Em time que está ganhando...
Em 2006, Martin Campbell dirigiu Cassino Royale, longa que promoveu uma revolução na franquia mais longeva do cinema. James Bond, o famoso agente 007, agora interpretado por Daniel Craig, uma escolha que a princípio tinha se mostrado estranha (um Bond louro?), adquiria novas características que o tornariam mais adequado ao século XXI. Bond, ao mesmo tempo em que se mostrava mais frio, fechado, duro, também passou a carregar uma aura mais humana e sensível. Apaixonou-se pela espiã Vésper Lynd (interpretada pela belíssima Eva Green) e, de quebra, ainda contou com um novo estilo de narrativa e ação, bastante influenciadas pela franquia “Bourne”, mais realistas e diretas. Empolgante, inteligente, sem deixar de lado o bom humor em momentos muito bem escolhidos, “Cassino Royale” se transformou em um dos melhores filmes de ação dos últimos anos, um clássico instantâneo que com certeza atraiu uma nova geração de fãs para o personagem.
Em 2006, Martin Campbell dirigiu Cassino Royale, longa que promoveu uma revolução na franquia mais longeva do cinema. James Bond, o famoso agente 007, agora interpretado por Daniel Craig, uma escolha que a princípio tinha se mostrado estranha (um Bond louro?), adquiria novas características que o tornariam mais adequado ao século XXI. Bond, ao mesmo tempo em que se mostrava mais frio, fechado, duro, também passou a carregar uma aura mais humana e sensível. Apaixonou-se pela espiã Vésper Lynd (interpretada pela belíssima Eva Green) e, de quebra, ainda contou com um novo estilo de narrativa e ação, bastante influenciadas pela franquia “Bourne”, mais realistas e diretas. Empolgante, inteligente, sem deixar de lado o bom humor em momentos muito bem escolhidos, “Cassino Royale” se transformou em um dos melhores filmes de ação dos últimos anos, um clássico instantâneo que com certeza atraiu uma nova geração de fãs para o personagem.
Sucesso de público e crítica, a idéia de mais um episódio para a série surgiu quase que imediatamente. A premissa era de justamente retomar e até aprofundar os elementos que fizeram o sucesso do anterior. “Quantum Of Solace” (não sei o porquê de manter o título em inglês) é o resultado dessa nova empreitada, mas, embora desenvolva algumas nuances apresentadas na aventura anterior, ele se mostra um tanto abaixo do genial “Cassino Royale”.
O principal elemento desabonador deste episódio é o roteiro (escrito por Paul Haggis, Robert Wade e Neal Purvis). Confuso, traz um excesso de informações e um certo exagero em estabelecer links com o filme antecedente. O número de informações dependentes de um prévio conhecimento por parte do espectador dos acontecimentos pretéritos é tão grande que desaconselho aqueles que não viram “Cassino” a assistirem a este “Quantum”. A trama começa praticamente do fim da anterior, com um Bond sedento de vingança, procurando os responsáveis pela morte de Vésper Lynd. Nesse rumo, acaba esbarrando em uma organização criminosa tão secreta que nem mesmo agências como a M16 e a CIA sabem da sua existência, a tal Quantum do título. Ela tem como seu principal mentor Dominic Green (o sempre ótimo Mathieu Almaric, de “O Escafandro e a Borboleta”), o qual pretende lucrar com catástrofes ambientais geradas artificialmente em países sul-americanos, no caso do filme a Bolívia. Existe ainda uma subtrama política, já que os EUA pretendem apoiar um golpe de Estado em andamento, golpe este que facilitaria os planos de Green (ele receberia uma área desértica na Bolívia). Em paralelo, o agente 007 esbarra com Camille (a bela Olga Kurylenko, a ucraniana mais latina do mundo), uma outra agente em busca também de vingança. A verdade é que o filme se revela curto (apenas 105 minutos, um dos episódios mais curtos da franquia) para o desenvolvimento eficaz de um roteiro cheio de meandros, que muitas vezes lembra os chamados “filmes de máfia”, sempre repletos de nomes e acontecimentos que deixam o espectador confuso, e ainda com o “plus” já mencionado de sempre estarmos fazendo conexões com o longa de 2006 para compreendermos os objetivos de Bond.
Esse desenvolvimento ainda resta mais atropelado pela incompetência do diretor Marc Forster (de “O Caçador de Pipas” e “A Última Ceia”) em filmar cenas de ação. Quase todas as seqüências de ação possuem uma edição muito rápida, além de uma câmera trêmula, o que dificulta a compreensão da platéia, fazendo com que ela não se envolva muito com o que vê na tela. Símbolo disso é a seqüência de abertura pré-créditos, uma da mais fracas da série, sem dúvida, quando Bond destrói logo de cara um Aston Martin ao fim de uma perseguição que não entendemos muito bem. Mesmo a cena da ópera, que poderia render uma seqüência antológica, acaba insatisfatória, mostrando-se também confusa. Mas, ainda falando sobre este aspecto, nem tudo soa medíocre. A passagem da luta nas cordas de sinos é muito boa, bastante inteligente.
Por outro lado, alguns pontos positivos devem ser destacados. Daniel Craig avançou ainda mais na composição de Bond, mostrando uma introspecção ainda maior do agente que o leva inclusive a uma brutalidade e sede de vingança sem precedentes (o rastro de sangue que 007 deixa nesse episódio é algo talvez nunca visto antes). Craig, sem dúvida, já pode disputar o título de melhor agente 007 com Sean Connery, tamanha a sua adequação ao papel, além da renovação que conferiu ao personagem. Da mesma forma Jude Dench está ótima mais uma vez na pele de M, a chefe imediata de 007 no serviço secreto britânico, assim como Mathieu Almaric faz o que pode com o seu limitado vilão (não está entre os mais marcantes da série). Já Olga Kurylenko, mesmo bela, parece sofrer com sua personagem por dois motivos: o primeiro é que ele é fraco, nem de longe lembrando a enigmática Vésper de “Cassino”; o segundo é que Olga era uma modelo, sem muita experiência na interpretação, o que a deixa em patamares bem inferiores ao de Eva Green, uma atriz que está bem longe de ser apenas um rosto lindo (e bota lindo nisso!). Outro aspecto positivo é o tom crítico e antenado com a geopolítica atual, mostrando os interesses espúrios de grandes corporações (as grandes vilãs do cinema atual) e de governos de países ricos (mormente os EUA da era Bush, que finalmente acabou, graças ao bom Deus!).
Alguns fãs ainda irão se queixar da ausência da famosa frase “meu nome é Bond, James Bond”, uma das marcas registradas da série ao longo de décadas. Mas não poderão reclamar da seqüência de créditos. Todos que acompanham a franquia sabem que os créditos sempre foram mostrados de forma esmerada e este novo longa não fica atrás. A canção “Another Way To Die”, composta e interpretada por Jack White e Alicia Keys, é ótima e a volta das silhuetas femininas nas imagens é muito bem-vinda.
Saldo final: o novo Bond ainda consegue entreter o espectador, tem seus bons momentos, mas ficou um pouco distante do brilhantismo de “Cassino Royale”. O que não dá para entender é porque o realizadores optaram por Marc Forster para a direção. Sabe aquela história de “em time que está ganhando não se mexe?”. Pois é, desejo que na próxima oportunidade eles lembrem de trazer Martin Campbell de volta para o cargo de “técnico”. Ah, e pra que colocar a famosa cena do tiro em direção à câmera (marca registrada da série) apenas no fim da exibição e não no início? Essa coisa de querer ser diferente só por ser diferente é atitude de adolescente chato...
Cotação: *** (três estrelas)
Nota: 7,0
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