Todos nós temos conhecimento das atrocidades cometidas por regimes totalitários ao longo dos séculos, principalmente no século XX, o mais sangrento da História. Regimes como o Nazismo, Fascismo e Stalinismo (para não citar outros menos “famosos” como a ditadura militar brasileira) foram responsáveis por imensas barbaridades, atos de extrema afronta aos mais elementares direitos humanos, às mais básicas garantias individuais. O fato, entretanto, é que sempre costumamos associar tais atrocidades a regimes de exceção, sejam de “direita” ou de “esquerda”. Dificilmente relacionamos estes crimes atrozes a governos eleitos democraticamente, em Estados que afirmam primar pelas liberdades e garantias individuais dos cidadãos. Pois bem, documentários como “Um Táxi Para A Escuridão” possuem justamente como maior virtude nos lembrar que o desrespeito aos mais elementares direitos humanos pode ser empreendido também pelas democracias ocidentais e, mais ainda, justamente por aquela nação que sempre se coloca como maior “defensora da liberdade”: os Estados Unidos da América.
Dirigido de forma magnífica por Alex Gibney, “Taxi To The Dark Side” (título original em inglês), vencedor do Oscar 2008 como melhor documentário, investiga o sequestro e morte de Dilawar, um afegão que transportava viajantes na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão. Levado à prisão de Bagram sem qualquer indício ou prova de um possível envolvimento com grupos terroristas, Dilawar foi torturado até a morte por militares norte-americanos. Entretanto, talvez, apesar de todo o choque que uma ação como essa sempre traz, a maior indignação não decorre das atitudes de militares sem caráter, mas do próprio Estado americano que, sob a administração Bush, deu todo o respaldo para expedientes espúrios como esse. “Eles irão conhecer a justiça americana”, diz George W. Bush em um dos seus nada saudosos discursos. Nada mais irônico. E é espantoso como, a cada sequência percebemos a desfaçatez do governo em relegar a um segundo plano todos os princípios que, em tese, constituem os postulados essenciais da nação americana.
Levando a fundo sua investigação, Gibney colhe depoimentos até mesmo dos militares que foram responsabilizados pelas torturas que levaram Dilawar à morte, em sua maioria peixes pequenos e que pareceram pecar mais pela omissão do que pela ação no caso estudado (é sempre uma virtude de um documentarista mostrar diversas perspectivas sobre o tema). Mesmo que na forma o documentário se mostre tradicional, a verdade é que ficamos cada vez mais estupefatos com a leniência dos superiores em relação aos abusos praticados nas prisões norte-americanas destinadas aos “terroristas”.Abusos estes que, é bom dizer, não deixam em nada a dever aos piores procedimentos nazistas. Privação de sono, espancamentos, suspensões por correntes, privação dos sentidos, mutilações são algumas das práticas narradas e, como vemos, muitas vezes até estimuladas por autoridades militares. Dilawar, segundo uma médica que realizou sua necropsia, foi encontrado com as pernas dilaceradas, “como se um caminhão tivesse passado por cima delas”.
Mas Gibney não se limita a investigar o caso de Dilawar. Tem a perfeita consciência de que o problema tornou-se generalizado nas prisões que os EUA mantêm em território estrangeiro, mostrando ao espectador todos os horrores perpetrados em Abu Ghraib e quase impunidade que a ela se seguiu, bem como as denúncias sobre a base militar de Guantânamo (esta, por sinal, em processo de desativação pelo governo Barack Obama). Tudo isso sem jamais parecer panfletário, como sempre acabam parecendo as produções de Michael Moore (que têm sua relevância, é bom dizer, apesar da críticas que se podem fazer a elas).
Esta semana, Barack Obama anunciou que enviará mais 4 mil soldados para o Afeganistão, em sua ótica o verdadeiro celeiro de terroristas e onde as forças americanas devem concentrar suas ações. Esperemos que estes soldados realmente cumpram seu papel de combate ao terrorismo e não reproduzam o “modus operandi” que reinou no mandato do último presidente republicano. Como diz um dos entrevistados no longa, “a luta não é apenas por vidas, mas pela defesa dos nossos princípios”. Princípios estes que devem ser defendidos em todos o países que se consideram democráticos. E, possivelmente, pior do que um regime arbitrário talvez seja um regime totalitário travestido de “democrático”.
Cotação: ***** (cinco estrelas)
Nota: 10,0
Obs. O pôster ao lado foi proibido nos EUA pela Motion Picture Association of América, órgão responsável pela classificação etária no país, porque mostra a sombra de um prisioneiro ao lado de dois soldados formando a bandeira norte-americana. Mais uma contradição da “terra da liberdade”.
Dirigido de forma magnífica por Alex Gibney, “Taxi To The Dark Side” (título original em inglês), vencedor do Oscar 2008 como melhor documentário, investiga o sequestro e morte de Dilawar, um afegão que transportava viajantes na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão. Levado à prisão de Bagram sem qualquer indício ou prova de um possível envolvimento com grupos terroristas, Dilawar foi torturado até a morte por militares norte-americanos. Entretanto, talvez, apesar de todo o choque que uma ação como essa sempre traz, a maior indignação não decorre das atitudes de militares sem caráter, mas do próprio Estado americano que, sob a administração Bush, deu todo o respaldo para expedientes espúrios como esse. “Eles irão conhecer a justiça americana”, diz George W. Bush em um dos seus nada saudosos discursos. Nada mais irônico. E é espantoso como, a cada sequência percebemos a desfaçatez do governo em relegar a um segundo plano todos os princípios que, em tese, constituem os postulados essenciais da nação americana.
Levando a fundo sua investigação, Gibney colhe depoimentos até mesmo dos militares que foram responsabilizados pelas torturas que levaram Dilawar à morte, em sua maioria peixes pequenos e que pareceram pecar mais pela omissão do que pela ação no caso estudado (é sempre uma virtude de um documentarista mostrar diversas perspectivas sobre o tema). Mesmo que na forma o documentário se mostre tradicional, a verdade é que ficamos cada vez mais estupefatos com a leniência dos superiores em relação aos abusos praticados nas prisões norte-americanas destinadas aos “terroristas”.Abusos estes que, é bom dizer, não deixam em nada a dever aos piores procedimentos nazistas. Privação de sono, espancamentos, suspensões por correntes, privação dos sentidos, mutilações são algumas das práticas narradas e, como vemos, muitas vezes até estimuladas por autoridades militares. Dilawar, segundo uma médica que realizou sua necropsia, foi encontrado com as pernas dilaceradas, “como se um caminhão tivesse passado por cima delas”.
Mas Gibney não se limita a investigar o caso de Dilawar. Tem a perfeita consciência de que o problema tornou-se generalizado nas prisões que os EUA mantêm em território estrangeiro, mostrando ao espectador todos os horrores perpetrados em Abu Ghraib e quase impunidade que a ela se seguiu, bem como as denúncias sobre a base militar de Guantânamo (esta, por sinal, em processo de desativação pelo governo Barack Obama). Tudo isso sem jamais parecer panfletário, como sempre acabam parecendo as produções de Michael Moore (que têm sua relevância, é bom dizer, apesar da críticas que se podem fazer a elas).
Esta semana, Barack Obama anunciou que enviará mais 4 mil soldados para o Afeganistão, em sua ótica o verdadeiro celeiro de terroristas e onde as forças americanas devem concentrar suas ações. Esperemos que estes soldados realmente cumpram seu papel de combate ao terrorismo e não reproduzam o “modus operandi” que reinou no mandato do último presidente republicano. Como diz um dos entrevistados no longa, “a luta não é apenas por vidas, mas pela defesa dos nossos princípios”. Princípios estes que devem ser defendidos em todos o países que se consideram democráticos. E, possivelmente, pior do que um regime arbitrário talvez seja um regime totalitário travestido de “democrático”.
Cotação: ***** (cinco estrelas)
Nota: 10,0
Obs. O pôster ao lado foi proibido nos EUA pela Motion Picture Association of América, órgão responsável pela classificação etária no país, porque mostra a sombra de um prisioneiro ao lado de dois soldados formando a bandeira norte-americana. Mais uma contradição da “terra da liberdade”.
2 comentários:
Gosto muito de filmes com temática acerca da Segunda Guerra Mundial e o Nazismo, esse me parece muito interessante. Por coincidência, hj tenho postado no meu fotolog de cinema 'A espiã' que trata deste mesmo tempo, além de tudo um excelente filme de suspense.
Sensacional seu blog Fábio, está de parabéns!
Um bjo no seu coração!
Au revoir.
Oi, Joyce, bom ver você por aqui!
Eu ainda não vi "A Espiã" (mesmo um cinéfilo tem seus lapsos). Mas tenho a impressão de que é um bom filme sim.
No mais, obigado pelos elogios ao blog! A gente via fazendo o que pode!
Abraços e beijo!
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