domingo, 17 de outubro de 2010

A Lenda dos Guardiões


Lendas precisam ser bem contadas


Zack Snyder vem sendo reverenciado por parte da crítica especializada de forma um tanto incompreensível. Diretor das adaptações das HQs para o cinema “300” e “Watchmen”, alguns conseguem enxergar em seus longas-metragens algo de “revolucionário”, “inovador”, que este que vos escreve sinceramente não consegue. Ou será que sua câmera-lenta seguida de câmera-acelerada é algo tão especial assim a justificar tais adjetivos? Sinceramente, não acredito que seja. Os dois filmes citados são bons, mas nada que justifique uma grande ovação. Talvez a maior virtude de “300”, pegando o exemplo, seja sua fidelidade quase canina ao material que lhe deu origem (os quadrinhos de Frank Miller já eram suficientemente cinematográficos, o que facilitou bastante o trabalho do diretor), o que, de resto, já havia sido feito por Robert Rodriguez em “Sin City”. Já a adaptação da HQ de Alan Moore resultou rasa diante do potencial reflexivo da obra original, transformando-se muitos mais em uma trama de ação/super-herói do que em algo que faça o espectador pensar.

E é dentro deste nível bom-mas-nem-tanto que foi realizado este “A Lenda dos Guardiões”, animação com técnicas de CGI que impressiona pelo realismo, mas que possui uma trama sem muita novidade. Ela conta a estória da jovem coruja Soren, que passou a vida toda ouvindo as lendas contadas por seu pai sobre os Guardiões de Ga’Hoole, um grupo de corujas responsável por manter a paz em toda a floresta, paz esta que, no presente, é ameaçada pelo grupo dos Taitos, o qual sequestra e realiza uma espécie de lavagem cerebral nas jovens corujinhas para que estas passem a servi-los como autômatos. Soren é uma destas corujas, que ainda não aprenderam a voar, que são sequestradas pelos Taitos. Nesse processo, ele conhece a corujinha Gylfie, ao lado de quem escapará das prisões dos Taitos e buscará a ajuda dos Guardiões (que antes imaginava ser mesmo apenas uma lenda). Daí em diante, eu não vou falar o que acontece, mas também não difícil imaginar.

O roteiro (escrito por John Orloff e John Collee, baseados na série literária de Kathryn Lasky), além de previsível, possui alguns furos e questões mal resolvidas. Por exemplo: os Taitos escravizam as corujinhas para que seu trabalho alimente uma espécie de campo energético cuja origem e finalidade carecem de maiores explicações. Alguns momentos do longa também se mostram muito apressados. Parece haver sempre uma pressa em seu desenrolar, talvez porque a narrativa de cunho épico exigisse mais tempo para ser bem desenvolvida. O problema é que isto exigiria, por outro lado, uma paciência maior da faixa etária alvo do longa, o que não é uma característica típica da idade. O filme também tem um tom muito sério, o que não é necessariamente um defeito. Nem sempre crianças querem apenas rir ao ir ao cinema. Querem também viajar com aventuras e estórias de heroísmo. Contudo, para que essa viagem aconteça é necessário que a estória seja bem contada, o que, como dito, não é o caso do presente longa. Talvez isso seja resultado da direção via teleconferência inventada por Snyder, que estava no Canadá durante boa parte da produção (mas é interessante como, mesmo à distância, ele não esqueceu de inserir suas cenas câmera-lenta-e-acelerada).

Os aspectos técnicos, entretanto, são realmente impressionantes. Em várias sequências parece que estamos diante de corujas de verdade, tal o realismo com que foram concebidas. Para tanto também contribui muito a recusa de se atribuir características antropomórficas às corujas, algo muito comum em animações, e que acabou exigindo maior empenho da equipe na busca por soluções de movimentos. A expressão dos olhos, algo essencial para enxergarmos realidade nas emoções dos personagens (ainda mais em se tratando de corujas), também é muito bem realizada. Assim, a empatia com Soren e seus amigos é facilmente obtida com os pequenos.

Narrativas de transição e amadurecimento como esta de “A Lenda dos Guardiões” são necessárias para a infância, sendo importantes para ajudar os pequenos a ter referências de conduta. É assim desde os primórdios da humanidade, quando essas lendas eram transmitidas de geração em geração. Contudo, é necessário que o contador de estórias seja bom, garantindo a atenção dos pequenos. Em uma próxima experiência, é importante que Snyder se lembre dessa necessidade, dando atenção ao roteiro tanto quanto dá à técnica empregada.


Cotação:

Nota: 7,0
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5 comentários:

Robson Saldanha disse...

Este filme não me encanta o suficiente pra querer conferir no cinema.

Fábio Henrique Carmo disse...

Se quiser deixar para ver em casa, não perderá muito, Robson! É, realmente, mediano! Abraço!

Marcos disse...

Olá Fábio,

Sou leitor do Cinema com Pimenta e sou cinéfilo de carteirinha. Eu estou mandando esse email porque estou trabalhando numa empresa que desenvolveu um portal sobre cinema - o Cinema Total (www.cinematotal.com). Um dos atrativos do site é que você cria uma página dentro do site, podendo escrever textos de blog e críticas de filmes. Então, gostaria de sugerir que você também passasse a publicar seus textos no Cinema Total - assim você também atinge o público que acessa o Cinema Total e não conhece o Cinema com Pimenta.

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Um abraço,

Marcos
www.cinematotal.com
marcos@cinematotal.com

chuck large disse...

Sabe, não estou afim de ver filmes com corujas. Não estou mesmo.
Ótima crítica!

Maxwell Soares disse...

É um falta total de sensibilidade não ver o que está envolve toda o longa. ÁS vezes nos prendemos em tantos detalhes técnicos e não nos fixamos no mais importante - a essência e seu conteúdo. Abstrair, ainda, é uma virtude. Apesar de tudo, gostei da postagem. Um abraço. Estarei publicando uma resenha desse filme em meu blogger neste dias. Já está preparada. Espero que veja... um abraço