quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Michael Jackson's This Is It


Belo Epitáfio

Em 25 de junho do corrente ano, qualquer ser humano vivo e pensante sabe o que sucedeu neste planeta Terra. Michael Joseph Jackson, o denominado “Rei do Pop”, faleceu vítima de uma overdose de medicamentos. Nomes como Propofol e Demerol caíram na boca do povo enquanto a necropsia era realizada e, mais importante, uma comoção tomou conta do mundo inteiro, que finalmente parecia esquecer as esquisitices do ídolo do pop para enxergá-lo como o grande artista que sempre foi e, principalmente, como um ser humano, não apenas uma espécie de “ET” que servia de chacota em programas humorísticos e tabloides sensacionalistas.

Quando de seu falecimento, MJ havia finalizado os ensaios para o início de sua nova temporada de shows, após anos fora dos palcos. Seriam 50 apresentações em Londres, todas com ingressos esgotados com meses de antecedência. Tristemente, o astro não chegou a realizar sequer uma apresentação. Felizmente, a sequência enorme de ensaios, os quais, segundo a mídia, teriam levado o astro a uma estafa e a sentir fortes dores (consequência do ritmo forte da preparação aliado a problemas reumáticos), foi registrada em mais de 80 horas de gravações, um tesouro que, obviamente, poderia ser lapidado e levado aos fãs como um presente. Obviamente, tal iniciativa não substituiria os shows que a estrela faria e que foram cancelados pelo destino. Entretanto, a ideia era boa e foi exatamente isso que aconteceu. Alguns podem afirmar que “This Is It”, o documentário resultado da edição das mencionadas 80 horas de gravações, seja oportunista e caça-níquel. É uma afirmação que tem seu teor de verdade, principalmente se levarmos em consideração o caráter da família Jackson, mercenária até a raiz da alma. Mas também é verdade que o material merecia mesmo ser levado ao público, tal o conteúdo emocional e verdadeiro que se percebe ao longo de toda exibição do longa.

Dirigido com muita competência por Kenny Ortega, as escolhas das cenas levadas à projeção não poderiam ser mais felizes. Inicia-se com os depoimentos de vários daqueles que integraram a produção do show. Diretores, assistentes, dançarinos, todos vão falando sobre a experiência que era trabalhar com o mega-astro. E não há como negar a sinceridade das palavras e emoção. Afinal, quando das declarações, Michael ainda estava vivo e, é preciso dizer, num momento de grande baixa na carreira, gerado pelo processo judicial em que foi acusado de abuso sexual contra menores e o fracasso comercial do seu último trabalho, o álbum “Invincible”. O depoimento de alguns dançarinos, ao afirmarem que MJ foi a razão deles trilharem essa profissão, realmente atinge o coração do público. Em seguida, vemos o desenvolvimento dos ensaios como se fosse o próprio show. Vamos passando por vários clássicos do artista, como “You Make Me Feel”, “They Don’t Care About Us”, ‘I’ll Be There”, entre outros. Mas alguns merecem ser destacados. A execução de “Thriller” ganha novos ares com a exibição do vídeo em 3D que estava sendo elaborado para o espetáculo. Já “Beat It” tem sua coreografia minuciosamente detalhada e, mais ainda, conta com uma grande participação da loura-gata e guitarrista Orianthi Panagaris, que rouba mesmo a cena em várias sequências (tenho a impressão que essa menina vai receber uma profusão de propostas de trabalho a partir de agora). Um grande momento é a execução de “Smooth Criminal”, com MJ inserido nas imagens de “Gilda” (bom ver a Rita Hayworth)e contracenando com Humphrey Bogart. Outro ponto marcante é a apresentação solo da coreografia de Michael para Billie Jean, aplaudida entusiasmadamente por toda a equipe presente. Aliás, a ideia concebida por Ortega foi justamente a de elaborar o documentário como se fosse realmente o show que os fãs não tiveram oportunidade de assistir. Em determinado ponto, são mostrados até mesmo os efeitos especiais que seriam vistos apenas em Londres, quando alguns dançarinos têm suas imagens multiplicadas centenas de vezes. Uma das grandes curiosidades, ademais, é ver o Michael dos bastidores, com seu jeito extremamente exigente, mas sempre educado (ao contrário de muitas estrelas pop por aí que, com bem menos talento, são grosseiros e estúpidos com aqueles que os cercam).

É impressionante também notar algumas coincidências. No documentário, percebemos que os ensaios já haviam sido concluídos e que Michael morreu exatamente entre o fim dos preparativos e a estreia da série de shows. A despedida e agradecimentos ao fim soam estranhamente como um adeus do ídolo, e a conclusão se torna extremamente triste quando nos damos conta que todo aquele esforço foi despendido por um show que nunca aconteceu (vale ressaltar inclusive a boa forma de Michael, que nunca denotaria um estado de saúde comprometido).

A experiência se tornou ainda melhor ao pegar uma das primeiras sessões de exibição, repleta de fãs. Ao término, vários dos presentes aplaudiram de maneira empolgada o que viram e, se agradou desta forma aos muito exigentes fãs do astro, o longa deve ter mesmo atingido o pleno objetivo de tentar eternizar o momento que acabou se tornando o epitáfio de um gênio da cultura popular. E o seu título, “É isso” em português, também soa como o resumo de uma ópera que foi acompanhada pelo mundo inteiro desde a infância de Michael Jackson. Mesmo que você não seja fã, vale muito à pena conferir. Não será sem méritos se o filme vier a receber o Oscar na categoria melhor documentário ano que vem (e o trabalho se torna ainda mais impressionante se lembrarmos o pouco tempo que levou para ser realizado). Parabéns, Michael, pelo imenso talento que teve e pelo ser humano que foi. E, mesmo que sua família procure apenas os bônus financeiros do tesouro é que seu legado, se ao menos continuar entregando aos cuidados de gente competente como no caso deste “This Is It”, sua memória estará bem protegida.

Cotação: * * * * * (cinco estrelas)
Nota: 10,0
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