.jpg)
Festa nerd
Faço parte da turma que esperava ver há muitos, muitos anos uma aventura dos Vingadores transposta para a tela grande, pois que, desde garoto, acompanhei os quadrinhos do supergrupo da Marvel Comics, formado pelos heróis mais famosos e poderosos do seu time. Por outro lado, a estratégia que os estúdios Marvel vinham utilizando como gancho e divulgação para o projeto já vinha me incomodando desde
“Homem de Ferro 2” (Iron Man 2, 2010), pois que todos os seus longas de super-heróis, passando por “Thor” e “Capitão América”, possuíam cenas pós-créditos com “deixas” para a tão falada produção. Algo que no início pareceu interessante, mas que depois resultou apenas aborrecido. Eu sempre pensava com os meus botões: “esse filme terá que ser muito bom para compensar tanta expectativa”. Bem, chegamos a 2012 e, antes que o mundo acabasse, a Marvel lançou, no último dia 27 de abril no circuito internacional (curiosamente antes do mercado estadunidense), com muito estardalhaço, pompa e circunstância em um número gigantesco de salas, “Os Vingadores” (The Avengers). Ao menos aqui em Natal, onde resido, o público presente no primeiro fim de semana foi digno das ambições dos executivos. A sessão a que eu e minha esposa pretendíamos assistir já estava esgotada quando chegamos, nos forçando a esperar mais uma hora para pegar outra que terminou igualmente lotada.
Valeu à pena a espera? A verdade é que, mesmo não sendo um filme perfeito, “O Vingadores” é um ótimo filme de ação, muito bem acabadinho não só para o público nerd (que deverá sair bem satisfeito das salas), como também para aqueles que estejam à procura de um filme-pipoca no fim de semana. Embora pouco experiente em produções voltadas para o cinema, o diretor Joss Whedon soube trabalhar muito bem todos os arcos dramáticos, atribuindo destaque a todos os personagens em igual medida – ao contrário do que se temia, pois que muitos imaginavam que, devido à sua popularidade, o Homem de Ferro acabasse roubando a cena e o espaço dos demais. Na realidade, a larga experiência de Whedon na TV, em séries como “Buffy – A Caça-Vampiros” e “Angel”, contribuiu e muito para o sucesso em mostrar tantos personagens com equilíbrio e sem confundir o espectador, já que na televisão é essencial trabalhar desta forma. Mesmo diante de um tempo bem mais escasso, reduzido a 140 minutos, Whedon é feliz no intento, muito embora o roteiro se mostre arrastado em seu princípio, demorando a engatar e em alguns momentos se perdendo em diálogos dispensáveis explicativos da pseudo-ciência comumente presente nas HQs da Marvel.

Na trama, o irmão adotivo de Thor, Loki (Tom Hiddleston, muito à vontade), planeja uma invasão à Terra juntamente com a raça alienígena dos Chitauri. Para tanto, eles usarão um cubo energético denominado Tesseract (o “MacGuffin” do enredo), capaz de abrir um portal entre partes remotas do universo que possibilite a invasão. Para tentar impedir os intentos do deus da trapaça, Nick Fury (Samuel L. Jackson, hoje em dia uma espécie de coadjuvante de luxo em filmes de ação), diretor da agência de espionagem SHIELD, irá recrutar, com a ajuda do agente Coulson (Clark Gregg, sendo este um tipo criado especialmente para o cinema), um grupo de super-humanos que incluirá além do Homem de Ferro (Robert Downey Jr, na sua caracterização costumeiramente impagável), também o poderoso Thor (Chris Hemsworth, que considerei melhor no filme solo do deus do trovão), o Capitão América (Chris Evans, hoje muito mais “Capitão” do que “Tocha Humana”) e o Dr. Bruce Banner/Hulk (o sempre ótimo Mark Ruffalo, aqui atribuindo uma aura bem simpática ao perturbado cientista). À parte estes heróis, que já haviam sido apresentados ao público em seus próprios longas solo, somos apresentados à Viúva Negra (Scarlett Johansson, cada vez mais bonita) e ao Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), muito embora este tenha participado de uma ponta em
“Thor” (2011).

O roteiro, escrito pelo próprio Whedon juntamente com Zak Penn, desenvolve-se daquela forma previsível em que um grupo enfrenta conflitos de egos e personalidades até que seus integrantes resolvem deixar as diferenças de lado em prol de um objetivo maior. Como já frisado mais acima, a primeira metade da produção transcorre um tanto arrastada, por vez até mesmo aborrecida, sendo compensada por diálogos inteligentes e boa dose de humor - principalmente quando Tony Stark e Bruce Banner estão em cena - além da boa e equilibrada abordagem de cada um dos superseres anteriormente mencionada . Entretanto, a previsibilidade e lentidão iniciais são compensadas, ao final, com um clímax estupendo, onde Whedon nos dá um show de direção em sequências de ação, sabendo mostrar várias tomadas paralelas sem confundir o espectador (viu, Michael Bay?) e fazendo com que torçamos pelos super-heróis como em nenhum outro filme da Marvel Studios. Algumas cenas realmente já se tornaram clássicas, como a que Hulk “esmaga” Loki (na sala em que assistimos, o público veio abaixo em gargalhadas, eu incluso) ou a que o Capitão América dá ordens aos policiais na ruas de uma Nova York destruída (nem a verdadeira destruição da cidade no 11 de setembro fez com que os norte-americanos passassem a poupar a Big Apple nas telas). Todavia, quem rouba mesmo a cena é o Hulk. O gigante verde, que havia deixado a desejar em suas aventuras solo, aqui não apenas diverte com tiradas espirituosas como empolga com sua força descomunal. Pena que o roteiro peque justamente na abordagem do seu comportamento, ora totalmente descontrolado, ora dirigido ao confronto contra os adversários certos, o que fez surgir teorias na internet que na verdade apenas ratificam a falha dos escritores em deixar claro o porquê de suas motivações.
Mesmo não chegando ao nível de um
“Batman – O Cavaleiro das Trevas” (The Dark Knight, 2008), com sua abordagem adulta e cunho autoral imprimidos por Christopher Nolan, “Os Vingadores” cumpre muito bem seu papel de filme de aventura para as massas e eu, como leitor antigo das HQs, me senti respeitado e mesmo homenageado na figura do nerd agente Coulson. Diante da bilheteria arrasadora que a produção vem obtendo (teve a maior renda de estreia no Brasil em todos os tempos, só para citar um exemplo), não é preciso ser adivinho para prever que teremos logo, logo uma continuação e a Disney (que comprou a Marvel) deve estar festejando os números depois do recente fracasso de
“John Carter”. Uma festa nerd que ainda renderá próximos capítulos, sem dúvida.
Cotação:
 |
Nota: 8,5 |