segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Eu quero esse pôster # 4

"Nine", a refilmagem em formato musical de "8 1/2", uma das obras magistrais de Federico Fellini (confira aqui mais detalhes), ainda nem estreou, mas os posters do longa já podem facilmente entrar na galeria dos mais memoráveis, pelo menos para o público masculino. Confiram abaixo essa beleza de arte e, principalmente, a beleza de suas figuras femininas (o que também já transforma esse post em mais um da série "Musas do Escurinho").



quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Trilha Sonora #9


Hoje, revi, muito bem acompanhado, "Amor à Flor da Pele", filme pura arte dirigido pelo incrível Wong Kar-Wai. Impossível lembrar desse longa e não lembrar das canções interpretadas por Nat King Cole que pontuam diversos momentos da narrativa. Uma delas é "Aquellos Ojos Verdes", canção que, segundo o próprio diretor, traduz o encatamento que os personagens sentem um pelo outro naquele momento (muito embora nenhum dos dois tenha olhos verdes!:)). Kar-Wai é um fã de Nat King Cole, até porque faz lembrar sua mãe, a qual considerava a voz de Nat a mais bonita do mundo! Talvez ela tivesse mesmo razão... Abaixo, você pode escutar esse verdadeiro remédio para os ouvidos.



segunda-feira, 23 de novembro de 2009

"Lua Nova" bate recorde


E "Lua Nova", a continuação de "Crepúsculo", bateu um recorde importante. O longa destronou "O Caveleiro das Trevas" como o filme que mais arrecadou no primeiro dia de exibição, atingindo a marca de US$ 72,7 mihões nos U.S.A (contra US$ 67,2 milhões do filme do Batman). Claro que a menor duração do longa dos vampiros, com suas 2h10min., contribui para tanto, já que as 2h40min. do "Caveleiro" redundavam em um menor número de sessões. Somado todo o primeiro final de semana, entretanto, "Lua Nova" arrecadou US$ 140,7 milhões, perdendo tanto para "O Cavaleiro...", que arrecadou US$ 158 milhões, como para "Homem-Aranha 3", o segundo colocado, com US$ 151 milhões.

Ao que tudo indica, o filme também deve arrebentar a boca do balão na Terra Brasilis. Na sexta-feira eu passei em frente à entrada de um cinema aqui de Natal e as filas de adolescentes com hormônios a mil não eram nem um pouco pequenas... Ah, e não me perguntem nada sobre o filme. Não dá para encarar sessões onde seus tímpanos acabam sofrendo tanto quanto se estivessem próximos a uma turbina de avião...

domingo, 22 de novembro de 2009

"Versão brasileira: Herbert Richers" - Herbert Richers: 1923 - 2009


Estou fazendo aqui o registro com um certo atraso (falta de tempo mesmo), mas fica a memória: o produtor Herbert Richers faleceu no último dia 20, aos 86 anos, vítima de problemas renais. Imagino que qualquer brasileiro(a), mesmo os que não são muito ligados em cinema, devem lembrar da frase que abre muitos filmes exibidos na TV: "versão brasileira: Herbert Richers". Richers foi o fundador de um dos maiores estúdios de dublagem do mundo, sinônimo de qualidade, e ainda responsável por cerca de 70% das dublagens para o mercado brasileiro. Ademais, produziu cerca de 60 filmes, possuindo também uma distribuidora. Parabéns pelo trabalho, Sr. Richers!

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Musas do Escurinho #11


Uma bela presença feminina em "2012", Thandie Newton é dona daquela beleza um tanto exótica, que distoa um pouco dos padrões estéticos ocidentais. Na realidade, isso a torna ainda mais sexy. Pena que no filme catástrofe que anda arrasando nas bilheterias, esse seu lado não seja tão explorado.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Festival de Brasília - Estreia polêmica


Tópico apenas para registrar que a abertura do Festival de Cinema de Brasília aconteceu hoje com a exibição (fora de competição) de "Lula, O Filho do Brasil", filme que já nasce polêmico pela própria natureza (mas é bom logo ressaltar que dos seus R$ 12 milhões de custo, não há dinheiro público). Panfletário ou não, a verdade é que a vida do nosso atual presidente realmente dá um filme. Ou romance, novela, peça teatral ou seja lá o que for. Na estreia, boa parte dos convidados era de políticos, mas houve superlotação, com gente sentada no chão, ao longo das escadas. Mas o presidente não apareceu. O filme estreia no circuito comercial em 01 de janeiro.



domingo, 15 de novembro de 2009

2012


O juízo final de Roland Emmerich


Roland Emmerich já destruiu o mundo em pelo menos duas oportunidades. A primeira delas em “Independence Day”, quando o planeta Terra se via invadido por seres extraterrestres violentos que destruíam o Empire State Building numa cena realmente memorável que, posteriormente, com os eventos de 11 de setembro de 2001, tornou-se estranhamente real e familiar. Alguns anos depois, Emmerich resolveu dar sua espetada nas questões climáticas e promoveu a destruição do planeta por meio de eventos climáticos que acontecem em decorrência da irresponsabilidade humana e, se no primeiro filme mencionado ele deixava transparecer um sentimento ufanista made in U.S.A, neste último o espírito crítico domina e vemos ianques procurando abrigo em países mais ao Sul, menos afetados pelos tais eventos naturais.

A questão é que o diretor não se deu por satisfeito e, inspirado por uma tal profecia maia que foi bastante divulgada na internet há algum tempo, resolveu promover a maior destruição em massa já vista nas telas de cinema. O tal prognóstico dos maias afirma que, em 21/12/2012, a Terra vai inverter seus polos e isso provocará o maior evento sísmico de todos os tempos. E é exatamente isso que é mostrado nas telas. E talvez seja exatamente isso o que o povo quer ver nas telas! Pude chegar a essa constatação durante uma sessão completamente lotada, como acho que não via desde os tempos de “O Senhor dos Anéis” ou da trilogia “Homem-Aranha”. Ainda não temos os números globais da estreia de “2012”, mas, com absoluta certeza, pelo menos no Brasil o filme foi um sucesso retumbante (teve até promoção na capa de um certo periódico de qualidade duvidosa, mas que tem, ainda, grande influência sobre a classe média dita “esclarecida”).

Como sempre, a hecatombe é mostrada ao espectador pelo filtro de um homem comum, aqui interpretado por John Cusack, o qual interpreta um escritor fracassado, separado da sua esposa porque esta afirma que ele dava mais atenção ao que escrevia do que à família. Por vias meio tortuosas, ele acaba descobrindo o que está para acontecer e dos planos dos governantes de sobreviver em uma espécie de arca de Noé tecnológica, juntamente com uma “elite” humana. Literalmente, já que eles enchem a tal nave também de bichos, procurando salvar pelo menos uma parte das espécies existentes. Obviamente, isso não inclui a maior parte da humanidade, a qual irá sucumbir num mar de terremotos gigantes e tsunamis mais gigantes ainda. É bom lembrar que o tal link familiar, que serve para ligar o espectador aos eventos apresentados, não é exclusividade de Emmerich, sendo usado em praticamente todos os filmes catástrofe (vide o exemplo recente de “Guerra dos Mundos” de Steven Spielberg).

Há ainda o contexto político. Agora, temos Danny Glover como presidente dos EUA, numa mais do que clara alusão a Barack Obama. Sintomático também que o presidente toma a decisão heróica e altruísta de aguardar os acontecimentos juntamente com a população, recusando-se a embarcar na tal nave-arca. Talvez isso denote a nova perspectiva que os americanos estão passando a ter de si mesmos e de seu líder. Os EUA agora não mais oprimem a humanidade, eles se solidarizam com ela (até onde isso é verdade, ainda estamos por saber). Mas é verdade que Emmerich (ele próprio autor do roteiro em parceria com Harald Kloser) também dá seu recado crítico, ao tocar no ponto da exclusão social, mostrando que aqueles que sobrevivem são os de alguma importância “política” ou que possuem dinheiro suficiente para comprar sua sobrevivência.

Obviamente, toda essa catástrofe é mostrada com a característica competência Hollywoodiana de sempre. Os efeitos visuais são mesmo impressionantes e o longa está correndo o sério risco de ser premiado com o Oscar da respectiva categoria. Não deixa de ser curioso, ademais, ver a imagem do Cristo Redentor se desintegrando e isso me leva a pensar que realmente o Brasil está adquirindo um outro status aos olhos da população global (e também fiquei me perguntando o quanto a Globo pagou para inserir um merchandising na dita cena). Entretanto, confesso que uma cena me doeu em especial: a da destruição do Vaticano. Ver as obras de Michelangelo se despedaçando foi realmente de uma tristeza profunda... Ainda bem que era apenas ficção...

O resultado das longas 2:30h de projeção é bastante oscilante. Algumas sequências realmente empolgam (afinal os filmes de fim do mundo de Emmerich sempre se tornam melhores se os enxergarmos como filmes de ação), mas algumas machadadas roteirísticas, nitidamente colocadas para gerar um final-família típico de blockbusters incomodam em excesso, assim como a punição para os gananciosos e aquelas que, de alguma forma, se prostituem. Ou seja, Emmerich promove mais uma vez o seu juízo final e, colocando-se na condição de Cristo julgador, escolhe quem deve viver e quem deve morrer. E também escolhe o continente que escapará a todo esse cataclismo. Não vou dizer aqui para não colocar um spoiler, mas vai a dica: é algo politicamente bem correto. Todavia, ao sair da sala de exibição, pude perceber o quanto filmes assim ainda agradam às massas. Uma garota que estava ao meu lado exclama: “nossa, eu tava até chorando...”. Eu e minha namorada olhamos um para o outro e começamos a rir e exclamar: “menos, por favor, menos...”. ;=)

Cotação: * * ½ (duas estrelas e meia)
Nota: 6,5

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Fúria de Titãs - Trailer

Quem não se lembra de "Fúria de Titãs", o já clássico filme dirigido por Ray Harryhausen em 1981 que mostrava as façanhas do herói grego Perseu em combate contra seres mitológicos como a Medusa? Provalmente, todos que viveram os anos 80 têm boas recordações dele. Como muitos devem estar sabendo, a Warner está providenciando um remake do longa, com direção de Louis Leterrier e com Sam Worthington no papel do herói helênico . E eis que temos agora o primeiro trailer do longa, cujas imagens me fizeram lembrar um certo filme sobre Esparta lançado nos últimos anos. De qualquer forma, vale conferir. Vamos ver no que dá.


segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Os Fantasmas de Scrooge

Relendo um clássico

“A Christmas Carol”, obra escrita por Charles Dickens em 1843, é um dos textos mais adaptados para as telas na história do cinema. Existe até uma versão com os personagens clássicos de Walt Disney, como o Tio Patinhas na pele do velho Ebenezer Scrooge, um homem ranzinza e extremamente mesquinho, avarento, incapaz de compreender o espírito do Natal. Um belo dia, no entanto, ele é visitado por três espíritos que lhe mostram o passado, o presente e o futuro, tanto do próprio Scrooge quanto daqueles que o cercam, fazendo com que o velho avarento passe a enxergar a vida com outros olhos. E eis que mais uma vez temos a mesma história sendo levada aos cinemas, desta vez pelas mãos do papa do cinema 3D, Robert Zemeckis (mais conhecido do grande público como “o diretor de Forrest Gump”), responsável por experiências anteriores em novas tecnologias, como a utilização da técnica da captura de movimentos de atores em “O Expresso Polar” e do emprego do 3D, aliado à mencionada técnica, em “A Lenda de Beowulf”.

A utilização destas modernas técnicas também é o mote desta nova versão do conto de Dickens. Zemeckis vem aprimorando a tecnologia de captura, que está cada vez mais realista. Em novos espectadores, ainda não acostumados com esse padrão, é comum expressões de admiração como “nossa, parecem atores de verdade” (muito embora seja importante lembrar que, em certos momentos, os olhos dos personagens ainda apareçam de um forma um tanto sem vida). Pena que o recurso 3D ainda esteja restrito a um pequeno número de salas em solo brasileiro. Aqui em Natal não há sequer uma sala com este tipo de projeção o que me impossibilitou avaliar o emprego da tecnologia. Entretanto, é possível afirmar que algumas seqüências são de um acabamento gráfico e criatividade visual excelentes, como os planos aéreos sobre a Londres vitoriana, lindamente realizados, muito embora algumas seqüências tenham sido perceptivelmente orquestradas para gerar maiores efeitos 3D.

Contudo, não é a questão gráfica o que mais desponta aos olhos do espectador nesta nova adaptação, mas sim o tom sombrio conferido à animação. O produto, tal como resultou, talvez seja até mesmo pouco recomendável para os pequenos. Algumas cenas chegam a ser dignas de filmes de terror [SPOILER] como aquela em que vemos a cidade repleta de almas penadas, todas arrastando as correntes de uma vida repleta de erros [FIM de SPOILER]. As concepções visuais, neste ponto, mostraram-se ainda mais felizes, traduzindo perfeitamente o mundo espiritual em que Srooge vivia e o destino que se lhe reservava caso sua conduta não sofresse modificações. Também importante destacar que Jim Carrey foi o responsável pela caracterização e vozes não só de Scrooge como de três dos fantasmas que o assombram. Pena que as versões legendadas do longa sejam restritas e a grande maioria do público não poderá acompanhar o seu trabalho de voz (além dele, também participam Gary Oldman e Collin Firth).

Alguns podem afirmar que Zemeckis apenas choveu no molhado com mais essa adaptação do conto de Dickens para a película. Mas isso não é verdade. Na música, por exemplo, muitas vezes uma canção é exaustivamente executada, ganha inúmeras versões, mas também é verdade que alguns artistas conseguem dar uma nova cara para uma melodia já manjada. Aqui, esse me pareceu o caso. Ademais, a trama pode até ser amplamente conhecida no países de cultura anglo-saxã, mas não o é nos países de cultura latina, ainda mais em locais em que a população, historicamente, teve pouco acesso à cultura, como o Brasil. O que é bom deve sempre ser perpetuado e a iniciativa de Zemeckis já seria louvada apenas por esse motivo. Ou será que devemos criticar alguma orquestra por executar, pela bilionésima oportunidade, a 9ª Sinfonia de Beethoven? Nunca é demais reler um clássico, mesmo que essa releitura seja feita através de um filme.


Classificação: * * * * (quatro estrelas)
Nota: 9,0

sábado, 7 de novembro de 2009

Bravo, Anselmo! (Anselmo Duarte - 1920 - 2009)


E nesta madrugada faleceu, aos 89 anos, Anselmo Duarte, o galã que se tornou diretor e foi o responsável por uma das grandes obras do cinema brasileiro: a adaptação para o cinema de "O Pagador de Promessas", peça de Dias Gomes que teambém se tornaria, nos anos 80, minissérie global. É bom lembrar que este é o único filme nacional a receber a Palma de Ouro no Festival de Cannes, em um ano em que concorria com obras de ninguém menos que Michelangelo Antonioni e Luis Buñuel! C0mo disse Federico Fellini, logo após a exibição de "O Pagador de Promessas" no Palais du Festival, "bravo, Anselmo! Bravo!". Abaixo você pode conferir uma entrevista de Anselmo Duarte para o programa de Jô Soares.




terça-feira, 3 de novembro de 2009

Cidade de Deus - O melhor da década


E mais uma façanha é alcançada por "Cidade de Deus". O filme de Fernando Meirelles foi eleito pela revista norte-americana "Paste" como o melhor longa-metragem desta década, superando até mesmo a trilogia "O Senhor dos Anéis". Segundo o periódico, a obra traz "um olhar sem medo a um mundo esquecido pelos ricos e poderosos, ignorado pela polícia e alheio à lei e à ordem". É bom lembrar que "Cidade de Deus" já entrou até na lista do IMDB de melhores filmes da década e vem sempre sendo lembrado em eleições do gênero. Recentemente, nada menos que a "Time" colocou o filme entre os 100 melhores de todos os tempos, enquanto o canal britânico "Film4" destacou o longa na 3ª posição entre "50 filmes para ver antes de morrer. Abaixo, segue a lista dos 10 melhores da década da "Paste". Confira.


1) "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles
2) "O Fabuloso Destino Amélie Poulain", de Jean-Pierre Jeunet
3) "Quase Famosos", de Cameron Crowe
4) Trilogia "O Senhor dos Anéis", de Peter Jackson
5) "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças", de Michel Gondry
6) "Beau Travail", de Claire Denis
7) "Encontros e Desencontros", de Sophia Coppola
8) "O Filho", de Jean-Pierre e Luc Dardenne
9) "Onde os Fracos Não Têm Vez", de Joel e Ethan Coen
10) "Os Excêntricos Tenembaums", de Wes Anderson.

A lista completa você confere aqui.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Besouro


Ação Made In Brazil

O cinema brasileiro costuma receber fortes críticas pela enorme dificuldade que apresenta em lidar com o cinema de gênero. Nossas produções praticamente, e principalmente depois da chamada “retomada”, se limitam a apresentar comédias e filmes de caráter histórico e/ou crítica social, neste último caso com uma forte ênfase na violência urbana (vide “Cidade de Deus” e “Tropa de Elite”). A investida eu outras vertentes do cinema se limitam a espasmos como os longas de terror de um Zé do Caixão ou mesmo produções de caráter biográfico-popular como “2 Filhos de Francisco”. Parece faltar coragem aos produtores e diretores de se aventurarem em gêneros como aventura, ação ou suspense. E foi procurando suprir esta lacuna que diretor estreante João Daniel Tikhomiroff, egresso do ramo publicitário (já ganhou inúmeros prêmios no festival de publicidade de Cannes) realizou seu primeiro longa-metragem.

“Besouro” nos apresenta a história de um lendário capoeirista (interpretado no filme pelo novato Aílton Carmo, escolhido entre praticantes da arte) responsável por liderar uma revolta de negros durante os anos 20, quando estes ainda viviam em condições análogas a de escravos, sem direitos respeitados e com sua cultura ainda totalmente reprimida. A capoeira, por exemplo, era uma prática proibida por lei e reprimida com violência pelos coronéis, os quais meio que faziam a função da polícia nos rincões do país. Aqui, na versão romanceada levada à tela, o roteiro (escrito pelo próprio Tikhomiroff ao lado de Patrícia Andrade e baseado no livro “Feijoada no Paraíso”, de Marcos Carvalho) utiliza a velha ferramenta, normalmente presente nos filmes de artes-marciais, do “mestre” que ensina ao discípulo não apenas a luta em questão, mas também lições de honra, respeito, disciplina e coragem. E assim, no início, temos o pequeno protagonista ao lado de seu mentor, o mestre Alípio, o qual lhe diz que todo capoeirista deve escolher um nome pelo qual deverá ser lembrado. O pequeno não titubeia e escolhe “Besouro”. Logo em seguida com um corte que revela uma longa passagem no tempo, vemos que mestre Alípio é assassinado, o que levará o personagem-título a iniciar uma revolta contra a opressão em que ainda vivem os negros da região.

Todavia, talvez a inexperiência leve os autores a conduzir um filme que se pretende de ação/aventura de forma um tanto titubeante. Besouro mostra-se muito mais um personagem em dúvida com relação à sua “missão” do que um verdadeiro líder capaz de aglomerar seu povo em torno de um objetivo comum. Um herói que se mostra reflexivo demais, contemplativo em excesso. Suas divagações acabam sendo mais presentes que as sequências de ação. E o foco da trama ainda é desviado para um triângulo amoroso entre Besouro e seus amigos de infância Dinorá (Jéssica Barbosa) e Quero-Quero (Anderson Santos de Jesus) que pouco contribui para o desenrolar dos acontecimentos. Tikhomiroff já chegou a afirmar que um herói precisa de um amor, o que é uma assertiva boba e que talvez mostre o quanto o diretor poderia estar apegado a clichês na concepção de sua obra. Porque é isso que muitas vezes “Besouro” parece, uma sucessão de clichês aventureiros levados para um ambiente tupiniquim.

Entretanto, há aspectos muito positivos a serem ressaltados. O principal deles é a abordagem da cultura e mitologia afro-brasileiras. Estamos habituados a ver este tipo de abordagem em relação a culturas e elementos mitológicos estrangeiros, como nos casos clássicos de “O Senhor dos Anéis” e de vários filmes de artes-marciais como “Herói” e “O Clã das Adagas Voadoras”. Assim, torna-se desde logo interessante vermos a representação de divindades do candomblé como Exu, Ogum e Iansã, trabalho que é realizado de forma fluida e sem forçação de barra, de maneira perfeitamente natural. A questão técnica também é outro ponto a ser elogiado. Filmado em Igatu (BA), na Chapada Diamantina, a fotografia é primorosa, e a utilização de atores em sua maioria desconhecidos, alguns deles escolhidos entre capoeiristas locais, contribuem para a imersão do espectador na trama, emprestando-lhe maior veracidade. Os efeitos especiais também são competentes, principalmente se levarmos em conta a pouca familiaridade de nossos cineastas com esses recursos. E a vinda do coreógrafo Huen Chiu Ku, o mesmo de “Kill Bill” e “O Tigre e o Dragão”, para elaborar as cenas de luta foi extremamente bem-vinda. Essa importação de especialistas, muito frequente em Hollywood, deveria ser mais praticada pelos produtores nacionais, que não costumam fazê-lo não se sabe muito bem o porquê (nem mesmo os custos me parecem uma justificativa muito plausível). Também vale destaque a trilha sonora, com canção tema “Besouro, Cordão de Ouro” interpreta pela Nação Zumbi.

O resultado de “Besouro”, que antes de ser lançado teve uma boa divulgação na internet, com vídeos pipocando no Youtube (o que deve lhe garantir uma boa bilheteria) é uma obra irregular, mas que merece ser conferida pelo gostinho diferente que traz para o cinema nacional. Afinal, você lembra de ter visto algum filme de ação brasileiro nos últimos anos? A iniciativa é interessante e sair do marasmo é sempre uma boa ideia.


Cotação: * * * (três estrelas)
Nota: 7,0