quarta-feira, 20 de março de 2013

A Busca

Estrada com buracos


Há poucos dias, o amigo Celo Silva, do excelente blog “Espectador Voraz”, havia alertado em sua critica que o filme “A Busca” não era lá grande coisa. A opinião dele havia diminuído bastante minhas expectativas com relação a este longa-metragem estrelado por Wagner Moura, provavelmente o grande ator brasileiro em atividade, além de carregar, na produção, o nome de Fernando Meirelles, cineasta que sempre desperta atenção no meio cinéfilo em qualquer projeto que se envolva. Contudo, lendo outras resenhas, observei que as percepções sobre o filme eram conflitantes, o que me levou a conferi-lo na sala escura para tirar as minhas próprias conclusões, as quais passo a expor a seguir.

O “road movie” parece ser um subgênero cinematográfico caro aos cineastas nacionais. Walter Salles meio que já virou um especialista na estrutura clássica de tais películas, as quais geralmente focam em personagens que empreendem uma viagem que se transforma em um processo de autoconhecimento. Com resultados melhores (como “Central do Brasil” e “Diários de Motocicleta”) ou piores (o recente e tedioso “Na Estrada”), essa já se tonou uma de suas marcas registradas. Agora, vemos o estreante na direção Luciano Moura iniciar sua filmografia também com um filme de estrada, o qual, infelizmente, está longe de fugir do lugar-comum do subgênero. O próprio título, se olhado com cuidado, já deixa entrever que a tal “busca” irá redundar em uma procura por si mesmo, uma jornada de autodescoberta que levará o protagonista a enxergar sua vida por outro prisma. E é justamente esta série de lugares comuns, meio que inseridos a fórceps durante a narrativa, o que mais incomoda nessa produção que tinha tudo para dar certo, mas resultou em uma experiência no máximo mediana.


A trama narra a história de um casal recém-separado, Theo e Branca (Wagner Moura e Mariana Lima), cujo filho adolescente, Pedro (o estreante Brás Antunes, filho do músico Arnaldo Antunes) foge de casa depois de uma discussão barra pesada com o pai. Desesperado para encontrar o garoto, Theo empreende então uma viagem para Salvador ou Espírito Santo (os dois prováveis destinos do filho) que o levará a questionar sua própria história familiar e a maneira como está conduzindo sua vida. Como é de se esperar em um road movie, no caminho encontrará os mais diversos tipos e é justamente neste ponto que Luciano Moura começa a cometer erros relevantes. Vários dos personagens apresentados soam inverossímeis em um roteiro que cria situações à base de artificialismos. Chega-se a imaginar uma comunidade onde (pasmem!) só há apenas um telefone celular. E não, não é alguma comunidade indígena no meio da floresta amazônica. Na mesma linha, o encontro com o morador de uma casa flutuante, que ajudará Theo a atravessar um rio com seu carro, soa muito non sense para um filme que tem como foco um pesado drama familiar.

Outro problema que se apresenta é algo comum ao subgênero dos filmes de estrada, normalmente centrados em apenas um personagem ao redor do qual orbitam os variados tipos que surgem no decorrer da trajetória. É bom que se diga que tais narrativas de viajantes remontam à Idade Antiga, com a “Odisseia” de Homero. Em uma análise abrangente, os protagonistas de películas estradeiras seriam simulacros de Ulisses e, para que uma obra cinematográfica com tal premissa tenha êxito, essencial se faz que seu intérprete principal dê conta do recado. No caso, é óbvio que Wagner Moura tem perfeitas condições para assumir a tarefa. Ele é hoje, possivelmente, o único ator brasileiro capaz de arrastar público para as salas de cinema. Entretanto, infelizmente, Wagner não tem aqui um grande momento interpretativo. Há passagens em que ele perde a mão com o personagem, atribuindo-lhe reações que destoam de um pai à procura de um filho desaparecido. Quando nos lembramos do astro em filmes como “Tropa de Elite” ou mesmo “O Homem do Futuro” é que sua presença em “A Busca” se torna ainda mais pálida.


Contudo, justamente pelo fato de abordar um drama familiar, a trama ainda consegue manter o interesse do espectador. Mesmo que em alguns momentos ela se mostre previsível, há muita verdade na tela e Theo é mesmo um personagem de muita tridimensionalidade. Acredito que muitas pessoas irão se identificar com o protagonista em diferentes medidas e imagino que seja exatamente por tal identificação que o longa esteja despertando diferentes opiniões tanto entre a crítica quanto no público. Ademais, se há uma virtude no roteiro é a de não ser apressado, tornando a iminência do encontro final algo a ser desejado pela plateia.

Apesar de algumas virtudes, “A Busca” se mostra tão oscilante que se torna difícil atribuir-lhe o adjetivo de “recomendável”. Para usar uma metáfora sem vergonha, parece uma estrada com vários buracos que tornam o tráfego complicado. Sua apreciação está excessivamente ligada às experiências individuais de cada um. Claro que toda apreciação artística está e sempre estará vinculada às nossas distintas vivências, mas uma obra se torna problemática quando depende unicamente das experiências do espectador para se tornar relevante ou se fazer entender. Percebe-se que Luciano Moura tem potencial e que pode vir a ser um bom cineasta, algo que ainda não é. Por enquanto, só posso recomendar mesmo que, caso você também queira tirar a prova dos nove e vá pegar uma sessão na sala mais próxima, não deixe de conferir os ótimos créditos finais sublinhados por uma bela canção de Arnaldo Antunes.


Cotação:



Nota: 6,5
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3 comentários:

Unknown disse...

Amigo, obrigado por citar meu blog, fico lisonjeado, de coração. Então, A Busca é realmente um filme problemático, poderia ser bem melhor. Seu ótimo texto, com destaque para o último paragrafo deixam bem claro as irregularidades. Certamente vai ter gente gostando bastante, como já vi, mas fica tudo subjetivo demais.

Grande Abraço!!!

Marcelo Keiser disse...

Particularmente fiquei intrigado com o trailer exibido no canal aberto da Globo. Achei tecnicamente bem realizado, e o cartaz, expressivo sem fazer revelações. Contudo, não seria o primeiro filme do mundo em que o trailer se demonstra melhor do que o próprio filme. Agora só me resta ver para crer.
Sobre seu blog, só me resta dar parabéns. Está ótimo! Já passei outras vezes por aqui, mas me desculpe, não me prestei ao trabalho de colaborar comentando. Mais uma vez, parabéns!

abraço

marcelokeiser.blogspot.com.br

Alan Raspante disse...

Até estou curioso, mas, de fato, muita gente vem falando sobre o quanto "o filme poderia ser melhor". Enfim, já vou sabendo o que me aguarda!