Cinema e Religião: 7 filmes essenciais
Em todos os anos, quando chega o período da Semana Santa católica, vários canais de TV (principalmente aberta), inundam as telas com filmes de temática religiosa, geralmente narrando os últimos momentos da vida de Jesus Cristo ou o Êxodo dos Hebreus, rumo à terra prometida. No entanto, como em todo gênero, é necessário separar o joio do trigo e aqui me presto a fazer uma seleção das melhores obras de caráter religioso para ver nestes dias que antecedem a Páscoa, seja você cristão ou simplesmente um apreciador de ótimos filmes. Vamos a eles. Como sempre, a lista do Cinema Com Pimenta é composta de 7 obras.
7) A Paixão de Cristo (The Passion of the Christ, 2004) – O filme dirigido por Mel Gibson é polêmico em toda a sua concepção. Acusado por seu excesso de violência (a flagelação vem se mostrando uma obsessão do diretor ao longo dos anos) e um anti-semitismo subliminar (que pode ter lá o seu fundo de verdade, pois que Gibson já foi pego proferindo ofensas a judeus), não se pode negar, todavia, que o filme é pungente em várias passagens, além de contar com ótimas atuações e a virtude de ser falado na língua original dos personagens, se contrapondo à preguiça reinante em Hollywood de colocar o elenco falando em inglês, mesmo em longas com trama se passando na Idade Antiga. Mas o alerta continua valendo: é um filme que exige estômago forte, dado o realismo – e, por vezes, sensacionalismo – das cenas do martírio de Cristo. Um enorme sucesso (o mais bem-sucedido independente em todos os tempos), se estiver disposto(a), vale à pena, até mesmo para opinar sobre a polêmica que recai sobre esta produção;
6) O Príncipe do Egito (The Prince of Egypt, 1998) – Esta, sem dúvida, foi uma da animações mais ambiciosas já realizadas, tentando tornar mais acessível a história bíblica relatada no livro do Êxodo (e que já havia sido transposta para o cinema na superprodução “Os Dez Mandamentos”, de Cecil B. DeMille, da qual falarei mais adiante). E a empreitada é bem sucedida. Os personagens, tanto de Moisés quanto do faraó Ramsés, são muito bem construídos e a ideia de mostrar a relação de irmãos entre os dois é muito feliz, trazendo uma clara mensagem de paz aplicável ao Oriente Médio. Ademais, as imagens concebidas são belíssimas, principalmente a famosa cena da travessia do Mar Vermelho. Ainda considero a melhor animação da Dreamworks até hoje e recomendável tanto para crianças quanto para adultos. Se ainda não viu, veja logo;
5) Os Dez Mandamentos (The Ten Commandments, 1956) – Nos anos 80, a Rede Globo sempre repetia esse filme nestes dias próximos à Páscoa e o vi diversas vezes (sabem como é criança, né?). O diretor Cecil B. DeMille era uma espécie de Steven Spielberg ou James Cameron do seu tempo, responsável por superproduções de encher os olhos. É o caso exatamente desta, seu último trabalho, a qual narra toda a vida de Moisés, desde quando foi encontrado nas águas do Nilo, passando pelo seu encontro com Deus, até levar a cabo a missão do qual foi incumbido: liderar o povo hebreu rumo à Terra Prometida. Na realidade, é uma refilmagem mais suntuosa do filme homônimo dirigido pelo próprio DeMille em 1923. Algumas de suas cenas já entraram para o inconsciente coletivo (como a passagem pelo Mar Vermelho) e Charlton Heston, o intérprete do protagonista, meio que se tornou a imagem oficial de Moisés no cinema. Apesar de possuir um certo exagero que hoje em dia pode ser visto como cafonice, constitui um longa-metragem obrigatório. Seus efeitos visuais (levou o Oscar neste quesito) ainda são eficientes mesmo para os padrões de hoje;
4) Irmão Sol, Irmã Lua (Brother Sun, Sister Moon, 1972) – Este não narra nem a história de Cristo nem a de Moisés. O filme é sobre a vida de Francisco de Assis (interpretado aqui pelo ator Graham Faulkner),o filho de um rico comerciante que larga toda sua vida de facilidades para se dedicar à imitação de Cristo, passando a ter a caridade e a solidariedade como nortes, além de defender a paz e o respeito à natureza (alguns afirmam que ele andava com extremo cuidado para não correr o risco de retirar nem mesmo a vida de um inseto). Dirigido por Franco Zeffirelli e roteirizado pelo mesmo em parceria com Lina Wertmüller (diretora de “Pasqualino Sete Belezas”) e Suso Cecchi D’Amico, é um longa bastante sensível e emocional, indicado para ver com a família. Tem ótimas canções e bela fotografia. Filme apto a agradar a todos os gostos;
3) A Última Tentação de Cristo (The Last Temptation of Christ, 1988) – Se o acima citado “A Paixão de Cristo” causou polêmica, imagine este longa-metragem que retrata um Jesus Cristo humanizado, com dúvidas e fraquezas e até mesmo titubeante em algumas passagens. Baseado no romance de Nikos Kazantzakis e dirigido pelo genial Martin Scorsese, o filme foi considerado herético pela Igreja Católica e proibido em muitos países ao longo de vários anos (no Chile, só em 2003 ele foi liberado). Willem Dafoe (naquela que é a melhor interpretação de sua carreira) interpreta Jesus, mostrado com um marceneiro judeu responsável pela confecção das cruzes utilizadas pelos romanos para aplicar suas sentenças de morte. Detalhe especial para a tal “última tentação” do título, quando Jesus é tentado, na cruz e à beira da morte, a abdicar de sua responsabilidade para com a humanidade e do sacrifício como Messias e assumir para si a vida de um homem comum, simples, com esposa, filhos e uma perspectiva de envelhecer e morrer desta forma. Bem, como pode perceber, se sua visão da vida de Cristo é dogmática, este longa não é sua praia. Mas, se tiver disposição para visões diferentes da Bíblia, encontrará aqui um filme excepcional;
2) O Evangelho Segundo São Mateus (Il Vangelo secondo Matteo, 1964) – Esta é, provavelmente, a adaptação da vida Cristo para as telas mais fiel ao texto bíblico. Ironicamente, foi realizada pelo comunista Pier Paolo Pasolini. Como se sabe, Pasolini sempre fazia de suas obras um manifesto, uma forma de criticar o status quo e mexer com a concepção tradicional de temas. E aqui não é diferente. Dedicado ao papa João XXIII, o filme não tem uma palavra sequer em seu texto que não tenha sido tirada do Evangelho de Mateus, demonstrando o quanto as ideias de Jesus tinham de socialistas, associando sua imagem a de um provocador social, um revolucionário. Filmado com não-atores, no melhor estilo do neo-realismo italiano, o longa muitas vezes lembra um documentário, sem enfatizar ou romancear os eventos da vida de Cristo. Ademais, Pasolini mexe em um vespeiro ao insinuar que ideologias sociais podem ter um parentesco próximo com doutrinas religiosas. É provável que não agrade a muitos, todavia possivelmente cairá nas graças dos cinéfilos de carteirinha. Em tempo: o filme ganhou chancela oficial do Vaticano;
1) O Rei dos Reis (King of Kings, 1961) – Esta é a versão mais emblemática da história de Jesus Cristo para o cinema. Dirigido pelo cultuado Nicholas Ray em 1961 e contando com a narração de ninguém menos que Orson Welles, o Cristo vivido pelo ator Jeffrey Hunter se tornou emblemático. Um blockbuster que fez enorme sucesso quando do seu lançamento, detentor de cenas belíssimas e, certamente, da melhor transposição da passagem do Sermão da Montanha de que se tem notícia. Quando garoto, era atração certa na Sessão da Tarde da sexta-feira da Paixão. A trilha sonora é linda e, se você é religioso, este filme é mais do que obrigatório. E se você não é, o longa é obrigatório. Imperdível!
Bons filmes e uma boa Páscoa a todos!
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