperfeitas, elas ao mesmo tempo são muito relevantes ao buscar preservar a imagem e revigorar o legado de artistas que já se foram há algum tempo e merecem que seu talento seja visto por novas gerações. Aliás, não sei porque alguém ainda não teve a ideia de fazer um filme sobre Buddy Holly, morto no mesmo acidente e ainda mais influente no meio musical do que Valens.


Cotação: 



Nota: 8,0
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3 comentários:

renatocinema disse...

Amigo ninguém acredita mas juro que é verdade....chorei muito em La Bamba.

Amo a trilha sonora.

Sobre Django......concordo. Roteiro ficou um pouco longo. Trinta minutos a menos e o filme seria perfeito, um nota 11.

Jefferson C. Vendrame disse...

Grande Fábio,
Ótimo Post, Parabéns pelo excelente texto!
La Bamba é um filme que marcou muito o finalzinho da minha infância e o inicio da minha adolescência. Acho o filme perfeito, até mesmo as derradeiras cenas que você se referiu como clichês (em câmera lenta) me emocionam. A Trilha sonora também é perfeita, adoro os Doo Waps que banham o filme, principalmente The Skyliners com a ótima This I Swear.

Grande Abraço!

Hugo disse...

Uma bom drama biográfico, que apresenta o melhor papel da carreira de Lou Diamond Phillips.

Abraço