Auto-Ajuda na Telona
Antes de tudo, devo adiantar que eu não tenho muita simpatia por Julia Roberts. Desde sua explosão, com o mais do que reprisado na TV “Uma Linda Mulher”, acredito que Roberts vem sempre fazendo o mesmo papel, apenas com algumas variações. Além disso, sua presença se tornou sinônimo de cinema comercial programado para agradar às massas classe média que frequentam salas de cinema, constituindo aquele típico produto formulaico para comer com pipoca. Ou seja, Roberts personifica aquele lado mais criticável do cinema americano, qual seja, a acomodação que garante resultados financeiros.
Confesso que este seu novo trabalho, “Comer, Rezar, Amar” me inspirava a mesma expectativa. E, de fato, ela foi, ao menos em parte, confirmada. Julia Roberts continua a mesma, não fazendo nada além do que a sua costumeira performance sem sal. O que torna este novo longa-metragem algo um tanto diferente da média de seus projetos é o texto que serve de base para o seu roteiro, uma adaptação do best-seller homônimo de Elizabeth Gilbert, que já vendeu milhões de exemplares em todo o mundo. Não que eu seja fã de auto-ajuda, longe disso. Sequer li a obra literária, mas não se pode negar que vemos em tela a abordagem de algumas questões interessantes.
Liz Gilbert é uma mulher que procura superar o trauma de um divórcio após um casamento de 8 anos, cujo fracasso ela própria atribui à sua inconstância e falta de auto-conhecimento. Parte, assim, para uma jornada que a levará a pontos diversos do globo terrestre, entre eles Itália, Índia e Indonésia. Em outras palavras, trata-se daqueles filmes de “transformação”, em que a protagonista passará a compreender e enxergar a vida com novos parâmetros, resultando em maior amadurecimento. Possui conexões, assim, com obras como “Amor Sem Escalas” e com muitos road movies que volta e meia baixam nas salas de cinema. A diferença é que, apesar de Liz viajar muito, sua trajetória não se dá através de uma única viagem, ao longo de uma estrada quase interminável. Variados serão os destinos da sua trajetória, todos alcançados por meios aéreos (o que deixa este longa mais próximo do citado filme com George Clooney). É ao longo dessas viagens que o três verbos que constituem o título serão conjugados pela personagem. E mais não digo, pois poderá comprometer alguns dos prazeres do longa. Liz sintetiza, desta froma, as angústias da mulher moderna (não é à toa que seu livro se tornou um sucesso absoluto no meio feminino), que procura descobrir o que realmente quer da vida e, principalmente, dos relacionamentos, já que, ao mesmo tempo em que nunca consegue estar sozinha, jamais permanece feliz por muito tempo com os seus companheiros.
Não se pode negar que há uma comunicação muito maior da trama com o público feminino, em detrimento do masculino, até pelo próprio material que lhe deu origem. Contudo, mesmo para a plateia mais cheia de testosterona o filme não se torna desinteressante. Afinal, algumas das questões levantadas são próprias de seres humanos, não sendo exclusivas das mulheres, e o filme é muito bem conduzido por Ryan Murphy (diretor da série televisiva “Glee”), com imagens belíssimas que irão levar muitos direto da sala de cinema para a agência de viagens mais próxima. Murphy erra, porém, ao estender um pouco demais o longa, que passa a impressão de começar a se arrastar a certa altura, muito embora seu terceiro ato seja um tanto apressado (talvez exatamente porque se tenha perdido muito tempo nos anteriores), o que acaba dificultando a conexão do espectador com a intensidade dos sentimentos do personagens.
Outro problema diz respeito à forma como vemos os diversos momentos de Liz. Não sei se por culpa da mesmice de Julia Roberts ou do diretor, todos os momentos de Liz aparecem da mesma forma amena, mesmo os mais duros. Tudo fica muito pasteurizado e acaba representando pouco da transformação que vive a personagem (principalmente ao lembrarmos que ela é real). Elizabeth Gilbert, a autora, não deve ter muito a ver com a Julia Roberts da tela, sempre Julia Roberts. O personagem de Javier Bardem, por outro lado, surge como aquele homem dos sonhos de boa parte das mulheres no mundo, encarnando muito do que elas concebem hoje como um “príncipe encantado”. Não sei se Gilbert encontrou um homem assim na realidade, mas isso leva o filme a cair em um grande clichê, sem dúvida.
E assim, percebe-se que “Comer, Rezar, Amar” poderia ter se tornado um produto bem mais denso se não fosse voltado para um público que espera ver Julia Roberts de novo em ação nas telas. Tivesse sido adaptado na Europa, poderia render até um longa de arte. Mas isso é Hollywood, no fim das contas, a qual pode até surpreender em alguns casos, mas no geral transforma tudo em algo para se ver comendo pipoca. Salvam-se as indagações da verdadeira Elizabeth Gilbert, as quais conseguem deixar o longa numa honrosa nota 7,0.
Obs. Há elementos especiais na exibição para nós brasileiros, mas não vou estragar o prazer dos que ainda não viram o filme ou não leram o livro.
Cotação:
Antes de tudo, devo adiantar que eu não tenho muita simpatia por Julia Roberts. Desde sua explosão, com o mais do que reprisado na TV “Uma Linda Mulher”, acredito que Roberts vem sempre fazendo o mesmo papel, apenas com algumas variações. Além disso, sua presença se tornou sinônimo de cinema comercial programado para agradar às massas classe média que frequentam salas de cinema, constituindo aquele típico produto formulaico para comer com pipoca. Ou seja, Roberts personifica aquele lado mais criticável do cinema americano, qual seja, a acomodação que garante resultados financeiros.
Confesso que este seu novo trabalho, “Comer, Rezar, Amar” me inspirava a mesma expectativa. E, de fato, ela foi, ao menos em parte, confirmada. Julia Roberts continua a mesma, não fazendo nada além do que a sua costumeira performance sem sal. O que torna este novo longa-metragem algo um tanto diferente da média de seus projetos é o texto que serve de base para o seu roteiro, uma adaptação do best-seller homônimo de Elizabeth Gilbert, que já vendeu milhões de exemplares em todo o mundo. Não que eu seja fã de auto-ajuda, longe disso. Sequer li a obra literária, mas não se pode negar que vemos em tela a abordagem de algumas questões interessantes.
Liz Gilbert é uma mulher que procura superar o trauma de um divórcio após um casamento de 8 anos, cujo fracasso ela própria atribui à sua inconstância e falta de auto-conhecimento. Parte, assim, para uma jornada que a levará a pontos diversos do globo terrestre, entre eles Itália, Índia e Indonésia. Em outras palavras, trata-se daqueles filmes de “transformação”, em que a protagonista passará a compreender e enxergar a vida com novos parâmetros, resultando em maior amadurecimento. Possui conexões, assim, com obras como “Amor Sem Escalas” e com muitos road movies que volta e meia baixam nas salas de cinema. A diferença é que, apesar de Liz viajar muito, sua trajetória não se dá através de uma única viagem, ao longo de uma estrada quase interminável. Variados serão os destinos da sua trajetória, todos alcançados por meios aéreos (o que deixa este longa mais próximo do citado filme com George Clooney). É ao longo dessas viagens que o três verbos que constituem o título serão conjugados pela personagem. E mais não digo, pois poderá comprometer alguns dos prazeres do longa. Liz sintetiza, desta froma, as angústias da mulher moderna (não é à toa que seu livro se tornou um sucesso absoluto no meio feminino), que procura descobrir o que realmente quer da vida e, principalmente, dos relacionamentos, já que, ao mesmo tempo em que nunca consegue estar sozinha, jamais permanece feliz por muito tempo com os seus companheiros.
Não se pode negar que há uma comunicação muito maior da trama com o público feminino, em detrimento do masculino, até pelo próprio material que lhe deu origem. Contudo, mesmo para a plateia mais cheia de testosterona o filme não se torna desinteressante. Afinal, algumas das questões levantadas são próprias de seres humanos, não sendo exclusivas das mulheres, e o filme é muito bem conduzido por Ryan Murphy (diretor da série televisiva “Glee”), com imagens belíssimas que irão levar muitos direto da sala de cinema para a agência de viagens mais próxima. Murphy erra, porém, ao estender um pouco demais o longa, que passa a impressão de começar a se arrastar a certa altura, muito embora seu terceiro ato seja um tanto apressado (talvez exatamente porque se tenha perdido muito tempo nos anteriores), o que acaba dificultando a conexão do espectador com a intensidade dos sentimentos do personagens.
Outro problema diz respeito à forma como vemos os diversos momentos de Liz. Não sei se por culpa da mesmice de Julia Roberts ou do diretor, todos os momentos de Liz aparecem da mesma forma amena, mesmo os mais duros. Tudo fica muito pasteurizado e acaba representando pouco da transformação que vive a personagem (principalmente ao lembrarmos que ela é real). Elizabeth Gilbert, a autora, não deve ter muito a ver com a Julia Roberts da tela, sempre Julia Roberts. O personagem de Javier Bardem, por outro lado, surge como aquele homem dos sonhos de boa parte das mulheres no mundo, encarnando muito do que elas concebem hoje como um “príncipe encantado”. Não sei se Gilbert encontrou um homem assim na realidade, mas isso leva o filme a cair em um grande clichê, sem dúvida.
E assim, percebe-se que “Comer, Rezar, Amar” poderia ter se tornado um produto bem mais denso se não fosse voltado para um público que espera ver Julia Roberts de novo em ação nas telas. Tivesse sido adaptado na Europa, poderia render até um longa de arte. Mas isso é Hollywood, no fim das contas, a qual pode até surpreender em alguns casos, mas no geral transforma tudo em algo para se ver comendo pipoca. Salvam-se as indagações da verdadeira Elizabeth Gilbert, as quais conseguem deixar o longa numa honrosa nota 7,0.
Obs. Há elementos especiais na exibição para nós brasileiros, mas não vou estragar o prazer dos que ainda não viram o filme ou não leram o livro.
Cotação:
4 comentários:
É, vou ver o filme ainda esta semana, mesmo sabendo o que me aguarda. E, cara, já fiquei sabendo da 'manida de brasileiro' que colocaram no filme. Tenho que ver isso com os meus próprios olhos, HAHAHAHA.
Grande Abç!
Parece que no geral, todo mundo está dizendo que é um filme bem mediano! Ainda irei conferir!
Alan, vale pela curiosidade!
Cleber: é bem mediano mesmo. Mas ainda vale à pena assitir. Tem seus bons momentos!
Teu ótimo texto valoriza e mostra o quanto bom é este filme - eu pelo menos gostei e achei bem adaptado do livro. E eu até gosto de Julia Roberts, só acho que ela levou o Oscar num filme que nem merecia. rs
abraço, sumido!
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