Bem, primeiramente esclareço que, apesar de todo o meu conhecido lado “nerd”, eu não li a HQ que inspirou este “O Procurado”, concebida por Mark Millar e J.G. Jones, a qual, segundo a crítica especializada, promoveu uma espécie de sátira ao gênero de super-heróis, apresentando vilões constituídos inteiramente de matéria fecal (isso mesmo!) ou que pensavam literalmente com o seu membro viril (isso mesmo de novo!). Todavia, este longa, que teve sua estréia na última sexta-feira em terras brasileiras, parece apenas ter se inspirado de leve no trabalho gráfico mencionado, já que não vemos na tela tais aberrações. Menos mal. Não seria lá muito agradável ter que acompanhar durante duas horas algum ser de merda falando. Ademais, todo homem sabe que muitas vezes o pênis quer exercer maior controle do que o cérebro mesmo... Não seria necessário ver isso na tela...
Na trama levada aos cinemas, escrita por Michael Brandt, Derek Haas e Chris Morgan, somos apresentados a Wesley Gibson (James McAvoy, de “Desejo e Reparação”, estiloso), mais um daqueles que os americanos chamam de “loser”. Ele tem um emprego burocrático, com uma chefe obesa que adora oprimi-lo, sua namorada o trai com seu amigo e ele agüenta tudo isso calado, dias após dia. Sua existência é tão besta que, em uma pesquisa no Google com seu nome, não surge qualquer resultado. Um belo dia, contudo, ele se depara com Fox, personagem interpretada por uma Agelina Jolie linda, sexy, deusa, gostosa, saborosa ou qualquer outro adjetivo similar que você queira atribuir. Ou melhor, todos eles juntos (mulheres, não se irritem, afinal todo mundo sabe que, no fundo, vocês também querem pegar a Angelina)!
E é a partir daí que ele descobre ser filho de um matador excepcional que fazia parte de uma organização de matadores chamada “Fraternidade dos Tecelões”, tendo sido assassinado recentemente por outro killer, de codinome Cross (Thomas Kretschmann). Sua missão, que lhe é passada pelo atual chefe da tal “fraternidade”, Sloan (Morgan Freeman, do mesmo jeito de sempre), será justamente matar Cross. No processo de treinamento, Wesley descobre poderes especiais, como a capacidade de curvar a trajetória de projéteis, e que esses poderes são conseqüência de uma descarga extra de adrenalina derramada na corrente sangüínea devido ao seu acelerado ritmo cardíaco que chega a 400 por minuto...
Eu sei, você deve estar pensando: “essa trama deve ter sido escrita por débeis mentais ou por uns moleques de 13 ou 14 anos que não tinham mais nada de útil para fazer da vida”. É verdade. Tudo é muito estapafúrdio. Mas também é verdade que o diretor Timur Bekmambetov soube fazer tudo de uma forma tão “cool”, estilosa e espetacular que acaba fisgando o espectador. O cineasta russo foi responsável em sua terra natal por dois filmes de ação que acabaram por torná-lo conhecido em ambiente internacional: Guardiões da Noite e sua seqüência. Como é sabido, Hollywood gosta de cooptar aqueles que, mesmo esporadicamente, roubam suas bilheterias e, nesse caso, não foi diferente (principalmente lembrando que o território do cinema de ação é costumeiramente dominado sem sobressaltos pelos norte-americanos). E eis que ele acaba fazendo uma mistura de estilos que remontam a “Matrix”, “Kill Bill” e aos longas de John Woo. Várias seqüências surpreendem pela inventividade e lembram claramente as citadas influências, como aquelas em que as balas têm a sua trajetória “curvada” (parecem a folha-seca do mestre Didi ou as curvas de Jolie), ou ainda as seqüências sensacionais que mostram, retrocedendo, toda a trajetória da bala do seu alvo até o cano que a disparou. O sangue também jorra sem piedade e as cenas com aquelas supercâmeras-lentas são freqüentes.
E tudo isso sem perder o humor. Uma das virtudes do filme é justamente não se levar a sério, brincando com as construções e absurdos de sua própria narrativa. Há até uma cena emblemática em que uma famosa canção pop é executada em uma das missões de Wesley (vou ficar calado e não estragar a surpresa), tornando a seqüência definitivamente hilária. Aliás, esse estilo “piada com a violência”, ou mesmo a violência mostrada como algo “cool”, deve ser o motivo do projeto ter alcançado classificação etária máxima em todos os países onde está sendo exibido (da mesma forma que Kill Bill, de Tarantino, também foi alvo de classificação máxima).
Se, por um lado, as motivações dos personagens se mostram rasas ou clichês, os atores souberam incorporar bem seus papéis, dentro da proposta da película. McAvoy consegue imprimir ao personagem aquele mesmo senso de realidade dentro do absurdo que era característico de Michael J. Fox na série “De Volta Para o Futuro”. Angelina Jolie nem precisa falar muito. Ela está lá no filme para ser exatamente o que ela é: linda e gostosa e a rapaziada deve se preparar para algumas cenas de extrema sensualidade protagonizadas por Fox. Morgan Freeman, como já mencionado acima, está como Morgan Freeman e o Cross de Thomas Kretschmann quase que entra mudo e sai calado (quase...). Já a trilha sonora de Danny Elfman se mostra bastante adequada, ainda mais se pensarmos na relação até simbiótica de certas seqüências com a trilha.
A impressão final é de que Bekmambetov quis realizar uma grande brincadeira com os elementos dos filmes de ação. Esses elementos são jogados ali como em um liquidificador, lembrando o processo de criação de Tarantino. Todavia, embora não consiga alcançar o grau de originalidade que este já mítico cineasta atingiu (nem mesmo os seus subtextos geniais, muito embora neste “O Procurado” possamos vislumbrar elementos de religiosidade presentes), o diretor russo também parece fugir do lugar comum. Ao fim da sessão, você não tem a sensação de ter visto mais um filme de ação, mas de ter observado uma obra que deixa suas próprias marcas. E isso já é relevante no quadro atual de produções cinematográficas. Vale seu ingresso, nem que as tais “marcas” que você consiga identificar sejam as das curvas de Angelina. Acéfalo, mas muito massa! Cool!
Classificação: ***1/2
Nota: 8,0.
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