quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Os 7 melhores de 2010

Como sempre, a lista do Cinema com Pimenta apresenta 7 itens. Este ano, particularmente, foi bastante fraco. Não imagino muito mais títulos que pudessem estar aqui entre os longa-metragens exibidos no circuito brasileiro em 2010. Lamentável... E vamos parar de falação e passar logo para a lista, seguindo abaixo. A ordem é de preferência (crescente).



7) Tudo Pode Dar Certo (Woody Allen)


6) A Rede Social (David Fincher)


5) Guerra ao Terror (Kathryn Bigelow)


4) A Origem (Christopher Nolan)



3) Ilha do Medo (Martin Scorsese)



2) Tropa de Elite 2 (José Padilha)


1) Toy Story 3 (Lee Unkrich)


Aproveito para desejar um feliz 2011 para todos, cheio de saúde, paz e realizações! Grande Abraço!

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Filmes Para Ver Antes de Morrer


Pinóquio
(Pinocchio)


Uma fábula atemporal



É muito provável que você já tenha escutado uma canção chamada “When You Wish Upon A Star”, a qual se tornou um clássico do cancioneiro popular norte-americano (se não ouviu, basta clicar no display ao fim desta resenha). Pois bem, ela recebeu o Oscar de melhor canção (com justiça) em 1941, ajudando a consagrar o filme do qual é tema, “Pinóquio”, o segundo longa-metragem em animação dos estúdios Disney.

Após o estrondoso sucesso de “Branca de Neve e Os Sete Anões”, a primeira animação em longa metragem do cinema, realizada em 1937 e que, até hoje, serve como patamar de referência para os estúdios de animação, seria difícil para Walt Disney igualar o nível de sua empreitada pioneira. A começar pelo material básico. O conto “Pinocchio” de Carlo Collodi (de 1883) era muito sombrio e Disney teve que determinar à sua equipe algumas alterações para que ele se tornasse mais palatável ao grande público. Os personagens também não se mostravam tão carismáticos quanto os de “Branca de Neve”, o que levou a equipe a inserir alguns outros, como o Grilo Falante. Além disso, a trama apresentava desafios técnicos enormes, tais como a sequência envolvendo a fuga de uma baleia em alto mar. Entretanto, Disney sempre afirmou que sua grande meta era quebrar barreiras e desta vez não foi diferente. Mesmo tendo uma estreia difícil, com uma bilheteria abaixo do esperado (o mundo estava em guerra quando foi lançado), a animação, ao longo dos anos, cresceu junto aos olhos da crítica e do público, fazendo jus ao esforço de seu idealizador.

A narrativa trata de um boneco de madeira construído pelo artesão Gepeto que adquire vida por obra da Fada Azul, atendendo a um pedido do velho solitário. A partir de então, o grande desejo de Pinóquio é se tornar um menino de carne e osso. Todavia, para conseguir seu objetivo, deverá mostrar valentia, dedicação, lealdade e disciplina, entre outras virtudes necessárias. Seu objetivo começa a sofrer atropelos quando é assediado por João Honesto, um larápio que o convence de que pode ser um grande ator, apesar da insistência em contrário do Grilo Falante, o qual possui a missão de ser a sua “consciência” (e foi primeiro personagem da Disney a falar diretamente com os espectadores). O intuito de João Honesto, na verdade, é vendê-lo para o saltimbanco Stromboli, dono de um show de marionetes que vagueia pelas redondezas. É aqui que começa o lado sinistro da narrativa e percebemos o quanto o longa ainda permanece atual. A exploração da inocência continua tão frequente quanto em outros tempos (talvez tenha até aumentado) o que torna “Pinóquio” até mesmo um filme necessário, hoje, para os pequenos. Os noticiários estão repletos de casos de crianças desaparecidas, sequestradas ou abusadas sexualmente e as cenas que mostram o menino de madeira preso a uma gaiola podem, infelizmente, retratar a realidade de muitos inocentes no presente momento.


É interessante notar, ademais, como Pinóquio retrata com perfeição o comportamento infantil, mesmo levando em consideração a “esperteza” das crianças de hoje. Toda criança, em determinada fase, mente aos adultos para esconder suas peraltices e isto é mostrado com rara eficiência na clássica sequência em que o nariz de Pinóquio cresce a cada mentira que conta para a Fada Azul. A indisciplina infantil também é retratada de forma perfeita nas desventuras de Pinóquio na Ilha dos Prazeres. Mal influenciado pelo garoto Espoleta (demonstrando o quanto as más influências podem ser nocivas ao comportamento das crianças), o protagonista se entrega a toda sorte de prazeres proibidos aos pequenos, como fumar, jogar ou se entupir de guloseimas. A consequência é que os garotos, aos poucos, vão se transformando em burros, numa analogia clara com os resultados que a falta de estudo ou dedicação ao trabalho podem trazer. A passagem na Ilha dos Prazeres também possui tons bastante sinistros (tal como no cativeiro de Stromboli), mas é importante ressaltar que a equipe (com direção de Hamilton Luske e Ben Sharpsteen) soube realmente minorar o lado sombrio para torná-lo palatável ao público (principalmente às crianças).

O caráter técnico, por sua vez, é realmente impressionante. Várias sequências são de extrema beleza , com um apuro técnico capaz de impressionar até os dias hoje, dominados pela computação gráfica. Verdadeiras pinturas animadas surgem na tela, com texturas e cores que mesmo as animações produzidas atualmente dificilmente igualam (uma das cenas, inclusive, em que Gepeto procura Pinóquio em meio a uma tempestade, teve chuva real acrescentada à imagem). Custa a acreditar que essa produção é de 1940. Isso sem falar na trilha sonora, belíssima e que foi também vencedora do Oscar.

Todos esses elementos fariam de “Pinóquio” uma estória atemporal, mas há outro que talvez seja ainda mais relevante. O cerne da trama diz respeito à concretização dos sonhos, mesmo os quase impossíveis. Ao transformar-se em um garoto de verdade, Pinóquio se torna o personagem ícone da realização dos nossos mais profundos desejos, mesmo que para tanto tenhamos que trilhar, invariavelmente, caminhos dolorosos. A força de sua mensagem é tão intensa que ela reverbera ao longo das décadas, influenciando nitidamente tramas “modernas” como a de “Inteligência Artificial”, longa de Steven Spielberg. Uma fábula que não perderá jamais a sua força, soando cada vez mais contemporânea.


Cotação e nota: Obra-prima.

Abaixo escute "When You Wish Upon A Star"!


quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Um feliz Natal para todos!

Uma das lembranças mais caras relacionadas ao Natal que trago da minha infância é a de ver, todos os anos, uma animação em Stop Motion chamada "Rudolph, A Rena do Nariz Vermelho". Feito para a televisão em 1964, o longa narra a estória de uma renazinha que nasce com um pequeno "defeito" congênito que você já deve ter entendido pelo título. Rudolph sonha em ser uma das renas do trenó do Papai Noel, mas ele se sente discrimiando pela sua condição "diferente". Durante anos, o filme foi sempre reprisado na noite de Natal (e eu sempre assistia com o mesmo entusiasmo), mas as redes de TV em geral estão cada vez mais ridículas e esquecendo no fundo do baú os produtos de qualidade. Segue abaixo um trecho da animação para matar as saudades de muita gente. Além disso, aproveito o ensejo para desejar um feliz Natal para todos, cheio de muita saúde, paz e harmonia com a família e os amigos. E que o nascimento de um certo menino em Belém, há cerca de de 2000 anos, nos sirva de inspiração não apenas no dia 25/12, mas ao longo de todos os dias do ano. Um grande abraço!


sábado, 18 de dezembro de 2010

Blake Edwards: 1922-2010


Na última quarta-feira dia 15, como amplamente divulgado na mídia, faleceu, aos 88 anos, Blake Edwards, um dos diretores que mais fizeram o público rir na história do cinema, apesar de sua depressão crônica. Dentre tantos filmes divertidos que dirigiu, considero um especialmente hilário. É "Um Convidado Bem Trapalhão" (The Party), mais uma de suas parcerias com o também genial (e louco) Peter Sellers. Segue abaixo a sequência inicial do longa, a qual já dá um aperitivo. A verdade é que ao longo da projeção poucas vezes paramos de rir. Se não viu, veja urgentemente!


quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Filmes Para Ver Antes de Morrer




Beijos Proibidos
(Baisers Volés)




A vida segundo François Truffaut


Os iniciantes na obra do mestre François Truffaut costumam realizar o primeiro contato através de “Os Incompreendidos” e é até natural que assim o seja. Afinal, trata-se do primeiro longa-metragem do diretor, além de ser considerado o marco inicial da Nouvelle Vague, o movimento cinematográfico que pôs em prática a “política do autor” desenvolvida pelos críticos da revista “Cahiérs du Cinema” (Truffaut entre eles). Todavia, acredito que para muitos, principalmente os mais afeitos ao padrão do cinema atualmente exibido a cada sexta-feira nos multiplexes dos shoppings mais próximos, talvez esta não seja a melhor opção. “Os Incompreendidos” não é exatamente um filme fácil, possui um final que pode deixar muitos insatisfeitos (apesar de genial e marcante), além de ser em P&B (há muitas pessoas que têm preconceito com o preto e branco, pode acreditar). Tampouco recomendaria “Jules & Jim”, um dos seus longas mais famosos, mas que também pode descontentar os mais tradicionais com sua narrativa não-convencional (além de ser também em P&B).

Se alguém me perguntar a que filme de Truffaut assistir para começar a apreciar sua obra, responderei, quase com certeza, “Beijos Proibidos” (Baisers Volés). Trata-se de um filme leve, divertido, romântico, que não assusta o espectador afeito a Hollywood, mas que também é dotado do frescor e originalidade típicos de um Truffaut ainda jovem e cheio de novas ideias na cabeça. Na realidade, este é o terceiro filme do cineasta com o personagem Antoine Doinel (os anteriores foram o citado “Os Incompreendidos” e o curta “Antoine e Collete”), o seu alter-ego, sempre interpretado pelo ator Jean-Pierre Léaud. Nele, vemos Doinel já adulto, logo após deixar o exército, tendo sido dispensado por inadequação às regras militares. De qualquer forma, não há problema em assistir a este episódio sem ter visto os anteriores. As tramas são independentes e não necessitam que o espectador possua um conhecimento prévio do personagem para apreciar o longa.

Truffaut procura retratar aqui a inconstância da juventude e suas várias facetas. Doinel não consegue se fixar em um trabalho. Sai do exército para trabalhar em um hotel como atendente noturno, emprego do qual é logo demitido. Logo depois, é contratado para trabalhar em uma agência de detetives particulares, emprego que o levará a diversas peripécias, dentre as quais o seu encontro com Fabienne Tabard (Delphine Seyrig), mulher mais madura com quem acaba tendo um relacionamento amoroso. Ao mesmo tempo, Doinel mantém um namoro cheio de idas e vindas com a bela Christine Darbon (Claude Jade), da qual parece realmente gostar, mas ainda é imaturo demais para assumir um compromisso mais sério. Por outro lado, não se pode negar que Doinel tem uma imensa alegria de viver, procurando aproveitar cada momento sem grandes preocupações com o futuro. Aliás, esta é uma característica típica da obra do diretor francês. Sabe-se que ele teve uma infância e adolescência difíceis (retratada em “Os Incompreendidos”), tendo passado alguns anos como delinquente nas ruas de Paris. Pode-se até mesmo afirmar que a sétima arte o salvou. Entretanto, Truffaut manteve-se longe das amarguras e sua obra é sempre lembrada como uma celebração da vida. Seu alter-ego reflete, assim, esse estado do espírito do diretor. Doinel quer apenas um lugar para se dedicar à literatura e oportunidades para estar ao lado de belas mulheres. Nada mais o preocupa, a não ser vivenciar os pequenos prazeres que lhe dão o colorido da vida. A própria estrutura narrativa não possui exatamente uma trama, mas tão somente uma sucessão de acontecimentos no cotidiano de Antoine tal como, na verdade, acontece em nossas vidas. Afinal, a vida não tem uma trama, mas uma sucessão de fatos que muitas vezes parecem desconexos (e muitas vezes realmente o são) e é desta forma que acompanhamos a trajetória de Doinel.



Em outra vertente, Truffaut parece afirmar que não só a natureza do amor pode ser inconstante, mas que ele também pode ser uma forma de loucura. Doinel nos parece meio louco com sua paixão repentina por Fabienne Tabard, assim como outros personagens, entre eles um misterioso desconhecido que dá ao desfecho do longa um tom bastante inusitado (assim como um dos clientes da firma de detetives, responsável por uma das sequências mais divertidas do longa). Vale ressaltar, porém, que Truffaut jamais desrespeita seus personagens, tratando-os com um enorme carinho. Toda a ternura do filme parece ser sintetizada pela bela canção que abre a narrativa, a inesquecível “Que Reste-t-il de Nos Amours”, interpretada por Charles Trenet, uma delícia musical que grudará em sua memória.

François Truffaut pode não ter sido o mais inovador dentre os cineastas da Nouvelle Vague (esse título possivelmente cabe a Jean-Luc Godard). Todavia, ao adentrar em sua obra, você perceberá porque ele é o mais amado dentre estes. Abordando como poucos, e de forma positiva, os sentimentos, relacionamentos, decepções, esperanças e alegrias, peças estas que compõem a parte mais significativa da vida, ele escreveu uma página fundamental da sétima arte e “Beijos Proibidos” é mesmo uma ótima, leve e divertida forma de iniciar sua apreciação da carreira do diretor francês (ou mesmo uma ótima maneira de começar a conhecer a Nouvelle Vague). Começará a perceber, assim, que Truffaut parece dizer a cada fotograma de sua obra que viver é fundamental.


Cotação:

Nota: 10,0

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Impressões sobre o Globo de Ouro 2011


Fiquei impressionado com a lista dos indicados ao Globo de Ouro 2011, a ser entregue no próximo dia 16 de janeiro. Contudo, porém, todavia... Na realidade, fiquei mal impressionado. A presença de filmes como "Alice no País das Maravilhas" entre os finalistas, mesmo que seja na categoria comédia/musical, só pode ser piada de mal gosto. Não que o filme seja ruim, mas é apenas razoável, sendo muita estranha sua presença entre os supostamente melhores do ano. O que dizer então de "RED - Aposentados e Perigosos"? Outra piada de gosto duvidoso. Mas não, em verdade, não é. Este talvez seja o mais forte sintoma de que o ano foi fraquíssimo! O crítico Rubens Ewald Filho costuma taxar todos os anos como fracos na produção cinematográfica e em várias oportunidades discordei dele. Mas neste ano tenho que lhe dar a mão à palmatória: 2010 foi um ano ruim para o cinema. Na categoria drama, "O Discurso do Rei" surge como o longa de maior número de indicações. Apesar dos elogios que vêm sendo feitos à atuação de Collin Firth, tenho a impressão (pois ainda não vi) que esse filme é mais um daqueles programados para concorrer ao Oscar, mas que no fundo não é lá essas coisas. De qualquer forma, o Globo de Ouro deixou de ser termômetro do Oscar já faz um certo tempo. Por outro lado, minha torcida para o prêmio da Academia de Hollywood vai para "Toy Story 3", sem dúvida o melhor filme do ano!

Segue abaixo a lista de indicados em cinema:



Melhor filme (drama)

Cisne Negro
O Vencedor
A Origem
O Discurso do Rei
A Rede Social

Melhor filme (musical / comédia)


Alice no País das Maravilhas
Burlesque
Minhas Mães e meu Pai
RED - Aposentados e Perigosos
O Turista


Melhor ator (drama)

Jesse Eisenberg - A Rede Social
Colin Firth - O Discurso do Rei
James Franco - 127 Horas
Ryan Gosling - Blue Valentine
Mark Wahlberg - O Vencedor

Melhor atriz (drama)

Halle Berry - Frankie and Alice
Nicole Kidman - The Rabbit Hole
Jennifer Lawrence - Inverno da Alma
Natalie Portman - Cisne Negro
Michelle Williams - Blue Valentine

Melhor ator (musical / comédia)

Johnny Depp - Alice no País das Maravilhas
Johnny Depp - O Turista
Paul Giamatti - Barney's Version
Jake Gyllenhaal - Amor e Outras Drogas
Kevin Spacey - Casino Jack

Melhor atriz (musical / comédia)

Annette Bening - Minhas Mães e meu Pai
Anne Hathaway - Amor e Outras Drogas
Angelina Jolie - O Turista
Julianne Moore - Minhas Mães e meu Pai
Emma Stone - Easy A

Melhor ator coadjuvante

Christian Bale - O Vencedor
Michael Douglas - Wall Street 2
Andrew Garfield - A Rede Social
Jeremy Renner - Atração Perigosa
Geoffrey Rush - O Discurso do Rei

Melhor atriz coadjuvante
Amy Adams - O Vencedor
Helena Bonham Carter - O Discurso do Rei
Mila Kunis - Cisne Negro
Jacki Weaver - Animal Kingdom
Melissa Leo - O Vencedor

Melhor diretor

Darren Aronovsky - Cisne Negro
David Fincher - A Rede Social
Tom Hooper - O Discurso do Rei
Christopher Nolan - A Origem
David O. Russell - O Vencedor

Melhor roteiro

Danny Boyle and Simon Beaufoy - 127 Horas
Lisa Cholodenko e Stuart Blumberg - Minhas Mães e meu Pai
Christopher Nolan - A Origem
David Seidler - O Discurso do Rei
Aaron Sorkin - A Rede Social
Melhor filme em lingua estrangeira

Biutiful
The Concert
The Edge
I Am Love
Em um Mundo Melhor

Melhor longa animado

Meu Malvado Favorito
Como Treinar o Seu Dragão
O Mágico
Enrolados
Toy Story 3

Melhor trilha sonora original

Alexandre Desplat - O Discurso do Rei
Danny Elfman - Alice no País das Maravilhas
A.R. Rahman - 127 Horas
Trent Reznor e Atticus Ross - A Rede Social
Hans Zimmer - A Origem

Melhor canção original

"Bound to You" - Burlesque
"Coming Home" - Country Strong
"I See the Light" - Enrolados
"There's A Place For Us" - As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada
"You Haven't Seen The Last of Me" - Burlesque

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Quero Ver Novamente #9

Desde outubro parece que o nome "Beatles" não tem dado trégua na mídia nacional. Nestes últimos meses, tivemos o aniverário de 70 anos de John Lennon (09 de outubro), os shows de Paul McCartney no Brasil em novembro e, no último dia 08/12, a lembrança dos 30 anos do assassinato de John.

Tudo isso me faz lembrar que um dos longas estrelados pelos Fab Four, "A Hard Day's Night" (conhecido no Brasil como "Os Reis do Iê, Iê, Iê!"), possui qualidade cinematográfica indiscutível. Dirigido por Richard Lester, o filme pode ser colocado como o responsável pelo futuro surgimento da MTV, já que a fórmula de assossiação imagem-música criada por Lester é, basicamente, a mesma utilizada até hoje nos videoclipes. Futuramente, os próprios Beatles utilizariam este conceito nos primeiros clipes da história da música pop, com as canções "Penny Lane" e "Strawberry Fields Forever". Ademais, poucos filmes captam tão bem o espírito de uma época, com a explosão da juventude e o surgimento do que hoje conhecemos como cultura pop. Este já está na minha lista de reprises para uma data bastante breve! Confira abaixo o estouro da beatlemania...



quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

"Tropa de Elite 2" chegou lá!



Esta notícia já era esperada há alguns dias e hoje foi ratificada. "Tropa de Elite 2" tornou-se o filme brasileiro mais visto em todos os tempos. Com as exibições até a noite de terça-feira 07/12, o longa de José Padilha alcançou 10.736.995 milhões espectadores. "Nunca antes na história desse país" um filme havia alcançado tamanho número de bilhetes vendidos!

O recorde anterior pertencia a "Dona Flor e Seus Dois Maridos", dirigido por Bruno Barreto em 1976, o qual contava com 10.735.525 milhões espectadores.

Já "A Dama do Lotação", dirigido por Neville de Almeida em 1978, levou 6,5 milhões de pessoas aos cinemas (passando agora a ser o terceiro colocado em número de espectadores). "Tropa de elite 2" está há nove semanas em cartaz e, atualmente, está sendo exibido em 331 salas.

Na opinião deste blogueiro, o feito é justo, muito justo! É justíssimo!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A Rede Social



Rede de solitários


David Fincher é, inegavelmente, um dos melhores diretores em atividade no cinema norte-americano. Alguns de seus filmes, inclusive, alcançaram grande popularidade, como os ótimos “Seven”, “Clube da Luta” e “O Curioso Caso de Benjamin Button” Ademais, analisando as entrelinhas destas obras, verificamos traços autorais fortíssimos. Talvez o mais marcante deles seja a existência de personagens (normalmente os protagonistas) que se sentem socialmente excluídos/inadequados. É assim com o personagem de Edward Norton em “Clube da Luta” e é assim com o Benjamin de Brad Pitt no terceiro filme mencionado (sem falar nos dois antagonistas de “Seven”, o policial de Pitt e o sociopata de Kevin Spacey).

Neste seu novo “A Rede Social” não é diferente. O protagonista Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg, ótimo no papel), o criador do Facebook, o mais jovem bilionário do mundo, é mostrado, antes de tudo, como um grande solitário que, apesar de sua enorme inteligência, não consegue estabelecer relações sociais sólidas. O longa (que teve roteiro de Aaron Zorkin, baseado em livro de Ben Mezrich) tem início colocando em ênfase esta sua dificuldade. Em uma cena com marcante atuação dos participantes, Zuckerberg leva um fora de sua então namorada Erica Albright (papel de Rooney Mara). Na discussão, Erica pronuncia uma frase que parece se tornar um marco negativo na vida do jovem estudante de Harvard: “você não tem sucesso com as garotas por ser nerd, mas por ser um babaca”. Enfurecido, Mark se vinga da ex criando um site de competição entre garotas universitárias, onde os usuários atribuem notas para as concorrentes. A partir do lamentável sucesso da empreitada (que leva o servidor a entrar em pane devido à grande quantidade de acessos simultâneos), Zuckerberg é convidado a desenvolver um projeto de uma rede social por colegas de Harvard. Para isso, conta com a ajuda do grande (e único) amigo Eduardo Gaverin (Andrew Garfield, o próximo Homem-Aranha das telonas), brasileiro e colega de faculdade. É de conhecimento público que Gaverin foi passado pra trás por Zuckerberg, depois que este se aliou a Sean Parker (o cantor Justin Timberlake, em surpreendente boa atuação), o criador do Napster e escroque de marca maior (pelo menos essa é a imagem que o filme retrata).

Contudo, tais atitudes reprováveis do protagonista se mostram, na visão de Fincher, como resultado de seu sentimento de rejeição social. Erica sofre bullyng virtual em consequência da rejeição a Mark, assim como Eduardo sofre as consequências de ser mais popular e ter maior sucesso com as mulheres, fato que, subentende-se, se revela como a origem de sua trapaça com o amigo. E é louvável que Fincher não caia nas facilidades do maniqueísmo. O nosso protagonista é antipático, tem um caráter duvidoso, mas jamais somos levados a ser juízes de suas atitudes e nem o diretor se presta a esse papel.

Ironicamente, toda a narrativa é levada a cabo a partir das lembranças dos personagens em uma audiência judicial (audiência esta realizada no curso do processo promovido por Gaverin). Ou seja, vamos tomando conhecimento dos fatos em flashbacks constantes, mas é interessante como estas idas e vindas temporais, antes de confundir o espectador, ajudam a manter o ritmo do filme, já que o mesmo é bastante falado (o que pode cansar alguns). Neste ponto, vale um elogio à edição primorosa do longa, que consegue estabelecer um dinamismo mesmo em uma trama onde os personagens basicamente apenas conversam e teclam em computadores. Em um longa tão verborrágico, óbvio que as atuações se transformam também em elemento primordial. E elas não decepcionam. Jesse Eisenberg, como dito acima, alcança o tom certo para um personagem difícil, conferindo-lhe humanidade ao mesmo tempo que mostra suas facetas obscuras (circula na internet que ele deve ser indicado ao Oscar, o que não seria injusto). Também, neste ponto, se destaca a presença de Andrew Garfield (fazendo muito fã do herói aracnídeo ficar aliviado). Ele compõe seu Eduardo, com seu jeito mais descontraído e simpático, como um contraponto ao antipático e retraído Zuckerberg, mas sem cair na caricatura do amigo “popular”. Justin Timberlake, o famoso cantor e dançarino, está bem na interpertação do seu Sean Parker, quem diria! Finalmente, o elenco feminino não tem muito o que fazer. Mesmo Rooney Mara, a tal Erica que dá o fora em Zuckerberg, aparece em poucas cenas. As mulheres no filme surgem apenas como impulsionadoras das atitudes dos rapazes, sem maior aprofundamento. Aliás, a grande maioria das personagens femininas do filme é exibida como promíscua e/ou fútil, escapando dessa visão apenas a mencionada Erica e a advogada de Jesse durante o processo judicial, o que acaba se tornando um ponto fraco do longa (mas, em verdade, é uma constante na obra de Fincher, autor de longas em geral predominantememte masculinos). Outro ponto negativo são os momentos meio jogados a machadadas no roteiro para que percebamos que Mark ainda nutre sentimentos por Erica (um em especial, durante um diálogo entre Zuckerberg e Parker em uma boate, me pareceu um tanto forçado). Ressalte-se que o Zuckerberg real nega a existência do namoro.

Mas é importante destacar: com a “A Rede Social” Fincher procura, acima de tudo, traçar um painel da sociedade atual, extremamente ligada por laços virtuais (“o que você escreve na internet não pode ser apagado”, é dito a certa altura), mas a cada dia mais individualista, tonando-se um precursor na abordagem dessas relações aproximadas/distanciadas. Não há maior paradoxo e ironia do que o criador de um site de relacionamentos que reúne 500 milhões de usuários em todo o mundo não possuir um amigo sequer. A fantástica conclusão, pontuada pela canção “Baby, You’re a Rich Man” dos Beatles, sublinha com veemência esta realidade. Talvez a tais redes sociais tivessem na designação “redes de solitários” uma definição mais feliz.

Cotação:

Nota: 9,5