sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Para Ver Em Um Dia de Chuva

Sete Dias com Marilyn
(My Week With Marilyn, 2011)


Norma e Marilyn


O cinema, certamente, é a maior fábrica de mitos contemporânea e, dentre os muitos gerados no século passado, Marilyn Monroe sem dúvida é um dos maiores. Ela é uma das poucas estrelas hollywoodianas do século passado que ainda influenciam o comportamento das novas gerações. Entre as mulheres, sua aura só se equivale à de Audrey Hepburn. Contudo, se Audrey se coloca até hoje como um símbolo de sofisticação, Marilyn é a epítome da sensualidade evidente, escancarada, ajudada por suas curvas generosas e o ar pseudo-ingênuo que criou para sua presença pública, um personagem cultivado ao longo de toda a sua carreira, encerrada drasticamente após uma overdose de tranquilizantes em 05 de agosto de 1962. “Sete Dias Com Marilyn”, longa dirigido por Simon Curtis em 2011, é um longa que se presta justamente a levar o espectador a conhecer Norma Jeane Mortenson (seu nome verdadeiro) e não a Marilyn dos filmes e das badalações, procurando entender a persona escondida atrás da personagem pública. Ao mesmo tempo, não deixa de ser uma bela homenagem ao mito e também uma interessante abordagem acerca dos bastidores da Sétima Arte, levando-nos a conhecer vários dos desentendimentos, vaidades, conflitos e amizades que surgem ao longo das filmagens.

A maior virtude da direção de Curtis, bem como do roteiro de Adrian Hodges, é a de abordar um momento específico da vida da atriz. Baseado nos livros “The Prince, The Showgirl and Me” e “My Week with Marilyn”, de Colin Clark, que é o narrador e personagem central da película, o enredo trata dos dias em que Marilyn viajou ao Reino Unido para realizar as filmagens de “O Príncipe Encantado” (The Prince And The Showgirl, 1957), longa dirigido e estrelado por Laurence Olivier (papel de Kenneth Branagh, nada mais adequado), o renomado intérprete de Shakespeare, tanto no teatro quanto no cinema. Com a produção, Olivier estava tentando quebrar um pouco de sua imagem hermética, erudita, buscando apresentar um perfil mais popular. Para tanto, nada melhor do que se aliar à atriz mais famosa do mundo em uma comédia sem maiores consequências.


“Sete Dias com Marilyn” é focado na personalidade da atriz. A despeito do curto período temporal narrado, podemos perceber várias de suas características, como sua marcante insegurança, sua fragilidade por traz da diva encantadora, bem como seu esforço para ser vista não apenas como uma sex symbol, mas como uma intérprete de verdade, algo que, na realidade, nunca veio a acontecer. Adepta do famoso Método Stanislavski de interpretação, ela acaba por ser alvo das críticas constantes de Olivier, que não tem paciência com o tempo que a estrela leva para “imergir” no personagem, nem com sua notória dificuldade de memorizar diálogos. Por outro lado, Curtis não se furta a mostrar seu lado menos elogiável. Volúvel e adúltera, Marilyn era capaz de seduzir jovens inexperientes tão somente para afogar suas mágoas, várias delas advindas de seus problemas conjugais com Arthur Miller (Dougray Scott), seu marido à época. E ela o fazia assim como quem bebe uns tragos para curar uma dor de cotovelo, não se importando com as consequências emocionais que sua sedução e posterior indiferença poderiam causar nos eventuais apaixonados. É o que acontece com Colin Clark (Eddie Redmayne), mais uma “vítima” de seu poder de atração irresistível. Da mesma forma, o longa também não deixa de lado sua dependência química, mostrando o quão difícil era conviver e trabalhar com alguém se dopava quase diariamente.



Todavia, o longa é feliz não apenas na abordagem adotada, mas também em seus aspectos técnicos, apresentando uma reconstituição de época precisa, além de uma maquiagem e figurinos impecáveis. Também merece destaque a bela trilha sonora de Conrad Pope, de tom melancólico e nostálgico, bastante adequada ao caráter sensível da produção. Entretanto, este é o típico filme que não se sustentaria sem atuações de peso, mormente a interpretação da biografada. A respeito, Michelle Williams dá conta do recado? Não inteiramente seria a melhor resposta. Não vou entrar aqui nos méritos estéticos, pois Williams é uma mulher bonita, mas é quase óbvio dizer que a original era ainda mais. Entretanto, na composição de Williams falta um pouco da descontração de Marilyn, que era mais extrovertida publicamente do que se percebe na adaptação. Não que ela não tenha um bom desempenho e é possível estar sendo muito exigente, mas não vi Williams como a “Marilyn definitiva”. Faltou alguma coisa. Mas, vale dizer, não sei se é possível alguém alcançar esse “indefinível” que só a biografada tinha. De qualquer forma, valeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz (que perdeu, com justiça, para Meryl Streep como “ A Dama de Ferro”). Já Kenneth Branagh rende um ótimo Laurence Olivier e a atuação de Eddie Redmayne, como o narrador Colin, é competente. Destaque ainda para a presença de Julia Ormond na pele de Vivien Leigh, aflita com a “queda” que seu marido Laurence mal disfarçava sentir pela diva norte-americana.

Destarte, mesmo que, como mencionado acima, o filme não omita o lado menos notável da diva, sua conclusão, realçando que Colin nunca deixou de ser um eterno apaixonado por ela, conduz o público a uma inescapável admiração pela estrela, como a sugerir que somos todos fãs de Marilyn, mas não de Norma Jeane. Em determinado momento do filme, quando reconhecida por funcionários de uma biblioteca, ela pergunta ao rapaz: “devo ser ela?”. Em seguida, começa a posar e a se comportar como a personagem que criou. Sim, o público sempre amará a estrela Marilyn Monroe, esquecendo que Norma Jeane faleceu sozinha em um quarto poucos anos depois de concluir “O Príncipe Encantado”.


Cotação:



Nota: 8,0
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3 comentários:

Unknown disse...

Apesar de ser um recorte não muito profundo, eu gosto desse filme. Alimenta o mito e é suficientemente divertido e com uma boa atuação de Michelle Willians.

Suzane Weck disse...

Ola caro amigo,não vi este filme,e agora que foi lembrado aqui no teu espaço,vou assistir com certeza pois sempre gostei muito desta controvertida estrela.Gostei demais da postagem.Meu abraço.SU

Jefferson C. Vendrame disse...

Vergonhosamente, ainda não vi esse filme. Após ler seu texto, fiquei ainda mais curioso para ver. É uma pena que o filme limita-se apenas a um período da vida de MM. Eu penso que pelo poder e pela fama da atriz, a muito ela carece de uma cinebiografia completa e a sua altura!

Abraços!