domingo, 21 de julho de 2013

O Homem de Aço

5 motivos para não gostar de “O Homem de Aço”


ALERTA: o  texto a seguir está cheio de spoilers. Portanto,  é melhor acompanhá-lo apenas se você já tiver assistido ao filme.


Este foi um dos filmes mais aguardados do ano e as grandes expectativas quase sempre geram decepções. Infelizmente, não consegui fugir a tal regra e saí do cinema frustrado após assistir a “O Homem de Aço” em uma sessão 3D (dispensável) completamente lotada. A pergunta que não calava na minha mente era justamente: “mas, afinal, onde está o Superman?”. Sim, porque, convenhamos, aquele personagem na tela tinha algumas semelhanças com o Kal-El que conheci nos quadrinhos e na franquia cinematográfica protagonizada por Christopher Reeve, mas não era ele. A seguir, em tópicos, vou discorrer sobre os motivos que me levaram a rejeitar essa nova adaptação, esse reboot tão desnecessário quanto o foi, ano passado, o reinício da franquia do Homem-Aranha.

1) O roteiro – A impressão que tive foi a de que os roteiristas David S. Goyer e Christopher Nolan, os mesmos da recente trilogia “O Cavaleiro das Trevas”, estavam de ressaca depois do seu trabalho com o homem morcego e as ideias acabaram não fluindo da forma esperada, pois o enredo de “Man Of Steel” é repleto de atropelos e incongruências. Há muitas circunstâncias mal explicadas, como o fato dos kryptonianos não mais se reproduzirem naturalmente (será que alguma saga recente dos quadrinhos criou essa ideia estapafúrdia?) ou a ida de Lois à Fortaleza da Solidão, assim, digamos, meio que por acaso, logo após ver Kal-El caminhando (hein?) no Ártico em busca de suas origens. De quebra, o roteiro ainda transformou o Superman em um assassino ao matar o General Zod. A desculpa de Zack Snyder, diretor do longa, é a de que “a inocência acabou”. Pois bem, Sr. Snyder, eu acredito que justamente no mundo de hoje estamos precisando de mais pureza, inocência, inspiração e o personagem do Super-Homem era justamente o mais eficaz em mostrar aos garotos uma inigualável retidão de caráter. E aqui, entramos no segundo problema.


2) A direção – Zack Snyder é o diretor, mas não se pode negar que “O Homem de Aço” possui a mão forte de Christopher Nolan no processo criativo. Com dito anteriormente, recém egresso da franquia de Batman, ele aparentemente confundiu os personagens, querendo atribuir à narrativa um tom sombrio que destoa do Superman. Podem me acusar de “purista” ou “saudosista”, mas sempre defendi que uma adaptação de HQ é bem-sucedida quando consegue captar a essência do personagem. É o que sucedeu com a referida trilogia do Cavaleiro das Trevas e também com a trilogia do Homem-Aranha comandada por Sam Raimi. O que ocorre em “O Homem de Aço” é justamente o oposto. Super-Homem transforma-se em uma pessoa cheia de complexos, sem autoconfiança sentindo-se um rejeitado-deslocado-excluído devido à sua condição de alienígena. Algo semelhante ao sentimento dos mutantes dos X-Men, mas o filme não é sobre Wolverine (o filme dele é outro). Ressalte-se que os humanos sentem mais medo do super-herói do que admiração. Aliás, o fato de Kal-El ser um alienígena já é conhecido por todos, assim, logo de cara, inclusive por Lois Lane. Sim, não existe nenhum mistério e riqueza no relacionamento entre os dois. Ela já sabe que Clark é Superman, sem rodeios. O romance resta mal desenvolvido e, em compensação, no último terço de projeção, temos meia hora de pancadaria desenfreada que chega a ser cansativa. Metrópolis é devastada praticamente inteira, sem dó nem piedade, umas três vezes. Ah, e tudo isso com uma fotografia que prima pelos tons escuros, como se a qualquer momento Clark Kent fosse entrar na Batcaverna.

3) O ator – Em geral, o elenco não compromete. Amy Adams convence como a repórter Lois Lane, conferindo-lhe aquele ar arrogante-petulante característico da personagem. O veterano Kevin Costner também se sai bem como Jonathan, o pai terráqueo de Clark, exalando aquela aura de sabedoria a que nos acostumamos ver tanto nas HQs quanto no cinema. Até Russel Crowe, que vivia péssima fase, convence como Jor-EL, o pai kryptoniano do herói. Entretanto, é justamente na peça central que mora o problema. Henry Cavill, ator britânico egresso da TV (participou da série “The Tudors”), realmente é um homem bonito, lembrando o ícone Christopher Reeve, tem porte atlético e jeitão de Superman. Contudo, como ator, não convence ninguém. Está sempre com o semblante fechado e, nos poucos momentos sorridentes, eles aparecem forçados, como em um comercial de pasta de dente. Assim, a empatia com o espectador resta diminuída, algo que prejudica demais em um filme de super-herói. Mas, vá lá, ele é melhor do que o completamente inexperessivo Brandon Routh, intérprete (?) do filme de Bryan Singer.


4) A pretensão – Tudo bem, uma das conotações mais notórias do Super-Homem é a sua similaridade com Jesus Cristo. Afinal, ele foi “enviado” para a Terra, onde deveria trazer esperança para a humanidade; foi criado por pais terrenos; usa um manto vermelho nas costas; é moralmente irrepreensível e por aí vai. Contudo, “O Homem de Aço” leva essa conotação messiânica ao extremo, chegando ao ponto de, em determinada cena, o herói abrir os braços como se estivesse para ser crucificado. É como se, de repente, estivéssemos estranhamente a assistir um filme religioso. Tal subtexto sempre vai existir nas histórias do Superman, mas não precisa exagerar tanto assim. Esses excessos só contribuíram para deixar o longa com uma jeitão pretensioso totalmente dispensável.

5) A trilha sonora – Esse é o pior trabalho de Hans Zimmer em muito tempo. Uma trilha sonora invasiva, constante e permanentemente tensa. Dá até a impressão de que foi concebida para um filme de suspense. Entretanto, ao contrário de causar tensão nos momentos certos, torna-se cansativa e é totalmente esquecível. Quando lembramos da trilha épica e icônica que John Williams concebeu para o filme de 1978... Bom, aí a comparação vira covardia.

“O Homem de Aço”, apesar de todos esses poréns, não chega a ser um desastre. É perfeitamente assistível (tem ótimos efeitos especiais, claro), desde que esqueçamos que se trata de um filme sobre o Superman e imaginemos que aborda um outro herói qualquer. Ademais, ser “assistível” é algo muito abaixo do que se esperava da produção e o que percebo, diante da grande bilheteria que o longa vem obtendo, é que o seu marketing foi muito bem realizado (e os preços da salas 3D também ajudam né?). Esperemos que a continuação (já confirmada pela Warner) traga progressos na construção do roteiro e, principalmente, não esqueça que Super-Homem e Batman são personagens diferentes. Como frisado acima, não há nada pior para uma adaptação do que fugir à essência do personagem transposto para a tela. E, lamentavelmente, foi o que aconteceu.


Cotação:



Nota: 6,5
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5 comentários:

renatocinema disse...

Gostei da sua análise, apesar de achar que não concordo em tudo.

A minha sorte ou azar foi ter odiado o trabalho de Bryan Singer.

abs

Marcia Moreira disse...

Concordo que os efeitos especiais são arrasadores. Mas percebe-se a comparação com Jesus Cristo (acho isso imperdoável!) a começar pela idade: 33 anos. Também achei esse melhor que o anterior, do Bryan Singer.

Alan Raspante disse...

Ah! Não li por conta dos spoilers, mas vou ver o filme ainda nesta semana e retorno pra saber se concordo contigo, maaaaas... Eu estou (ou estava) esperando por um baita filme!

Unknown disse...

Ótima analise, Fábio. O filme tem umas pretensões tolas, além de desvirtuar o personagem, como você cita no item 1. E isso é totalmente inadmissível. Parece que no próximo filme ele estará junto com o Batman... Veremos no que vai dar.

Abração!

Jefferson C. Vendrame disse...

Não vi o filme e confesso que nem tenho interesse de ver, uma vez que já me cansei de ir ao cinema ver essas "novas versões" e sair das salas frustado e querendo meu rico dinheirinho de volta, como aconteceu com o último e ridículo O "ESPETACULAR" HOMEM ARANHA e THE EVIL DEAD.
Hollywood a muito, já não é mais a mesma, no entanto, não faz muito tempo desde que começou a "estragar" os cults que já estavam prontos e consagrados com remakes tolos e desnecessários.

Abração Fábio!