O juízo final de Roland Emmerich
Roland Emmerich já destruiu o mundo em pelo menos duas oportunidades. A primeira delas em “Independence Day”, quando o planeta Terra se via invadido por seres extraterrestres violentos que destruíam o Empire State Building numa cena realmente memorável que, posteriormente, com os eventos de 11 de setembro de 2001, tornou-se estranhamente real e familiar. Alguns anos depois, Emmerich resolveu dar sua espetada nas questões climáticas e promoveu a destruição do planeta por meio de eventos climáticos que acontecem em decorrência da irresponsabilidade humana e, se no primeiro filme mencionado ele deixava transparecer um sentimento ufanista made in U.S.A, neste último o espírito crítico domina e vemos ianques procurando abrigo em países mais ao Sul, menos afetados pelos tais eventos naturais.
A questão é que o diretor não se deu por satisfeito e, inspirado por uma tal profecia maia que foi bastante divulgada na internet há algum tempo, resolveu promover a maior destruição em massa já vista nas telas de cinema. O tal prognóstico dos maias afirma que, em 21/12/2012, a Terra vai inverter seus polos e isso provocará o maior evento sísmico de todos os tempos. E é exatamente isso que é mostrado nas telas. E talvez seja exatamente isso o que o povo quer ver nas telas! Pude chegar a essa constatação durante uma sessão completamente lotada, como acho que não via desde os tempos de “O Senhor dos Anéis” ou da trilogia “Homem-Aranha”. Ainda não temos os números globais da estreia de “2012”, mas, com absoluta certeza, pelo menos no Brasil o filme foi um sucesso retumbante (teve até promoção na capa de um certo periódico de qualidade duvidosa, mas que tem, ainda, grande influência sobre a classe média dita “esclarecida”).
Como sempre, a hecatombe é mostrada ao espectador pelo filtro de um homem comum, aqui interpretado por John Cusack, o qual interpreta um escritor fracassado, separado da sua esposa porque esta afirma que ele dava mais atenção ao que escrevia do que à família. Por vias meio tortuosas, ele acaba descobrindo o que está para acontecer e dos planos dos governantes de sobreviver em uma espécie de arca de Noé tecnológica, juntamente com uma “elite” humana. Literalmente, já que eles enchem a tal nave também de bichos, procurando salvar pelo menos uma parte das espécies existentes. Obviamente, isso não inclui a maior parte da humanidade, a qual irá sucumbir num mar de terremotos gigantes e tsunamis mais gigantes ainda. É bom lembrar que o tal link familiar, que serve para ligar o espectador aos eventos apresentados, não é exclusividade de Emmerich, sendo usado em praticamente todos os filmes catástrofe (vide o exemplo recente de “Guerra dos Mundos” de Steven Spielberg).
Há ainda o contexto político. Agora, temos Danny Glover como presidente dos EUA, numa mais do que clara alusão a Barack Obama. Sintomático também que o presidente toma a decisão heróica e altruísta de aguardar os acontecimentos juntamente com a população, recusando-se a embarcar na tal nave-arca. Talvez isso denote a nova perspectiva que os americanos estão passando a ter de si mesmos e de seu líder. Os EUA agora não mais oprimem a humanidade, eles se solidarizam com ela (até onde isso é verdade, ainda estamos por saber). Mas é verdade que Emmerich (ele próprio autor do roteiro em parceria com Harald Kloser) também dá seu recado crítico, ao tocar no ponto da exclusão social, mostrando que aqueles que sobrevivem são os de alguma importância “política” ou que possuem dinheiro suficiente para comprar sua sobrevivência.
Obviamente, toda essa catástrofe é mostrada com a característica competência Hollywoodiana de sempre. Os efeitos visuais são mesmo impressionantes e o longa está correndo o sério risco de ser premiado com o Oscar da respectiva categoria. Não deixa de ser curioso, ademais, ver a imagem do Cristo Redentor se desintegrando e isso me leva a pensar que realmente o Brasil está adquirindo um outro status aos olhos da população global (e também fiquei me perguntando o quanto a Globo pagou para inserir um merchandising na dita cena). Entretanto, confesso que uma cena me doeu em especial: a da destruição do Vaticano. Ver as obras de Michelangelo se despedaçando foi realmente de uma tristeza profunda... Ainda bem que era apenas ficção...
O resultado das longas 2:30h de projeção é bastante oscilante. Algumas sequências realmente empolgam (afinal os filmes de fim do mundo de Emmerich sempre se tornam melhores se os enxergarmos como filmes de ação), mas algumas machadadas roteirísticas, nitidamente colocadas para gerar um final-família típico de blockbusters incomodam em excesso, assim como a punição para os gananciosos e aquelas que, de alguma forma, se prostituem. Ou seja, Emmerich promove mais uma vez o seu juízo final e, colocando-se na condição de Cristo julgador, escolhe quem deve viver e quem deve morrer. E também escolhe o continente que escapará a todo esse cataclismo. Não vou dizer aqui para não colocar um spoiler, mas vai a dica: é algo politicamente bem correto. Todavia, ao sair da sala de exibição, pude perceber o quanto filmes assim ainda agradam às massas. Uma garota que estava ao meu lado exclama: “nossa, eu tava até chorando...”. Eu e minha namorada olhamos um para o outro e começamos a rir e exclamar: “menos, por favor, menos...”. ;=)
Cotação: * * ½ (duas estrelas e meia)
Nota: 6,5
A questão é que o diretor não se deu por satisfeito e, inspirado por uma tal profecia maia que foi bastante divulgada na internet há algum tempo, resolveu promover a maior destruição em massa já vista nas telas de cinema. O tal prognóstico dos maias afirma que, em 21/12/2012, a Terra vai inverter seus polos e isso provocará o maior evento sísmico de todos os tempos. E é exatamente isso que é mostrado nas telas. E talvez seja exatamente isso o que o povo quer ver nas telas! Pude chegar a essa constatação durante uma sessão completamente lotada, como acho que não via desde os tempos de “O Senhor dos Anéis” ou da trilogia “Homem-Aranha”. Ainda não temos os números globais da estreia de “2012”, mas, com absoluta certeza, pelo menos no Brasil o filme foi um sucesso retumbante (teve até promoção na capa de um certo periódico de qualidade duvidosa, mas que tem, ainda, grande influência sobre a classe média dita “esclarecida”).
Como sempre, a hecatombe é mostrada ao espectador pelo filtro de um homem comum, aqui interpretado por John Cusack, o qual interpreta um escritor fracassado, separado da sua esposa porque esta afirma que ele dava mais atenção ao que escrevia do que à família. Por vias meio tortuosas, ele acaba descobrindo o que está para acontecer e dos planos dos governantes de sobreviver em uma espécie de arca de Noé tecnológica, juntamente com uma “elite” humana. Literalmente, já que eles enchem a tal nave também de bichos, procurando salvar pelo menos uma parte das espécies existentes. Obviamente, isso não inclui a maior parte da humanidade, a qual irá sucumbir num mar de terremotos gigantes e tsunamis mais gigantes ainda. É bom lembrar que o tal link familiar, que serve para ligar o espectador aos eventos apresentados, não é exclusividade de Emmerich, sendo usado em praticamente todos os filmes catástrofe (vide o exemplo recente de “Guerra dos Mundos” de Steven Spielberg).
Há ainda o contexto político. Agora, temos Danny Glover como presidente dos EUA, numa mais do que clara alusão a Barack Obama. Sintomático também que o presidente toma a decisão heróica e altruísta de aguardar os acontecimentos juntamente com a população, recusando-se a embarcar na tal nave-arca. Talvez isso denote a nova perspectiva que os americanos estão passando a ter de si mesmos e de seu líder. Os EUA agora não mais oprimem a humanidade, eles se solidarizam com ela (até onde isso é verdade, ainda estamos por saber). Mas é verdade que Emmerich (ele próprio autor do roteiro em parceria com Harald Kloser) também dá seu recado crítico, ao tocar no ponto da exclusão social, mostrando que aqueles que sobrevivem são os de alguma importância “política” ou que possuem dinheiro suficiente para comprar sua sobrevivência.
Obviamente, toda essa catástrofe é mostrada com a característica competência Hollywoodiana de sempre. Os efeitos visuais são mesmo impressionantes e o longa está correndo o sério risco de ser premiado com o Oscar da respectiva categoria. Não deixa de ser curioso, ademais, ver a imagem do Cristo Redentor se desintegrando e isso me leva a pensar que realmente o Brasil está adquirindo um outro status aos olhos da população global (e também fiquei me perguntando o quanto a Globo pagou para inserir um merchandising na dita cena). Entretanto, confesso que uma cena me doeu em especial: a da destruição do Vaticano. Ver as obras de Michelangelo se despedaçando foi realmente de uma tristeza profunda... Ainda bem que era apenas ficção...
O resultado das longas 2:30h de projeção é bastante oscilante. Algumas sequências realmente empolgam (afinal os filmes de fim do mundo de Emmerich sempre se tornam melhores se os enxergarmos como filmes de ação), mas algumas machadadas roteirísticas, nitidamente colocadas para gerar um final-família típico de blockbusters incomodam em excesso, assim como a punição para os gananciosos e aquelas que, de alguma forma, se prostituem. Ou seja, Emmerich promove mais uma vez o seu juízo final e, colocando-se na condição de Cristo julgador, escolhe quem deve viver e quem deve morrer. E também escolhe o continente que escapará a todo esse cataclismo. Não vou dizer aqui para não colocar um spoiler, mas vai a dica: é algo politicamente bem correto. Todavia, ao sair da sala de exibição, pude perceber o quanto filmes assim ainda agradam às massas. Uma garota que estava ao meu lado exclama: “nossa, eu tava até chorando...”. Eu e minha namorada olhamos um para o outro e começamos a rir e exclamar: “menos, por favor, menos...”. ;=)
Cotação: * * ½ (duas estrelas e meia)
Nota: 6,5
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