O diretor Sam Mendes consagrou-se já no seu primeiro longa-metragem, intitulado “Beleza Americana”, conquistando 5 prêmios Oscar ao retratar o vazio da classe média estadunidense, seus sonhos de grandeza abortados e uma existência medíocre naquelas casas com uma grama verdinha e cerca branca. Utilizando uma ironia refinada, Mendes retratou uma família disfuncional onde o pai dava em cima da melhor amiga da filha adolescente, que por sua vez se drogava com um vizinho “esquisito”, enquanto a mãe, fútil, desenvolvia uma relação de semi-prostituição com o chefe no trabalho. Apesar do sarcasmo presente ao longo de toda a película, Mendes concluía com um tom otimista, mostrando que todas as vidas, mesmo as mais medíocres, possuem uma riqueza e beleza ímpares.
E é este mesmo tema que Mendes retoma em “Foi Apenas Um Sonho”, atualmente em cartaz nos cinemas nacionais. As semelhanças com o seu primeiro longa são realmente evidentes. Não seria estranho intitular este filme como “Beleza Americana 2”. Temos novamente um casal frustrado com sua condição. Ele (Leonardo Di Caprio) sempre teve aspirações artísticas, mas acaba em um emprego burocrático na mesma empresa onde seu pai trabalhou a maior parte da vida. Ela (Kate Winslet) é uma atriz fracassada que agora passa os dias na sua atividade de dona de casa. Vivem em um subúrbio, na rua Revolutionary Road (que dá título ao filme em inglês), em uma daquelas casas como a citada mais acima (grama verde, cerca branca...), mas também insatisfeitos com sua condição, muito embora sejam invejados pelos vizinhos como uma espécie de casal-modelo. Uma impressão que pode ficar é de estarmos vendo o mesmo filme, só que ambientado nos anos 50.
Mas nem tudo é tão igual assim. Se no primeiro filme, como já salientado, Mendes dá um tom de comédia sarcástica, neste novo trabalho o que predomina é o tom dramático do início ao fim da projeção. Não há espaço para alívios. Além disso, se o casal central de “Beleza Americana” vive junto apenas por aparências, aqui os dois realmente se amam (mesmo que com eventuais infidelidades), e o projeto de felicidade de um parece sempre incluir o outro. Eles se sentem especiais, destinados a ter uma vida que vá além dessa monotonia suburbana. E é pensando dessa forma que acabam reavivando um antigo sonho de morar em Paris, onde ela trabalharia como secretaria governamental, enquanto ele daria vazão aos seus ideais artísticos.
Apesar da ótima direção de arte, o que mais se destaca no filme são mesmo as atuações, trazendo este aspecto um peso maior que no equilibrado trabalho inicial de Mendes (no qual havia uma inventividade visual marcante). Di Caprio e Winslet (o casal “titânico’) estão excepcionais, carregando o filme nas costas (talvez até o próprio diretor tenha agido desta forma para amplificar o trabalho de sua esposa, Winslet). É até estranho que suas atuações neste longa, embora lembradas no Globo de Ouro, tenham sido esquecidas pela Academia. Winslet, ao menos, foi indicada (e vencedora) por “O Leitor”. Já Di Caprio acabou sendo mesmo esquecido em mais uma das injustiças que os votantes do Oscar lhe aprontam. Outro destaque vai para Michael Shannon, que faz o papel do filho da corretora que vendeu o imóvel ao casal (interpretada por Kathy Bates, mais uma de “Titanic”). Com problemas psiquiátricos, ele funciona como o elemento que expõe as verdades, que traduz abertamente em palavras aquilo que as pessoas “sãs” não têm coragem de falar. Embora a atuação de Shannon esteja ótima (o que lhe valeu uma indicação para a cerimônia), seu personagem constitui uma muleta narrativa já muito desgastada - quando não são pessoas com problemas psiquiátricos, freqüentemente se utilizam crianças para representar essa “consciência”.
Todavia, Mendes fecha a trama de uma forma bem mais pessimista nesta empreitada, não encontrando saída possível para seus personagens. O que talvez se torne frustrante para alguns que, após duas horas observando um casal que necessita de terapia, esperam algo mais em seu desfecho. Aliás, falando em terapia: talvez o filme até funcione como uma boa terapia de casal para aqueles que estejam precisando, mas não sigam tudo à risca, hein? Vocês saberão do que estou falando ao término da sessão...
Cotação: *** (três estrelas)
Nota: 7,5
P.S. Os espectadores presentes à sessão eram de uma extrema falta de educação. Cheios de piadinhas e conversas bobas em um filme em que absolutamente isso não cabe. O pior é que não se tratavam de adolescentes, mas de adultos que, pela idade mental, deveriam estar na 5ª série. Haja paciência. Mais um pouco eu levantava e quebrava a cara de um idiota que estava na minha fila. Palhaços!
E é este mesmo tema que Mendes retoma em “Foi Apenas Um Sonho”, atualmente em cartaz nos cinemas nacionais. As semelhanças com o seu primeiro longa são realmente evidentes. Não seria estranho intitular este filme como “Beleza Americana 2”. Temos novamente um casal frustrado com sua condição. Ele (Leonardo Di Caprio) sempre teve aspirações artísticas, mas acaba em um emprego burocrático na mesma empresa onde seu pai trabalhou a maior parte da vida. Ela (Kate Winslet) é uma atriz fracassada que agora passa os dias na sua atividade de dona de casa. Vivem em um subúrbio, na rua Revolutionary Road (que dá título ao filme em inglês), em uma daquelas casas como a citada mais acima (grama verde, cerca branca...), mas também insatisfeitos com sua condição, muito embora sejam invejados pelos vizinhos como uma espécie de casal-modelo. Uma impressão que pode ficar é de estarmos vendo o mesmo filme, só que ambientado nos anos 50.
Mas nem tudo é tão igual assim. Se no primeiro filme, como já salientado, Mendes dá um tom de comédia sarcástica, neste novo trabalho o que predomina é o tom dramático do início ao fim da projeção. Não há espaço para alívios. Além disso, se o casal central de “Beleza Americana” vive junto apenas por aparências, aqui os dois realmente se amam (mesmo que com eventuais infidelidades), e o projeto de felicidade de um parece sempre incluir o outro. Eles se sentem especiais, destinados a ter uma vida que vá além dessa monotonia suburbana. E é pensando dessa forma que acabam reavivando um antigo sonho de morar em Paris, onde ela trabalharia como secretaria governamental, enquanto ele daria vazão aos seus ideais artísticos.
Apesar da ótima direção de arte, o que mais se destaca no filme são mesmo as atuações, trazendo este aspecto um peso maior que no equilibrado trabalho inicial de Mendes (no qual havia uma inventividade visual marcante). Di Caprio e Winslet (o casal “titânico’) estão excepcionais, carregando o filme nas costas (talvez até o próprio diretor tenha agido desta forma para amplificar o trabalho de sua esposa, Winslet). É até estranho que suas atuações neste longa, embora lembradas no Globo de Ouro, tenham sido esquecidas pela Academia. Winslet, ao menos, foi indicada (e vencedora) por “O Leitor”. Já Di Caprio acabou sendo mesmo esquecido em mais uma das injustiças que os votantes do Oscar lhe aprontam. Outro destaque vai para Michael Shannon, que faz o papel do filho da corretora que vendeu o imóvel ao casal (interpretada por Kathy Bates, mais uma de “Titanic”). Com problemas psiquiátricos, ele funciona como o elemento que expõe as verdades, que traduz abertamente em palavras aquilo que as pessoas “sãs” não têm coragem de falar. Embora a atuação de Shannon esteja ótima (o que lhe valeu uma indicação para a cerimônia), seu personagem constitui uma muleta narrativa já muito desgastada - quando não são pessoas com problemas psiquiátricos, freqüentemente se utilizam crianças para representar essa “consciência”.
Todavia, Mendes fecha a trama de uma forma bem mais pessimista nesta empreitada, não encontrando saída possível para seus personagens. O que talvez se torne frustrante para alguns que, após duas horas observando um casal que necessita de terapia, esperam algo mais em seu desfecho. Aliás, falando em terapia: talvez o filme até funcione como uma boa terapia de casal para aqueles que estejam precisando, mas não sigam tudo à risca, hein? Vocês saberão do que estou falando ao término da sessão...
Cotação: *** (três estrelas)
Nota: 7,5
P.S. Os espectadores presentes à sessão eram de uma extrema falta de educação. Cheios de piadinhas e conversas bobas em um filme em que absolutamente isso não cabe. O pior é que não se tratavam de adolescentes, mas de adultos que, pela idade mental, deveriam estar na 5ª série. Haja paciência. Mais um pouco eu levantava e quebrava a cara de um idiota que estava na minha fila. Palhaços!
3 comentários:
Calma, Fábio! rsrsrs
Mas, realmente, desperta os nossos instintos mais primitivos sair de casa pra ir ao cinema e, chegando lá, ter a atenção roubada por uns babacas sem-noção.
Bota primitivos nisso!
Eu estou até pensando num post só sobre a falta de educação dos rebanhos que vão ao cinema! Lamentável...
Olá, Fábio. Excelente postagem. Vi este filme com a minha noiva neste ano. Conheci esse filme acidentalmente no youtube e, logo, tratei de comprá-lo. O filme é forte de tenso. Gostei do texto. Talvez faça uma postagem dele, também. Parabéns, mais uma vez. Até...
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