quinta-feira, 31 de março de 2011

Para Ver Em Um Dia de Chuva



Esta semana tivemos a estreia de "Sucker Punch - Mundo Surreal" no circuito, o novo longa do diretor Zack Snyder. Não vi o filme, mas, tomando como base a média de avaliações do site "Rotten Tomatoes" , parece ser uma verdadeira bomba. Entretanto, embora não seja nenhuma obra de arte, o longa abaixo mostra que Snyder tem potencial. A crítica a seguir foi escrita quando do seu lançamento no Brasil, em 2007, e permanecia inédita no blog.



300
(300)


Adaptação estilo “videogame” funciona


Antes de tudo, convém pontuar que “300” é um espetáculo para as massas. Cada fotograma tem a nítida intenção de fazer o público vibrar, pular mesmo nas cadeiras das salas de exibição. E, neste aspecto, o filme consegue atingir seu objetivo. “300”, longa de Zack Snyder (o mesmo de “Madrugada dos Mortos”) baseado na HQ de Frank Miller e Lynn Varley, é um espetáculo visual atordoante. Muitas de suas cenas parecem verdadeiras pinturas dignas de um grande artista. Seu ritmo é vibrante e envolve bastante o espectador.

Narrando o episódio histórico-lendário em que cerca de 7.000 soldados gregos enfrentaram 250 000 homens do exército persa (segundo alguns historiadores talvez o número alcançasse pelo menos o dobro disto), sendo os primeiros capitaneados pelo espartano Leônidas e mais 300 guerreiros da elite do exército de Esparta, o filme se mostra muito fiel à Graphic Novell (um dos grandes trabalhos de Miller), sendo que várias de suas imagens são transposições literais da mesma. Ser fiel aos quadrinhos significa dar ênfase ao aspecto lendário do episódio, à bravura dos espartanos, não se importando muito com as questões políticas da época. Todavia, não deixa de retratar certos costumes de Esparta, como aquele de descartar as crianças fisicamente imperfeitas, ou a criação dos filhos, a partir dos 7 anos, pelo próprio Estado, preparando-os desde cedo para a guerra.

E neste ponto cabe uma digressão: já percebi que alguns críticos taxaram o filme de “moralmente reprovável”, acusando-o de machista, de desrespeito às minorias, de preconceito contra os homossexuais etc. Para começo de conversa: não cabe a um crítico de cinema ser a palmatória do mundo, querendo taxar tal filme como “imoral”, socialmente inadequado ou coisas do gênero. Sua função é analisar a obra e mostrar se é boa ou não. O resto é moralismo, opiniões ideológicas, o que seja, mas não é crítica. E também é pertinente questionar: eles então queriam que os espartanos fossem politicamente corretos? Ora, esses costumes (eliminação de deficientes, belicismo etc) são mostrados em qualquer livro de História que trate da sociedade espartana. Seria no mínimo risível, portanto, se a obra procurasse mostrá-la de uma forma mais adequada ao nosso politicamente correto. Por outro lado: o filme não tem nada de machista, pelo contrário. O personagem da rainha Gorgo teve sua participação consideravelmente ampliada nas telas (ela quase não aparece na HQ), mostrando-se uma mulher forte, inteligente, respeitada por todos e amada pelo seu esposo Leônidas. O fato de a obra enaltecer a virilidade não a torna machista. Os dois conceitos não se confundem. Seria o mesmo que afirmar que “Orgulho e Preconceito” ou “Razão e Sensibilidade” são filmes feministas. Não são. São filmes femininos por excelência, mas não são feministas.

De outra parte, li comentários afirmando que “300” representa uma espécie de “revolução” no cinema, principalmente no gênero épico. Essa afirmação soa um tanto quanto exagerada. Na realidade, “300” mostra-se extremamente influenciado por “Gladiador”, de Ridley Scott, este sim um filme que estabeleceu um novo padrão para o gênero (certas seqüências, e vocês perceberão quais ao assistir, lembram muito o vencedor do Oscar). Mesmo a utilização de ambientações totalmente modeladas por computador não são novidade no cinema (vide “Sin City”, também adaptado de Miller, e “Capitão Sky”). Talvez, sua inovação seja o ritmo “videogame” que permeia o longa e principalmente as cenas de ação. Mas não vejo isso como algo tão inovador assim, pois acaba deixando certas cenas esteticamente bonitas, mas um tanto quanto vazias, um pouco sem emoção... Ou melhor, de forma paradoxal, apelam tanto para o sensacionalismo dos games, que acabam perdendo a emoção.



Aliás, o sensacionalismo é um dos pontos fracos do filme. Todas as cenas têm de parecer grandiosas. Até mesmo o fincar de uma lança no chão gera um efeito sonoro gigantesco, como se aquela lança ali posta tivesse uma importância enorme para o desenrolar da narrativa. Esse sensacionalismo exagerado chega mesmo a incomodar, deixando a obra com um caráter por vezes pueril. Outro ponto fraco é o roteiro, que traz algumas alterações com relação à HQ (para dar um ar mais cinematográfico à trama). Alguns elementos desnecessários são inseridos, como a cena de sexo envolvendo Leônidas e Gorgo, que parce estar ali só para mostrar que o rei de Esparta é “macho”, gosta muito de mulher e "manda" muito bem...

Quanto às atuações: Gerard Butler parece se envolver no tom sensacionalista geral do longa e acaba fazendo um discurso de campanha política a cada aparição. O personagem é mais contido na HQ e lembra bem mais o Maximus de Russel Crowe (no citado Gladiador). Lena Headey, que interpreta Gorgo, está correta. E os demais não têm muito o que fazer. Ei, calma, não esqueci o Rodrigo Santoro: fica difícil avaliar sua atuação como o rei dos persas Xerxes debaixo de tanta maquiagem, alterações digitais e, principalmente, da alteração digital da sua voz (ficou bem cavernosa!).

Para terminar, algumas observações finais:

Não vejo qualquer relação do filme com o momento político atual. Os realizadores tinham apenas a intenção de adaptar a graphic novell e ponto final. Aliás, Bush é covarde demais para se comparar a reis como Leônidas e Xerxes, que acompanhavam seus soldados ao campo de batalha (no caso de Leônidas, ele não só acompanhava como também lutava junto com seus soldados). Outra: o filme vem sendo taxado de “homo-erótico” devido ao fato de que os espartanos passam a projeção inteira sem camisa, com seus corpos bem definidos. Não creio que tenha sido a intenção de Snyder realizar algo para atrair a platéia homossexual para o cinema. A verdade é que na obra de Miller os espartanos são representados desta forma e o filme foi simplesmente fiel a ela.

Todavia, creio que os pontos fortes de “300” superam suas falhas. Trata-se de um longa capaz de agradar à maioria da platéia (mesmo à meninas) e seria bom que todos os blockbusters tivessem tal padrão de qualidade. A verdade é que, mesmo sabendo que as façanhas dos espartanos foram elevadas ao caráter lendário durante a projeção, é de se admirar a coragem daqueles homens, que chega mesmo a ser inspiradora (tanto que serviu realmente de inspiração aos demais gregos, que a partir deste evento resistiram ao invasor persa).

Confiram!!!

Cotação:

Nota: 8,5


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5 comentários:

Alan Raspante disse...

Eu vi na época de seu lançamento e lembro de ter gostado um bocado. Mas, preciso rever... lembro pouco do filme.

E sobre "Sucker Punch", assista. Se gostou de '300' talvez goste deste filme. Eu, particularmente, gostei bastante e achei um entretenimento válido. Mas é certo que suas falhas acabam vencendo sobre o os pontos positivos (diferente de 300). Mas, ainda sim é viável! hehehe

abs :D

Amanda Câmara disse...

Esse filme é excelente, lembro que me ajudou muito quando fui fazer vestibular porque é história pura! E seu blog, é ótimo, dispensa comentários!
Depois dá uma passada no meu, você vai gostar!

http://justalittegirl.blogspot.com/

Fábio Henrique Carmo disse...

Alan, também já faz muito tempo que não vejo "300" e por isso fiz questão de ressaltar que estas foram minhas impressões em 2007, quando do lançamento do filme. Suas impressões sobre Sucker Punch me animaram mais um pouco a ver o filme.

Amanda, realmente o filme traz uma boa bagagem histórica. Obrigado pelo elogio ao blog (não sei se ele é tão bom assim) e farei uma visita ao seu logo que tiver tempo, pois ele anda bem curto!

Cristiano Contreiras disse...

Seu texto está muito bom, mostra bem a força e também as falhas desse filme tão odiado e amado pelos cinéfilos. Eu curto, ainda mais quando revi em Blu-ray. Fiquei extasiado! E confesso que admiro muito os trabalhos de Butler.

Abraço

Fábio Henrique Carmo disse...

Imageticamente, o filme é um primor. Em Blu-ray deve ficar belíssimo mesmo!