O gênio Pablo Picasso é autor de uma frase célebre, afirmando que o grande objetivo de sua vida era o de “pintar como uma criança”. Ao assistir ao terceiro episódio da série “Toy Story” chego à conclusão que este deve ser o lema da Pixar Animation Studios, substituindo apenas o “pintar” por “filmar”. É impressionante como a equipe comandada por John Lasseter parece ter uma criatividade infinita, somente comparável à dos pequenos. E também é de cair o queixo a capacidade da Pixar em gerar emoções em uma película somente comparáveis àquelas que sentimos na “aurora da vida”.
Toda a estrutura de “Toy Story 3” lembra a de uma grande brincadeira. É como se a trama, de fato, tivesse sido elaborada por uma criança ao brincar com seus bonecos. A sequência inicial, a qual mostra uma fantasia do menino Andy com seus antigos brinquedos (os nossos velhos conhecidos Woody, o cowboy, e Buzz Lightyear, o astronauta) entre outros, é uma perfeita síntese do que será todo o filme. Ao mesmo tempo, o longa toca num tema muito caro para todos nós: o fim da infância, a chegada da idade adulta e a necessidade de crescer, por mais dolorido que seja esse processo. No roteiro, escrito por Michael Arndt (o mesmo de “Pequena Miss Sunshine”, outro filme ótimo), vemos que Andy já é uma rapaz de 17 anos, prestes a entrar na faculdade e que, por intimação de sua mãe, precisa dar um destino aos antigos brinquedos que enfeitam seu quarto. Há 3 opções: o lixo, o sótão ou doá-los para uma creche. Devido a alguns equívocos, a velha turma acaba na creche Sunnyside, ficando na ala das crianças menores, na faixa de 2 a 4 anos, que possuem aquela peculiar forma de brincar: despedaçando e babando os brinquedos. Quem pode salvá-los é Woody, o único que escapou desse trágico destino, mas que jamais abandonará seus amigos à própria sorte.
A verdade é que a narrativa se desenvolve da mesma maneira redonda a que a Pixar nos acostumou. E, na minha apreciação, talvez este seja o episódio em que o humor está mais afiado e bem encaixado. Nenhuma tirada soa gratuita ou deslocada e as referências ao próprio cinema, tão comuns nos longas do estúdio, além de menos óbvias, jamais se apresentam forçadas. É bom ressaltar que todos os longas da Pixar possuem diversos clichês. Mas também é importante dizer que sempre esses clichês aparecem reformulados. Afinal, todas as estórias já foram contadas. O que vai torná-las especiais é a forma de contá-las. E, neste aspecto, a Pixar parece se superar a cada novo longa de animação que estreia nos cinemas.
Este, inclusive, é o primeiro episódio da série em 3D. Mas vou logo alertando: vi em 2D, pois creio que a tecnologia 3D nada tem a acrescentar aos filmes, a não ser distração. E devo, assim, dizer que este novo “Toy Story” me tocou e impressionou muito mais do que outros longas a que assisti usando aqueles óculos desconfortáveis (inclua-se nessa lista o tão badalado “Avatar”). O que importa, primordialmente, é a trama que lhe envolve, as técnicas de direção usadas para potencializar a narrativa, a identificação que o filme pode alcançar com o espectador. E, pelo menos no cinema contemporâneo, não há qualquer outra equipe que atinja tanto sucesso nestes aspectos, de forma tão reiterada, quanto aquela comandada por Lasseter. Não importa se você assistirá ao longa em 2D ou 3D. Pode ter certeza que você se emocionará da mesma forma.
Falando em direção, Lee Unkrich não brinca em serviço. Ele mostra uma enorme competência, comandando uma trupe que constroi a trilha adequada, as tomadas engenhosas , a inserção de subtramas que tornam ainda mais dinâmica a narrativa.
Bem, diante de tantas trilogias por aí, devo dizer que esta possui em seu terceiro episódio o melhor de todos. E talvez isto seja inédito na história do cinema. Basta lembramos que mesmo a trilogia “O Poderoso Chefão” possui na terceira e última parte o seu elo mais fraco. Pois bem, a Pixar quebra este paradigma (quebrar paradigmas parece ser sua especialidade) e nos presenteia com um belíssimo filme capaz de fazer escorrer a lágrima no mais duro dos corações. E o mais interessante de tudo é que tais lágrimas provavelmente rolarão com maior abundância no rosto dos crescidos e não dos pequenos.
Ao final, deixando a sala de projeção, saímos com o forte desejo de que as mentes que fazem a Pixar continuem assim: sempre buscando filmar como crianças...
Cotação:
Nota: 10,0
Obs. Chegue cedo para conferir o curta “Dia e Noite”. Vale à pena!
Obs. 2. Mesmo que você não tenha conferido os outros dois episódios, poderá assistir a este terceiro sem o menor problema.
Toda a estrutura de “Toy Story 3” lembra a de uma grande brincadeira. É como se a trama, de fato, tivesse sido elaborada por uma criança ao brincar com seus bonecos. A sequência inicial, a qual mostra uma fantasia do menino Andy com seus antigos brinquedos (os nossos velhos conhecidos Woody, o cowboy, e Buzz Lightyear, o astronauta) entre outros, é uma perfeita síntese do que será todo o filme. Ao mesmo tempo, o longa toca num tema muito caro para todos nós: o fim da infância, a chegada da idade adulta e a necessidade de crescer, por mais dolorido que seja esse processo. No roteiro, escrito por Michael Arndt (o mesmo de “Pequena Miss Sunshine”, outro filme ótimo), vemos que Andy já é uma rapaz de 17 anos, prestes a entrar na faculdade e que, por intimação de sua mãe, precisa dar um destino aos antigos brinquedos que enfeitam seu quarto. Há 3 opções: o lixo, o sótão ou doá-los para uma creche. Devido a alguns equívocos, a velha turma acaba na creche Sunnyside, ficando na ala das crianças menores, na faixa de 2 a 4 anos, que possuem aquela peculiar forma de brincar: despedaçando e babando os brinquedos. Quem pode salvá-los é Woody, o único que escapou desse trágico destino, mas que jamais abandonará seus amigos à própria sorte.
A verdade é que a narrativa se desenvolve da mesma maneira redonda a que a Pixar nos acostumou. E, na minha apreciação, talvez este seja o episódio em que o humor está mais afiado e bem encaixado. Nenhuma tirada soa gratuita ou deslocada e as referências ao próprio cinema, tão comuns nos longas do estúdio, além de menos óbvias, jamais se apresentam forçadas. É bom ressaltar que todos os longas da Pixar possuem diversos clichês. Mas também é importante dizer que sempre esses clichês aparecem reformulados. Afinal, todas as estórias já foram contadas. O que vai torná-las especiais é a forma de contá-las. E, neste aspecto, a Pixar parece se superar a cada novo longa de animação que estreia nos cinemas.
Este, inclusive, é o primeiro episódio da série em 3D. Mas vou logo alertando: vi em 2D, pois creio que a tecnologia 3D nada tem a acrescentar aos filmes, a não ser distração. E devo, assim, dizer que este novo “Toy Story” me tocou e impressionou muito mais do que outros longas a que assisti usando aqueles óculos desconfortáveis (inclua-se nessa lista o tão badalado “Avatar”). O que importa, primordialmente, é a trama que lhe envolve, as técnicas de direção usadas para potencializar a narrativa, a identificação que o filme pode alcançar com o espectador. E, pelo menos no cinema contemporâneo, não há qualquer outra equipe que atinja tanto sucesso nestes aspectos, de forma tão reiterada, quanto aquela comandada por Lasseter. Não importa se você assistirá ao longa em 2D ou 3D. Pode ter certeza que você se emocionará da mesma forma.
Falando em direção, Lee Unkrich não brinca em serviço. Ele mostra uma enorme competência, comandando uma trupe que constroi a trilha adequada, as tomadas engenhosas , a inserção de subtramas que tornam ainda mais dinâmica a narrativa.
Bem, diante de tantas trilogias por aí, devo dizer que esta possui em seu terceiro episódio o melhor de todos. E talvez isto seja inédito na história do cinema. Basta lembramos que mesmo a trilogia “O Poderoso Chefão” possui na terceira e última parte o seu elo mais fraco. Pois bem, a Pixar quebra este paradigma (quebrar paradigmas parece ser sua especialidade) e nos presenteia com um belíssimo filme capaz de fazer escorrer a lágrima no mais duro dos corações. E o mais interessante de tudo é que tais lágrimas provavelmente rolarão com maior abundância no rosto dos crescidos e não dos pequenos.
Ao final, deixando a sala de projeção, saímos com o forte desejo de que as mentes que fazem a Pixar continuem assim: sempre buscando filmar como crianças...
Cotação:
Nota: 10,0
Obs. Chegue cedo para conferir o curta “Dia e Noite”. Vale à pena!
Obs. 2. Mesmo que você não tenha conferido os outros dois episódios, poderá assistir a este terceiro sem o menor problema.
3 comentários:
Acabo de assistir ao filme e concordo com você. É muito bom. A gente se reconhece no filme, é isso que faz com que ele nos emocione.
SIMPLESMENTE ÚNICO!
Saí emocionado e contagiado pelo ritmo, roteiro e produção do filme - como pôde ser tão perfeitinho? sim, Toy Story 3 consegue ser mais criativo e mais humano que os dois primeiros, sem dúvida coloca no chinelo as chatices repetitivas de Shrek e é mais digno, prazeroso e mais legal que outras animações por aí.
Achei muito bom mesmo a maneira como coloca a questão dos brinquedos - buscam, mais que tudo, o afeto dos humanos; querem atenção e não querem ser esquecidos jamais pelos seus donos - estes, inevitavelmente, crescem e tem que lidar com escolhas também.
O roteiro é muito bem dosado - é mais ousado na parte de delinear detalhes da vida e motivação do urso roxo...da forma como recria os diálogos e entrosamento de Woody e cia; da maneira como toca em nós nas cenas finais de Andy despedindo-se dos brinquedos...na maneira como a ação se desenrola com o humor...nunca ri tanto e, confesso aqui, que chorei no final...me arrepiei sim...e saí apaixonado!
Fiquei feliz mesmo! Toy Story fez parte de minha infancia, e pelo visto será definitivo pra toda vida!
Abraços
Amigos, concordo plenamente com a opinião de vocês.
Cristiano, sei que não encaixa bem com a temática do seu blog, mas o texto acima já dá uma boa base para uma ótima resenha. Escreve aí! Abraço!
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