Na minha resenha sobre “Distrito 9”, mencionei que esta produção de ficção-científica tinha seu estilo inspirado em algumas obras recentes do gênero terror, as quais usavam um fórmula similar a um documentário para envolver o espectador e trazer novos ares para o susto. O precursor desta tendência foi “A Bruxa de Blair”, tendo continuidade em filmes como “[Rec]” e, agora, este “Atividade Paranormal”. O que se pode constatar, contudo, é que a fórmula já está se tornando desgastada e cada vez mais não me agrada.
Não agrada porque acredito ser essencial a um filme de horror todo aquele clima macabro que nos é dado não apenas por efeitos especiais competentes, mas também por uma direção segura que sabe utilizar os vários outros elementos da arte cinematográfica em prol deste intento. A trilha sonora, por sinal, é um destes elementos fundamentais e que se torna ausente nestes filmes “vídeo-verdade”. Alguns podem afirmar que isso é questão de gosto. Talvez seja, mas garanto que quem assim pensa não deve ter visto “O Iluminado”, o clássico de Stanley Kubrick que possivelmente é o filme mais assustador de todos os tempos.
Outro aspecto verdadeiro é que os filmes vídeo-verdade se escoram muito em campanhas massivas de marketing para se tornarem grandes bilheterias e “Atividade Paranormal” se tornou o grande exemplo disso. Dirigido e roterizado pelo amador Oren Peli, que se baseou em experiências próprias ao se mudar para uma casa em que eventos estranhos aconteciam, o longa custou a quantia ínfima de 15 mil dólares e já arrecadou cerca de 120 milhões de verdinhas apenas nos Estados Unidos, tornando-se provavelmente o filme mais lucrativo da história. Mas, provavelmente, isso nunca teria acontecido não fosse a participação de um padrinho muito forte na jogada. O longa vinha sendo exibido dentro do circuito alternativo, em festivais de cinema independente ou voltados especificamente ao gênero, quando caiu nas mãos de ninguém menos que Steven Spielberg. Obviamente, Spielberg percebeu todo o potencial pop do que tinha em mãos e logo se encarregou de promover uma ampla distribuição no circuito comercial. De antemão, encarregou-se de proferir comentários que deixariam qualquer um curioso, pois afirmou que tinha começado a ver o filme à noite em casa, teve muito medo e só concluiu na manhã seguinte. Também se encarregou de dar seus pitacos ao sugerir que o final fosse alterado e que a ordem de algumas seqüências fosse trocada (o que, por sinal, já deixa entrever que o orçamento da versão final que está nos cinemas deve ser bem maior que os tais 15 mil dólares). E o estúdio Paramount realizou um muito bem bolado trailer que se tornou sucesso no mundo virtual.
Entretanto, mesmo o melhor marketing não é capaz de produzir medo ou grandes sustos. A narrativa dos malassombros vividos por Katie e Micah (vividos pelos atores homônimos Katie Featherston e Micah Sloat, amigos do diretor, sendo ela especialmente boa atriz) assusta em alguns momentos, é verdade. Contudo, possui uma primeira metade bastante aborrecida, onde sobram conversas e faltam assombrações. A espera do público para que aconteça algo de realmente relevante é longa e isso complica o envolvimento do espectador. Ademais, algumas das ideias usadas no longa são tão claramente retiradas de outras produções que nos faz sempre ficar com a sensação de “dejá vu”. A encenação totalmente baseada na perspectiva da câmera usada por um dos protagonistas é o fio condutor do mencionado “[Rec]” (posteriormente refilmado em Hollywood com o título de “Quarentena”), só que este último tinha a justificativa plausível de toda narrativa mostrada estar sendo exibida em um programa de TV. Em “Atividade”, tal perspectiva soa falsa, já que a partir de determinado momento não haveria mais motivo para Micah continuar filmando e carregando sua câmera o tempo todo pra cima e pra baixo (a personagem de Katie em alguns momentos reclama disso e eu concordo: que cara chato!).
Recentemente, tivemos nas telas uma amostra de terror em sua versão mais clássica, o longa “Arraste-me Para o Inferno”, o retorno de Sam Raimi à suas origens com resultados muito mais assustadores do que este cine-youtube em questão. Lamentavelmente, com resultados em bilheteria muito mais modestos. O que demonstra que, para as grandes massas, até o medo agora é resultado de campanhas de marketing bem realizadas. Não há mesmo nada mais irritante que o capitalismo...
Cotação: * * ½ (duas estrelas e meia)
Nota: 6,5
Não agrada porque acredito ser essencial a um filme de horror todo aquele clima macabro que nos é dado não apenas por efeitos especiais competentes, mas também por uma direção segura que sabe utilizar os vários outros elementos da arte cinematográfica em prol deste intento. A trilha sonora, por sinal, é um destes elementos fundamentais e que se torna ausente nestes filmes “vídeo-verdade”. Alguns podem afirmar que isso é questão de gosto. Talvez seja, mas garanto que quem assim pensa não deve ter visto “O Iluminado”, o clássico de Stanley Kubrick que possivelmente é o filme mais assustador de todos os tempos.
Outro aspecto verdadeiro é que os filmes vídeo-verdade se escoram muito em campanhas massivas de marketing para se tornarem grandes bilheterias e “Atividade Paranormal” se tornou o grande exemplo disso. Dirigido e roterizado pelo amador Oren Peli, que se baseou em experiências próprias ao se mudar para uma casa em que eventos estranhos aconteciam, o longa custou a quantia ínfima de 15 mil dólares e já arrecadou cerca de 120 milhões de verdinhas apenas nos Estados Unidos, tornando-se provavelmente o filme mais lucrativo da história. Mas, provavelmente, isso nunca teria acontecido não fosse a participação de um padrinho muito forte na jogada. O longa vinha sendo exibido dentro do circuito alternativo, em festivais de cinema independente ou voltados especificamente ao gênero, quando caiu nas mãos de ninguém menos que Steven Spielberg. Obviamente, Spielberg percebeu todo o potencial pop do que tinha em mãos e logo se encarregou de promover uma ampla distribuição no circuito comercial. De antemão, encarregou-se de proferir comentários que deixariam qualquer um curioso, pois afirmou que tinha começado a ver o filme à noite em casa, teve muito medo e só concluiu na manhã seguinte. Também se encarregou de dar seus pitacos ao sugerir que o final fosse alterado e que a ordem de algumas seqüências fosse trocada (o que, por sinal, já deixa entrever que o orçamento da versão final que está nos cinemas deve ser bem maior que os tais 15 mil dólares). E o estúdio Paramount realizou um muito bem bolado trailer que se tornou sucesso no mundo virtual.
Entretanto, mesmo o melhor marketing não é capaz de produzir medo ou grandes sustos. A narrativa dos malassombros vividos por Katie e Micah (vividos pelos atores homônimos Katie Featherston e Micah Sloat, amigos do diretor, sendo ela especialmente boa atriz) assusta em alguns momentos, é verdade. Contudo, possui uma primeira metade bastante aborrecida, onde sobram conversas e faltam assombrações. A espera do público para que aconteça algo de realmente relevante é longa e isso complica o envolvimento do espectador. Ademais, algumas das ideias usadas no longa são tão claramente retiradas de outras produções que nos faz sempre ficar com a sensação de “dejá vu”. A encenação totalmente baseada na perspectiva da câmera usada por um dos protagonistas é o fio condutor do mencionado “[Rec]” (posteriormente refilmado em Hollywood com o título de “Quarentena”), só que este último tinha a justificativa plausível de toda narrativa mostrada estar sendo exibida em um programa de TV. Em “Atividade”, tal perspectiva soa falsa, já que a partir de determinado momento não haveria mais motivo para Micah continuar filmando e carregando sua câmera o tempo todo pra cima e pra baixo (a personagem de Katie em alguns momentos reclama disso e eu concordo: que cara chato!).
Recentemente, tivemos nas telas uma amostra de terror em sua versão mais clássica, o longa “Arraste-me Para o Inferno”, o retorno de Sam Raimi à suas origens com resultados muito mais assustadores do que este cine-youtube em questão. Lamentavelmente, com resultados em bilheteria muito mais modestos. O que demonstra que, para as grandes massas, até o medo agora é resultado de campanhas de marketing bem realizadas. Não há mesmo nada mais irritante que o capitalismo...
Cotação: * * ½ (duas estrelas e meia)
Nota: 6,5
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