domingo, 7 de fevereiro de 2010

O Fim da Escuridão


Mel Gibson: o retorno


Dois motivos me despertaram o interesse por “O Fim da Escuridão”, filme atualmente em cartaz no circuito comercial brasileiro. O primeiro deles, a presença de Mel Gibson em tela, depois de 8 anos sem atuar dedicando-se apenas à direção (nesses anos, dirigiu “A Paixão de Cristo” e “Apocalypto”). O segundo, a direção de Martin Campbell, o responsável pelo excelente “Cassino Royale”, o melhor longa da franquia “007” desde “Goldfinger”. A união dos dois talentos sugeria um bom resultado e a verdade é que, embora não seja excepcional, “O Fim da Escuridão” é um filme inteligente, muito embora deixe a sensação de que poderia ser melhor.

A trama, repleta de nuances políticas e teorias da conspiração (Gibson parece adorar este tipo de roteiro, basta lembrar que estrelou “Teoria da Conspiração” ao lado de Julia Roberts), narra a história de Thomas Craven, um policial da divisão de homicídios de Boston. Viúvo, sua grande alegria é a filha, Emma (Bojana Novakovic), que acabou de se formar no MIT e está estagiando na empresa de pesquisa nuclear Northmoor. Durante uma de suas folgas, Emma vai visitar o pai. A garota não se sente bem e, quando ambos estão saindo para o hospital, ela é assassinada por um homem misterioso que apenas grita “Craven”. Será que o tiro era mesmo dirigido à garota ou seria ao pai?

A narrativa vai se desenvolvendo a contento durante a primeira metade da projeção. Contudo, a partir de certo ponto, o roteiro de William Monahan (roteirista de “Os Infiltrados”, o que já denota que o mesmo adora uma remake) e Andrew Bovell, adaptado de uma premiada minissérie inglesa (que foi dirigida pelo próprio Campbell), descamba para a previsibilidade quando passamos a conhecer, antes da hora, os verdadeiros responsáveis pela morte da garota - e é bom não mencionar muito mais do que isso, sob pena de colocar spoilers gigantes que estragariam qualquer prazer na sessão. O longa se torna, a partir daí, um drama de vingança meio que dentro de um estilo “Desejo de Matar” dos velhos tempos do Charles Bronson. Aliás, essa também é uma característica de Gibson, cujos filmes em que ele procura uma vingança são uma constante em sua carreira (só para citar dois exemplos clássicos: “Ma Max” e “Coração Valente” se encaixam nessa linha). Contudo, mesmo nesta parte, o filme não se torna ruim, tendo em vista o conhecido talento de Campbell para dirigir cenas ação com sua técnica perfeita e momentos que ainda rendem alguns sustos que resultam de uma edição muito bem realizada.

Por outro lado, o texto só não descamba totalmente para a ação devido às presenças tanto de Gibson quanto de Ray Winstone, o qual faz o papel do misterioso Jedburgh, personagem contratado para limpar a sujeira que parece sair do controle. Os momentos em que os dois estão em cena são ótimos, com diálogos bem escritos e ótimas caracterizações. Entretanto, é inegável que todo o potencial de crítica ao sistema, com seus meandros e podres desconhecidos por 99% dos cidadãos, acaba se diluindo e perdendo a força e, ao término da sessão, temos a sensação apenas de termos visto um thriller bem engendrado e com a marcante figura de Mel Gibson. Afinal, Hollywood, na grande maioria dos casos, acaba diminuindo a qualidade dos projetos originais que resolve adaptar para o modelo palatável aos americanos. Um filme que poderia causar bem mais impacto não fosse a mediocridade dos produtores ianques. Gostinho de “poderia ser melhor” vai ficar na sua boca.


Cotação: * * * (três estrelas)
Nota: 7,5
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