Ontem foi preso na Suíça Roman Polanski, o genial diretor de filmes icônicos como “O Bebê de Rosemary”, “Chinatown” e “O Pianista”. Como muitos devem saber, Polanski, em 1977, foi acusado de manter relações sexuais como uma menina de 13 anos, Samantha Geimer, além de tê-la drogado para atingir esse fim. Condenado pela justiça americana, Polanski, que admitia o sexo com a garota, mas sem o uso de drogas, jamais voltou a colocar os pés nos Estados Unidos desde então. Fiquei sabendo da notícia ainda ontem à noite, mas hoje, durante sua veiculação no “Bom Dia Brasil”, um cidadão suíço deu uma entrevista falando sobre o ocorrido que me levou a uma reflexão. Abre aspas: “Tenho vergonha do que o governo do meu país está fazendo. Polanski é um gênio! Não merece ser tratado assim por algo que já ocorreu há tanto tempo...”. Fecha aspas.
É verdade que o crime já tem mais de 30 anos. No Brasil, mesmo levando em consideração a interrupção da prescrição que ocorre com a propositura da ação penal (e mais algumas possibilidades que seriam desnecessárias mencionar aqui, por favor), dificilmente este crime não estaria prescrito (assim como a pretensão executória). No caso dos EUA, inclusive, está se discutindo por lá se a pretensão executória já estaria prescrita ou não*. Também é verdade que a vítima, mesmo reiterando que foi violentada, “perdoou” publicamente o cineasta pelo ocorrido. Entretanto, apesar dessas verdades que amenizam a importância do erro cometido por Polanski, será que, como disse o entrevistado suíço, a sociedade deveria relevar o erro do diretor pelo fato do mesmo ser um gênio?
Isso é uma afirmação perigosa. Aqui mesmo, no Brasil, estamos sempre a nos queixar que as leis são aplicadas com dois pesos e duas medidas, agindo com rigor com relação a uns e com pouca eficácia em relação a outros, principalmente quando os réus são poderosos/abonados/famosos. A relativização de regras que devem ser aplicadas indistintamente a todos acaba sempre sendo nociva para a democracia, a qual tem por base justamente a igualdade de todos perante a lei. Se a lei americana ainda determinar a aplicação da pena (caso em que a prescrição não ocorreu), creio que o melhor será mesmo executá-la, não sendo saudável que o presidente Barack Obama conceda o perdão presidencial, como já estão pugnando os governos da França e Polônia (Polanski é cidadão franco-polonês). Falo isso com dor no coração, pois eu concordo com o fã suíço: ele é um gênio. “O Bebê de Rosemary” e “O Pianista” podem entrar facilmente em listas de melhores de todos os tempos. Já passou por dramas terríveis, como a vivência em uma Polônia ocupada pelo horror nazista (sua mãe morreu em Auschwitz e, quando menino, era comum os soldados de Hitler atirarem em sua direção só para vê-lo com medo...) e o assassinato brutal de sua esposa Sharon Tate pelo fanático psicótico Charles Manson. Mas também os gênios são seres humanos como eu e você e cometem seus erros (no caso, um erro bastante grave, já que se pode até classificá-lo como um ato de pedofilia). E, como todos, devem suportar as suas consequências...
* Se alguém da área jurídica quiser discutir essa minúcias, fique à vontade. O fato é que estou de férias e sem vontade, no momento, de buscar um livro de Direito Penal apenas para escrever esse texto. Não é o intuito aqui descer a tantos detalhes.
2 comentários:
Pesquisando a respeito de Polansky, meu diretor preferido em qq época, gênio indiscutível,o mundo continua cínico como sempre. Existem dois tempos nessa história, quando do ocorrido, o que se tem realmente é a palavra da pretensa ninfeta, que já vinha de uma vida pregressa(?) de atividade sexual intensa desde os oito anos, acompanhada de uma mãe que buscava sucesso e grana fácil usando sua filha. O cinismo de tudo isso lembra o coitado do Mychael Jackson, que foi vilipendiado e roubado flagrantemente...!
Na verdade, quem deveria ir para a cadeia seria essa mãe... onde estava ela, ao entregar sua "inocente filhinha" ao lobo mau...?!
Depois, são 31 anos de vida em que nada mudou dentro da conduta moral do diretor, que se manteve decentemente produtivo...!! Caso fosse um estuprador/pedófilo, não teria continuado o mesmo processo...?!
E a Suiça, heim, um dos paises mais ricos do mundo, onde nada se fabrica, porém, de seu subsolo nasce dinheiro dos bandidos, ali depositado, de todo o mundo e agora, posa de fiel da balança... que nojo de tudo isso e morro de pena do que temos de melhor em talento e genialidade,Polansky é único aprisionado covardemente por um paisinho ridículo o quer destruir...Bandidos...!!
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Pataxó,
A verdade é que, no direito brasileiro, não importa se a vítima, com apenas 13 anos, já tinha uma vida pregressa ou não.Existe uma presunção absoluta de que menores de 14 anos sofreram violência para praticar o sexo.Não sei como funciona na lei americana, mas no Brasil é assim. De qualquer forma, concordo com vc que a mãe dela, caso o que narra seja verídico, também deveria estar na cadeia! Abraço!
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