domingo, 20 de outubro de 2013

Elysium

Ainda uma promessa


O cinema do jovem diretor Neil Blomkamp pode ser resumido da seguinte forma: premissas muito inteligentes, execução ineficiente. É a conclusão a que podemos chegar a partir deste seu novo trabalho, “Elysium”, atualmente em cartaz no circuito brasileiro, o qual repete as mesma virtudes e defeitos do seu longa anterior, o interessante “Distrito 9” (District 9, 2009), responsável por tentar atribuir conotações político-sociais ao cinema pipoca do fim de semana. Nascido em Joanesburgo, África do Sul, ele impregnou “Distrito 9” de referências ao Apartheid ao elaborar uma trama onde seres de outro planeta são segregados pelos humanos em uma espécie de gueto. Entretanto, se o longa causa reflexão e sensação de inovação em sua primeira metade, a segunda se reduz a, basicamente, cenas de ação clichês que mais entediam do que envolvem o espectador. Um trabalho de altos e baixos que nos traz um frustrante resultado mediano, dadas as suas potencialidades.

Da mesma forma se desenvolve “Elysium”. Na sua premissa, vemos uma Terra superpovoada e esgotada em seus recursos naturais. Nela, residem as classes mais baixas, operários que lutam pela sobrevivência, enquanto os abastados vivem em uma espécie de satélite artificial denominado Elysium (obviamente, uma referência aos Campos Elísios, local que se pode definir como o paraíso da mitologia greco-romana), onde a qualidade de vida de tempos pretéritos foi preservada. Ou seja, o filme se presta a realizar uma alegoria da luta de classes, com direito a abordar detalhes como a questão da saúde pública, onde alguns têm direito à assistência médica e muitos não têm direito a sequer um atendimento básico. É o que ocorre com o personagem de Max da Costa (Matt Damon), operário de uma fábrica que sofre um acidente radioativo e deve morrer em poucos dias. Para se curar, ele precisa de um método de tratamento só existente em Elysium, mas não tem do dinheiro suficiente para comprar sua estada da fortaleza. Será necessário entrar clandestinamente e para isso contará com a ajuda de especialista em infiltrações, Spider (o nosso Wagner Moura).


Como se vê, o roteiro, escrito pelo próprio Blomkamp, tem um ótimo núcleo de ideias, o que torna o longa interessantíssimo em sua primeira metade, muito eficiente em retratar o drama das classes subalternas em um planeta cada vez mais duro. A ambientação, inclusive, lembra muito a realidade dos Estados Unidos de hoje, cada vez mais latinizado, onde em diversas regiões existe uma mistura de línguas, predominando o inglês e o espanhol. As características da cidade terrena também remetem a uma Cidade do México ou à própria Joanesburgo de Blomkamp (em um eficiente trabalho de direção de arte). Também se mostra perspicaz a escolha de Alice Braga, com sua aparência de latina, para ser o interesse romântico do herói, coadunando-se com caráter “globalizado” da produção. Entretanto, mais uma vez Blomkamp se perde em cenas de ação na segunda metade da projeção e o filme assume aquela perspectiva trivial de qualquer outro filme de ação, com destaque para o mote do “sacrifício” do herói, que também se fez presente no anterior “Distrito 9”. Em suma, “Elysium” se torna previsível até mesmo naquilo em que não pretende ser previsível.



Mas, como disse Wagner Moura em recente entrevista a uma famosa revista de caráter cultural, o maior diferencial do cinema estadunidense é o dinheiro, muito dinheiro, e isso invariavelmente dá destaque ao padrão técnico de seus filmes. Se o longa tem destaque, como dito acima, na sua ambientação, é claro que muito desse mérito se deve à direção de arte, muito eficiente não só na caracterização do planeta Terra, mas também na concepção do satélite Elysium, uma espécie de paraíso da imaginação judaico-cristã. Da mesma forma, o elenco de primeira contribui muito para tornar o longa algo mais envolvente. Matt Damon está inspirado na pele do protagonista e Jodie Foster consegue dar alguma alma à vilã unidimensional da trama, uma espécie de secretária de Estado da nave que nutre ambições maiores. Entre os brasileiros, todavia, há uma certa surpresa. Wagner Moura sofre com um personagem mal desenvolvido e que tem menos tempo de tela do que seria esperado. Assim, acaba que Alice Braga tem mais destaque como Frey, a namorada de Max que tem uma filha também precisando de assistência médica em Elysium, em uma atuação bastante competente.

Embora esteja longe de ser um filme ruim, “Elysium” se constitui em uma demonstração da imaturidade de Blomkamp como cineasta, muito embora, tal como “Distrito 9”,deixe entrever que o jovem tem potencial, ainda sendo uma promessa de grande diretor. Precisa desenvolver melhor suas ótimas premissas para que elas não gerem tão somente bons entretenimentos, mas filmes que sejam mais memoráveis do que as suas duas horas de projeção, ou seja, para que se tornem algo mais do que uma “diversão inteligente” para o final de semana.


Cotação:



Nota: 7,0
Blog Widget by LinkWithin

Um comentário:

renatocinema disse...

Gostei da sua definição: premissas muito inteligentes, execução ineficiente. kkk.

Porém, digo que gostei muito do Distrito 9. Esse novo, com Wagner Moura, ainda não consegui. E como muitas críticas foram negativas, tenho a sensação de não precisar ter desespero.

abs