Alguém conhece Neville de Almeida? Não? Ele é o diretor brasileiro responsável por filmes como “A Dama do Lotação”, “Matou a Família e Foi Ao Cinema” e “Navalha na Carne, produtos típicos de um período em que o cinema nacional quase não era visto, sempre associado a roteiros pífios, produção capenga e erotismo fácil e apelativo. Pois bem, esta semana uma declaração do “cineasta” causou um certo burburinho no meio artístico brasileiro. Ela segue abaixo transcrita:
“O cinema que triunfou no Brasil é careta, não mostra nada, é um Cinema Mauricinho, que só se preocupa em agradar o público e tentar adivinhar o seu gosto. Esta é uma pretensão ridícula. São filmes bonitinhos, mas que não dizem nada, não mostram nada. E são totalmente feitos com o dinheiro do contribuinte, ninguém mais coloca a mão no bolso! Além disso, os cineastas que conseguem filmar são sempre os mesmos, um grupo de bem nascidos. Vivemos nas trevas da hipocrisia! Eu acho que hoje as novelas da televisão estão melhores que os filmes brasileiros!”.
Há uma parcela de verdade nas palavras de Neville. O cinema brasileiro está se mostrando bastante comercial após a chamada “retomada”, muito voltado para um público de classe média que não busca no cinema algo além de duas horas de entretenimento escapista. Não é à toa que o padrão Globo de se fazer filmes tem obtido enorme sucesso, vide o recente “E Se Eu Fosse Você 2”, o maior sucesso do cinema nacional no período após a citada “retomada”, superando até mesmo “Dois Filhos de Francisco” (longa que conseguiu aliar público e crítica). Isso talvez explique o fato de o Brasil ainda não ter atingido o nível de respeitabilidade que, por exemplo, o cinema argentino, eminentemente autoral, adquiriu ao redor do mundo. Os registros respeitados do cinema tupiniquim sempre se limitam a espasmos criativos pontuais, como aconteceu com “Cidade de Deus” e “Tropa de Elite” (este último vencedor do Urso de Ouro em Berlim). No mais, a produção nacional limita-se a querer reproduzir aqui um estilo Hollywood de se fazer cinema, tendo como capitães diretores como Daniel Filho.
Mas, se há uma parcela de verdade na afirmação, há duas parcelas de mentira nas palavras do diretor fanfarrão. O cinema brasileiro é financiado pelo contribuinte? Sim, mas isso acontece devido à quase completa ausência de investimentos privados em cultura no país. O empresariado brasileiro é, historicamente, tacanho e pouco ousado, sempre com atitudes que lembram em muito os antigos donatários das capitanias hereditárias. “Cultura não dá retorno”, esse é o pensamento corrente na iniciativa privada brasileira. Resultado: os cineastas, em boa parte, se veem atrelados ao sistema público de produção cultural, e não creio que isto se deva à vontade deles. Não é fácil enfrentar burocracia e não imagino alguém que, em sã consciência, preferisse encarar os trâmites administrativos a um direto patrocínio privado. Além disso, a dependência do dinheiro público não é uma exclusividade nossa. Boa parte da produção de países como França e Alemanha também necessita de ajuda do contribuinte para sair do papel. A diferença é que na França as pessoas valorizam a cultura e não veem o financiamento público como um mal (ao contrário do pensamento brasileiro, que sempre enxerga cultura como algo sem relevância).
E a afirmação de que as novelas brasileiras são melhores que os filmes soa, no mínimo, ridícula. Talvez ele só veja os filmes do Daniel Filho esqueça de apreciar obras como as do “mauricinho bem-nascido” Walter Salles...Mas o que esperar do diretor de “Navalha na Carne”?
“O cinema que triunfou no Brasil é careta, não mostra nada, é um Cinema Mauricinho, que só se preocupa em agradar o público e tentar adivinhar o seu gosto. Esta é uma pretensão ridícula. São filmes bonitinhos, mas que não dizem nada, não mostram nada. E são totalmente feitos com o dinheiro do contribuinte, ninguém mais coloca a mão no bolso! Além disso, os cineastas que conseguem filmar são sempre os mesmos, um grupo de bem nascidos. Vivemos nas trevas da hipocrisia! Eu acho que hoje as novelas da televisão estão melhores que os filmes brasileiros!”.
Há uma parcela de verdade nas palavras de Neville. O cinema brasileiro está se mostrando bastante comercial após a chamada “retomada”, muito voltado para um público de classe média que não busca no cinema algo além de duas horas de entretenimento escapista. Não é à toa que o padrão Globo de se fazer filmes tem obtido enorme sucesso, vide o recente “E Se Eu Fosse Você 2”, o maior sucesso do cinema nacional no período após a citada “retomada”, superando até mesmo “Dois Filhos de Francisco” (longa que conseguiu aliar público e crítica). Isso talvez explique o fato de o Brasil ainda não ter atingido o nível de respeitabilidade que, por exemplo, o cinema argentino, eminentemente autoral, adquiriu ao redor do mundo. Os registros respeitados do cinema tupiniquim sempre se limitam a espasmos criativos pontuais, como aconteceu com “Cidade de Deus” e “Tropa de Elite” (este último vencedor do Urso de Ouro em Berlim). No mais, a produção nacional limita-se a querer reproduzir aqui um estilo Hollywood de se fazer cinema, tendo como capitães diretores como Daniel Filho.
Mas, se há uma parcela de verdade na afirmação, há duas parcelas de mentira nas palavras do diretor fanfarrão. O cinema brasileiro é financiado pelo contribuinte? Sim, mas isso acontece devido à quase completa ausência de investimentos privados em cultura no país. O empresariado brasileiro é, historicamente, tacanho e pouco ousado, sempre com atitudes que lembram em muito os antigos donatários das capitanias hereditárias. “Cultura não dá retorno”, esse é o pensamento corrente na iniciativa privada brasileira. Resultado: os cineastas, em boa parte, se veem atrelados ao sistema público de produção cultural, e não creio que isto se deva à vontade deles. Não é fácil enfrentar burocracia e não imagino alguém que, em sã consciência, preferisse encarar os trâmites administrativos a um direto patrocínio privado. Além disso, a dependência do dinheiro público não é uma exclusividade nossa. Boa parte da produção de países como França e Alemanha também necessita de ajuda do contribuinte para sair do papel. A diferença é que na França as pessoas valorizam a cultura e não veem o financiamento público como um mal (ao contrário do pensamento brasileiro, que sempre enxerga cultura como algo sem relevância).
E a afirmação de que as novelas brasileiras são melhores que os filmes soa, no mínimo, ridícula. Talvez ele só veja os filmes do Daniel Filho esqueça de apreciar obras como as do “mauricinho bem-nascido” Walter Salles...Mas o que esperar do diretor de “Navalha na Carne”?
3 comentários:
O cinema brasileiro é mauricinho exatamente porque não tem grana e existe muita dificuldade na distribuição.
O padrão Globo sempre vai triunfar, coloca atores conhecidos, fórmulas que o público já conhece e divulgação na emissora.
Claro que vai ser mauricinho, mas bem que o pessoal podia ter um pouco mais de ousadia...
Mas até que tem. Basta lembrar que "Cidade de Deus" foi um filme bastante ousado. Na realidade, o cinema mundial está um pouco carente de ousadia, hoje. E, quando acontece de alguém ser ousado, acaba virando "escândalo" como aconteceu em Cannes este ano.
Filme bom, "diferente" tipo Cidade de Deus e Tropa de Elite é uma vez a cada cinco anos ou mais.
Eu me pergunto por que não tem filme de terror brasileiro...
Postar um comentário