Aconteceu Naquela Noite
(It Happened One Night)
O Cravo e a Rosa
Frank Capra foi um dos primeiros diretores a conseguir o feito de colocar seu nome em destaque junto ao título do filme nos cartazes promocionais (ao lado de Alfred Hitchcock, o qual, por sua vez, teria o nome muitas vezes colocado com destaque ainda maior do que o título do longa-metragem). Capra foi um dos diretores mais queridos da Hollywood da década de 30, quando seus filmes, cheios de bom-humor e otimismo ofereciam alento para uma população que sofria duramente com uma enorme crise econômica. Dentro desta perspectiva cinematográfica, Capra se tornou um dos artífices do gênero comédia romântica, hoje já muito maltratado e exaurido por diretores e produtores medíocres. E, possivelmente, seu melhor trabalho dentro de tal gênero foi “Aconteceu Naquela Noite” (It Happened One Night), longa de 1934 que se tornou o primeiro a abocanhar os 5 prêmios principais da Academia de Hollywood: filme, diretor, roteiro, ator e atriz.
É importante frisar que, mesmo em gêneros distintos, como no drama e obra-prima “A Felicidade Não Se Compra” e nesta comédia, existe um ponto muito caro à obra de Frank Capra: a crença no caráter do homem-médio americano, a qual em “A Felicidade...” é representada à perfeição por James Stewart e seu George Bailey. Já neste “Aconteceu...”, o homem médio ianque é representado por Peter Warne, personagem do lendário Clark Gable, um jornalista que acaba de perder o emprego (como muitos da plateia dos cinemas naquela década), mas que, debaixo da couraça de durão, possui um coração solidário e romântico. Capra foi um diretor sempre preocupado com a caracterização dos personagens. Eles deviam parecer reais. As atitudes de seus protagonistas não raras vezes eram até reprováveis, mas sua essência era boa, sabendo reconhecer seus erros e procurando corrigi-los ao longo da trama. O mencionado personagem de Peter Warne não fugirá a essa regra.
Suas peripécias começam quando ele encontra, em uma viagem de ônibus, Ellie Andrews, filha de um milionário que está fugindo de casa por este ser contrário ao seu casamento com o playboy King Westley. Ellie quer chegar ao Nova York para alcançar seu objetivo, na realidade muito mais um capricho para contrariar o pai do que um ato de paixão. Óbvio que, deste encontro entre o jornalista proletário e a menina rica e mimada irá surgir uma relação entre tapas e beijos, com cada um procurando esconder os reais sentimentos que estão nutrindo pelo outro. A ideia é surrada, afinal já em Shakespeare, com “A Megera Domada”, temos uma trama em que homem e mulher que se odeiam acabam se amando depois. Mas, como se sabe, o que importa na arte não é se uma trama é reprisada, mas a forma como ela é contada. Afinal, não existe uma estória que já não tenha sido contada antes. O importante é narrá-la de forma competente. E não se pode duvidar que “Aconteceu Naquela Noite” atinge este objetivo.
O roteiro, escrito por Robert Riskin e Samule Hopkins Adams, é, por exigência do diretor, sempre atento aos pormenores, extremamente feliz no desenvolvimento dos personagens, bem como nos diálogos, espirituosos e dotados daquela guerra entre os gêneros que foi reduzida, no cinema atual, a bobagens de mau gosto que soam muito mais como sexismo (quando há, já que boa parte das comédias atualmente em cartaz nos cinemas resumem suas situações cômicas a imagens grosseiras de gosto extremamente duvidoso). E assim surgem diversas sequências que seriam muito imitadas na dramaturgia ao longo das décadas posteriores, como aquela em que Ellie exibe suas pernas para conseguir uma carona. Interessante que, mesmo tão repisadas, ditas cenas não perdem sua força no filme, que sempre se mostra orgânico e inteligente.
Claro que, para a fluidez do texto, seriam necessárias ótimas interpretações e é exatamente isso que vemos ao longo dos 105 minutos de duração do longa. Não só Gable está ótimo, como Claudette Colbert, uma atriz hoje pouco lembrada, mas muitíssimo talentosa, encontra-se excelente. A química entre os dois é perfeita, além da boa presença dos coadjuvantes. Walter Connolly, como o velho Andrews, e Roscoe Karns, como o vigarista Shapeley, dão um tempero especial à trajetória do casal rumo a Nova York.
E é assim, com a direção talentosa de Capra, um roteiro primoroso e atuações memoráveis que se fez este clássico que jamais perdeu o frescor. Um filme que consegue traduzir com bom-humor e através da imagem de um lençol que separa a dupla quando vai dormir (para que não se vejam trocando de roupa) a tênue linha que separa e atrai homens e mulheres. A guerra e o amor entre os sexos poucas vezes foram tão bem representados nas telas.
Cotação:
Nota: 10,0
É importante frisar que, mesmo em gêneros distintos, como no drama e obra-prima “A Felicidade Não Se Compra” e nesta comédia, existe um ponto muito caro à obra de Frank Capra: a crença no caráter do homem-médio americano, a qual em “A Felicidade...” é representada à perfeição por James Stewart e seu George Bailey. Já neste “Aconteceu...”, o homem médio ianque é representado por Peter Warne, personagem do lendário Clark Gable, um jornalista que acaba de perder o emprego (como muitos da plateia dos cinemas naquela década), mas que, debaixo da couraça de durão, possui um coração solidário e romântico. Capra foi um diretor sempre preocupado com a caracterização dos personagens. Eles deviam parecer reais. As atitudes de seus protagonistas não raras vezes eram até reprováveis, mas sua essência era boa, sabendo reconhecer seus erros e procurando corrigi-los ao longo da trama. O mencionado personagem de Peter Warne não fugirá a essa regra.
Suas peripécias começam quando ele encontra, em uma viagem de ônibus, Ellie Andrews, filha de um milionário que está fugindo de casa por este ser contrário ao seu casamento com o playboy King Westley. Ellie quer chegar ao Nova York para alcançar seu objetivo, na realidade muito mais um capricho para contrariar o pai do que um ato de paixão. Óbvio que, deste encontro entre o jornalista proletário e a menina rica e mimada irá surgir uma relação entre tapas e beijos, com cada um procurando esconder os reais sentimentos que estão nutrindo pelo outro. A ideia é surrada, afinal já em Shakespeare, com “A Megera Domada”, temos uma trama em que homem e mulher que se odeiam acabam se amando depois. Mas, como se sabe, o que importa na arte não é se uma trama é reprisada, mas a forma como ela é contada. Afinal, não existe uma estória que já não tenha sido contada antes. O importante é narrá-la de forma competente. E não se pode duvidar que “Aconteceu Naquela Noite” atinge este objetivo.
O roteiro, escrito por Robert Riskin e Samule Hopkins Adams, é, por exigência do diretor, sempre atento aos pormenores, extremamente feliz no desenvolvimento dos personagens, bem como nos diálogos, espirituosos e dotados daquela guerra entre os gêneros que foi reduzida, no cinema atual, a bobagens de mau gosto que soam muito mais como sexismo (quando há, já que boa parte das comédias atualmente em cartaz nos cinemas resumem suas situações cômicas a imagens grosseiras de gosto extremamente duvidoso). E assim surgem diversas sequências que seriam muito imitadas na dramaturgia ao longo das décadas posteriores, como aquela em que Ellie exibe suas pernas para conseguir uma carona. Interessante que, mesmo tão repisadas, ditas cenas não perdem sua força no filme, que sempre se mostra orgânico e inteligente.
Claro que, para a fluidez do texto, seriam necessárias ótimas interpretações e é exatamente isso que vemos ao longo dos 105 minutos de duração do longa. Não só Gable está ótimo, como Claudette Colbert, uma atriz hoje pouco lembrada, mas muitíssimo talentosa, encontra-se excelente. A química entre os dois é perfeita, além da boa presença dos coadjuvantes. Walter Connolly, como o velho Andrews, e Roscoe Karns, como o vigarista Shapeley, dão um tempero especial à trajetória do casal rumo a Nova York.
E é assim, com a direção talentosa de Capra, um roteiro primoroso e atuações memoráveis que se fez este clássico que jamais perdeu o frescor. Um filme que consegue traduzir com bom-humor e através da imagem de um lençol que separa a dupla quando vai dormir (para que não se vejam trocando de roupa) a tênue linha que separa e atrai homens e mulheres. A guerra e o amor entre os sexos poucas vezes foram tão bem representados nas telas.
Cotação:
Nota: 10,0
3 comentários:
Bela premissa, belo texto.
Desconheço, ainda, este filme.
Mas, me parece necessário.
Gable é sempre essencial e bem-vindo, é interessante observá-lo: tinha um modo único de compor seus personagens...
Abração, sumido!
E, ah, já desisti de te encontrar no Msn.
Cristiano, minha ausência do MSN é pura falta de tempo mesmo. Mal estou tendo tempo de atualizar o blog. Estou vendo poucos filmes e, quando entro na net, só dá para postar alguma coisa aqui! Abraço e procure assistir a esse clássico!
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