Muito obrigado!
Talvez seja resultado da temática abordada, mas a sensação que tive ao término da sessão de “Super 8” foi a de que o filme é muito mais do produtor Steven Spielberg do que do diretor J.J. Abrams. Afinal, o gênero da aventura infanto-juvenil foi praticamente inventado por Spielberg a partir de “E.T. - O Extraterrestre” (1982), o qual acabou gerando, ao longo dos anos 80, uma profusão de filmes voltados para este público, como “Os Goonies” (1985) e “Conta Comigo” (Stand By Me, 1986). Quem foi garoto(a) nos anos 80 deve guardar com carinho na memória a lembrança destas produções que dialogavam com imensa eficácia com o seu imaginário, fazendo despertar emoções e até mesmo ajudando na construção de uma personalidade e, claro, também constituindo uma grande diversão. “Super 8” é exatamente uma homenagem a este tipo de cinema tão caro a muitos adultos de hoje. Mas não só isso. É também uma declaração de amor à própria arte cinematográfica.
O próprio título do longa-metragem já se constitui uma referência a uma das formas de se fazer cinema. Super 8 era uma tipo de câmera muito comum até o início nos anos 80 e frequentemente usada por cineastas amadores para realizar suas produções caseiras. Ela utilizava o barato filme de 8mm (daí o nome do dispositivo) e não possuía negativo, não permitindo, desta forma, mais de uma revelação. Sendo assim, a única maneira de se fazer a edição, era, literalmente, cortando e emendando pedaços de filme. Tais dificuldades, entretanto, jamais inibiram os diretores e atores aspirantes, havendo até mesmo concursos de curtas no formato, o que era um grande estímulo para a garotada. Basta lembrar que o próprio Steven Spielberg começou assim, filmando em super 8 com os amigos da vizinhança. E é exatamente na realização de um curta neste formato que os protagonistas da produção estão envolvidos.
A narrativa nos apresenta Joe Lamb (Joel Courtney), um garoto que acabou de perder a mãe em circunstâncias trágicas. Além da escola, seus dias se passam em auxiliar o amigo e “diretor” Charles (Riley Griffiths) na realização de curtas sobre zumbis (o que dá ensejo a várias homenagens, ao longo da projeção, a George Romero, o mestre do gênero terror-zumbi), ao lado de outros companheiros. É quando eles resolvem filmar uma cena de amor em uma estação de trem da pequena cidade de Lillian, Ohio, que acontece um evento estranho e que acaba acidentalmente sendo capturado pela câmera, tornando-os alvos da perseguição do Exército, o qual ocupa a localidade logo após a ocorrência do citado evento. Com um roteiro tão simples e direto, sobra espaço para que sejam explorados os sentimentos e conflitos típicos desta fase da vida. Com personagens muito bem construídos e carismáticos, vamos acompanhando o nascimento e construção das amizades, o surgimento do primeiro amor, além da necessidade de começar a enfrentar aspectos mais duros da vida, como a perda de pessoas próximas. Esta última, vale dizer, se configura em algo caro à filmografia spielberguiana, comumente pontuada por lares esfacelados, seja pela perda, seja pela separação de pais. Não é mera coincidência o fato de Joe lembrar muito o Michael, personagem central de “E.T.”
Contando com um elenco quase inteiro de atores novatos, é impressionante o resultado interpretativo que o diretor Abrams conseguiu arrancar da garotada. Todos entregam boas atuações e encontram-se em perfeita sintonia, valendo um destaque especial para Elle Fanning (irmã de Dakota Fanning), como Alice, a menina e interesse romântico do grupo, e Joel Courtney, como o protagonista Joe (como eles choram bem!). Com tanto carisma, torna-se impossível não se identificar e se empolgar com suas aventura e desventuras. Falando em aventuras, Abrams dá um show de direção ao criar cenas espetaculares. A cena do descarrilamento do trem, por exemplo, já se coloca como uma das mais memoráveis dos últimos anos. Simplesmente sensacional! Como é bom ver quando efeitos especiais são usados a favor da narrativa e não esta em prol da tecnologia (viu, Michael Bay?). Da mesma forma, a recriação do clima dos anos 80, fazendo os personagens usarem aparelhos hoje estranhos aos mais novos, como walk-talkies e walkmans, é precisa e aponta para uma nostalgia que se espraia em todos os aspectos da produção. Além disso, cada cinéfilo sai presenteado com uma série de referências ao próprio cinema. Desde os citados filmes de zumbi de George Romero a Alfred Hitchock, passando pela própria cinematografia de Spielberg, há muita coisa a ser observada por olhares mais atentos.
Entretanto, se o cinema oitentista é perfeitamente revitalizado em seu clima leve e aventureiro, por outro lado o pecado de “Super 8” termina por ser exceder-se nessa fonte, assumindo também os seus clichês. Assim, a partir de certo ponto, o roteiro (escrito pelo próprio J.J. Abrams) acusa uma demasiada previsibilidade, deixando entrever uma conclusão que soará familiar a muitos dos que estiverem na sala de projeção. Ademais, algumas circunstâncias restam mal resolvidas, deixando a sensação de pressa em chegar à conclusão ou mesmo de falta de ideias que explicassem melhor alguns pontos nebulosos.
À parte tais problemas, “Super 8” é, desde já, o melhor filme de J.J. Abrams no cinema (bem superior a “Star Trek” e “Missão Impossível 3”), mesmo com a evidente mão de Spielberg pesando sobre o resultado final do longa-metragem. Muito se esperava dele devido ao seu grande sucesso nas séries de TV (como na famosa “Lost”), mas TV e cinema são duas mídias com características bem distintas, e a exigência do meio cinematográfico é bem maior do que o televisivo. É importante sublinhar, ainda, que o cinema costuma gerar verdadeiras pérolas quando faz uso inteligente da metalinguagem (“Cinema Paradiso” está aí provando tal afirmação) e aqui parece ser o caso. Este é um longa que já nasceu predestinado a se transformar em um autêntico cult. Impossível não se emocionar com um filme que remonta a tantas boas lembranças e fazendo também um novo público entrar em contato com uma forma de se fazer cinema já quase em desuso. Impossível, ademais, não se emocionar com uma declaração tão grande de amor à arte como vemos na tela, declaração esta sintetizada na linda, criativa e divertida sequência final de créditos, a qual fez todo o público da sala em que assisti ao longa esperar até o fim (mesmo aqueles que já estavam em pé acabaram por acompanhar os letreiros). Diante de uma homenagem tão especial à sétima arte, só resta a nós, cinéfilos, dizermos um muito obrigado aos realizadores.
Cotação:
Nota: 9,0
Talvez seja resultado da temática abordada, mas a sensação que tive ao término da sessão de “Super 8” foi a de que o filme é muito mais do produtor Steven Spielberg do que do diretor J.J. Abrams. Afinal, o gênero da aventura infanto-juvenil foi praticamente inventado por Spielberg a partir de “E.T. - O Extraterrestre” (1982), o qual acabou gerando, ao longo dos anos 80, uma profusão de filmes voltados para este público, como “Os Goonies” (1985) e “Conta Comigo” (Stand By Me, 1986). Quem foi garoto(a) nos anos 80 deve guardar com carinho na memória a lembrança destas produções que dialogavam com imensa eficácia com o seu imaginário, fazendo despertar emoções e até mesmo ajudando na construção de uma personalidade e, claro, também constituindo uma grande diversão. “Super 8” é exatamente uma homenagem a este tipo de cinema tão caro a muitos adultos de hoje. Mas não só isso. É também uma declaração de amor à própria arte cinematográfica.
O próprio título do longa-metragem já se constitui uma referência a uma das formas de se fazer cinema. Super 8 era uma tipo de câmera muito comum até o início nos anos 80 e frequentemente usada por cineastas amadores para realizar suas produções caseiras. Ela utilizava o barato filme de 8mm (daí o nome do dispositivo) e não possuía negativo, não permitindo, desta forma, mais de uma revelação. Sendo assim, a única maneira de se fazer a edição, era, literalmente, cortando e emendando pedaços de filme. Tais dificuldades, entretanto, jamais inibiram os diretores e atores aspirantes, havendo até mesmo concursos de curtas no formato, o que era um grande estímulo para a garotada. Basta lembrar que o próprio Steven Spielberg começou assim, filmando em super 8 com os amigos da vizinhança. E é exatamente na realização de um curta neste formato que os protagonistas da produção estão envolvidos.
A narrativa nos apresenta Joe Lamb (Joel Courtney), um garoto que acabou de perder a mãe em circunstâncias trágicas. Além da escola, seus dias se passam em auxiliar o amigo e “diretor” Charles (Riley Griffiths) na realização de curtas sobre zumbis (o que dá ensejo a várias homenagens, ao longo da projeção, a George Romero, o mestre do gênero terror-zumbi), ao lado de outros companheiros. É quando eles resolvem filmar uma cena de amor em uma estação de trem da pequena cidade de Lillian, Ohio, que acontece um evento estranho e que acaba acidentalmente sendo capturado pela câmera, tornando-os alvos da perseguição do Exército, o qual ocupa a localidade logo após a ocorrência do citado evento. Com um roteiro tão simples e direto, sobra espaço para que sejam explorados os sentimentos e conflitos típicos desta fase da vida. Com personagens muito bem construídos e carismáticos, vamos acompanhando o nascimento e construção das amizades, o surgimento do primeiro amor, além da necessidade de começar a enfrentar aspectos mais duros da vida, como a perda de pessoas próximas. Esta última, vale dizer, se configura em algo caro à filmografia spielberguiana, comumente pontuada por lares esfacelados, seja pela perda, seja pela separação de pais. Não é mera coincidência o fato de Joe lembrar muito o Michael, personagem central de “E.T.”
Contando com um elenco quase inteiro de atores novatos, é impressionante o resultado interpretativo que o diretor Abrams conseguiu arrancar da garotada. Todos entregam boas atuações e encontram-se em perfeita sintonia, valendo um destaque especial para Elle Fanning (irmã de Dakota Fanning), como Alice, a menina e interesse romântico do grupo, e Joel Courtney, como o protagonista Joe (como eles choram bem!). Com tanto carisma, torna-se impossível não se identificar e se empolgar com suas aventura e desventuras. Falando em aventuras, Abrams dá um show de direção ao criar cenas espetaculares. A cena do descarrilamento do trem, por exemplo, já se coloca como uma das mais memoráveis dos últimos anos. Simplesmente sensacional! Como é bom ver quando efeitos especiais são usados a favor da narrativa e não esta em prol da tecnologia (viu, Michael Bay?). Da mesma forma, a recriação do clima dos anos 80, fazendo os personagens usarem aparelhos hoje estranhos aos mais novos, como walk-talkies e walkmans, é precisa e aponta para uma nostalgia que se espraia em todos os aspectos da produção. Além disso, cada cinéfilo sai presenteado com uma série de referências ao próprio cinema. Desde os citados filmes de zumbi de George Romero a Alfred Hitchock, passando pela própria cinematografia de Spielberg, há muita coisa a ser observada por olhares mais atentos.
Entretanto, se o cinema oitentista é perfeitamente revitalizado em seu clima leve e aventureiro, por outro lado o pecado de “Super 8” termina por ser exceder-se nessa fonte, assumindo também os seus clichês. Assim, a partir de certo ponto, o roteiro (escrito pelo próprio J.J. Abrams) acusa uma demasiada previsibilidade, deixando entrever uma conclusão que soará familiar a muitos dos que estiverem na sala de projeção. Ademais, algumas circunstâncias restam mal resolvidas, deixando a sensação de pressa em chegar à conclusão ou mesmo de falta de ideias que explicassem melhor alguns pontos nebulosos.
À parte tais problemas, “Super 8” é, desde já, o melhor filme de J.J. Abrams no cinema (bem superior a “Star Trek” e “Missão Impossível 3”), mesmo com a evidente mão de Spielberg pesando sobre o resultado final do longa-metragem. Muito se esperava dele devido ao seu grande sucesso nas séries de TV (como na famosa “Lost”), mas TV e cinema são duas mídias com características bem distintas, e a exigência do meio cinematográfico é bem maior do que o televisivo. É importante sublinhar, ainda, que o cinema costuma gerar verdadeiras pérolas quando faz uso inteligente da metalinguagem (“Cinema Paradiso” está aí provando tal afirmação) e aqui parece ser o caso. Este é um longa que já nasceu predestinado a se transformar em um autêntico cult. Impossível não se emocionar com um filme que remonta a tantas boas lembranças e fazendo também um novo público entrar em contato com uma forma de se fazer cinema já quase em desuso. Impossível, ademais, não se emocionar com uma declaração tão grande de amor à arte como vemos na tela, declaração esta sintetizada na linda, criativa e divertida sequência final de créditos, a qual fez todo o público da sala em que assisti ao longa esperar até o fim (mesmo aqueles que já estavam em pé acabaram por acompanhar os letreiros). Diante de uma homenagem tão especial à sétima arte, só resta a nós, cinéfilos, dizermos um muito obrigado aos realizadores.
Cotação:
Nota: 9,0
6 comentários:
Texto muito bom Fabio, faz jus total a qualidade desse filme. Grande Abraço!
Fiz um curta em Super-8 e estou ansioso para conseguir assistir ao filme.
Falta tempo nas minhas 24 horas diárias. Mas, o seu texto me motivou um pouco mais do que eu tinha lido pelos outros sites.
Abraços
nossa eu já vi no cinema e nossa achei muito interessante com uma grande historia. é muito fixe o filme. eu pessoalmente adorei o filme,é do genero de filmes que eu mais gosto. beijos e um bom resto de semana para ti.
Mais um que estou adiando, mas quero muito ver :D
Ainda não assisti, mas estou curioso.
O Falcão Maltês
Ainda não assisti, mas acredito que este filme realmente valha a pena, mesmo que seja pela nostalgia que ele traz.
Valeu.
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