Boas Lembranças
Eu era bem pequeno quando minha irmã ganhou, como presente no Dia da Criança, um LP (sim, era o tempo dos bolachões) de um certo astro da música que era o grande sucesso do momento. Eu já conhecia esse artista de um videoclip que sempre passava na TV aos domingos, logo antes do “Fantástico” da TV Globo. Eu adorava esse videoclip, que me enchia de entusiasmo e ao mesmo tempo medo, pois que cheio de personagens horripilantes como zumbis e lobisomens (além de uma risada pra lá de cavernosa no final) e corria alucinado para a frente do televisor para não deixar de ver mais uma de suas reprises. Logo quando ouvi em casa o tal disco, percebi que havia nele várias outras músicas legais e dançantes. Mal sabia eu que o tal LP (de nome complicado: “tchiler”, “frilé”, que coisa mais difícil de pronunciar) se tornaria o álbum mais vendido de todos os tempos e que o seu cantor, Michael Jackson, seria futuramente aclamado como o Rei do Pop. A verdade é que, durante um bom tempo, escutei o disco alucinadamente, procurando (e, claro, não conseguindo) imitar todos os passos de dança feitos por Michael nos clips televisivos, especialmente um em que ele parecia andar para trás.
O tempo foi passando e o super-astro Michael Jackson foi, aos poucos, ficando estranho. No disco seguinte, ele apareceu com a pele um tanto mais clara e todos se perguntavam como aquilo poderia ter acontecido. “Que coisa mais estranha, como isso é possível?”, era a frase sempre ouvida quando se falava no nome dele. E todos começaram a afirmar que Jackson era um racista, alguém que padecia de preconceito contra sua própria etnia e estava clareando a própria pele porque “queria ser branco”. Mas a verdade é que o esse novo disco dele (dessa vez tinha um nome mais fácil, era só falar “bédi”) também era muito legal, com músicas bem dançantes como naquele disco em que ele aparecia com um tigre no encarte (o tal “tíler”... Mas que nome chato!).
Novamente, o tempo passou (afinal, ele não para) e eu, que já tinha uma forte atração pelo rock (acredito que a primeira vez que ouvi os Beatles ainda foi no útero materno), acabei abraçando de vez esse gênero ainda no início da minha adolescência, deixando de lado astros da chamada música “pop” (entendida aqui como gênero e não como termo designativo de música popular), entre eles Michael Jackson. Foi a fase em que me apaixonei de vez pelos Fab Four e comecei a me identificar fortemente com as canções de um certo Renato Russo, líder da famosa Legião Urbana. Mesmo assim, no início dos anos 90, Jackson ainda voltaria a me tomar a atenção com mais uma videoclip sensacional, feito para a música “Black Or White”, o qual apresentava uma fantástica transformação de rostos entre várias etnias, bastante eficiente até para os padrões de hoje (clique aqui para assistir).
Mais alguns anos se passaram, eu já estava na faculdade e Jackson era mais lembrado na mídia por suas excentricidades (como sua aparência cada vez mais estranha e seus gastos perdulários) e acusações de abusos sexuais contra crianças, principalmente depois do fracasso comercial de seu álbum duplo “History”, cuja megalomania no seu processo de divulgação acabou por me despertar uma certa antipatia pelo cantor. Tal antipatia só não cresceu mais devido à influência de dois grandes amigos, um deles ainda do ensino médio (aê, Hendrick!) e, principalmente, outro que já conhecia desde o primário no Instituto Maria Auxiliadora e que reencontrei na faculdade, Gianfranco, um fã incondicional da mega-estrela. Eles me faziam lembrar que, à parte suas esquisitices e ataques de grandiloquência, Michael Jackson era inegavelmente um grande artista.
Infelizmente, não foi assim que ele foi tratado ao longo dos últimos anos. Sempre com a mídia procurando dar fôlego à sua atribulada vida pessoal, esquecendo totalmente os méritos musicais (muito embora não se possa negar que estes caíram muito em seus últimos trabalhos), a decadência de Michael Jackson atingiu o ápice com o circo armado em torno do processo judicial em que era réu, sob a acusação de abusar sexualmente de crianças em Neverland, seu famoso e extravagante rancho particular. Entretanto, ele foi absolvido de todas as acusações e lembro que acabei acompanhando ao vivo o resultado do julgamento, no qual uma quantidade enorme de fãs se aglomerou às portas do fórum local para comemorar a cada anúncio de “inocente” (“ele não fez nada, meu filho”, dizia minha mãe sempre que falavam nessas acusações e mãe, como todos sabem, costuma ter muita sabedoria).
E eis que tivemos, nesta quinta-feira 25 de junho de 2009, de forma totalmente inesperada, a notícia do falecimento do Rei do Pop, com a mídia, que tanto lhe apedrejou, agora lhe rendendo as devidas homenagens. Hoje, eu sei que o tal disco de nome difícil, “Thriller”, (que agora eu consigo pronunciar, enfim) é um dos mais importantes da história da música popular, não apenas por ser o mais vendido, e o tal videoclip cheio de monstros é o mais revolucionário de todos os tempos, um verdadeiro curta-metragem que modificaria para sempre a forma como apreciamos a arte musical. Também sei que o seu processo de “embranquecimento” não aconteceu por vontade própria, mas porque ele foi atingido pelo vitiligo, conhecida doença que retira a pigmentação da pele e que o título da canção “Black Or White” não deixa de ser uma referência à sua peculiar condição. Mas, principalmente, sei que artistas tão completos como Michael Jackson são raros, e que sua influência será sentida ao longo de várias gerações de cantores e dançarinos. Um showman negro que conseguiu romper as barreiras dos guetos da preconceituosa sociedade norte-americana (e mesmo mundial) e se tornar ídolo não apenas de jovens e crianças negras, mas de todas as etnias. Mas que também, infelizmente, mostrou que dinheiro e fama estão longe de significar paz de espírito. De qualquer forma, alguém já disse que a melhor herança que se pode deixar na vida são as boas lembranças. E isso Michael Jackson com certeza proporcionou e continuará proporcionando a muitas pessoas em todo este confuso planeta. Inclusive a mim, que jamais vou esquecer das horas que passei, de forma atabalhoada, tentando imitar seus passos lá nos primórdios dos anos 80. Afinal de contas, isso é que é ser feliz!
E quem disse que Michael morreu? Creio que ele apenas parou de envelhecer...
Eu era bem pequeno quando minha irmã ganhou, como presente no Dia da Criança, um LP (sim, era o tempo dos bolachões) de um certo astro da música que era o grande sucesso do momento. Eu já conhecia esse artista de um videoclip que sempre passava na TV aos domingos, logo antes do “Fantástico” da TV Globo. Eu adorava esse videoclip, que me enchia de entusiasmo e ao mesmo tempo medo, pois que cheio de personagens horripilantes como zumbis e lobisomens (além de uma risada pra lá de cavernosa no final) e corria alucinado para a frente do televisor para não deixar de ver mais uma de suas reprises. Logo quando ouvi em casa o tal disco, percebi que havia nele várias outras músicas legais e dançantes. Mal sabia eu que o tal LP (de nome complicado: “tchiler”, “frilé”, que coisa mais difícil de pronunciar) se tornaria o álbum mais vendido de todos os tempos e que o seu cantor, Michael Jackson, seria futuramente aclamado como o Rei do Pop. A verdade é que, durante um bom tempo, escutei o disco alucinadamente, procurando (e, claro, não conseguindo) imitar todos os passos de dança feitos por Michael nos clips televisivos, especialmente um em que ele parecia andar para trás.
O tempo foi passando e o super-astro Michael Jackson foi, aos poucos, ficando estranho. No disco seguinte, ele apareceu com a pele um tanto mais clara e todos se perguntavam como aquilo poderia ter acontecido. “Que coisa mais estranha, como isso é possível?”, era a frase sempre ouvida quando se falava no nome dele. E todos começaram a afirmar que Jackson era um racista, alguém que padecia de preconceito contra sua própria etnia e estava clareando a própria pele porque “queria ser branco”. Mas a verdade é que o esse novo disco dele (dessa vez tinha um nome mais fácil, era só falar “bédi”) também era muito legal, com músicas bem dançantes como naquele disco em que ele aparecia com um tigre no encarte (o tal “tíler”... Mas que nome chato!).
Novamente, o tempo passou (afinal, ele não para) e eu, que já tinha uma forte atração pelo rock (acredito que a primeira vez que ouvi os Beatles ainda foi no útero materno), acabei abraçando de vez esse gênero ainda no início da minha adolescência, deixando de lado astros da chamada música “pop” (entendida aqui como gênero e não como termo designativo de música popular), entre eles Michael Jackson. Foi a fase em que me apaixonei de vez pelos Fab Four e comecei a me identificar fortemente com as canções de um certo Renato Russo, líder da famosa Legião Urbana. Mesmo assim, no início dos anos 90, Jackson ainda voltaria a me tomar a atenção com mais uma videoclip sensacional, feito para a música “Black Or White”, o qual apresentava uma fantástica transformação de rostos entre várias etnias, bastante eficiente até para os padrões de hoje (clique aqui para assistir).
Mais alguns anos se passaram, eu já estava na faculdade e Jackson era mais lembrado na mídia por suas excentricidades (como sua aparência cada vez mais estranha e seus gastos perdulários) e acusações de abusos sexuais contra crianças, principalmente depois do fracasso comercial de seu álbum duplo “History”, cuja megalomania no seu processo de divulgação acabou por me despertar uma certa antipatia pelo cantor. Tal antipatia só não cresceu mais devido à influência de dois grandes amigos, um deles ainda do ensino médio (aê, Hendrick!) e, principalmente, outro que já conhecia desde o primário no Instituto Maria Auxiliadora e que reencontrei na faculdade, Gianfranco, um fã incondicional da mega-estrela. Eles me faziam lembrar que, à parte suas esquisitices e ataques de grandiloquência, Michael Jackson era inegavelmente um grande artista.
Infelizmente, não foi assim que ele foi tratado ao longo dos últimos anos. Sempre com a mídia procurando dar fôlego à sua atribulada vida pessoal, esquecendo totalmente os méritos musicais (muito embora não se possa negar que estes caíram muito em seus últimos trabalhos), a decadência de Michael Jackson atingiu o ápice com o circo armado em torno do processo judicial em que era réu, sob a acusação de abusar sexualmente de crianças em Neverland, seu famoso e extravagante rancho particular. Entretanto, ele foi absolvido de todas as acusações e lembro que acabei acompanhando ao vivo o resultado do julgamento, no qual uma quantidade enorme de fãs se aglomerou às portas do fórum local para comemorar a cada anúncio de “inocente” (“ele não fez nada, meu filho”, dizia minha mãe sempre que falavam nessas acusações e mãe, como todos sabem, costuma ter muita sabedoria).
E eis que tivemos, nesta quinta-feira 25 de junho de 2009, de forma totalmente inesperada, a notícia do falecimento do Rei do Pop, com a mídia, que tanto lhe apedrejou, agora lhe rendendo as devidas homenagens. Hoje, eu sei que o tal disco de nome difícil, “Thriller”, (que agora eu consigo pronunciar, enfim) é um dos mais importantes da história da música popular, não apenas por ser o mais vendido, e o tal videoclip cheio de monstros é o mais revolucionário de todos os tempos, um verdadeiro curta-metragem que modificaria para sempre a forma como apreciamos a arte musical. Também sei que o seu processo de “embranquecimento” não aconteceu por vontade própria, mas porque ele foi atingido pelo vitiligo, conhecida doença que retira a pigmentação da pele e que o título da canção “Black Or White” não deixa de ser uma referência à sua peculiar condição. Mas, principalmente, sei que artistas tão completos como Michael Jackson são raros, e que sua influência será sentida ao longo de várias gerações de cantores e dançarinos. Um showman negro que conseguiu romper as barreiras dos guetos da preconceituosa sociedade norte-americana (e mesmo mundial) e se tornar ídolo não apenas de jovens e crianças negras, mas de todas as etnias. Mas que também, infelizmente, mostrou que dinheiro e fama estão longe de significar paz de espírito. De qualquer forma, alguém já disse que a melhor herança que se pode deixar na vida são as boas lembranças. E isso Michael Jackson com certeza proporcionou e continuará proporcionando a muitas pessoas em todo este confuso planeta. Inclusive a mim, que jamais vou esquecer das horas que passei, de forma atabalhoada, tentando imitar seus passos lá nos primórdios dos anos 80. Afinal de contas, isso é que é ser feliz!
E quem disse que Michael morreu? Creio que ele apenas parou de envelhecer...
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