Inauguro aqui a série "Para Ver em Um Dia de Chuva", destinada àqueles filmes que não são tão essenciais quanto os da série "Filmes Para Ver Antes de Morrer", mas que mesmo assim merecem ser vistos. Ótimos para aqueles dias chuvosos e com friozinho em que não há nada melhor do que ficar em casa vendo um bom filme. E o primeiro é justamente "O Homem que Fazia Chover". Boa sessão caseira para todos.
O Homem Que Fazia Chover
(The Rainmaker)
O Quixote de Coppola
Não há dúvidas de que Francis Ford Coppola é um dos mais importantes diretores da história do cinema. Apenas a trilogia “O Poderoso Chefão” já lhe renderia o status de gênio, mas, além disso, ele ainda nos brindou com obras como “Apocalypse Now” (considerado por muitos como o melhor filme de guerra já realizado) e “Drácula de Bram Stoker”. Contudo, Coppola costuma alternar momentos de puro brilhantismo com outros mais apagados, resultando numa obra bastante irregular. “O Homem Que Fazia Chover”, seu filme de 1997, parece se situar em um nível intermediário. Não é memorável como os longas acima citados, mas também não configura um desastre como “Jack” (1994), filme totalmente esquecível e esquecido.
Não posso negar que, no caso deste “The Rainmaker”, há uma identificação pessoal com a trama apresentada pelo roteiro, que é uma adaptação do próprio Coppola para a obra de John Grisham, o rei dos best-sellers de tribunal. Afinal, eu sou formado em Direito, trabalho em um tribunal e advoguei durante 5 anos. Nada mais natural, então, que sinta uma imediata empatia pelo personagem do advogado Rudy Baylor (Matt Damon, ainda um garoto), um jovem idealista e recém-formado que acaba de ser aprovado no exame da Ordem e tem como um de seus primeiros casos uma ação contra uma seguradora de saúde. Sua cliente é uma família que busca que o seguro cubra o transplante de medula que poderá salvar a vida do filho, portador de leucemia. Rudy conta apenas com a ajuda de Deck Schifflet (Danny DeVito, ótimo), um bacharel que jamais passou no exame de ordem.
Essa posição quixotesca, do homem comum e de caráter contra o podre sistema, já foi, em inúmeras oportunidades, levada para as telas. Por outro lado, em poucas ocasiões temos a oportunidade de vê-la conduzida por mãos talentosas como as de Coppola, um diretor (e roteirista) que não deixa a plateia perder o interesse pelo que está assistindo. A trama segue sempre redonda, sem barrigas cansativas e contando com uma ótima direção de atores (uma das características do velho Francis). Damon já mostra porque se tornaria uma dos principais astros do cinema atual, mas é Danny DeVito (como ele anda sumido!) quem rouba a cena como o divertido e ao mesmo tempo realista Deck. Aliás, a contraposição dos dois lembra bastante a famosa e imortal obra de Miguel Cervantes, tanto nas características psicológicas como físicas dos personagens. Rudy é o idealista, enquanto Deck é o baixinho pragmático e esperto. A fórmula de sucesso é aqui mais uma vez utilizada para fisgar o espectador e não se pode negar que há sucesso na empreitada. Há ainda a personagem de Claire Danes, interesse romântico de Rudy, que a princípio parece um tanto deslocada na trama, mas que ao fim se encaixa como motivo relevante para algumas escolhas do jovem causídico (não vou revelar quais, obviamente).
O ponto fraco do longa, e isso se torna ainda mais problemático quando lembramos que o diretor é o mesmo de “O Poderoso Chefão”, é o maniqueísmo embotado nos personagens. Desde o início percebemos que Rudy é aquele herói incorruptível, enquanto outros, como o Leo Drummond (John Voight, o pai de Angelina Jolie), chefe da banca de advogados que defende a seguradora, são os “maus” pelos quais teremos que torcer contra e esse esquema preto-e-branco sempre enfraquece uma obra (a não ser que se trate de uma aventura-diversão, o que está longe de ser o caso). Talvez o único personagem que se situa entre um extremo e outro é justamente o de Danny DeVito já que, mesmo buscando ao máximo ajudar Rudy, ele algumas vezes se vale, digamos assim, de métodos pouco ortodoxos.
Contudo, o longa ainda assim funciona como filme-denúncia. A questão dos sistemas de saúde, principalmente aqueles dominados por seguros/planos privados, é algo que preocupa as sociedades de vários países e é absurdo como boa parte da sociedade americana parece ainda não ter se convencido disso, vide a resistência recente que Barack Obama enfrentou na última reforma do sistema ianque não só no congresso, mas também por parte da população (a qual, segundo pesquisas, se dividiu com relação à reforma). Não é à toa que a questão mereceu recentemente um documentário do sempre barulhento Michael Moore (o interessante “Sicko”), o que nos leva à conclusão que “O Homem Que Fazia Chover” é um longa-metragem de 1997, mas ainda muito atual, mesmo 13 anos depois.
Cotação:
Nota: 8,5
Não posso negar que, no caso deste “The Rainmaker”, há uma identificação pessoal com a trama apresentada pelo roteiro, que é uma adaptação do próprio Coppola para a obra de John Grisham, o rei dos best-sellers de tribunal. Afinal, eu sou formado em Direito, trabalho em um tribunal e advoguei durante 5 anos. Nada mais natural, então, que sinta uma imediata empatia pelo personagem do advogado Rudy Baylor (Matt Damon, ainda um garoto), um jovem idealista e recém-formado que acaba de ser aprovado no exame da Ordem e tem como um de seus primeiros casos uma ação contra uma seguradora de saúde. Sua cliente é uma família que busca que o seguro cubra o transplante de medula que poderá salvar a vida do filho, portador de leucemia. Rudy conta apenas com a ajuda de Deck Schifflet (Danny DeVito, ótimo), um bacharel que jamais passou no exame de ordem.
Essa posição quixotesca, do homem comum e de caráter contra o podre sistema, já foi, em inúmeras oportunidades, levada para as telas. Por outro lado, em poucas ocasiões temos a oportunidade de vê-la conduzida por mãos talentosas como as de Coppola, um diretor (e roteirista) que não deixa a plateia perder o interesse pelo que está assistindo. A trama segue sempre redonda, sem barrigas cansativas e contando com uma ótima direção de atores (uma das características do velho Francis). Damon já mostra porque se tornaria uma dos principais astros do cinema atual, mas é Danny DeVito (como ele anda sumido!) quem rouba a cena como o divertido e ao mesmo tempo realista Deck. Aliás, a contraposição dos dois lembra bastante a famosa e imortal obra de Miguel Cervantes, tanto nas características psicológicas como físicas dos personagens. Rudy é o idealista, enquanto Deck é o baixinho pragmático e esperto. A fórmula de sucesso é aqui mais uma vez utilizada para fisgar o espectador e não se pode negar que há sucesso na empreitada. Há ainda a personagem de Claire Danes, interesse romântico de Rudy, que a princípio parece um tanto deslocada na trama, mas que ao fim se encaixa como motivo relevante para algumas escolhas do jovem causídico (não vou revelar quais, obviamente).
O ponto fraco do longa, e isso se torna ainda mais problemático quando lembramos que o diretor é o mesmo de “O Poderoso Chefão”, é o maniqueísmo embotado nos personagens. Desde o início percebemos que Rudy é aquele herói incorruptível, enquanto outros, como o Leo Drummond (John Voight, o pai de Angelina Jolie), chefe da banca de advogados que defende a seguradora, são os “maus” pelos quais teremos que torcer contra e esse esquema preto-e-branco sempre enfraquece uma obra (a não ser que se trate de uma aventura-diversão, o que está longe de ser o caso). Talvez o único personagem que se situa entre um extremo e outro é justamente o de Danny DeVito já que, mesmo buscando ao máximo ajudar Rudy, ele algumas vezes se vale, digamos assim, de métodos pouco ortodoxos.
Contudo, o longa ainda assim funciona como filme-denúncia. A questão dos sistemas de saúde, principalmente aqueles dominados por seguros/planos privados, é algo que preocupa as sociedades de vários países e é absurdo como boa parte da sociedade americana parece ainda não ter se convencido disso, vide a resistência recente que Barack Obama enfrentou na última reforma do sistema ianque não só no congresso, mas também por parte da população (a qual, segundo pesquisas, se dividiu com relação à reforma). Não é à toa que a questão mereceu recentemente um documentário do sempre barulhento Michael Moore (o interessante “Sicko”), o que nos leva à conclusão que “O Homem Que Fazia Chover” é um longa-metragem de 1997, mas ainda muito atual, mesmo 13 anos depois.
Cotação:
Nota: 8,5
2 comentários:
Nossa,
Lembro muuito pouco deste filme...loquei no lançamento, era criança e mesmo assim assisti.
Preciso revê-lo, pois a trama e tudo que ele pauta eu deixei passar, naquela época eu tinha um olhar mais superficial.
Mas, sempre gostei de Claire Danes e Matt Damon!
Abraço, ótimo texto!
Vale à pena, rever, Cristiano. Coppola fez obras bem superiores, claro, mas é um filme interessante. Abraço!
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