terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Sherlock Holmes


Um novo super-herói


Desde já, advirto que nunca li qualquer obra de Arthur Conan Doyle, o que já faz perceber que não sou especialista no seu mais famoso personagem, o detetive Sherlock Holmes. A imagem que tenho do mesmo é aquela tradicional, do homem cerebral que fuma cachimbo, toca um violino Stradivarius e conta sempre com a ajuda do seu assistente Watson para resolver os mais enigmáticos mistérios, parceiro este para quem sempre profere a frase “elementar, meu caro Watson”. Portanto, dá para concluir que a ideia que sempre faço do famoso investigador é aquela perpetuada com a grife de Steven Spielberg (ele foi o produtor) em “O Enigma da Pirâmide”, divertida fantasia oitentista que tem o personagem ainda jovem como protagonista. Contudo, sei que Holmes possui outras características não muito mostradas ou exploradas comumente, características estas que lhe foram atribuídas pelo próprio Conan Doyle.

Alguns desses elementos foram utilizados pelo diretor Guy Ritchie nessa nova adaptação cinematográfica. Um exemplo é o fato de Holmes lutar (em uma forma primitiva de boxe). Todavia, alguns outros aspectos parecem jogados para lhe imprimir um caráter modernoso, apto a agradar o público atual. Holmes é, desta forma, quase transformado em uma espécie de super-herói, cujo poder especial seria o extremo raciocínio lógico. Tanto isso é verdade, que em determinada sequência ele utiliza este “poder” para vencer uma das tais lutas de que participa, ocorrendo tudo da forma como deduzira em poucos segundos. Adicione-se a isso o ritmo sempre acelerado de Ritchie e temos um Holmes que muitas vezes mais lembra um Jason Bourne misturado com “Homem de Ferro”. Ainda mais com a presença de Robert Downey Jr. no papel principal. Por sinal, o tal ritmo acelerado, característico desse diretor, mostra-se um tanto inadequado para uma trama cheia de minúcias e detalhes (como é peculiar nas tramas do detetive). A narrativa, por sinal, mostra Holmes buscando evitar que Sir Blackwood, um nobre integrante da Câmara dos Lordes, leve a efeito um plano para dominar a Inglaterra e, por conseguinte, boa parte do mundo através de expedientes de magia negra. Contudo, nem nos momentos “Scooby-Doo”, quando toda a trama vai sendo revelada em detalhes, conseguimos compreender bem o desenrolar dos acontecimentos. Não consegui, por exemplo, até o fim da trama, entender exatamente quais os objetivos da personagem de Rachel McAdams (lindinha como sempre), Irene Adler. Fica óbvio que ela é mais um dos elementos engendrados para agradar ao grande público, uma vez que funciona não só como uma antagonista cerebral de Sherlock, mas como o seu ponto fraco emocional (e o público feminino também precisa ser cativado).

Entretanto, algumas nuances contemporâneas foram muito bem-vindas. A relação entre Holmes e o Dr. Watson (Jude Law) está interessantíssima, sendo que este último está longe de ser apenas um “assistente” do detetive. As tiradas cômicas entre os dois estão ótimas e mostra-se que, antes de tudo, a amizade é o elemento que une fortemente aqueles homens, tudo isso tendo como alicerce (e como era de se esperar) as ótimas atuações de Downey Jr. e Law, os maiores sustentáculos do longa-metragem. Em outra vertente, as cenas de ação são muito bem realizadas, trazendo criatividade e momentos lúdicos que agradam em cheio ao grande público. A sequência no cais do porto, em que um navio é “atirado” em direção a Sherlock já está entre as melhores cenas de ação concebidas nos últimos anos. Ademais, outra virtude do longa é a sua reconstituição da era vitoriana, precisa, com uma direção de arte impecável.

O balanço final é de que temos um longa-metragem perfeitamente palatável para divertir o grande público, contando com um diretor de marcas próprias (mesmo que, como mencionado, talvez inadequado para este tipo de narrativa detetivesca) e atores de primeiro escalão que conferem uma veracidade inédita no cinema a estes personagens. Entretanto, aqueles mais afeitos à versão clássica de Sherlock irão torcer um pouco o nariz (como eu). Não sei se seriam necessárias tantas modificações para que o personagem pareça atualizado. Talvez o Holmes ideal seja uma mistura dessa nova versão com aquele citado acima de “O Enigma da Pirâmide”. Vá ao cinema e tire suas próprias conclusões.


Cotação: * * * (três estrelas)
Nota: 7,5
Blog Widget by LinkWithin

Nenhum comentário: