Em família
O cineasta Darren Aronofsky terá dois concorrentes pelos quais torcer na cerimônia de entrega do Oscar no próximo dia 27. Diretor do aclamado “Cisne Negro” – que deve render a Natalie Portman o prêmio de melhor atriz – ele também foi o produtor executivo deste “O Vencedor”, um projeto antigo que o ator Mark Wahlberg sonhava em levar às telas (ele se preparou ao longo de 10 anos para o papel).
Na realidade, a mão de Aronofsky se faz bem mais presente do que a do diretor David O. Russel, o qual não havia realizado nada de muito relevante até este projeto (o que pode ser ainda lembrado é “Três Reis”). É possível que muitos identifiquem similaridades com "O Lutador", filme de Darren responsável pela ressurreição da carreira de Mickey Rourke e que narra a decadência de um outrora famoso atleta da luta livre norte-americana. Tal como neste longa, temos em “O Vencedor” um atleta que também teve seu momento de glória, mesmo que fugaz, um lutador de boxe que,em 1978, derrubou Sugar Ray Leonard no ringue, mesmo perdendo a luta depois. Dicky Ward (Christian Bale), mesmo após mais de uma década, ainda se vangloria deste feito, se auto-intitulando “o orgulho de Lowell”, bairro pobre de origem irlandesa localizado em Boston. Ele tem um irmão mais novo, Micky Ward (o papel de Wahlberg no filme), o qual possui muito talento para o boxe, mas é atrapalhado por Dicky e pelo restante de sua família problemática. Afinal, Dicky se tornou um viciado em crack e há muito deixou de ajudar o irmão. O maior problema é que ele não percebe isso e que seria melhor se afastar de Micky para que este pudesse se dedicar integralmente à carreira. Quem começa a dar um certo apoio necessário aos anseios de Micky (e também a fazê-lo enxergar o quanto sua família, mormente seu irmão mais velho, acabam sendo um obstáculo ao seu sucesso) é Charlene (Amy Adams), sua namorada que largou a faculdade e agora sobrevive como barwoman.
Assim, o longa (que é baseado em uma história real), antes de tratar sobre carreira ou o próprio boxe, é um filme sobre a família e de como esta pode acabar interferindo nos nossos rumos e resultados individuais. Entretanto, por mais que tentemos nos desvincular destas raízes, elas jamais nos deixarão e a única forma de nos realizarmos é procurando conciliar nossos anseios pessoais com as relações familiares, por mais que estas muitas vezes pareçam nos limitar. Em uma outra leitura, o filme nos mostra como, em muitas ocasiões, podemos criar ilusões sobre nós mesmos, atribuindo-nos uma condição que não possuímos. É o que sucede com Dicky, o qual se atribui uma condição de herói da família e da vizinhança que, em verdade, não possui. A sequência em que ele demonstra perceber esta realidade, cantando uma certa canção dos Bee Gees, por sinal, é brilhante, estando entre as mais memoráveis do cinema recente.
Obviamente, um filme que trata de família comumente necessita de um elenco que dê conta do recado. E é exatamente o caso aqui. Se Mark Wahlberg, um ator cheio de limitações, apenas chega a ser competente, Melissa Leo, no papel da mãe muitas vezes manipuladora e que demonstra uma preferência pelo irmão mais velho, está ótima, fazendo jus aos prêmios que já recebeu e à sua indicação ao Oscar. Da mesma forma, Amy Adams está muito bem como Charlene, conseguindo imprimir força e verdade à sua personagem. Contudo, quem rouba mesmo a cena é Christian Bale. Impressionante o seu mergulho em um personagem difícil, que é irresponsável sem ser exatamente maldoso e ao mesmo tempo apresentando leves distúrbios mentais, talvez resultado do consumo de drogas ou das pancadas do boxe. A verdade é que em nenhum momento ele se excede, com a uma atuação memorável que, caso de fato venha a receber o prêmio da Academia, será com inteira justiça (talvez por isso muitos votantes estejam deixando de lado os deslizes pessoais de Bale, como seus pitis em estúdios ou as acusações de agressão aos familiares que lhe exploram).
Acima, mencionei que é inegável o dedo de Aronofsky no projeto, mas não se pode também menosprezar a direção de Russell. Ele encontrou algumas soluções felizes para o desenvolvimento da trama, como mostrar as lutas de boxe com uma fotografia televisiva, uma forma de renovar o interesse do público nas cenas de luta, já muito repetidas nas telonas. O longa, ademais, nunca perde o ritmo, com uma edição caprichada e um roteiro muito bem adaptado, mesmo que não consiga fugir de alguns esquematismos necessários para envolver o público (afinal, não deixa de ser um produto de Hollywood).
Ou seja: “O Vencedor” é um filme redondo, com alguns momentos realmente marcantes como já mencionado, e que possui um mote que torna a narrativa de fácil apreensão e ligação com o grande público. Afinal, todos estamos inseridos em uma família, que, por melhor que seja, sempre terá seus problemas. Assim, torna-se quase impossível não se identificar de uma forma ou de outra com alguns dos dilemas apresentados. Além disso, acredito que todos nós já nos vimos divididos entre nossas realizações pessoais e o amor aos nossos entes mais próximos. Normalmente, não é fácil alcançar o equilíbrio. Este longa nos mostra que ele pode ser atingido e que buscá-lo é mesmo o melhor caminho.
Cotação:
Nota: 9,0
Na realidade, a mão de Aronofsky se faz bem mais presente do que a do diretor David O. Russel, o qual não havia realizado nada de muito relevante até este projeto (o que pode ser ainda lembrado é “Três Reis”). É possível que muitos identifiquem similaridades com "O Lutador", filme de Darren responsável pela ressurreição da carreira de Mickey Rourke e que narra a decadência de um outrora famoso atleta da luta livre norte-americana. Tal como neste longa, temos em “O Vencedor” um atleta que também teve seu momento de glória, mesmo que fugaz, um lutador de boxe que,em 1978, derrubou Sugar Ray Leonard no ringue, mesmo perdendo a luta depois. Dicky Ward (Christian Bale), mesmo após mais de uma década, ainda se vangloria deste feito, se auto-intitulando “o orgulho de Lowell”, bairro pobre de origem irlandesa localizado em Boston. Ele tem um irmão mais novo, Micky Ward (o papel de Wahlberg no filme), o qual possui muito talento para o boxe, mas é atrapalhado por Dicky e pelo restante de sua família problemática. Afinal, Dicky se tornou um viciado em crack e há muito deixou de ajudar o irmão. O maior problema é que ele não percebe isso e que seria melhor se afastar de Micky para que este pudesse se dedicar integralmente à carreira. Quem começa a dar um certo apoio necessário aos anseios de Micky (e também a fazê-lo enxergar o quanto sua família, mormente seu irmão mais velho, acabam sendo um obstáculo ao seu sucesso) é Charlene (Amy Adams), sua namorada que largou a faculdade e agora sobrevive como barwoman.
Assim, o longa (que é baseado em uma história real), antes de tratar sobre carreira ou o próprio boxe, é um filme sobre a família e de como esta pode acabar interferindo nos nossos rumos e resultados individuais. Entretanto, por mais que tentemos nos desvincular destas raízes, elas jamais nos deixarão e a única forma de nos realizarmos é procurando conciliar nossos anseios pessoais com as relações familiares, por mais que estas muitas vezes pareçam nos limitar. Em uma outra leitura, o filme nos mostra como, em muitas ocasiões, podemos criar ilusões sobre nós mesmos, atribuindo-nos uma condição que não possuímos. É o que sucede com Dicky, o qual se atribui uma condição de herói da família e da vizinhança que, em verdade, não possui. A sequência em que ele demonstra perceber esta realidade, cantando uma certa canção dos Bee Gees, por sinal, é brilhante, estando entre as mais memoráveis do cinema recente.
Obviamente, um filme que trata de família comumente necessita de um elenco que dê conta do recado. E é exatamente o caso aqui. Se Mark Wahlberg, um ator cheio de limitações, apenas chega a ser competente, Melissa Leo, no papel da mãe muitas vezes manipuladora e que demonstra uma preferência pelo irmão mais velho, está ótima, fazendo jus aos prêmios que já recebeu e à sua indicação ao Oscar. Da mesma forma, Amy Adams está muito bem como Charlene, conseguindo imprimir força e verdade à sua personagem. Contudo, quem rouba mesmo a cena é Christian Bale. Impressionante o seu mergulho em um personagem difícil, que é irresponsável sem ser exatamente maldoso e ao mesmo tempo apresentando leves distúrbios mentais, talvez resultado do consumo de drogas ou das pancadas do boxe. A verdade é que em nenhum momento ele se excede, com a uma atuação memorável que, caso de fato venha a receber o prêmio da Academia, será com inteira justiça (talvez por isso muitos votantes estejam deixando de lado os deslizes pessoais de Bale, como seus pitis em estúdios ou as acusações de agressão aos familiares que lhe exploram).
Acima, mencionei que é inegável o dedo de Aronofsky no projeto, mas não se pode também menosprezar a direção de Russell. Ele encontrou algumas soluções felizes para o desenvolvimento da trama, como mostrar as lutas de boxe com uma fotografia televisiva, uma forma de renovar o interesse do público nas cenas de luta, já muito repetidas nas telonas. O longa, ademais, nunca perde o ritmo, com uma edição caprichada e um roteiro muito bem adaptado, mesmo que não consiga fugir de alguns esquematismos necessários para envolver o público (afinal, não deixa de ser um produto de Hollywood).
Ou seja: “O Vencedor” é um filme redondo, com alguns momentos realmente marcantes como já mencionado, e que possui um mote que torna a narrativa de fácil apreensão e ligação com o grande público. Afinal, todos estamos inseridos em uma família, que, por melhor que seja, sempre terá seus problemas. Assim, torna-se quase impossível não se identificar de uma forma ou de outra com alguns dos dilemas apresentados. Além disso, acredito que todos nós já nos vimos divididos entre nossas realizações pessoais e o amor aos nossos entes mais próximos. Normalmente, não é fácil alcançar o equilíbrio. Este longa nos mostra que ele pode ser atingido e que buscá-lo é mesmo o melhor caminho.
Cotação:
Nota: 9,0
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