domingo, 22 de maio de 2011

Piratas do Caribe - Navegando em Águas Misteriosas




As aventuras de Indiana Sparrow ainda agradam


Desde o primeiro episódio da franquia “Piratas do Caribe” – mais precisamente “A Maldição do Pérola Negra”, de 2003 – a salas de exibição costumam ficar lotadas em suas sessões e, desta vez, não foi diferente. Sala cheia (acho que não cabia mais ninguém). A popularidade da série é tamanha que mesmo o apenas mediano terceiro episódio (“No Fim do Mundo”) não diminuiu a vontade do público de ver mais uma aventura encabeçada pelo Capitão Jack Sparrow, personagem que transformou Johnny Depp em uma super-astro de blockbusters, deixando de lado sua antiga aura de ator mais voltado para filmes alternativos e artísticos. Interessante que, no primeiro filme, o capitão surgiu como coadjuvante do casal central formado por Keira Knightley e Orlando Bloom, mas o talento e carisma de Depp acabaram por transformar Sparrow no verdadeiro protagonista da série e este quarto episódio, “Navegando Em Águas Misteriosas”, só atesta tal percepção.

A popularidade de Jack Sparrow atualmente se assemelha bastante ao Indiana Jones de Harrison Ford de duas décadas atrás. Ambos são reis das grandes aventuras, dotadas de um realismo fantástico que remete a um cinema mais antigo, que empolgava crianças e adolescentes em um tempo em que ainda não havia televisão ou games. Os dois protagonistas também são espirituosos, sempre com a piada certa para o momento certo, além de serem famosos em seu “meio profissional”. Talvez então não seja coincidência que a trama desta nova sequência lembre bastante aquelas do arqueólogo caçador de relíquias perdidas. No presente caso, Sparrow alia-se a outros piratas, entre eles Barbossa (Geoffrey Rush, sempre com sua competência inquestionável) e Barba Negra (Ian McShane) – cada qual com suas motivações – em busca da Fonte da Juventude. Eles ainda correm para chegar ao objetivo antes dos espanhóis, que também estão à procura da tal fonte. Para que a água da fonte surta seu efeito, entretanto, é necessário que ela seja bebida juntamente com uma lágrima de sereia e em cálices que se encontram no velho navio naufragado comandado pelo lendário Ponce de León. Ou seja, em vários aspectos a narrativa lembra “Os Caçadores da Arca Perdida” ou “A Última Cruzada”, longas protagonizados pelo Dr. Henry Jones Jr. Até mesmo a personagem Angélica (Penélope Cruz, que estava grávida durante as filmagens), filha de Barba Negra e que é um antigo amor de Sparrow, parece bastante com a Marion da franquia Indiana Jones, até mesmo porque os dois vivem aquele romance estilo gata-e-rato, cheio de cinismo e sentimentos (mal) disfarçados.



Mas isso não é exatamente um demérito. Afinal, não há estória que já não tenha sido contada, o que importa é a forma de contá-la. E não se pode negar que o diretor Rob Marshall conseguiu sucesso na empreitada. Marshall, conhecido pela direção de musicais como “Chicago”, sofreu com a desconfiança de muitos que viam na saída de Gore Verbinski, diretor dos três primeiros episódios, um risco para a franquia. Só que há um detalhe importante que talvez passasse despercebido por estes “muitos”. “Piratas do Caribe” é uma série cinematográfica produzida por Jerry Bruckheimer e é bom lembrar que ele faz o estilo dos produtores da antiga Hollywood, controlando todas as fases do processo de produção. Um filme produzido por Bruckheimer é eminentemente um filme de Bruckheimer, assim como um filme produzido por David O. Selznick era um filme de Selznick. Assim, quase não se sente a mudança de direção, tendo o longa uma dinâmica muito semelhante às dos dois primeiros episódios.

Estão lá a ação quase constante, o humor rápido e espirituoso, a trilha sonora que acompanha praticamente toda a projeção, a edição bem realizada que dá lhe dá um ótimo ritmo, o roteiro (escrito por Ted Elliot e Terry Rossio) muito bem amarrado, além do bom desempenho do elenco. Neste aspecto, contudo, Depp parece estar menos entusiasmado que nos outros filmes (alguns diriam que está mais contido). Seus passos bêbados parecem não estar tão bêbados assim e suas tiradas cômicas estão mais esparsas (ou será que o próprio personagem, com a perda da “novidade” já não rende mesmo tão boas risadas quanto antes?). A maior parte dos seus bons momentos são aqueles em que contracena com Penélope, cujo sotaque carregado caiu como uma luva dentro do contexto divertido da série.

Por outro lado, a mão de Bruckheimer pode atuar tanto para o bem quanto para o mal. Apegado aos números de bilheteria, ele nunca vai deixar de fazer seus subordinados inserirem elementos de roteiro aptos a agradar ao grande público, como o romance até simpático, mas também previsível e desnecessário entre o missionário religioso Phillip (Sam Claflin) e a sereia Sirena (Astrid Bergès-Frisbey). Além disso, ele aparentemente retirou por completo a liberdade de Marshall. Conhecido por seu uso vibrante de cores, o diretor trabalhou aqui com imagens em boa parte escuras e pouco saturadas, caindo, neste ponto, na vala da mediocridade que domina as produções atuais. E aí vai a pergunta: com cenários tão belos à disposição (o filme foi rodado em boa parte no Havaí e em Porto Rico), pra que reduzir a paleta de cores, deixando de explorar o grande potencial de tais locações? Pergunta sem resposta (ou talvez seja melhor nem procurar a resposta). Todavia, o uso de efeitos especiais alcança níveis de excelência, como na sequência do ataque das sereias (vai se tornar memorável, sem dúvida).

“Piratas do Caribe – Navegando Em Águas Misteriosas” tem tudo para trazer lucros, apesar de seu pomposo orçamento (US$ 200 milhões). Apesar dos pesares relatados acima, ele é divertido e envolvente, resultando em um longa superior ao insosso e aborrecido terceiro episódio. A insistência de Bruckheimer na mesma fórmula, contudo, pode trazer danos significativos à franquia. Acredito até que a Disney deveria dar um tempo e fazer com que o público comece a sentir saudades das aventuras de Jack Sparrow (e também o próprio Depp, que está relutante em assinar para um quito capítulo), sob pena das águas misteriosas em que navega acabarem se transformando em águas turbulentas, dado o inevitável cansaço que os espectadores irão sentir diante do marasmo que pode acabar por engolir a série.

Obs. 1. Há duas participações especiais no longa. Keith Richards faz uma curta sequência como o pai de Jack e Jude Dench aparece em uma cena logo no início da projeção.

Obs. 2. Como é tradicional na franquia, há uma cena pós-créditos.


Cotação:

Nota: 8,0
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