Há alguns dias, descobri um programa da Rede Brasil chamado “Curta TV”, dedicado à abordagem e exibição deste formato de cinema tão pouco visto hoje. O mais triste é que ele fica relegado ao esquecimento não apenas pelo grande público, mas até mesmo no meio cinéfilo, mostrando como o curta-metragem anda muito desprestigiado. Faço uma pergunta a você que acompanha este espaço: quantos curtas você viu este ano? Acredito que a resposta deverá resultar em um número que não passa dos dedos das mãos. Todavia, a verdade é que o curta-metragem representa, antes de tudo, o nascimento da Sétima Arte. Afinal, quando os irmãos Lumiére inventaram essa poderosa magia, eles obviamente não começaram produzindo filmes de 120 minutos. Foi pensando exatamente neste espaço escasso dado aos curtas, os quais, ademais, acabam sendo a escola de qualquer cineasta (seja um medíocre ou um gênio como Chaplin), que resolvi criar uma nova série aqui no “Cinema Com Pimenta”, a “Curtindo o Curta”, dedicada a exibir (claro que por meio destas ferramentas fantásticas que são o sites comoYoutube ou Dailymotion) relevantes curtas-metragens, sejam contemporâneos ou clássicos, como uma forma modesta de tentar suprir esta lacuna na bagagem cinéfila de muitos amantes do cinema (entre os quais eu me incluo).
O filme que escolhi para iniciar essa nova sessão do blog foi “Viagem à Lua” (Le Voyage Dans La Lune), uma obra de 1902 dirigida por um dos desbravadores da arte cinematográfica, Georges Méliès, um ex-ator e ilusionista que ousou fazer algo inteiramente distinto do que era realizado até então. A começar pela sua duração. Pode parecer curioso hoje, mas “Viagem À Lua”, com seus 14 minutos, foi um verdadeiro longa-metragem no seu tempo, pois que até então os filmes geralmente se limitavam a 2 ou 3 minutos de projeção. Entretanto, ainda mais inovadora foi a sua premissa. Ao adaptar o romance homônimo de Julio Verne para a tela, Méliès abriu as fronteiras da imaginação no alvorecer da arte cinematográfica, deixando de lado o cotidiano filmado que era a regra até então (ou seja, mini-documentários), para explorar um universo inteiramente ficcional, voltado única e exclusivamente ao entretenimento. Não é nem um pouco absurdo afirmar que Méliès foi o pai do gênero ficção-científica, estabelecendo as bases que seriam seguidas por praticamente todos os cineastas dali em diante, até mesmo por gênios como Stanley Kubrick, cuja obra máxima, “2001 – Uma Odisseia no Espaço” (2001 – A Space Odissey), não deixa de ser uma variante filosófica do filme de Méliès.
O roteiro, também escrito pelo próprio diretor, começa com um cientista tentando convencer seus colegas, em uma espécie de congresso, de que é possível viajar ao satélite da Terra por meio de uma nave com estrutura semelhante a de um míssil. Um grupo, então, empreende a aventura, aterrissando de maneira pitoresca no “olho” da Lua, que é caraterizada de modo antropomórfico (por sinal, uma das cenas mais conhecidas do cinema até hoje). Lá eles descobrem que a Lua é habitada pelos selenitas, sendo aprisionados por estes até o momento em que descobrem que os estranhos habitantes viram fumaça quando golpeados com guarda-chuvas. Conseguindo escapar, os aventureiros voltam à Terra e caem no mar, sendo resgatados e recebidos com festa em Paris. Diante de narrativa tão fantasiosa, Méliès, utilizando de seus prévios conhecimentos de ilusionismo, acabou por engendrar o que hoje denominamos de efeitos especiais ou visuais, além de usar técnicas de superposição, fusão e edição de imagens que seriam fundamentais no desenvolvimento da Sétima Arte. Além disso, trata-se da primeira adaptação de uma obra literária para a película, o início de uma parceria entre cinema e literatura que renderia muitos grandes frutos ao longo de décadas. No mais, Méliès parece realizar uma grande zombaria com o cientificismo reinante na época, caricaturando a fé na ciência que por vezes se assemelha à fé religiosa, ocorrendo apenas uma substituição, ao mesmo tempo em que demonstra que a humanidade nunca terá pleno conhecimento sobre os mistérios da natureza e do universo.
Tremendo sucesso em sua época, ironicamente Méliès acabou indo à falência algum tempo depois, principalmente porque o filme foi distribuído nos EUA à revelia do seu autor, o qual não recebeu um centavo das bilheterias ianques. De qualquer forma, sua obra resultou precursora e muitos aspectos, o que acaba por transformá-la em obrigatória para qualquer pessoa que procure se aprofundar um pouco mais na arte da imagem em movimento. Bem, vamos deixar de falação e passarmos ao filme. A versão mais completa que encontrei na rede, e que segue abaixo, nos fornece 12 minutos de projeção, o que é praticamente o filme inteiro. Bom filme nesta primeira sessão do “Curtindo o Curta”.
O filme que escolhi para iniciar essa nova sessão do blog foi “Viagem à Lua” (Le Voyage Dans La Lune), uma obra de 1902 dirigida por um dos desbravadores da arte cinematográfica, Georges Méliès, um ex-ator e ilusionista que ousou fazer algo inteiramente distinto do que era realizado até então. A começar pela sua duração. Pode parecer curioso hoje, mas “Viagem À Lua”, com seus 14 minutos, foi um verdadeiro longa-metragem no seu tempo, pois que até então os filmes geralmente se limitavam a 2 ou 3 minutos de projeção. Entretanto, ainda mais inovadora foi a sua premissa. Ao adaptar o romance homônimo de Julio Verne para a tela, Méliès abriu as fronteiras da imaginação no alvorecer da arte cinematográfica, deixando de lado o cotidiano filmado que era a regra até então (ou seja, mini-documentários), para explorar um universo inteiramente ficcional, voltado única e exclusivamente ao entretenimento. Não é nem um pouco absurdo afirmar que Méliès foi o pai do gênero ficção-científica, estabelecendo as bases que seriam seguidas por praticamente todos os cineastas dali em diante, até mesmo por gênios como Stanley Kubrick, cuja obra máxima, “2001 – Uma Odisseia no Espaço” (2001 – A Space Odissey), não deixa de ser uma variante filosófica do filme de Méliès.
O roteiro, também escrito pelo próprio diretor, começa com um cientista tentando convencer seus colegas, em uma espécie de congresso, de que é possível viajar ao satélite da Terra por meio de uma nave com estrutura semelhante a de um míssil. Um grupo, então, empreende a aventura, aterrissando de maneira pitoresca no “olho” da Lua, que é caraterizada de modo antropomórfico (por sinal, uma das cenas mais conhecidas do cinema até hoje). Lá eles descobrem que a Lua é habitada pelos selenitas, sendo aprisionados por estes até o momento em que descobrem que os estranhos habitantes viram fumaça quando golpeados com guarda-chuvas. Conseguindo escapar, os aventureiros voltam à Terra e caem no mar, sendo resgatados e recebidos com festa em Paris. Diante de narrativa tão fantasiosa, Méliès, utilizando de seus prévios conhecimentos de ilusionismo, acabou por engendrar o que hoje denominamos de efeitos especiais ou visuais, além de usar técnicas de superposição, fusão e edição de imagens que seriam fundamentais no desenvolvimento da Sétima Arte. Além disso, trata-se da primeira adaptação de uma obra literária para a película, o início de uma parceria entre cinema e literatura que renderia muitos grandes frutos ao longo de décadas. No mais, Méliès parece realizar uma grande zombaria com o cientificismo reinante na época, caricaturando a fé na ciência que por vezes se assemelha à fé religiosa, ocorrendo apenas uma substituição, ao mesmo tempo em que demonstra que a humanidade nunca terá pleno conhecimento sobre os mistérios da natureza e do universo.
Tremendo sucesso em sua época, ironicamente Méliès acabou indo à falência algum tempo depois, principalmente porque o filme foi distribuído nos EUA à revelia do seu autor, o qual não recebeu um centavo das bilheterias ianques. De qualquer forma, sua obra resultou precursora e muitos aspectos, o que acaba por transformá-la em obrigatória para qualquer pessoa que procure se aprofundar um pouco mais na arte da imagem em movimento. Bem, vamos deixar de falação e passarmos ao filme. A versão mais completa que encontrei na rede, e que segue abaixo, nos fornece 12 minutos de projeção, o que é praticamente o filme inteiro. Bom filme nesta primeira sessão do “Curtindo o Curta”.
Le Voyage dans la Lune (Uni Music) - 1902... por Krasny-Kofe
2 comentários:
Pô show de bola FAbio, grande sacada! Sempre tive vontade de assistir esse curta, vou aproveitar esse link para dar uma conferida. Precursor mesmo.
Já assisti e gostei... Ingênuo e poético...
O Falcão Maltês
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