domingo, 28 de dezembro de 2008

Sete Vidas

Exagero

Nos últimos anos, Will Smith vem tentando mudar sua imagem. Ator de enorme sucesso, seguramente o que leva mais espectadores às salas de cinema hoje, ele tem procurado se mostrar não apenas como uma estrela, mas também como um ator capaz de interpretações realmente significativas e consistentes. Exemplos disso são filmes como “Eu Sou A Lenda” o qual, em que pese tratar-se de uma ficção científica repleta de ação, dá espaço para que Smith trabalhe seus dotes interpretativos; e, principalmente, “À Procura da Felicidade”, longa que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor ator.

E foi lembrando do sucesso obtido tanto artisticamente quanto comercialmente por “À Procura da Felicidade” que Smith resolveu apostar na mesma parceria com o diretor Gabriele Muccino. Aliás, decidiu não só repetir a parceria com o diretor como também o tom dramático da narrativa. “Sete Vidas”, o resultado desse novo trabalho em conjunto, é, tal como o anterior, um daqueles filmes para fazer você chorar, cheio de manipulações e elementos postos no roteiro para fisgar o espectador. Além de, neste caso, uma certa dose de exagero.

A trama fala de Ben Thomas (Smith, competente, embora já tenha tido atuações melhores), um auditor da Receita Federal dos EUA que busca ajudar sete pessoas. No entanto, para que elas recebam tal ajuda, ele investiga se as mesmas são merecedoras, se são ou não bons seres humanos. Muito embora esta premissa não seja corriqueira, ela, desde já, mostra-se bastante presunçosa. Afinal de contas, trata-se de um ser humano julgando outros como merecedores ou não de serem ajudados. Mas quem é Ben Thomas para se atribuir tal missão? O novo Jesus Cristo? Deus?

À parte essa discutível questão ético-filosófica, o roteiro (escrito por Grant Nieporte, em seu primeiro trabalho no cinema) é bastante eficiente em esconder, nos primeiros momentos, quais a verdadeiras intenções de Ben e suas motivações. Até mesmo pela narrativa em flashback, que inicia com o protagonista tentando suicídio em uma banheira e ligando para o serviço de emergência para informar justamente sobre o seu estado. Além disso, mostra-nos um personagem inconstante, que não nos desperta uma simpatia imediata, já que alterna momentos de agressividade com outros igualmente afáveis.

Aos poucos, Ben conhece os personagens com quem travará uma relação mais próxima no decorrer do longa, entre eles Ezra (Woody Harrelson, em boa atuação), um cego que trabalha em um serviço de atendimento por telefone, e Emily, uma mulher ainda jovem que sofre de um grave problema cardíaco que pode levá-la à morte a qualquer momento. Interpretada de forma inspirada por Rosario Dawson, Emily se mostra a personagem mais interessante da projeção. A aproximação entre ela e Ben, aliás, apesar de algumas nuances que parecem forçadas no início, é o que há de mais interessante em toda a trama. A carência da personagem, compreensível pelo seu grave estado de saúde, é mostrada sem exageros, na medida certa, e a química do casal funciona muito bem.

Contudo, à medida que avança para o seu desfecho, o filme embarca no piegas e melodramático de forma irremediável e também previsível (muitos matarão a charada algum tempo antes da mesma ser solucionada na tela). E, além do piegas, o longa envereda pelo exagero, o que faz lembrar que, ao produzir e atuar em um projeto como esse (e também a julgar pelas características dos seus últimos personagens), Smith talvez esteja querendo se passar por um novo Cristo ou algo do tipo. Melhor procurar apenas imaginar que seu personagem está sofrendo de uma depressão irremediável e que por isso comete os atos que comete. Afinal de contas, Will Smith parece ser um cara legal e não um chato pedante que quer salvar o mundo fazendo cinema.

Obs. O título em inglês, “Seven Pounds”, remete a “O Mercador de Veneza”, peça de William Shakespeare, e traduz uma situação em que alguém é levado a pagar uma dívida de forma inteiramente desproporcional.

Cotação: **1/2 (duas estrelas e meia)
Nota: 6,0
Blog Widget by LinkWithin

Nenhum comentário: