sábado, 15 de agosto de 2009

Arraste-me Para O Inferno


O novo Trem-fantasma de Sam Raimi

Já havia bastante tempo que eu não assistia a um dos longas de terror de Sam Raimi, um dos grandes mestres deste gênero que é tido por muitos como “menor”(sem razão, diga-se de passagem). Mesmo a trilogia “Evil Dead” (ou “Uma Noite Alucinante”, como também é conhecida no Brasil) já se encontra um tanto apagada da minha memória (apesar de ter visto várias vezes o seu primeiro epísódio), o que dificulta um pouco observar, com um rigor mais crítico, o retorno de Raimi ao gênero depois de anos a fio dedicados exclusivamente à trilogia de um certo herói aracnídeo (ah, eu não vi “O Dom da Premonição”, de 2000, seu último longa de horror). Entretanto, a ausência de uma memória recente relativa ao tipo de trabalho que gerou a fama de Raimi também abre espaço para uma avaliação mais espontânea e livre de amarras.

A verdade é que Raimi retornou em grande estilo, realizando uma espécie de trem-fantasma vertiginoso com sustos para fazer qualquer um pular da cadeira quase que a cada minuto da projeção. Não faltam gosmas, imagens horrorosas, gente possuída, cenas de horror escatológico e mesmo humor, ou seja, tudo que lembra os clássicos do diretor, mesmo que você não tenha, tal como eu, uma lembrança viva de seus longas de horror. Se você tem coração fraco, problemas gástricos, alergia a gosmas e insetos, ou qualquer outro problema de saúde que lhe deixe suscetível a fortes emoções ou imagens horripilantes, é melhor não pegar a sessão de “Drag Me To Hell” (se for à noite, então...).

Um dado interessante é que Raimi é um péssimo espectador para filmes de horror. Ele mesmo diz que morre de medo e que, apesar de gostar muito do filme, não pretende ver uma segunda vez “Os Outros” nem tão cedo. Talvez seja exatamente por isso que ele consiga levar o público tão facilmente ao susto e que também lembre de fazer o espectador respirar com a inserção de um humor impagável em cenas trash-comédia que ajudam a aliviar a tensão. Tal fórmula, um dos segredos do sucesso de “Evil Dead”, é de novo implementada nesse novo longa.

A trama, como sempre, é básica. Alison Lohman (uma verdadeira rainha do grito) interpreta Chistine Brown, uma funcionária de banco responsável por financiamentos de imóveis que, no momento, objetiva uma promoção na carreira (creio que a atividade profissional dela não é por acaso...). Um belo dia, uma velha horrorosa com cara de bruxa (Lorna Raver) vai lhe pedir uma extensão de prazo para pagamento da hipoteca de sua casa. Dando uma de durona para impressionar o chefe, ela nega o financiamento, o que leva a velha bruxa a lhe rogar uma maldição: após três dias de tormento, a menina ambiciosa será levada ao inferno pelo demônio Lâmia. Ajudada pelo namorado (Justin Long), Chistine busca de todas as formas evitar a sua passagem para o reino do tinhoso, que lhe levará a peripécias várias que culminam em uma sequência no cemitério que já está fadada a se tornar clássica, tendo levado duas semanas de filmagens para ser concluída (Lohman teve reações alérgicas à lama artificial empregada, a qual acabou sendo substituída por um composto orgânico que,segundo ela, até fez bem à sua pele).

Percebe-se, pela síntese, que Raimi vale-se de elementos arquetípicos das histórias de horror. Estão lá a bruxa, a maldição, os demônios, os feitiços para tentar quebrar os feitiços, a mocinha que grita. Está também presente o caráter de punição que se tornou comum nos slasher movies (aqueles filmes de serial killers como “Sexta-feira 13”), substituindo apenas o pecado da luxúria pelo da ganância. Entretanto, mesmo utilizando tais elementos já tão manjados (para não dizer clichês), o horror flui com extrema eficiência. Afinal, o terror brinca com medos inerentes à condição humana: a morte, o desconhecido, o porquê de estarmos aqui, a eterna pergunta de se esta é ou não é a única realidade existente. E é por isso que tais elementos, embora possam, às vezes, soar repetitivos, jamais se tornarão ultrapassados.

Raimi sabe disso. E mostra que ele também não ficou ultrapassado, sendo capaz de provocar grandes sustos mesmo nos cético público do século XXI. Sem fugir de sua origem (por vezes temos a impressão é de estarmos vendo um autêntico filme B), o diretor mostra que ainda é capaz de obter qualidade fora dos blockbusters aracnídeos. Esse “Arraste-me...” foi realmente um ótimo exercício para manter a velha forma, além de cativar novos adeptos. Só lembre de uma coisa: evite pegar aquela última sessão, ok? Ou, então, arrisque-se a perder o sono...Quem avisa amigo é!

Cotação: * * * * (quatro estrelas)
Nota: 9,0

Obs: A trilha sonora dos créditos finais havia sido composta para o “O Exorcista”, mas seu diretor William Friedkin não gostou e descartou.
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2 comentários:

Thiago disse...

Parabéns pelo Blog, está ótimo.
Gostei muito das suas resenhas. Estou lendo todas !

Só um detalhe, depois de alguns minutos lendo as letras brancas no fundo preto, as letrinhas começam a dançar... e ai é preciso descansar a vista um pouco...

Fábio Henrique Carmo disse...

Thiago,

Obrigado pelos elogios ao blog e também por postar um comentário! :=)

Quanto ao fundo preto, já pensei em alterá-lo, mas acabei desistindo por 3 motivos:

1) A maioria dos blogs são brancos e o tom escuro do blog acaba deixando-o com um ar "diferente";

2) Dá uma preguiça danada de promover alterações no blog. Da última vez que fiz isso, acabei mexendo em outras coisas e a reforma total levou uns 2 dias;

3) Fundos brancos cansam minha vista, pois acho que a tela fica muito clara.

Mas sua opnião está anotada (e já houve uma outra pessoa que me falou desse tal fundo preto). Vou pensar nos próximos dias em algumas modificações.

Abraço e até a próxima!