terça-feira, 16 de abril de 2013

Oblivion

A continuação de “Guerra dos Mundos”


Na atual crise de criatividade do cinema norte-americano, é um alívio assistir a um filme pipoca que não seja sequência ou remake de outro. Tudo bem, “Oblivion” é baseado em uma HQ, mas não é uma daquelas publicadas pela Marvel Comics, com seus super-heróis que, em boa medida, já estão cansando na tela (ou alguém está realmente empolgado com a breve estreia de “Homem de Ferro 3”?). A graphic novell adaptada é de autoria do próprio diretor do longa, Joseph Kosinski (que escreveu a HQ ao lado de Arvid Nelson) e, talvez por essa circunstância, a trama é salpicada de referências cinematográficas a outros longas de ficção científica, algo que, como demonstra a carreira do genial Quentin Tarantino, pode trazer ótimos resultados.

Vamos admitir: Kosinski não atinge o nível de excelência tarantinesco na sua mistura de referências, mas é prazeroso assistir a um filme que relembre aquele que telavez seja o melhor curta-metragem de todos os tempos, “La Jetée”, dirigido por Chris Marker em 1962. A sequência inicial de “Oblivion” remete a esse último e a lembrança de “La Jetée” me atingiu de tal forma que me distraiu um pouco das cenas subsequentes. Mas nada que viesse a comprometer o entendimento da trama, na realidade mais uma ficção pós-apocalíptica, só que desta vez os responsáveis pela destruição do planeta Terra foram os alienígenas. Afinal, vale lembrar que o mercado estadunidense pós-crise econômica está em baixa e Hollywood depende cada vez mais do mercado internacional para fechar suas contas. Portanto, não pega bem inventar guerras nucleares com altranos e sicranos (leia-se, russos, árabes e afins) que levariam a uma hecatombe. Nesse quadro, melhor atribuir o “fim do mundo” a perigosos micro-organismos (como no caso de “Eu Sou a Lenda”, de Francis Lawrence) ou a extraterrestres, muito embora, neste último caso, os alienígenas não deixem de representar a eterna xenofobia ianque.


Na trama, narrada em primeira pessoa e protagonizada por Tom Cruise (que está cada vez mais assumindo um perfil de astro de filmes de ação), Jack Harper é um dos poucos humanos sobreviventes após a guerra dos mundos que tornou boa parte da Terra inabitável, o que me leva a imaginar que “Oblivion” poderia ser uma continuação do “Guerra dos Mundos” de Steven Spielberg (até o ator é o mesmo). Enquanto a maior parte da humanidade não vive mais no planeta, residindo no espaço e na lua de Saturno chamada Titan, Harper e sua companheira Victoria (Andrea Riseborough) permanecem na Terra exercendo uma função de vigilância, evitando que os “saqueadores” - aliens ainda resistentes em solo terrestre - destruam os drones (robôs patrulheiros). Além disso, passa as horas vagas resgatando as “relíquias” de um passado glorioso da humanidade, como discos, bonecos e livros (remetendo bastante a “Wall-E”, famosa animação da Pixar vencedora do Oscar). As coisas começam a mudar quando a humana Julia (Olga Kurylenko) é encontrada por Harper em uma cápsula criogênica após a queda de uma nave na região que controla. Ela lhe desperta vagas memórias, de um passado que não sabe exatamente se viveu, e acabará por lhe trazer revelações e descobertas acerca de sua própria existência.

Eu não assisti a “Tron – O Legado” (Tron – Legacy, 2010), trabalho anterior de Kosinski, mas, a partir da experiência com “Oblivion”, percebe-se que ele sabe manter o ritmo da ação sem que haja pressa no desenrolar dos fatos e apresentação dos personagens. Fazer um filme de ação não significa que seu enredo tenha de ser mal contado e Kosinski demonstra entender muito bem tal aspecto, mesmo que sua mise-en-scène seja tradicional, não apresentando nem mesmo ângulos diferenciados. A trama resta bem contada e isso se torna um elogio ainda maior diante de algumas “reviravoltas” que ela apresenta em sua segunda metade. Pena termos que colocar a palavra “reviravoltas” entre aspas, já que várias delas são até esperadas. Os problemas do longa são justamente esses artifícios do roteiro, previsíveis em vários aspectos. Ademais, as citadas referências vão se tornando cada vez mais óbvias, chegando a tornar incômodas. É o que sucede no seu desfecho, quando “2001 – Uma Odisseia no Espaço” (2001 – A Space Odissey, 1968) é referenciado de forma tão ostensiva que chega a se tornar constrangedor (não vou contar como para não escrever um “spoiler” gigante). Outro problema é que a mencionada narração em primeira pessoa se perde ao longo da projeção, sendo quase que esquecida no seu último terço.


Entre as atuações, as mulheres, mesmo em minoria, mostram-se mais interessantes e comprometidas do que a ala masculina do elenco. Tanto Andrea Riseborough, intérprete de Victoria, quanto Olga Kurylenko, que encarna Julia, apresentam boas atuações. Já o superastro Tom Cruise não faz nada de significativamente diferente dos seus últimos papeis. Talvez esteja aqui um pouco mais “sério” do que de costume, com menos aparições do seu tradicional sorriso “colgate”, mas, de toda forma, seria estranho se um personagem de um mundo devastado ficasse abrindo sorrisos por qualquer coisa. Outro nome do primeiro escalão, Morgan Freeman, atua em piloto automático, tornando-se um coadjuvante de luxo.

O longa conta, ainda, com uma bela direção de arte (algo natural vindo de cineasta que é arquiteto por formação), fator que contribui bastante para a imersão do público, além de uma trilha sonora pop repleta de clássicos do Rock (de Led Zepellin a Procol Harum) Entretanto, não espere de “Oblivion” mais do que ele pode dar. Trata-se tão somente de uma boa diversão. Com neurônios, é importante frisar, mas nada mais do que isso. Para usar a comparação com o referido filme de Stanley Kubrick, “Oblivion” não irá gerar décadas de debates, estudos e discussões a respeito de suas verdadeiras pretensões e interpretações. A não ser no que se refere ao título. Terminada a projeção, eu não entendi por que a película leva esse nome. Será que minha surpresa com as referências a “La Jetée” me distraíram o suficiente para passar batido nesse detalhe?


Cotação:



Nota: 8,0

Em tempo: consultando o tradutor do Google acabei descobrindo que "oblivion" é um termo em inglês que significa "esquecimento" (não conhecia a palavra), o que possui, sim, relação com a trama. Ok. Então o erro foi da distribuidora no Brasil que decidiu permanecer com o título original, o que pode deixar nosso público voando.

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Aviso: O "Cinema Com Pimenta" estará em recesso por cerca de 10 dias, pois este blogueiro curtirá um merecido descanso em uma das praias do litoral aqui do Rio Grande do Norte. Um abraço a todos e até a volta!
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2 comentários:

Unknown disse...

De fato, Oblivion é um blickbuster acima da média. Tem suas irregularidades, mas os pontos positivos se sobressaem e proporcionam um bom divertimento.

renatocinema disse...

Sobre seu comentário no meu site......faço o mesmo. Mantenho dvd virgem gravo mil filmes se for necessário......mas, emprestar? JAMAIS.

Raro filme de Tom Cruise que tenho interesse em ver.

A ideia da trama me agrada.

abs