Curtindo a vida adoidado parte 2
Durante os últimos anos, as comédias mais voltadas para o público feminino vinham dominando o mercado cinematográfico. Os rapazes eram obrigados sempre a acompanhar suas esposas/namoradas/amigas às seções de filmes como “A Proposta”, “P.S. Eu Te Amo”, “Como Perder Um Homem Em 10 Dias”, além de outros exemplares do gênero. Nada em especial contra as comédias românticas. Apesar de ser um gênero extremamente previsível, mesmo o maior dos machões tem alguma “CR” que lhe deixou boas lembranças. Mas a verdade é que o cinema estava precisando dar uma respirada, trazer novos ares para as produções voltadas para o riso. E, aparentemente, o cenário parece estar mudando. Aqui mesmo, no Brasil, tivemos o exemplo recente de “A Mulher Invisível” que é uma comédia romântica, sim, mas com um olhar masculino. E a tendência da comédia visando o público marmanjo parece adquirir contornos mundiais com este “Se Beber, Não Case!”, um enorme sucesso nos Estados Unidos (já arrecadou cerca de US$ 270 milhões) e que tem tudo também para arrebentar nas bilheterias por onde passar.
Talvez esta seja uma das comédias americanas mais inconsequentes e politicamente incorretas desde “Quanto Mais Quente Melhor”, clássico absoluto de Billy Wilder, o qual, ao seu tempo, exerceu um papel transgressor similar a este “The Hangover” (ressaca, em inglês), inclusive sendo semelhantes na sua estrutura narrativa onde os eventos se sucedem de forma descontrolada (a famosa comédia de erros). Não que eu esteja querendo comparar Todd Phillips, diretor em geral medíocre, com o genial Billy Wilder. Por sinal, é bom ressaltar, “Se Bebe, Não Case!” apresenta um desfecho conservador que contrasta com o final escrachado e genial que Wilder deu ao seu longa de 1959. Mas é certo também que representa um novo ar de transgressão que estava escasso durante os moralistas anos Bush.
Outras semelhanças são observadas com o clássico oitentista “Curtindo a Vida Adoidado”, só que, aqui, as aventuras adolescentes são substituídas pelas de homens adultos, que estão deixando a liberdade da vida de solteiros para adentrar na estabilidade do casamento. Assim, o matar a aula é substituído pela despedida de solteiro, espécie de rito de passagem existente no mundo masculino (há até uma sub-trama relativa a um carro que vai lembrar muito a Ferrari do filme de John Hughes). E é esse o ponto de partida para uma trama que mostra quatro homens neste tal rito de passagem em Las Vegas, capital americana conhecida como “cidade do pecado” (sin city), local onde tudo é permitido e todos os excessos lá cometidos são perdoados e esquecidos. “O que se faz em Vegas, fica em Vegas”, diz o bordão que é repetido algumas vezes ao longo do filme. Estão lá Doug (o noivo, interpretado por Justin Bartha), os seus melhores amigos Stu (Ed Helms) e Phil (Bradley Cooper), além de Alan, seu cunhado (Zach Galifianakis), prontos para uma noitada que deveria ser inesquecível. Deveria, mas não é o que sucede. No dia seguinte, três deles acordam em uma suíte de hotel devastada, com uma galinha e um tigre lhes fazendo companhia (isso mesmo, um tigre), um bebê no armário e, pra completar, o noivo Doug está sumido. Pior ainda, eles não se lembram de nada que aconteceu. E terão que descobrir logo o paradeiro de Doug, já que o casamento está marcado para o dia seguinte.
Talvez a grande sacada do roteiro seja misturar a comédia com uma trama quase policial de mistério. A estrutura da narrativa deixa o espectador na mesma situação dos protagonistas. Não sabemos de nada do que aconteceu e também vamos descobrindo aos poucos os fatos que conduziram àquela situação quase surreal do início da projeção (a cena do tigre no banheiro me fez lembrar, inclusive, “Max e os Felinos”, obra de Moacyr Scliar onde um viajante se depara com um jaguar dentro de um bote salva-vidas no meio do oceano). Uma bem vinda originalidade nessa pasmaceira que vem se tornando Hollywood. E as peripécias são tantas que envolvem um casamento com uma prostituta, uma confusão com a máfia local a até uma participação de Mike Tyson nas diabruras da trupe (isso mesmo: Myke Tyson...). Vale dar um aviso: o filme tem um humor ácido e bastante politicamente incorreto, direcionado realmente para um público adulto. Mas, diferentemente dos toscos longas de Sacha Baron Cohen (“Borat” e o recente “Brüno”), “Se Beber, Não Case!” dá uma aula de como fazer qualquer público rir mesmo ao mostrar as situações mais descabidas e indiscretas.
E isso, com certeza, também se deve muito às atuações. Todo o elenco está afiado, mas o destaque especial vai para Ed Helms, com seu impagável e manicaca dentista Stu e, principalmente, Zach Galifianakis, que fez do cunhado Alan um tipo completamente insano ao mesmo tempo que bastante carismático. Há ainda diversas referências a outros longas (os três amigos cuidando do bebê me fizeram lembrar imediatamente de “Três Solteirões e um Bebê”), além de uma trilha sonora muito bem adequada, com direito até a uma espécie de “ode ao Doug”.
A maioria das mulheres pode reclamar um pouco de que quase todas as personagens femininas do longa são mostradas como manipuladoras ou autênticas megeras (como a noiva de Stu) e de que a única garota legal é justamente a prostituta (a lindinha Heather Graham, muito embora eu não considere a noiva de Doug exatamente uma chata: ela não tem ataques de possessividade, quer apenas que o noivo compareça à cerimônia). Mas perdoem, garotas. Às vezes, é bom ver os fatos por outras perspectivas, não? E, embora algumas piadas surjam um pouco forçadas em certos momentos, “Se Beber, Não Case!” é um filme de muitos acertos e poucos erros.E mesmo com seu final um tanto “tradicional”, por assim dizer (como já mencionado mais acima), ainda arranja espaço para a anarquia durante os créditos, bastante criativos e que elucidam muito do que aconteceu na tal noite inesquecível-esquecida. A transgressão está definitivamente de volta às telas.
Cotação: * * * * ½ (quatro estrelas e meia)
Nota: 9,5
Durante os últimos anos, as comédias mais voltadas para o público feminino vinham dominando o mercado cinematográfico. Os rapazes eram obrigados sempre a acompanhar suas esposas/namoradas/amigas às seções de filmes como “A Proposta”, “P.S. Eu Te Amo”, “Como Perder Um Homem Em 10 Dias”, além de outros exemplares do gênero. Nada em especial contra as comédias românticas. Apesar de ser um gênero extremamente previsível, mesmo o maior dos machões tem alguma “CR” que lhe deixou boas lembranças. Mas a verdade é que o cinema estava precisando dar uma respirada, trazer novos ares para as produções voltadas para o riso. E, aparentemente, o cenário parece estar mudando. Aqui mesmo, no Brasil, tivemos o exemplo recente de “A Mulher Invisível” que é uma comédia romântica, sim, mas com um olhar masculino. E a tendência da comédia visando o público marmanjo parece adquirir contornos mundiais com este “Se Beber, Não Case!”, um enorme sucesso nos Estados Unidos (já arrecadou cerca de US$ 270 milhões) e que tem tudo também para arrebentar nas bilheterias por onde passar.
Talvez esta seja uma das comédias americanas mais inconsequentes e politicamente incorretas desde “Quanto Mais Quente Melhor”, clássico absoluto de Billy Wilder, o qual, ao seu tempo, exerceu um papel transgressor similar a este “The Hangover” (ressaca, em inglês), inclusive sendo semelhantes na sua estrutura narrativa onde os eventos se sucedem de forma descontrolada (a famosa comédia de erros). Não que eu esteja querendo comparar Todd Phillips, diretor em geral medíocre, com o genial Billy Wilder. Por sinal, é bom ressaltar, “Se Bebe, Não Case!” apresenta um desfecho conservador que contrasta com o final escrachado e genial que Wilder deu ao seu longa de 1959. Mas é certo também que representa um novo ar de transgressão que estava escasso durante os moralistas anos Bush.
Outras semelhanças são observadas com o clássico oitentista “Curtindo a Vida Adoidado”, só que, aqui, as aventuras adolescentes são substituídas pelas de homens adultos, que estão deixando a liberdade da vida de solteiros para adentrar na estabilidade do casamento. Assim, o matar a aula é substituído pela despedida de solteiro, espécie de rito de passagem existente no mundo masculino (há até uma sub-trama relativa a um carro que vai lembrar muito a Ferrari do filme de John Hughes). E é esse o ponto de partida para uma trama que mostra quatro homens neste tal rito de passagem em Las Vegas, capital americana conhecida como “cidade do pecado” (sin city), local onde tudo é permitido e todos os excessos lá cometidos são perdoados e esquecidos. “O que se faz em Vegas, fica em Vegas”, diz o bordão que é repetido algumas vezes ao longo do filme. Estão lá Doug (o noivo, interpretado por Justin Bartha), os seus melhores amigos Stu (Ed Helms) e Phil (Bradley Cooper), além de Alan, seu cunhado (Zach Galifianakis), prontos para uma noitada que deveria ser inesquecível. Deveria, mas não é o que sucede. No dia seguinte, três deles acordam em uma suíte de hotel devastada, com uma galinha e um tigre lhes fazendo companhia (isso mesmo, um tigre), um bebê no armário e, pra completar, o noivo Doug está sumido. Pior ainda, eles não se lembram de nada que aconteceu. E terão que descobrir logo o paradeiro de Doug, já que o casamento está marcado para o dia seguinte.
Talvez a grande sacada do roteiro seja misturar a comédia com uma trama quase policial de mistério. A estrutura da narrativa deixa o espectador na mesma situação dos protagonistas. Não sabemos de nada do que aconteceu e também vamos descobrindo aos poucos os fatos que conduziram àquela situação quase surreal do início da projeção (a cena do tigre no banheiro me fez lembrar, inclusive, “Max e os Felinos”, obra de Moacyr Scliar onde um viajante se depara com um jaguar dentro de um bote salva-vidas no meio do oceano). Uma bem vinda originalidade nessa pasmaceira que vem se tornando Hollywood. E as peripécias são tantas que envolvem um casamento com uma prostituta, uma confusão com a máfia local a até uma participação de Mike Tyson nas diabruras da trupe (isso mesmo: Myke Tyson...). Vale dar um aviso: o filme tem um humor ácido e bastante politicamente incorreto, direcionado realmente para um público adulto. Mas, diferentemente dos toscos longas de Sacha Baron Cohen (“Borat” e o recente “Brüno”), “Se Beber, Não Case!” dá uma aula de como fazer qualquer público rir mesmo ao mostrar as situações mais descabidas e indiscretas.
E isso, com certeza, também se deve muito às atuações. Todo o elenco está afiado, mas o destaque especial vai para Ed Helms, com seu impagável e manicaca dentista Stu e, principalmente, Zach Galifianakis, que fez do cunhado Alan um tipo completamente insano ao mesmo tempo que bastante carismático. Há ainda diversas referências a outros longas (os três amigos cuidando do bebê me fizeram lembrar imediatamente de “Três Solteirões e um Bebê”), além de uma trilha sonora muito bem adequada, com direito até a uma espécie de “ode ao Doug”.
A maioria das mulheres pode reclamar um pouco de que quase todas as personagens femininas do longa são mostradas como manipuladoras ou autênticas megeras (como a noiva de Stu) e de que a única garota legal é justamente a prostituta (a lindinha Heather Graham, muito embora eu não considere a noiva de Doug exatamente uma chata: ela não tem ataques de possessividade, quer apenas que o noivo compareça à cerimônia). Mas perdoem, garotas. Às vezes, é bom ver os fatos por outras perspectivas, não? E, embora algumas piadas surjam um pouco forçadas em certos momentos, “Se Beber, Não Case!” é um filme de muitos acertos e poucos erros.E mesmo com seu final um tanto “tradicional”, por assim dizer (como já mencionado mais acima), ainda arranja espaço para a anarquia durante os créditos, bastante criativos e que elucidam muito do que aconteceu na tal noite inesquecível-esquecida. A transgressão está definitivamente de volta às telas.
Cotação: * * * * ½ (quatro estrelas e meia)
Nota: 9,5
2 comentários:
Não fiquei impressionado com Avatar.
Espero mais de filmes que "uma grande revolução tecnológica" ou algo parecido.
A história me pareceu meio clichê e bobalhona e alguns efeitos pareciam ruins no trailer...
Com relação aos efeitos, tem que se dar um certo desconto, pois o filme é em 3D e aqui estamos vendo em 2D. Mas, não sei, senti algo um tanto diferente na apresentação do filme.
O que parece não entusiasmar mesmo é o roteiro, um tanto pobre, a princípio.
Só resta aguardar.
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