domingo, 25 de outubro de 2009

Te Amarei Para Sempre


Amor, tempo e ficção-científica

Filmes românticos não costumam primar pela originalidade. Não estou querendo dizer, com esta afirmação, que filmes românticos sejam sempre carentes de bons roteiros, não é isso. A questão reside no fato de que os textos deste gênero baseiam-se principalmente na força dos diálogos e em situações limite que colocam à prova o amor do casal. As diferenças costumam residir apenas na natureza de tais situações. Em um momento, pode ser a oposição das famílias, em outro uma longa distância a ser superada ou, até mesmo, uma guerra a ser lutada (como no caso emblemático de “Casablanca”). Neste “Te Amarei Para Sempre”, as dificuldades ao amor eterno do casal de protagonistas surgem de uma situação inusitada. O rapaz é portador de uma anomalia genética que o faz viajar no tempo da mesma forma que um epiléptico tem as suas crises. Ou seja, desaparece e ressurge em diversos momentos cronológicos de forma alheia à sua vontade, sem poder determinar quando isso irá acontecer.

Roteirizada por Bruce Joel Rubin (o mesmo de “Ghost”, ou seja, um especialista na área), que realiza uma adaptação do livro de Audrey Niffenegger, esta situação limite traz um sopro de originalidade a esta película (que teve produção executiva de Brad Pitt), fazendo-nos respirar novos ares em um gênero que vinha sendo um tanto maltratado nos últimos tempos. É verdade que, para isso, utilize um elemento já consagrado no mainstream hollywoodiano: a viagem no tempo (vide as séries “De Volta Para o Futuro” e “O Exterminador do Futuro”). Mas o fato é que essa mistura de romance e ficção-científica surte um ótimo efeito.

As próprias circunstâncias da ação acabam por nos apresentar ótimos personagens. Vivido por Eric Bana (em sua melhor presença desde “Munique”, de Steven Spielberg), Henry DeTamble é um homem que parece trazer em si uma constante melancolia. Devido ao poder-doença que possui, ele visita inúmeras vezes a ocasião em que sua mãe faleceu, quando ainda era garoto. Entretanto, o acidente jamais tem o seu desfecho transformado, já que não consegue interferir no curso dos acontecimentos quando viaja através do tempo. Por outro lado, consegue conviver com as pessoas dentro do fluxo temporal, o que lhe permite sempre rever e conversar com sua mãe (mesmo que esta não saiba que aquele é o seu filho já crescido). E, ainda, conhecer Clare Abshire (Rachel McAdams, atriz que já está se tornando figura constante em filmes melados de açúcar, basta lembrar de “Diário de Uma Paixão”), sua futura esposa (e isso não é um spoiler, pois a tradução literal do título em inglês é “A Esposa do Viajante do Tempo”). Esta última personagem também se mostra extremamente interessante, já que tem de conviver com um homem que pode sumir e reaparecer na sua vida a qualquer momento. E isso é uma metáfora perspicaz, pois as pessoas, de fato, podem entrar e sair de nossas vidas a qualquer instante, apenas não nos damos conta disso.


No entanto, nem tudo são maravilhas. As idas e vindas temporais geram furos no roteiro (como acontece na maioria dos filmes que lidam com viagens no tempo) e, a partir da segunda metade do longa, acabam tornando a trama um tanto confusa. Cabe até uma interrogação: por que Henry só viaja para momentos cronológicos a partir de sua existência? Um ilogismo do roteiro que pode causar um certo incômodo para aqueles mais atentos aos pormenores das tramas. Contudo, a direção segura de Robert Schwentke cuida para que o espectador não perca o envolvimento emocional ao longo da projeção. Ressalte-se, inclusive, a sua direção de atores. Como pincelei acima, Eric Bana consegue uma boa atuação, traduzindo sempre o tom melancólico característico do personagem. Já Rachel McAdams faz de Clare uma mulher forte, emotiva e romântica que lembra bastante a sua persona no mencionado “Diário de Uma Paixão” (e, convenhamos, ela tem um rostinho lindo que faria qualquer um se derramar). A fotografia também se mostra bela e adequada à temática, bem como a trilha sonora (prestem atenção, inclusive, na inserção de “Love Will Tear Us Apart”, do Joy Division, em certo momento, com um arranjo bem diferente).

Schwentke, assim, realizou uma boa demonstração de que é possível fazer um filme água com açúcar pouco previsível, muita embora ele ainda encontre uma forma de jogar um happy end. Entretanto, mesmo este final feliz é pouco convencional e, vamos admitir, dotado de muita beleza e sensibilidade. E que faz com que o título nacional para o longa também se torne bastante adequado. Um filme feito “com açúcar, com afeto” e boas pitadas de competência.

Cotação: * * * ½ (três estrelas e meia)
Nota: 8,5
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