domingo, 31 de agosto de 2008

Nowhere Boy

Como bom fã dos Fab Four, não podeira deixar de noticiar aqui uma interressante novidade. O projeto sobre a vida de John Lennon parece estar se concretizand0, finalmente. O filme se chamará "Nowhere Boy" (o primeiro título atribuído havia sido "Lennon") e já tem sua diretora definida: será a debutante Sam Taylor-Wood, uma astista plástica da terra da rainha, tendo suas filmagens em Liverpool. O roteirista será Matt Greenhalgh, o mesmo de "Control", cinebiografia de Ian Curtis, falecido vocalista do Joy Division. O único problema me parece ser que a narrativa procurará abordar um espaço muito longo da vida de John, desde a infância até o estrelato, o que pode tornar o filme muito "episódico" e pouco aprofundado (como em "Ray"), muito embora alguma fontes indiquem que o filme será mais centrado na adolescência do músico. Qualquer novidade, postarei aqui.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Sem estupro

E Fernando Meirelles acabou cortando as cenas de estupro de sua adaptação de "Ensaio Sobre a Cegueira". Ao que parece, nas sessões já realizadas, muitas pessoas se retiravam da sala de exibição diante da brutalidade das seqüências. Meirelles, obviamente pensando no mercado, acabou, assim, podando seu longa. Sinceramente, creio que é uma atitude tremendamente boba por parte destes espectadores. Se fossem cabeças voando (mesmo que de mulheres), eles (acredito que predominantemente elas) não deixariam a sala... E, se essa adaptação restar muito maquiada, resultará em um tremendo fracasso. Abaixo, fotos (divulgadas pela assesoria de imprensa da Fox) da coletiva dada pela equipe do filme logo após a exibição para imprensa, em São Paulo. O filme tem estréia nacional no próximo dia 12.

Che


Esse é o poster simplesmente espetacular de "Che: O Argentino", primeira das duas partes em que foi dividido o projeto de Steven Soderbergh (de "Traffic") sobre o revolucinário Ernesto Guevara de la Serna. O filme teve sua premiére mundial em Cannes, só que lá foi exibido na íntegra, com 4 horas de duração. Como Soderbergh não é maluco, resolveu dividi-lo em duas partes de 2h, sendo que a primeira mostrará a tomada do poder em Cuba por Guevara e Fidel Castro, derrubando o antigo ditador Fulgencio Batista. A segunda parte chama-se "Guerrilha", e mostrará a vida de Che de 1964 até sua morte, em 1967. O filme estava penando para conseguir um distribuidor nos EUA (dá para imaginar a relutância de muitos executivos americanos em distribuir uma obra sobre a vida de um "comunista"), mas a Focus Features topou e adquiriu os direitos de distribuição.

O lançamento por lá está previsto para o fim do ano (época bem propícia para aqueles que têm aspirações a prêmios em Hollywood). E é bom avisar que Benicio Del Toro está cotadíssimo para o Oscar por sua interpretação, já tendo levado o prêmio de melhor ator em Cannes. Se Heath Ledger for indicado ao Oscar na categoria de melhor ator, poderemos ter um dos maiores embates pela estatueta já vistos na história da Academia! Mais uma observação: Rodrigo Santoro está no elenco, ainda composto por nomes como Damián Bichir (interpretando Fidel Castro), Franka Potente e Santiago Cabrera. Aguardando ansiosamente!

P.S. Nada melhor do que lembrar de uma figura como Guevara, agora que acabei de ver a pesquisa do Ibope que mostra que uma dondoquinha, filha de um cretino, associada a um crápula que não vale nem dizer o nome, está para assumir a prefeitura de Natal. O blog é sobre cinema, mas todos sabem que eu nunca me calo diante de fatos como esse.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

O Procurado

Cool sem cérebro

Bem, primeiramente esclareço que, apesar de todo o meu conhecido lado “nerd”, eu não li a HQ que inspirou este “O Procurado”, concebida por Mark Millar e J.G. Jones, a qual, segundo a crítica especializada, promoveu uma espécie de sátira ao gênero de super-heróis, apresentando vilões constituídos inteiramente de matéria fecal (isso mesmo!) ou que pensavam literalmente com o seu membro viril (isso mesmo de novo!). Todavia, este longa, que teve sua estréia na última sexta-feira em terras brasileiras, parece apenas ter se inspirado de leve no trabalho gráfico mencionado, já que não vemos na tela tais aberrações. Menos mal. Não seria lá muito agradável ter que acompanhar durante duas horas algum ser de merda falando. Ademais, todo homem sabe que muitas vezes o pênis quer exercer maior controle do que o cérebro mesmo... Não seria necessário ver isso na tela...

Na trama levada aos cinemas, escrita por Michael Brandt, Derek Haas e Chris Morgan, somos apresentados a Wesley Gibson (James McAvoy, de “Desejo e Reparação”, estiloso), mais um daqueles que os americanos chamam de “loser”. Ele tem um emprego burocrático, com uma chefe obesa que adora oprimi-lo, sua namorada o trai com seu amigo e ele agüenta tudo isso calado, dias após dia. Sua existência é tão besta que, em uma pesquisa no Google com seu nome, não surge qualquer resultado. Um belo dia, contudo, ele se depara com Fox, personagem interpretada por uma Agelina Jolie linda, sexy, deusa, gostosa, saborosa ou qualquer outro adjetivo similar que você queira atribuir. Ou melhor, todos eles juntos (mulheres, não se irritem, afinal todo mundo sabe que, no fundo, vocês também querem pegar a Angelina)!

E é a partir daí que ele descobre ser filho de um matador excepcional que fazia parte de uma organização de matadores chamada “Fraternidade dos Tecelões”, tendo sido assassinado recentemente por outro killer, de codinome Cross (Thomas Kretschmann). Sua missão, que lhe é passada pelo atual chefe da tal “fraternidade”, Sloan (Morgan Freeman, do mesmo jeito de sempre), será justamente matar Cross. No processo de treinamento, Wesley descobre poderes especiais, como a capacidade de curvar a trajetória de projéteis, e que esses poderes são conseqüência de uma descarga extra de adrenalina derramada na corrente sangüínea devido ao seu acelerado ritmo cardíaco que chega a 400 por minuto...

Eu sei, você deve estar pensando: “essa trama deve ter sido escrita por débeis mentais ou por uns moleques de 13 ou 14 anos que não tinham mais nada de útil para fazer da vida”. É verdade. Tudo é muito estapafúrdio. Mas também é verdade que o diretor Timur Bekmambetov soube fazer tudo de uma forma tão “cool”, estilosa e espetacular que acaba fisgando o espectador. O cineasta russo foi responsável em sua terra natal por dois filmes de ação que acabaram por torná-lo conhecido em ambiente internacional: Guardiões da Noite e sua seqüência. Como é sabido, Hollywood gosta de cooptar aqueles que, mesmo esporadicamente, roubam suas bilheterias e, nesse caso, não foi diferente (principalmente lembrando que o território do cinema de ação é costumeiramente dominado sem sobressaltos pelos norte-americanos). E eis que ele acaba fazendo uma mistura de estilos que remontam a “Matrix”, “Kill Bill” e aos longas de John Woo. Várias seqüências surpreendem pela inventividade e lembram claramente as citadas influências, como aquelas em que as balas têm a sua trajetória “curvada” (parecem a folha-seca do mestre Didi ou as curvas de Jolie), ou ainda as seqüências sensacionais que mostram, retrocedendo, toda a trajetória da bala do seu alvo até o cano que a disparou. O sangue também jorra sem piedade e as cenas com aquelas supercâmeras-lentas são freqüentes.

E tudo isso sem perder o humor. Uma das virtudes do filme é justamente não se levar a sério, brincando com as construções e absurdos de sua própria narrativa. Há até uma cena emblemática em que uma famosa canção pop é executada em uma das missões de Wesley (vou ficar calado e não estragar a surpresa), tornando a seqüência definitivamente hilária. Aliás, esse estilo “piada com a violência”, ou mesmo a violência mostrada como algo “cool”, deve ser o motivo do projeto ter alcançado classificação etária máxima em todos os países onde está sendo exibido (da mesma forma que Kill Bill, de Tarantino, também foi alvo de classificação máxima).

Se, por um lado, as motivações dos personagens se mostram rasas ou clichês, os atores souberam incorporar bem seus papéis, dentro da proposta da película. McAvoy consegue imprimir ao personagem aquele mesmo senso de realidade dentro do absurdo que era característico de Michael J. Fox na série “De Volta Para o Futuro”. Angelina Jolie nem precisa falar muito. Ela está lá no filme para ser exatamente o que ela é: linda e gostosa e a rapaziada deve se preparar para algumas cenas de extrema sensualidade protagonizadas por Fox. Morgan Freeman, como já mencionado acima, está como Morgan Freeman e o Cross de Thomas Kretschmann quase que entra mudo e sai calado (quase...). Já a trilha sonora de Danny Elfman se mostra bastante adequada, ainda mais se pensarmos na relação até simbiótica de certas seqüências com a trilha.

A impressão final é de que Bekmambetov quis realizar uma grande brincadeira com os elementos dos filmes de ação. Esses elementos são jogados ali como em um liquidificador, lembrando o processo de criação de Tarantino. Todavia, embora não consiga alcançar o grau de originalidade que este já mítico cineasta atingiu (nem mesmo os seus subtextos geniais, muito embora neste “O Procurado” possamos vislumbrar elementos de religiosidade presentes), o diretor russo também parece fugir do lugar comum. Ao fim da sessão, você não tem a sensação de ter visto mais um filme de ação, mas de ter observado uma obra que deixa suas próprias marcas. E isso já é relevante no quadro atual de produções cinematográficas. Vale seu ingresso, nem que as tais “marcas” que você consiga identificar sejam as das curvas de Angelina. Acéfalo, mas muito massa! Cool!

Classificação: ***1/2

Nota: 8,0.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Ótimos lançamentos, mas os preços...

A Lume Filmes vem lançando no mercado nacional uma sensacional coleção de filmes relevantes. Um dos próximos lançamentos será "Vá e Veja" , um filme de guerra pouco conhecido, mas brilhante e impactante. Dirigido por Elem Klimov, trata-se de um dos filmes russos mais importantes das últimas duas décadas. A sua influência em filmes como "O Resgate do Soldado Ryan", por exemplo, é notável.

Outros destaques entre os lançamentos da Lume são "O Conformista", de Bernardo Bertolucci e "Fatalidade" , de George Cukor. E essa é para os fãs mais ardorosos: os primeiros filmes de Woody Allen ("O Que Há, Tigresa?") e Brian De Palma ("Saudações) serão lançados em novembro. Só uma reclamação: os preços da Lume são extorsivos! Cada cópia não sai por menos de R$ 40,00. Alguém tem coragem de pagar este preço por um DVD, por melhor que o filme seja?

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Cinemúsica


Aproveitando o lançamento do DVD, posto aqui a resenha, que preparei há alguns meses, de "Rolling Stones - Shine A Light". Rock puro!

Rolling Stones - Shine a Light

Rock sem moderação!

Esta é mais uma das investidas de Martin Scorsese no mundo da música. Anteriormente, produziu uma série sobre as origens do blues (dirigindo também um de seus episódios) e, claro, foi o diretor de “No Diretion Home”, belíssimo e longo documentário sobre o lendário Bob Dylan.

Mas, se nessas ocasiões pretéritas Scorsese procurou empreender uma extensa e minuciosa investigação sobre os temas abordados, agora temos uma empreitada em que o lado “fã” falou mais alto e em bom som. Ou melhor, no volume máximo! “Rolling Stones: Shine a Ligth” é um verdadeiro petardo roqueiro capaz de incendiar platéias, mesmo que elas estejam sentadas numa sala de cinema.

Embora oficialmente catalogado como “documentário”, o filme parece muito mais ser o resultado de um fã com uma câmera na mão filmando o show do seu ídolo. Só que, no caso, esse fã possui o aparato de um grande cineasta, com uma equipe simplesmente incrível à sua disposição. Só para termos uma idéia: o líder da equipe de fotografia é Robert Richardson (lembrem-se da fotografia de O Aviador) que coloca como operadores de câmera grandes diretores de fotografia como Andrew Lesnie (responsável por nada mais nada menos que a trilogia O Senhor dos Anéis) e Robert Elswit (recentemente premiado com o Oscar por Sangue Negro).

Bom, com todo esse suporte o tal “fã” realiza um trabalho realmente primoroso, digno da maior banda do mundo desde o fim dos Beatles. Mick Jagger, Keith Richards, Ronnie Wood e Charlie Watts aparecem com todas as marcas que a idade lhes trouxe, mas também com toda a energia e talento que souberam preservar ao longo dos anos. É impressionante como os velhinhos conseguem agitar uma platéia com muito mais competência, sinceridade e autenticidade do que 90% dos artistas que encontramos por aí. No palco, eles continuam insuperáveis e, nas duas apresentações no Beacon Theatre de Nova York, como parte da turnê “A Bigger Band” (detalhe: os shows no teatro foram beneficentes, buscando arrecadar fundos para causas ambientais apoiadas pelo casal Clinton. O Bill, inclusive, é quem abre o show com um discurso de agradecimento), desfiam um rosário de clássicos absolutos: Jump Jack Flash (que abre o show), Satisfaction, Tumbling Dice, Brown Sugar, Start Me Up... Mas vou aqui confessar os momentos que considerei mais empolgantes: Connection, cantada por Keith Richards; a participação do blueseiro Buddy Guy, com sua imensa simpatia e grande presença de palco (além desta seqüência constituir uma das melhores tomadas fotográficas da projeção); a presença de Christina Aguillera, com seu vozeirão que é muito superior às músicas que ela costuma cantar (além de ser gatinha, claro!); e a interpretação de “As Tears Go By”, clássico absoluto dos Stones que eles pouco apresentam ao vivo. Fico me perguntando o porquê disso, já que é mesmo uma música linda, como o próprio Jagger acentua ao terminar sua execução. Quem também faz uma participação é o Jack White III, mas, sendo bem sincero, ele parecia tão “abobalhado” com o momento que esqueceu que também tinha que marcar sua presença. Ficou mirrada sua participação.

Mas Scorsese sabia que o público poderia se enfastiar no cinema acompanhando duas horas de show sentado numa cadeira. Assim, inicia o longa mostrando os preparativos pro show: a discussão sobre o repertório a ser executado (só revelado ao diretor minutos antes da apresentação), as reclamações de Jagger acerca da estrutura do palco (“isso tudo é coisa do Marty, não minha”, diz a certa altura), os acertos de iluminação e som, entre outros detalhes. Ademais, intercala o números do show com imagens de arquivos e entrevistas dos membros do grupo, que acabam falando um pouco da história da banda e de suas perspectivas sobre o futuro há algumas décadas. Uma da mais interessantes é a que Jagger responde a um jornalista quanto tempo espera continuar nos palcos com a banda: “acho que pelo menos mais um ano, com certeza”.

A verdade é que, mais de quatro décadas depois, os Stones continuam incendiando meio mundo com seu som eternamente jovem, encantando gerações e fazendo o público vibrar, mesmo que seja numa sala de cinema (pena que não dá para sair pulando lá!). E Scorsese soube captar perfeitamente toda essa energia com seu “Rolling Stones: Shine a Light”. É isso aí: aumente o volume que esse som é ROCK ‘N ROOOOOOOLLLL!!!!!

Nota: ah, e desde quando os Stones precisam de nota?


Observação 1: não deixem de observar as gatas-deusas estrategicamente posicionadas à beira do palco! Tchucas lindas, cada uma mais do que a outra!

Observação 2: Estranho não ter entrado “Gimme Shelter” no repertório, já que esta música está presente em três filmes de Scorsese.

Observação 3: achei o máximo o título do filme. “Shine a Light” é uma das minhas músicas preferidas da banda, uma das faixas do mítico álbum “Exile On Main St.”.

sábado, 23 de agosto de 2008

Era Uma Vez...

Romeu & Julieta in Rio

Breno Silveira é, talvez, o melhor contador de histórias do atual cinema brasileiro. É impressionante seu talento em transformar temáticas clichês em narrativas extremamente interessantes e envolventes. O maior exemplo deste seu talento é “2 Filhos de Francisco”. Breno nos mostrou a história real dos cantores sertanejos Zezé di Camargo e Luciano de maneira excepcional, contagiando o público sem jamais descambar para o tentador e fácil caminho do piegas, o que acabou lhe rendendo também o aplauso da crítica. O longa acabou se tornando o maior sucesso do cinema brasileiro no período pós-retomada, com muitos méritos, é bom ressaltar. E olha que o diretor tinha receio de desagradar tanto à crítica quanto ao público, já que, assumidamente, não tinha nenhuma familiaridade com o universo sertanejo.

E é o talento de Breno para contar uma estória que torna “Era Uma Vez...”, seu mais recente projeto, uma experiência bastante interessante. A idéia do longa já era bastante antiga, sendo bem anterior até mesmo ao projeto dos irmãos sertanejos. Começou em 1987, quando foi o diretor de fotografia de “Santa Marta – Duas Semanas no Morro”, do cineasta Eduardo Coutinho. Trata-se de uma nova leitura da mais popular tragédia de William Shakespeare, “Romeu & Julieta”, transpondo o secular e imortal drama para o Rio de Janeiro contemporâneo. Assim, o conflito de famílias é substituído pelo embate de classes sociais, simbolizadas por Dé (Thiago Martins, ele próprio saído de uma favela carioca), o favelado do Morro do Cantagalo e vendedor de sanduíches em um quiosque na praia de Ipanema, e pela patricinha Nina (Vitória Frate, lindinha). Estabelece-se o já costumeiramente abordado confronto morro versus asfalto, tema recorrente nas recentes produções brasileiras. Todavia, a paixão adolescente dá novas cores ao mote já desgastado.

É interessante ver como o roteiro (escrito por Domingos de Oliveira e Patrícia Andrade, ela uma das co-autoras do roteiro de “2 Filhos de Francisco”) soube adaptar o romance às relações sociais e adolescentes (brasileiras, diga-se de passagem) dos anos 2000. Assim, por exemplo, as festas da nobreza são substituídas por raves à beira-mar e bailes funk (só não muda o hedonismo e vazio de ambos os eventos); os beijos e amassos acontecem rapidamente; a violência hoje é estampada através de fuzis AR-15 (em contraposição às espadas e punhais do século XVI). Da mesma forma, a oposição dos pais (Cyria Coentro, mãe de Dé e Paulo César Grande, pai de Nina) não se dá por rivalidades familiares, mas por verem a impossibilidade de sucesso numa relação estabelecida entre integrantes de classes tão distintas, além de preconceitos mútuos. Além disso, alguns outros comentários sociais são inseridos no contexto, como a discussão da vez trazida aos holofotes ano passado pelo super-sucesso “Tropa de Elite”: a promiscuidade hipócrita das classes abastadas com o tráfico reinante nos morros, uma vez que a mesma é maior consumidora do produto fornecido pelos traficantes. Ao mesmo tempo, contando com o talento dos dois jovens atores protagonistas (principalmente Thiago Martins), o lado romântico, por assim dizer, mostra-se bastante cativante. Principalmente porque o roteiro é feliz em estabelecer um passado para Dé e para o seu amor por Nina. O rapaz há muito tempo admirava sua amada através da varanda do apartamento onde ela mora, o qual se situa em frente ao mencionado quiosque onde serve sanduíches.Também muito interessante a relação de Dé com seu irmão, interpretado pelo talentosíssimo Rocco Pitanga, um personagem muito bem trabalhado. Alguns pontos soam artificiais, entretanto, como uma momentânea aceitação do pai da garota (o pouco talento de Paulo César Grande também não contribui...). Apesar dessas falhas, os fatos vão se sucedendo e envolvendo o espectador, contando com algumas reviravoltas que chegam mesmo a surpreender.

Seguro em sua direção, Silveira não deixa cair o ritmo. Os momentos mais tensos são muito bem desenvolvidos e o clímax realmente emociona, no melhor estilo shakespeariano (a cena final causa impacto). A fotografia mostra-se precisa e por vezes belíssima, como na cena em que Dé mostra a Nina a vista que se tem do alto da favela (mas também, convenhamos, seria difícil tornar o Rio de Janeiro feio). E a trilha sonora, com Marisa Monte e Luiz Melodia, é, como já deixo entrever, das mais felizes.

O que eu não entendo é como esse exemplar de bom cinema, simples, mas eficiente, não alcançou um número maior de salas de exibição. É realmente complicado entender a lógica das distribuidoras e exibidores, já que o longa tem um forte apelo ao público mais jovem, o qual, creio eu, dificilmente não será fisgado. E olha que um peso pesado da mídia, Luciano Huck, co-produtor do filme (isso mesmo), andou até fazendo marketing em um dos seus programas das tardes de sábado. Enquanto isso, comédias românticas enjoativas e previsíveis têm sempre o seu espaço garantido. Uma pena, já que “Era Uma Vez ...” nos mostra que o amor, aquele arrebatador dos tempos do bardo inglês, pode estar “démodé”, mas nunca deixará de ser belo.

Obs.1: Durante os créditos, Thiago Martins narra um pouco dos percalços de sua vida (ao som de Luiz Melodia). Percalços bastante similares aos do seu personagem na trama. Não seja apressadinho(a) e confira.

Obs.2: O filme será exibido no Festival de Toronto, na mostra "Cinema Mundial Contemporâneo", juntamente com "Linha de Passe", de Walter Salles e Daniela Thomas.

Cotação: ***1/2 (três estrelas e meia).

Nota: 8,0.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Cinemúsica



Quem me conhece de perto, sabe que outra das minhas grandes paixões é a música. Pensando nisso, resolvi criar mais uma coluna no blog, a "cinemúsica", onde serão abordados filmes que tenham como sua principal matéria-prima a música ou músicos famosos, uma forma de unir essas duas artes fantásticas neste espaço virtual. Como "faixa de abertura", segue uma resenha de "Johnny & June", cinebiografia do famoso músico country Jonnhy Cash. Leia ao som de uma bela canção.

Johnny & June
(Walk The Line)



“Because you’re mine, I walk the line”

O gênero cinematográfico que se pode denominar de “biográfico” é um tanto quanto perigoso. Eu diria que costuma gerar filmes incompletos em suas pretensões, principalmente no caso das cinebiografias hollywoodianas, as quais sempre tendem a amenizar os aspectos mais polêmicos de seus biografados. “Johnny & June”, que aborda a vida do astro country Johnny Cash, honra essa tradição, no que ela tem de bom e de ruim.

Johnny Cash não é um nome famoso para a maior parte do público brasileiro. Seu gênero, o country, é tipicamente americano, o que fez dele um sucesso eminentemente local, à semelhança de Garth Brooks. Todavia, talvez seja errado definir Cash apenas como um cantor country, uma vez que seu estilo influenciou muito os primeiros roqueiros, como Elvis e Jerry Lee Lewis (como é sabido, o rock foi gerado a partir de uma mistureba de blues, country e folk), não sendo errôneo afirmar que ele foi um dos precursores do country-rock (tendência posteriormente abraçada por mestres como Neil Young). E, sem dúvida, sua voz cavernosa, extremamente marcante, faz com que qualquer um, por menos familiarizado que seja com sua obra, dê atenção ao que está ouvindo.

Todavia, à parte o nítido talento do astro, o filme encontra seu norte na relação entre Cash e June Carter, uma cantora oriunda de uma família tradicional do gênero, o que fez com que ela despontasse logo cedo nas rádios como estrela infantil. E a verdade é que a escolha adotada pelo diretor James Mangold de centrar-se na relação dos cantores, interpretados por Joaquin Phoenix e Reese Whitherspoom, é bastante feliz, uma vez que tira o longa, pelo menos em parte, daquele esquema meramente episódico e piegas que costuma predominar nos filmes do gênero. O relacionamento do casal é mostrado com maturidade, sem arroubos, externando um lado romântico, mas, ao mesmo tempo, sem jamais esquecer que se trata da vida de personagens de carne e osso, com suas fraquezas e virtudes.

Entretanto, apesar de não ser um exemplar tão formulaico como “Ray”, cinebiografia de Ray Charles lançada um ano antes, “Johnny & June” também está longe de ser uma biografia atípica como “Não Estou Lá”, que mostra a vida de Bob Dylan de uma forma inteiramente não convencional. O roteiro, escrito a quatro mãos pelo próprio Mangold juntamente com Gill Dennis, baseados na autobiografia de J.R. Cash, inicia sua narrativa durante a célebre apresentação de Cash na penitenciária californiana de Folsom, que se transformaria no disco ao vivo “Johnny Cash At Folsom Prison” (lançado em 1968), o qual se tornaria um sucesso de vendas, sendo o primeiro de uma série de shows em presídios (posteriormente, Cash lançaria também em disco a gravação do show de San Quentin, ainda mais popular e respeitado pela crítica). De repetente, a narrativa entra com o inevitável flashback, e então vemos o astro ainda criança, na convivência com sua família, principalmente com seu irmão mais velho, Jack, e seu pai, Ray Cash (interpretado por Robert Patrick). O link entre os dois momentos se torna interessante, principalmente se soubermos que o cantor tinha uma certa predileção por músicas que tratavam de morte, crimes e remorso, razão pela qual era admirado pelos presidiários. Cash carregou a vida inteira a culpa por se sentir, de uma certa forma, responsável pela morte de seu irmão mais velho. Aqui, por outro lado, já se percebem os elementos que se tornarão os pontos fracos do roteiro. A relação conflituosa de Cash com o pai é mostrada de forma muito simplista. O filme não deixa claro porque Ray considera Johnny um filho de importância menor, sequer se esforça para tentar elucidar o fato (o fato do homem ser alcoólatra não me parece suficiente). Mais adiante, vemos o período de Johnny no exército (fase em que começa a descobrir seu talento) e seu casamento com Vivian , sua primeira esposa, a qual é mostrada de forma unidimensional, parecendo por muitas vezes uma mulher mimada e egoísta. A sua representação parece elaborada com o intuito de contrastá-la com a alegre, madura e companheira June, o que se mostra por demais artificial. Da mesma forma, o texto de mostra ainda problemático na abordagem “maquiada” do vício de Cash em anfetaminas, sendo superficial na forma como mostra os problemas familiares causados pelo mesmo. Não que não sejam mostrados, vale ressaltar. A separação de sua primeira esposa é abordada, suas complicações na carreira e com os outros músicos da banda também se fazem presentes, além de sua redenção com a ajuda de June. Contudo, fiquei com a sensação de que tudo é mostrado de maneira muito “cosmética”, de forma a não causar “fastio” no grande público ou não ameaçar a classificação do longa nos limites do PG-13.

Por outro lado, se o roteiro se mostra pouco satisfatório, as atuações se revelam como o elemento de maior sustentação da produção. Joaquim Phoenix está muito feliz na sua caracterização, não apenas por ter conseguido retratar com fidelidade os trejeitos e expressões de Cash, mas principalmente por ter conseguido captar sua alma (emblemática a seqüência que mostra seu primeiro teste na Sun Records). Acabou recebendo uma justa indicação ao Oscar de melhor ator e, é provável, o fato de também ter perdido um irmão (River Phoenix) o ajudou bastante na composição do personagem. Robert Patrick, como o pai de Cash, também se mostra em atuação inspirada. Todavia, aquela que considero a grande presença do filme é mesmo Reese Whisterspoom. Confesso que, antes de assistir à sua atuação, acreditava que sua premiação pela Academia de Hollywood havia sido exagerada, um daqueles tradicionais prêmios entregues para alavancar carreiras de estrelas. Mas tive a grata surpresa de ver uma atriz segura, que confere uma personalidade realmente marcante à sua personagem, tal como deveria ser a real June Carter. O que há de mais interessante e verdadeiro neste longa é mesmo a história do relacionamento entre os dois. Há uma frase, bastante conhecida, que fala que uma mulher pode ser a redenção ou a desgraça de um homem. Sem dúvida, no caso presente, June foi a redenção de Cash. Com sua força e companheirismo, ajudou o músico a se livrar de seu vício em anfetaminas e reerguer sua carreira. Feliz do homem que consegue encontrar sua June...

Texto escrito ao som de “I Walk The Line”, de Johnny Cash.



Cotação:

Nota: 7,5






segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Premiação em Gramado


O último sábado foi a noite da premiação do 36º Festival de Gramado (festival que andou perdendo muito crédito nos últimos anos, é bom ressaltar). O vencedor foi "Nome Próprio", filme de Murillo Salles que trata de uma blogueira viciada interpretada por Leandra Leal, qual levou o Kikito (não tinham um nome melhor para esse prêmio?) de melhor atriz. O longa ainda foi agraciado com o prêmio de melhor direção de arte. O vencedor já teve sua estréia em circuito comercial, até mesmo em terras natalenses (foi exibido no Moviecom).

Outro longa que se destacou na premiação foi "A Festa da Menina Morta", primeiro trabalho de Matheus Nachtergaele como diretor, o qual teve sua premiére mundial durante o festival de Cannes desse ano, na mostra "Un Certain Regard". O filme anda causando burburinho por conter cenas de homossexualismo incestuoso entre pai e filho, este último sendo interpretado por Daniel de Oliveira (aquele de Cazuza e das novelas da Globo), que acabou levando o prêmio de melhor ator. A produção levou ainda os prêmios de melhor fotografia, música, prêmio especial do júri, crítica e do júri popular. Só algo fica mal explicado: se o filme levou os prêmios do júri, da crítica e da platéia, como não levou o Kikito de melhor filme? Vá entender...

O prêmio de melhor direção foi para Domingos Oliveira por seu trabalho em "Juventude", que também foi agraciado como melhor roteiro (do próprio Oliveira), montagem e qualidade artística... Hein? Esses prêmios totalmente vagos são muito engraçados!

Abaixo, segue a lista completa. Agora, vou acompanhar o jogo das meninas do vôlei de praia e depois ver se pego alguma reprise dos saltos da Isinbayeva no "Ninho do Pássaro" (essa mulher é um espetáculo em todos os sentidos). Até a próxima!

Melhor filme de longa-metragem
Nome Próprio,
Murilo Salles

Melhor Diretor
Domingos Oliveira, Juventude

Melhor Ator
Daniel de Oliveira, A Festa da Menina Morta

Melhor Atriz
Leandra Leal, Nome Próprio

Melhor Roteiro
Domingos Oliveira, Juventude

Melhor Fotografia
Lula Carvalho, A Festa da Menina Morta

Prêmio Especial do Júri
A Festa da Menina Morta, Matheus Nachtergaele

Prêmio de Qualidade Artística
Atores Aderbal Freire Filho, Domingos Oliveira e Paulo José, Juventude

Melhor Diretor de Arte
Pedro Paulo de Souza, Nome Próprio

Melhor Música
Matheus Nachtergale, A Festa da Menina Morta

Melhor Montagem
Natara Ney, Juventude

Prêmio da Crítica
A Festa da Menina Morta, Matheus Nachtergale

Melhor filme do Júri Popular
A Festa da Menina Morta
, Matheus Nachtergale


Longa-metragem estrangeiro:

Melhor Filme
Cochochi,
Israel Cardenas e Laura Guzman

Melhor Diretor
Carlos Moreno, Perro Come Perro

Melhor Ator

Marlon Moreno e Oscar Borda, Perro Come Perro

Melhor Atriz
Ana Carabajal, Por Sus Propios Ojos

Melhor Roteiro
Liliana Paolinelli, Por Sus Propios Ojos

Melhor Fotografia
Juan Carlos Gil, Perro Come Perro

Prêmio Especial do Júri

Por Sus Propios Ojos


Prêmio de Qualidade Artística
Cochochi

Excelência de linguagem técnica

Cochochi,
Israel Cardenas e Laura Guzman

Prêmio da Crítica
Perro Come Perro, Carlos Moreno

Melhor Filme do Júri Popular

Por Sus Propios Ojos,
Liliana Paolinelli


Curta-metragem

Melhor filme
Areia, Caetano Gotardo

Melhor Diretor
Jaime Lerner, Subsolo

Melhor Ator

Augusto Madeira, Blackout e Noite de Domingo

Melhor Atriz

Malu Galli, Areia

Melhor Roteiro

César Cabral e Leandro Maciel, Dossiê Rebordosa

Melhor Fotografia
Heloisa Passos, Areia

Prêmio Especial do Júri

Booker Pittman,
Rodrigo Grota

Melhor Diretor de Arte

José de Aguiar, Booker Pittman

Melhor Música

Booker Pittman, Booker Pittman

Melhor Montagem

César Cabral e Leandro Maciel, Dossiê Rê Bordosa

Prêmio da Crítica
Booker Pittman, Rodrigo Grota


quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Revendo o Cavaleiro das Trevas



Eu tenho o hábito de, quando gosto muito de um filme, revê-lo pouco tempo depois. É o famoso "teste da segunda visita": muita vezes você vai a um um prédio luxuoso e fica impressionado com o que vê mas, em uma segunda oportunidade, começa a perceber algumas falhas no acabamento, sujeiras na pintura, infiltrações etc. De forma similar acontece no cinema. Podemos, ao assitir a um filme pela segunda vez, não gostar tanto quanto da primeira, pois é comum percebermos falhas no roteiro, superficialidade, as atuações se mostrarem menos impressionantes, entre outras coisas a serem observadas. Hoje, revi "Batman - O Cavaleiro das Trevas" no cinema aqui mais próximo (sessão por apenas R$ 4,00). E o filme do Homem-Morcego passou com louvor no tal "teste da segunda visita". Ou melhor, creio que até gostei mais nesta segunda visita, uma vez que pude perceber que o longa tem, de fato, um texto impactante e relevante, as interpretações são tudo aquilo mesmo e as cenas de ação se mostraram ainda mais competentes aos meus olhos. Ademais, consegui uma maior "imersão" ao longo da exibição, pois a sala estava com poucos espectadores (na primeira oportunidade, como mencionei em um tópico anterior, tive que assisti-lo em uma sessão repleta de nerds eufóricos). Confirmo, assim, a nota 10 que atribuí na resenha.

Obs: o blog anda sofrendo com o baixo número de atualizações nos últimos dias porque estou acompanhando os jogos olímpicos de forma compulsiva (até provas de levantamento de peso, esgrima e iatismo eu ando assistindo). Mas já estou pensando em algumas coisas para quando o período do marasmo voltar.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

As velhas trapalhadas em DVD


Excelente a iniciativa da Europa Filmes de lançar (finalmente!) em DVD a filmografia da inesquecível trupe formada por Didi, Dedé, Mussum e Zacarias: "Os Trapalhões". A partir de setembro serão lançados 39 títulos, sendo 5 por mês, e o preço será sugerido de R$ 15,00 (14,99 mais precisamente).

Finalmente poderemos rever clássicos como "Os Saltimbancos Trapalhões", na minha opinião um dos melhores filmes infantis já feitos (e não estou me referindo apenas ao cinema nacional). Segue abaixo a lista completa (fiquei muito curioso sobre o primeiro filme, de 1966).

O Trapalhão e a Luz Azul (1999)
Simão o Fantasma Trapalhão
(1998)
O Noviço Rebelde
(1997)
Os Trapalhões E A Árvore da Juventude
(1991)
Uma Escola Atrapalhada
(1990)
Xuxa e Os Trapalhões em O Mistério de Robin Hood
(1990)
A Princesa Xuxa e os Trapalhões
(1989)
Os Trapalhões na Terra dos Monstros
(1989)
O Casamento dos Trapalhões
(1988)
Os Heróis Trapalhões - Uma Aventura na Selva
(1988)
Os Fantasmas Trapalhões
(1987)
Os Trapalhões no Auto da Compadecida
(1987)
Os Trapalhões no Rabo do Cometa
(1986)
Os Trapalhões e o Rei do Futebol
(1986)
Os Trapalhões no Reino da Fantasia
(1985)
A Filha dos Trapalhões
(1984)
Os Trapalhões e o Mágico de Oróz
(1984)
O Trapalhão na Arca de Noé
(1983)
O Cangaceiro Trapalhão
(1983)
Os Trapalhões na Serra Pelada
(1982)
Os Vagabundos Trapalhões
(1982)
Os Saltimbancos Trapalhões
(1981)
Os Três Mosquiteiros Trapalhões
(1980)
O Mundo Mágico dos Trapalhões
(1981)
O Incrível Monstro Trapalhão
(1980)
O Rei e os Trapalhões
(1979)
O Cinderelo Trapalhão
(1979)
Os Trapalhões na Guerra dos Planetas
(1978)
O Trapalhão nas Minas do Rei Salomão
(1977)
O Trapalhão no Planalto dos Macacos
(1976)
Simbad, O Marujo Trapalhão
(1976)
Os Trapalhão na Ilha do Tesouro
(1975)
Robin Hood, O Trapalhão da Floresta
(1974)
Aladim e a Lâmpada Maravilhosa
(1973)
Ali Babá e os Quarenta Ladrões
(1972)
Bonga, O Vagabundo
(1971)
Dois na Lona
(1968)
Adorável Trapalhão
(1967)
Na Onda do Iê-Iê-Iê
(1966)

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

A maior estréia do ano


E a grande estréia da semana não é nos cinemas. Com uma abertura belíssima, os jogos olímpicos mais uma vez encantam o mundo. Não tem como ficar indiferente a um evento tão grandioso que, por mais que possa parecer clichê, faz realmente acreditarmos que o mundo tem jeito!

Abaixo, imagens da abertura que teve como diretor Zhang Yimou (o diretor de "Lanternas Vermelhas" e "O Clã das Adagas Voadoras"), com alguns toques de Steven Spielberg (que largou o projeto por ser simpático à causa tibetana). Certamente, a mais cinematográfica de todos os tempos. De arrepiar!

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Revolta

Deixo aqui registrado meu protesto contra os exibidores destas terras natalenses. "Encarnação do Demônio", o retorno do glorioso Zé do Caixão às telas, tem sua estréia em circuito nacional nesta sexta-feira 8. Todavia, parece que Natal realmente não faz parte do que se pode chamar de "circuito nacional"... Enquanto isso, "O Grande Dave", nova porcaria protagonizada por Eddie Murphy, tem sua estréia garantida nesta "Cidade do Sol" (que anda muito chuvosa nos últimos tempos). Natal é mesmo a última esquina onde o vendo faz a curva...

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Filmes Para Ver Antes de Morrer



Já encontrei uma pessoa que disse não ter gostado desse filme. Vá entender...

Os Intocáveis

(The Untouchables)


Belo exemplar do poder de Hollywood

Esse é o tipo de filme “estelar”. Desde o elenco, passando pelo diretor, até o figurinista, todos são estrelas de “primeira grandeza”. O poderoso cinema americano faz esse tipo de coisa até com uma certa freqüência, mas muitas vezes os resultados são bastante medíocres. Não é o caso deste filme de 1987, que já se tornou, por que não dizer, um clássico. É um daqueles casos de “clássico instantâneo” e, como todo filme que enverga esse adjetivo, é difícil escrever alguma coisa sobre ele. São obras que marcam, não só o meio artístico como (e principalmente) o público.

Todavia, como eu disse, é um filme “estelar” e talvez a melhor forma de apresentá-lo seja tecer alguns comentários sobre cada um desses aspectos. Então, vamos a eles:

O roteiro: Escrito por David Mamet, baseado na série de TV homônima, narra a história de Eliot Ness (Kevin Costner), agente do Tesouro Federal americano e sua luta para colocar o mais famoso dos gangsters atrás das grades: Al Capone (Robert de Niro). Para isso, Eliot contará com a ajuda de três “colegas”: Malone (Sean Connery), um velho guarda de rua que Eliot conhece numa noite infeliz; Stone (Andy Garcia), um atirador de elite da polícia e Sam (Charles Martin Smith), um contador que sempre viu a melhor forma de prender Capone, sua sonegação ao Fisco, mas ninguém o leva muito a sério. Pronto! A trama é assim, simples e direta, sem aquelas conspirações, confusões e novelos intermináveis de nomes que geralmente povoam os filmes deste estilo. E essa simplicidade é uma das grandes forças da película, conseguindo envolver completamente o espectador em sua narrativa. E não se faça confusão com roteiro “simplório”, pois ele é extremamente bem amarrado e rico na caracterização dos personagens. Parabéns, Mamet!

O diretor: Brian De Palma faz parte da geração “setentista” a qual, nunca é demais lembrar, revolucionou os padrões de Hollywood na década da “disco music”. Desta geração, talvez De Palma seja o mais preocupado com o aspecto “fotográfico” dos seus filmes. Ele faz parte da vertente que alguns denominam “cinema total”. Nesta vertente, os diretores buscam transmitir o máximo de conteúdo, ações e emoções através da imagem, sempre apta a envolver o espectador com sua plástica, técnica, precisão nos detalhes e expressividade. Um bom exemplo desse tipo de cinema é o clássico “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, do mestre Stanley Kubrick, onde enormes seqüências não possuem qualquer diálogo, sendo que as imagens e a marcante trilha sonora transmitem tudo que o cineasta pretende. Confesso que tenho uma grande simpatia por esse tipo de cinema, pois, pelo menos na minha opinião, trata-se da arte da imagem (sinto-me muitas vezes irritado quando alguns cineastas confundem cinema com teatro). Como reforço à fotografia, De Palma utiliza a edição como um mestre, sendo famosa sua técnica de apresentar duas imagens simultâneas com ações paralelas. Desta forma, o enredo acima descrito é mostrado como um espetáculo visual. Várias são as cenas memoráveis deste filme, como a seqüência em que um dos “intocáveis”... ih, essa eu não posso falar, pois nem todos viram. De qualquer forma, a seqüência mais marcante é aquela do carrinho de bebê (com o bebê) deslizando escadaria abaixo na estação de trem enquanto acontece um tiroteio. Trata-se de uma das mais geniais homenagens já feitas por um diretor a outro, no caso Serguei Eisenstein, o gênio de “O Encouraçado Potenkim”, um dos melhores filmes de todos os tempos. A cena é de aprisionar o olhar, afundar na cadeira e bater palmas depois (e de pé!). Resumindo tudo: De Palma estava mesmo em um momento inspirado!

Elenco: Vamos por partes! Primeiro, Kevin Costner. Interessante como ele era muito melhor quando não era pretensioso. Dá o tom certo ao paladino Eliot Ness, sem excessos. E o personagem, que no início parece muito certinho, maniqueísta até, vai aos poucos mostrando que, ao atingir seu limite, ele não é tão certinho como se supunha. Costner teria uma ascensão vertiginosa em Hollywood, atingindo o ápice em “Dança com Lobos”, para logo depois também experimentar uma decadência tão vertiginosa quanto. Já Sean Connery dá um verdadeiro show como Malone. Cínico e inteligente, ele mostra ao ainda ingênuo Eliot que, para vencer o crime, certas barreiras às vezes têm de ser transpostas, sem significar, contudo, que você passe a ser um corrupto desonesto. Emblemática a cena em que Malone mostra como arrancar confissões de um mafioso sem encostar em um fio de cabelo dele! A atuação rendeu o Oscar de ator coadjuvante ao velho James Bond. Andy Garcia não está brilhante, mas também não compromete com o seu Stone (que tem uma participação decisiva na citada seqüência da escadaria), em um de seus primeiros papéis de destaque no cinema. Charles Martin Smith como o contador está muito bem, mas o que aconteceu com ele depois desse filme (quem souber, favor informar. Parece que participou daquele filme “Querida, encolhi as crianças”, mas não lembro bem)? Fechando o elenco, não podemos esquecer, claro, de Robert De Niro como Al Capone, em mais uma das suas grandes composições. Talvez seja o melhor mafioso depois do Don Corleone de Marlom Brando. Acho até que De Niro iria demorar a se recuperar desta atuação, vez que vejo vários “tiques” de seu Al Capone na sua atuação em “Os Bons Companheiros”, de Scorcese. E é sempre bom vê-lo em boa fase, ao contrário da atual em que ninguém lembra de seus papéis. Coisa mais triste...

Trilha Sonora: Aqui eu sou até suspeito para comentar, porque o responsável pela trilha é Enio Morricone, justamente o meu compositor de trilhas favorito. O que dizer? Bem, mais uma vez seu trabalho é fantástico, não posso usar outro adjetivo. Desde o tema dos créditos inicias até o tema de conclusão, tudo é perfeito. Sem retoques. Mais uma trilha que se pode catalogar como obra-prima, na sua já extensa lista de obras-primas. Vou fazer um aparte aqui, pois talvez alguns não saibam: Morricone é o autor de trilhas memoráveis como a de “Três Homens em Conflito” (além de outros filmes de Sergio Leone). Está lembrando daquele famoso assovio dos filmes westerns? É dele mesmo! Também é o autor da trilha de “Cinema Paradiso”, uma das mais líricas e belas de todos os tempos. Morricone é sensacional!!!

Figurino: Trata-se até de uma curiosidade. Quando estava vendo o filme, já nos créditos iniciais me deparo com o nome de ninguém mais, ninguém menos que Giorgio Armani. Isso mesmo, o homem dos ternos mais bem cortados do mundo. Não que eu seja ligado em moda (sou ligado mesmo é em modelos como a Gisele e a Ana Hickman! Hehhehehehe!), mas não deixei de pensar: “caraca, as roupas são do Giorgio Armani!!!”. E isso me levou a ficar prestando atenção nos ternos que aparecem na tela, para ver o que de tão diferente existe nos modelos de Armani, mas confesso que não vi grande diferença não... Depois até pensei comigo: “ainda bem que eu não entendo tanto de moda assim!”. Hahhahahahahahhahahaha! De qualquer forma, fica o registro para quem tiver curiosidade.

E eis que chegamos à conclusão. E o mais importante, para sintetizar todos estes aspectos, é dizer que “Os Intocáveis” é um senhor filme, daqueles que passam dias na mente de quem assiste. Alguns chegam até a afirmar que é o melhor filme de Brian De Palma. Não sei se é o melhor (“Carrie, A Estranha” também é um filmão, assim como “Vestida para Matar”), mas com certeza é um dos seus grandes momentos. E, indubitavelmente, está entre as melhores realizações da década de 80. Aliás, na capa do DVD encontra-se a frase “O melhor filme de gangster desde ‘O poderoso Chefão’”. Concordo com a capa!

Cotação: ***** (cinco estrelas)

Nota: 10,0

domingo, 3 de agosto de 2008

De Novo!


E o Homem-Morcego continua sua luta contra o crime de forma avassaladora nos cinemas. Mesmo com a estréia de mais uma continuação da série "A Múmia", o Cavaleiro das trevas arrecadou mais 43, 8 milhões de dólares, somando 395 milhões no total (EUA). É provável que já nesta segunda-feira o filme de Christopher Nolan atinja a marca de 400 milhões de dólares! As pojeções também indicam que ele talvez seja o segundo filme a quebrar a barreira dos 500 milhões de dólares arrecadados no mercado americano (o único a obter essa façanha foi Titanic). Acho que as minhas previsões de que o Coringa de Heath Ledger se transformará no personagem mais pop da década estão correndo sério risco de se confirmar.

E aqui faço mais afirmações e projeções (depois eu posso até queimar a língua): o sucesso de "O Cavaleiro das Trevas" ergueu o gênero "super-herói" a um novo patamar (na minha opinião, nível semelhante já havia sido alcançado por "V de Vingança", mas o sucesso é quem dita as regras). É bom que o Sr. Zack Snyder, que está realizando a adaptação de "Watchmen", uma HQ igualmente adulta do genial Alan Moore, preste atenção nesse detalhe e esqueça coisas como "300" (que não é ruim, mas fica pálido diante do fenômeno Batman). E eis a projeção: estou realmente acreditando que Batman será indicado a muitos Oscars, inclusive nas categorias principais. A conferir!

sábado, 2 de agosto de 2008

Lost in Translation


Não. Esse texto não é sobre o filme “Lost In Translation”, cujo título no Brasil é “Encontros e Desencontros” (muito embora esse filme mereça mesmo uma bela resenha). O tema aqui é justamente essa diferença que costuma ocorrer entre o título original e suas respectivas “traduções” nesta terra brasilis. Isso normalmente ocorre porque muitas vezes um título, quando traduzido literalmente, não soa bem em português. Afinal, você sairia de casa para ver um filme chamado “Jaws” (“Mandíbulas em português)? “Tubarão” soa bem melhor, não? O problema é que muitas vezes os títulos em português são muito infelizes, às vezes até transmitindo um idéia errada sobre a temática do filme. Mas há também casos em que os títulos nacionais superam em muitos os originais. A lista abaixo traz alguns casos emblemáticos, tanto para um lado, como para o outro. Sintam-se à vontade para citar mais exemplos nos comentários.

1) Giant / Assim Caminha a Humanidade - Começo pelo caso mais simbólico de título em português que saiu muito superior ao original, o qual é vago, sem força e pouco expressivo. O oposto do título tupiniquim, que chega a ser poético, traduzindo com perfeição a essência deste clássico protagonizado por James Dean e Elizabeth Taylor. Hoje, seu único problema é que muita gente acha que “Assim Caminha a Humanidade” é só o nome de uma música que durante muito tempo foi tema daquela porcaria vespertina que a Globo exibe há uns 10 anos (música de Lulu Santos chatinha e pseudo-inteligente, por sinal). É, assim caminha a humanidade mesmo...

2) Lost in Translation / Encontros e Desencontros – Aqui, temos o caso oposto. Título em inglês perfeitamente adequado e metafórico, ganhando uma tradução genérica e infeliz, que não diz nada. Aliás, o título é tão genérico que, se você colocá-lo em uma pesquisa em sites de vendas on-line é possível que apareçam uns três filmes diferentes com esse nome. Talvez fosse melhor nomear o filme de Omeprazol 40mg...

3) Michael Clayton / Conduta de Risco – Outro caso de título genérico que parece ser atribuído pensando naquelas pessoas que vão “pegar um cineminha”e, chegando lá, escolhem o filme a que irão assistir pelo título ou pelo cartaz. Daí o camarada fala pra menina: “olha, esse deve ser bom, deve ter ação e suspense”. Daí ela concorda em assistir porque o filme é com o George Clooney... O pior é que esse é o tipo de filme que essa qualidade de espectador vai considerar “chato”.

4) The Godfather / O Poderoso Chefão – Muito embora ambos os títulos sejam adequados, tenho mais simpatia pelo título em português. Considero-o mais forte e sonoro, dando já a dimensão grandiosa que cabe inteiramente a esta obra-prima absoluta da sétima arte.

5) Jaws / Tubarão – Como eu já disse acima, você sairia de casa para ver um filme com nome de “Mandíbulas”? Portanto, bem melhor o título em português, que passa logo a idéia de perigo, ameaça, medo...

6) The Graduate / A primeira Noite de Um Homem – Título não muito feliz nem em inglês nem em português. Em inglês, ele soa muito “amplo” (muita coisa pode ser abordada sobre um “graduado”, “formado”), assim como em português ele pode passar a idéia de que é um filme que trata apenas das peripécias sexuais de um jovem. Talvez um dia criem um título melhor para este filme excepcional;

7) My Blueberry Nights / Um Beijo Roubado – Como citei na minha recente resenha sobre este longa, ambos os títulos funcionam muito bem, embora inteiramente distintos. Acho que quem imaginou o título em português realmente assistiu ao filme e o compreendeu (muitas vezes, tenho a impressão que quem cria os títulos nem chega a ver os filmes). Nota 10 mesmo.

Bom, quem quiser contribuir com outro é só mandar brasa nos comentários, hein?

Obs. Minhas listas sempre terão 7 itens por 3 motivos:

1) Listas de 5 ou 10 são muito manjadas;

2) O cinema é a 7ª arte;

3) Eu sou botafoguense!!!!!

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Queimando o filme


Inauguro aqui uma nova "sessão" para o blog (vamos sair da rotina, né?). Nesta série, comentarei aqueles filmes elogiados ou endeusados pelos críticos, mas que, siceramente, não me agradaram (finalmente vamos de fato botar uma pimenta nessa página). Começo com Borat, um dos queridinhos do ano passado que considero muito tosco. Aguardo os comentários!

Borat

Festival do grotesco (com algumas piadas boas)

Antes de começar a discorrer sobre “Borat”, deixo de antemão um esclarecimento: sou um tanto quanto “difícil” para comédias. Poucas são as comédias que me fazem rir de verdade e vejo o atual quadro da produção cinematográfica neste gênero como extremamente medíocre. Trata-se de um gênero deveras complicado, pois cada pessoa tem um senso de humor próprio, peculiar. É possível que um indivíduo X gargalhe com determinada piada, um indivíduo Y sequer mova um músculo e outro apenas a considere “engraçadinha”. Portanto é admirável o talento de um Woody Allen, cujas comédias agradam a, pelo menos, maioria dos espectadores, ou de um Charles Chaplin, que continua fazendo rir geração a após geração.

Dito isto, quando de sua estréia no Brasil (em fevereiro de 2007) a comédia “Borat”, cujo personagem título já se tornou uma verdadeira referência pop, desembarcou em um grande número de salas tupiniquins com uma aura de sucesso e elogios de boa parte da crítica que o colocou como revolucionário, transgressor, com alguns críticos até denominando de obra-prima. Mas esse adjetivo definitivamente não lhe cabe.

“Borat: o segundo melhor repórter do glorioso país Cazaquistão viaja à América” também não possui nada de tão revolucionário. Sua forma é incomum apenas no cinema, pois que na televisão vejo extremas semelhanças com programas como “Casseta & Planeta” e “Pânico na TV”. Trata-se de um semi-documentário em que um jornalista fictício (interpretado por Sacha Baron Cohen) entrevista pessoas reais em situações reais em sua viagem aos Estados Unidos. Nada de muito brilhante, portanto. Não há inovação alguma nisso, nem muito menos genialidade. Apenas o cinema ainda não está habituado a este tipo de linguagem.

Talvez o único grande mérito do filme seja ridicularizar a preconceituosa sociedade americana. Neste ponto, chegamos a ficar chocados ao percebermos que muito daquilo que temos apenas como estereótipos do povo americano se traduz em triste realidade. Os preconceitos contra judeus, árabes, ou qualquer tipo de estrangeiro, estão todos lá. Aliás, o próprio fato das pessoas acreditarem que o comportamento do repórter se deve ao fato de ele ser um estrangeiro vindo de um país que ninguém sabe direito onde fica (o que me fez lembrar imediatamente de um certo quadro do nosso “Casseta”), já demonstra uma arrogância incrível. Em uma das seqüências, uma socialite chega a ensinar Borat a se limpar depois de fazer suas necessidades, chegando a nos fazer crer que, além de arrogante, ela é uma idiota de proporções nunca dantes vistas. O machismo exacerbado também se faz presente em várias passagens, principalmente naquela do trailer, em que Borat conta suas desventuras amorosas (ele é apaixonado por Pamela Anderson) a jovens beberrões estadunidenses. Além disso, sua fotografia precária lembra uma produção caseira ou de baixíssimo custo, dando realmente a sensação de um documentário produzido em algum remoto país pobre.

Olhando por esse prisma, o filme é muito inteligente. Mas, ao mesmo tempo, apela para escatologias extremamente desnecessárias. Afinal, qual a utilidade da controvertida seqüência em que Borat luta, completamente nu, com seu obeso e peludo produtor Azamat (também totalmente nu)? É uma seqüência de um mau gosto tremendo e que passou muito longe de me fazer rir. Pelo contrário. É nítido que o embate entre eles, em cima da cama, quer fazer alusão a diversas variações sexuais (sexo anal, 69 etc.) mas isso simplesmente não é engraçado. Ver dois brucutus peludos em cima de uma cama chega mesmo a incomodar. E o exemplo se estende a outras passagens, na maioria totalmente desnecessárias ao desenvolvimento do roteiro. Se há algo que me faz parar de rir imediatamente é o mau gosto e esse quesito, infelizmente, o filme tem de sobra.

É de se ressaltar, contudo, o esforço de Baron Cohen na construção e interpretação do personagem. Com certeza foi extremamente difícil manter a concentração enquanto dialogava com pessoas que não sabiam que estavam lidando com um ator. Muitas vezes nós mesmos esquecemos desse detalhe e vemos Borat como verdadeiro.

E aqui vai um comentário: algumas pessoas já vieram me perguntar qual o sentido que eu enxergava em tudo aquilo mostrado ao longo da projeção. Outras, que não estavam informadas sobre a estrutura semidocumental do filme, afirmaram que não gostaram e apenas quando eu esclareci que muitas das situações não eram “armadas”, mas espontâneas, vindas de pessoas que não sabiam que lidavam com um ator, passaram a ver a película com melhores olhos. E isso me fez lembrar de algo que meu avô já dizia: uma boa piada não precisa de explicação...

Só mais outra observação: obra-prima é um termo destinado ao que há de mais belo. Não dá para classificar um filme tão “feio” como obra-prima.

No fim das contas: assisitir a Borat é uma experiência diferente, mas isso não significa que você vai gostar do que verá. Como dito acima: cada um com seu senso de humor...


Classificação: **1/2 (duas estrelas e meia)
Nota: 5,0