domingo, 26 de junho de 2011

Restaurando a Película



Meus Vizinhos São Um Terror
(The 'Burbs)


Do tempo em que Tom Hanks fazia rir


Quem é cinéfilo deve se lembrar do início da carreira de Tom Hanks. Antes de ser uma astro do primeiro escalão de Hollywood, ele atuava em comédias de orçamento mediano. Ficou famosa sua parceria com Meg Ryan em “Sintonia de Amor” (Sleepless In Seatle), uma das melhores comédias românticas a que já tive oportunidade de assistir. Sua identificação com a comédia era tão forte que, quando ele foi indicado para o Oscar de melhor ator por um drama pesado, “Fildélfia”, encarei a notícia com profunda estranheza na época. “Aquele ator de 'Meus Vizinhos São Um Terror' vai levar um Oscar?! Nossa!”... Você não conhece “Meus Vizinhos São Um Terror”? Trata-se de uma comédia-suspense protagonizada por Hanks em 1989. Passou repetidas vezes na “Sessão da Tarde” e eu o considerava um barato. Ri muitas vezes com aquela trama curiosa dos vizinhos que, desde a mudança de novos moradores para uma casa mal cuidada do bairro, passam a bisbilhotar a vida destes. E, vendo hoje, com um olhar mais adulto e crítico, percebi que o filme resistiu muito bem ao tempo e pude verificar, ademais, as fortes referências ao mestre Alfred Hitchcock que possui tanto no roteiro quanto nos aspectos técnicos.

A começar pelo protagonista. Interpretado por Tom Hanks, Ray Peterson está de férias, sem dinheiro para viajar e cansado de ir à sua casa de campo em uma localidade próxima. Logo, passa os dias bisbilhotando a vida dos vizinhos (é bom lembrar que na época não havia internet) e, especialmente, começa a perceber que os novos moradores da casa ao lado, os Koplek, são estranhos além da conta. Passam os dias trancados em casa e cavam buracos no quintal durante a noite. Ajudado por seus vizinhos, e depois do sumiço de um deles, Ray resolve investigar o comportamento dos estranhos e descobrir se eles estão envolvidos com o desaparecimento. Como se percebe; a relaação com o personagem L. B. Jeffries de James Stewart em “Janela Indiscreta” é, desta forma, óbvia. Mas a recauchutagem promovida pelo diretor Joe Dante (seu trabalho mais famoso é “Gremlins”) é que torna a experiência divertida. Ele eleva o suspense, tanto por meio de recursos como closes e slowmotion ou levando a trilha sonora ao último volume, ao nível da caricatura, arrancando inevitavelmente o riso do espectador. Dante soube, ademais, utilizar muito bem o potencial imagético da trama. Claro que não chega à maestria de Hitchcock, mas o diretor mostra competência na utilização da câmera. Ademais, os tais Koplek também são caricaturados, o que acentua ainda mais o tom cômico daquilo que primordialmente deveria ser um suspense. Muito embora o roteiro (escrito por Dana Olsen, que participa em cena como um policial) tenha lá suas falhas, ele se desenvolve a contento e mantendo sempre o interesse do público no seu desenrolar.


Por outro lado, os personagens também são bem caracterizados e não deixa de ser um barato observar seus intérpretes com o olhar de hoje. Estão lá, além de Hanks, Carrie Fisher, a eterna pincesa Leia da saga Star Wars (não deu para fugir do chavão), como a esposa de Ray, além de Corey Feldman, ator adolescente quase que onipresente nas produções voltadas para o público mais jovem nos anos 80. Fazendo um garoto que passa os dias observando o movimento do bairro, chamando seus amigos para acompanhar aquilo que afirma ser “melhor do que cinema”, ele é sempre uma presença carismática, assim como Bruce Dern fazendo o caricato militar Rumsfield.

O longa, vale dizer, também pode ser visto como uma obervação e comentário sobre a vida nos subúrbios estadunidenses, então ocupados por uma classe média conservadora que via na estranheza um motivo de preocupação (não é à toa que seu título original poderia ser traduzido como “Os Suburbanos). Neste ponto, todavia, talvez o filme tivesse mais sucesso em sua crítica caso o desfecho tomasse um outro rumo do que foi realizado. De qualquer forma, se você pretende apenas ver uma comédia sem maiores consequências, esta é uma boa pedida. O citado “Gremlins”, ademais, é mais feliz e marcante em seu humor negro para o grande público. Mas, mesmo não sendo nada que vai mudar sua vida, “Meus Vizinhos São Um Terror” é um filme que lhe traz um ótimo entretenimento ao longo de 101 minutos de projeção, merecendo ser resgatado do esquecimento e figurar entre as boas lembranças do cinema oitentista. Ah, e também é bom ver Tom Hanks em um tempo em que ele tinha vontade de atuar...


Cotação:

Nota: 7,5
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2 comentários:

Rafael W. disse...

Acho bem mediano.

http://cinelupinha.blogspot.com/

Fábio Henrique Carmo disse...

Rafael, realmente não é um grande filme, mas ele sempre me trouxe boas risadas. Despretensioso, faz parte da minha memória afetiva da "Sessão da Tarde".