segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Comentários sobre o Oscar 2012



Comentários em pílulas sobre a festa do Oscar:

- Minha grande satisfação na noite foi ver Meryl Streep finalmente levando uma estatueta depois de 30 anos. Na realidade, essa foi a primeira vez que pude ver uma das minhas atrizes favoritas vencendo o prêmio, pois que em 1982 eu tinha apenas 4 anos. Fiquei feliz, mesmo não tendo a menor simpatia pela personagem que interpretou;

- Outro grande momento da noite foi a ovação a Christopher Plummer, aplaudido de pé, mas bem que poderiam ter considerado um empate e premiado também o grande Max Von Sydow;

- Octavia Spencer tinha tudo para ter protagonizado também um dos grandes momentos da festa, mas se emocionou demais e provocou até um certo constrangimento;


- Foi ótimo ver Woody Allen sendo premiado novamente, mesmo sem vê-lo;

- Não resta dúvidas que Billy Crystal é o melhor apresentador do Oscar. Consegue brincar com todo mundo sem ofender;

- Esperava-se bem mais da apresentação do Cirque du Soleil, que terminou sendo mais ou menos;

- Jenniffer Lopez deve ter se inspirado na sua recente passagem pelo carnaval do Rio de Janeiro para escolher o seu vestido nada discreto;

- Já Natalie Portman deu um show de elegância:

- O prêmio de filme estrangeiro para "A Separação" foi o mais previsível da noite;

- A premiação de “A Invenção de Hugo Cabret” em efeitos especiais foi uma verdadeira homenagem da Academia ao pai de tais efeitos, Geoges Méliès;

- Como bem disse José Wilker na transmissão da Globo, “Hugo” é o primeiro longa realmente em 3D. Os anteriores foram apenas ensaios;

- Por sinal, muito justos todos os prêmios do filme de Scorsese;


- Admito que a canção de “Rio” não é lá essas coisas, mas a canção vencedora é simplesmente horrorosa. O que um lobby não faz...;

- Falando em lobby, tivemos em “O Artista” mais outro exemplo de influência dos Weinstein, fazendo até a Academia esquecer seus critérios para trilha original e premiar um trabalho baseado em temas preexistentes (fato que levou à eliminação da trilha de “Cisne Negro” no ano passado);

- Sugerir que Michel Hazanavicius é melhor diretor que Martin Scorsese é algo de puro mau gosto;

- Jean Dujardin teve um ótimo desempenho, mas tenho lá minhas dúvidas sobre sua versatilidade;

- Aliás, concordo plenamente com o Rubens Ewald Filho na transmissão da TNT sobre os prêmios para “O Artista”: “não sei se é realmente pra isso tudo. O futuro dirá”.

Bem, agora, só em 2013! Enquanto isso, o "Cinema Com Pimenta" continua se dedicando à cinefilia. Abraço!

domingo, 26 de fevereiro de 2012

A Dama de Ferro



Meryl Thatcher Streep


O mundo em que vivemos hoje, dominado por instituições financeiras que retiram dos povos a sua soberania começou a ser engendrado ao longo da década de 1980 e teve como seus grandes artífices o então presidente dos Estados Unidos, o ex-ator Ronald Reagan, e a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher. Podem colocar na conta do legado de ambos essa lógica cruel de que os governos devem empurrar dinheiro público para salvar os bancos de quebradeiras, ao mesmo tempo em que, quando são os Estados que enfrentam dificuldades, devem cortar gastos públicos (leia-se, menos saúde, menos educação, menos incentivo à cultura...), empreender demissões, reduzir salários entre outras medidas do gênero. Ou seja, quando os bancos vão mal, quem arca com os prejuízos é o povo (via doações estatais para “reestruturar”os falidos). E quando os Estados vão mal das pernas, quem sofre as consequências também é o povo. Sim, a dobradinha Thatcher-Reagan foi a responsável pelo que hoje chamamos de “neoliberalismo”, um modelo que hoje encontra o seu ocaso.

É intrigante que se tenha realizado a ideia de um longa sobre a chamada “Dama de Ferro” (uma alcunha criada pelos soviéticos com um tom inicialmente pejorativo) do Reino Unido justamente em um tempo em que suas ideias se mostram, mais do que nunca, ultrapassadas e passíveis de enormes críticas. Sua postura reconhecidamente autoritária destoa de um mundo onde movimentos como Occupy Wall Street e Anonymous parecem despontar a cada dia. Aliás, os integrantes do citado Anonymous costumam usar a máscara de um personagem criado pelo quadrinhista Alan Moore (na HQ “V de Vingança”, adaptada para o cinema) como uma crítica e reação ao conservadorismo da era Thatcher, marcada por uma forte repressão aos sindicatos – a famosa greve dos mineiros se tornou icônica neste aspecto – e demandas sociais relegadas a segundo plano (qualquer semelhança com ideias defendidas por sabichões da mídia tupiniquim não é mera coincidência). Ou seja, Thatcher foi uma das principais responsáveis pelo fim do Estado do bem-estar social, modelo surgido no Ocidente do pós-guerra como uma reação ao sistema socialista do Leste Europeu.


Um figura politicamente tão controversa como Thatcher, no caso de uma adaptação para o cinema, mereceria a regência de um diretor experiente, acostumado a lidar com personagens reais e que resistisse às tentações de uma possível romantização de sua trajetória (o nome de Martin Scorsese, responsável por obras como “Touro Indomável” e “O Aviador” é o primeiro que me vem à mente). A escolha, entretanto, recaiu em Phyllida Lloyd, uma diretora que está apenas em seu segundo longa-metragem para o cinema (o primeiro foi “Mamma Mia!”, também com Meryl Streep) e que, infelizmente, não resistiu bem às mencionadas tentações, procurando construir a imagem de Margaret como uma “batalhadora-perseverante-que-alcança-seus-sonhos”. Neste ponto, o filme lembra o nacional “Lula, O Filho do Brasil” (2009), muito criticado por aqui por tentar transformar a história do ex-presidente em uma hagiografia. Com “ A Dama de Ferro” não é muito diferente, a começar pela opção escolhida de retratá-la na sua atual fase de demência decorrente do mal de Alzheimer, o que desde logo condiciona o público a enxergá-la com sentimentos de piedade. Uma espécie de recurso, intencional ou não (mas duvido que não o seja), que acaba turvando o nosso senso crítico. Contudo, se este se apresenta como um recurso sutil, há passagens ao longo da projeção que resultam em verdadeiro sensacionalismo, como na sequência em que a então primeira-ministra deixa o cargo se despedindo dos funcionários da 10 Downing Street (a residência oficial do primeiro-ministro), assemelhando-se a uma heroína que se dá adeus aos seus companheiros de batalha.

Além da mistificação, outro ponto me deixou incomodado no trabalho de Lloyd. Ela se esforça o tempo inteiro para atribuir uma conotação feminista à figura de Thatcher, algo que não é verdade. Ela nunca ergueu essa bandeira e suas atitudes enquanto governante demonstram muitos mais serem reflexos de uma mulher masculinizada – não no sentido sexual, mas na forma de entender o Estado e a sociedade – do que a demonstração do feminino no poder. Exemplo claro disso foi a utilização de um conflito armado, no caso a guerra das Malvinas, par alavancar sua popularidade que se encontrava em níveis baixíssimos no início da década de 80. Seu comportamento enquanto governante, dotado de intransigência, autoritarismo e espírito belicoso, na realidade parece muito mais demonstrar que, no fundo, sua chegada ao poder foi muito mais uma vitória do machismo, o qual condiciona as mulheres a agirem como homens para se manterem no poder ou mesmo conseguir administrar. Ou seja, Thatcher jamais representou um avanço nas conquistas dos direitos das mulheres.


Vale dizer, ademais, que “ The Iron Lady” falha não apenas na análise de sua personagem histórica. O filme também não alcança sucesso enquanto narrativa cinematográfica. O roteiro atropelado de Abi Morgan (o mesmo do polêmico “Shame”, ausente do Oscar), realizado a partir de flashbacks constantes, torna a experiência desinteressante e por vezes confusa. Boa parte do enredo se desenrola com Thatcher dialogando com a alucinação de Denis, seu marido falecido em 2003, numa temerária suposição de como funciona sua consciência. Além disso, o longa possui uma câmera nervosa totalmente inadequada ao tom introspectivo que tenta imprimir, cheia de angulações e movimentos desnecessários. Sinceramente, cheguei a ficar aborrecido em algumas passagens. A dispersão do público é quase inevitável durante a sessão.

Se esta não chega a acontecer completamente isso se deve principalmente a dois fatores. Por mais tendenciosa ou superficial que seja a análise apresentada, a história de uma figura pública tão relevante (para o bem ou para o mal) sempre despertará interesse, nem que seja para criticar as omissões ou distorções dos fatos. Destarte, não resta dúvida que o grande chamariz de “A Dama de Ferro” é a soberba atuação de Meryl Streep. Impecável, sua interpretação lembra a de Marion Cotillard em “Piaf – Um Hino Ao Amor” (La Môme, 2007), realizando um autêntico mergulho não apenas no exterior, mas também na alma da figura retratada. Um trabalho impressionante que consegue deixar o espectador interessado na narrativa, por mais falhas que esta apresente. Sua indicação ao Oscar é mais do que justa e será ainda mais justo se ela de fato levar o prêmio, muito embora a tendência seja a de premiar Viola Davis (que também nos entrega uma grande interpretação em “Histórias Cruzadas”, convém lembrar). Afinal, apesar de seu enorme talento (quem não é seu fã?), Meryl já se tornou a maior perdedora do Oscar, tendo levado apenas 2 vezes e perdido em 15 oportunidades. Auxiliando a grande atriz, ainda temos uma maquiagem fabulosa de Mark Coulier que auxilia no seu envelhecimento.

No entanto, uma grande atuação pode salvar um filme do desastre, mas não irá transformá-lo em um bom trabalho. Cheio de tropeços, romantizações e parcialidades, “A Dama de Ferro” nem chega a ser tão controverso quanto sua biografada pelo simples motivo de que, no caso desta, alguns adeptos de sua visão conservadora poderão defender com unhas e dentes sua gestão (o que, como já deixei transparecer, não é o meu caso). Entretanto, mesmo os admiradores da líder britânica hão de convir que esta cinebiografia de Phyllida Lloyd deixa bastante a desejar. A verdade é que, não fosse a atuação de Streep, o longa-metragem mereceria o mesmo destino das políticas da “Dama de Ferro”: o esquecimento. Acredito que não seria uma má ideia alterar o título do longa para“Meryl Thatcher Streep”...


Cotação:

Nota: 6,5

______________________

ATUALIZADO: E Meryl venceu mesmo!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Quero Ver Novamente #16


Nesses tempos que antecedem a grande festa da Academia de Hollywood, sempre costumamos lembrar de suas injustiças. Uma costumeiramente citada é a não premiação de "Cidadão Kane" (Citizen Kane) com a láurea de melhor filme. Entretanto, é rotineiro esquecer os seus concorrentes naquele ano de 1942, quando se premiou as produções de 1941. "Cidadão Kane" (na minha opinião exageradamente considerado o melhor filme de todos os tempos) não concorreu com obras de baixo valor artístico. Entre seus rivais estavam "O Falcão Maltês - Relíquia Macabra" (The Maltese Falcon), um marco do cinema noir dirigido por John Huston, e "Como Era Verde Meu Vale" (How Green Was My Valley), o qual acabou levando o prêmio de melhor filme, um longa de John Ford de forte teor social em que ele retorna às suas origens irlandesas, narrando o cotidiano de uma família de mineiros que são afetados pela crise econômica. Para ser sincero, "Como Era Verde Meu Vale" foi um filme que me deixou marcas bem mais perenes que o longa de Orson Welles. Um bonito drama que conta com doses de emoção na medida certa, além de uma bela fotografia e direção de arte (esses quesitos também levaram o Oscar). Além disso, é perfeitamente lógico que se quisesse premiar uma película que falasse de problemas sociais em uma época em que os EUA ainda se recuperavam da grande depressão e acabavam de ingressar no conflito mundial. O filme também rendeu o terceiro Oscar a Ford como diretor (o segundo em sequência, pois no ano anterior ele havia ganhado por "As Vinhas da Ira"). Abaixo, segue a sua sequência inicial. Garanto que, se você ainda não viu "Como Era Verder Meu Vale", ficará no mínimo com curiosidade de conhecer o restante. Alguns podem até considerar, em uma opinião pessoal, que "Cidadão Kane" merecia mais. Entretanto, elevar a premiação do longa de John Ford à condição de "injustiça" é um belo exagero.


domingo, 19 de fevereiro de 2012

A Invenção de Hugo Cabret



Herança de um visionário


Entre os indicados aos prêmios da Academia de Hollywood este ano há, em alguns deles, uma curiosa interseção: um olhar para um passado vislumbrado como nostálgico e profícuo em termos artísticos. É assim com o retorno à Paris dos anos 20 promovido por Woody Allen em “Meia-Noite em Paris”, quando o alter-ego do diretor se encontra com vários grandes nomes da literatura, pintura e cinema. Destarte, outros dois longas dividem uma visão ainda mais específica ao focarem os primeiros tempos da Sétima Arte. “O Artista” retrata a Hollywood do final dos anos 20/início dos 30, época da grande depressão econômica e do advento do cinema sonoro. Já este “A Invenção de Hugo Cabret”, dirigido por ninguém menos que Martin Scorsese, volta seu olhar para os verdadeiros pioneiros da cinematografia, os desbravadores franceses que inventaram o cinema, tanto quanto experimento técnico-documental (os Irmãos Lumière), quanto como expressão artística e imaginativa (o cineasta Georges Meliès). Talvez seja ainda mais curioso perceber que um filme francês volta seu olhar para Hollywood, enquanto uma película norte-americana coloca seu foco no cinema francês.

É sabido que Scorsese não é apenas um dos cineastas mais importantes do cinema contemporâneo. Sua paixão pelo ofício também o transformou em um grande pesquisador da história cinematográfica, além de levá-lo a um trabalho de restauração de películas de relevante valor artístico. Lembrando destas suas nuances, é possível enxergar este seu novo longa como uma tradução deste seu trabalho como pesquisador e restaurador, pois que “A Invenção de Hugo Cabret” é, antes de mais nada, um tributo aos primeiros tempos do cinema. É sensível em toda a projeção a paixão que cada fotograma exala, a reverência de um cinéfilo àqueles responsáveis pela criação da arte em questão. Sabe-se, ademais, que Scorsese resolveu filmar a trama porque sua filha de 12 anos leu o livro de Brian Selznick (sobrinho-neto do lendário produtor David O. Selznick) e gostou muito, fato que levou sua esposa a sugerir “por que você não faz um filme que sua filha possa assistir?”. Tal circunstância também se faz notar nos seus 126 minutos de duração, dados o carinho e respeito com que o diretor trata os personagens.


Adaptado por John Logan (que já havia trabalhado com o diretor em “O Aviador”), o roteiro conta a história do garoto Hugo Cabret (Asa Butterfield), o qual, após o falecimento trágico do seu pai (Jude Law) passa a morar na Gare du Nord, famosa estação de trem em Paris, onde conserta e dá corda nos relógios que orientam passageiros e maquinistas. Vivendo de pequenos furtos, nas horas vagas o órfão tenta fazer um autômato voltar a funcionar, engenhoca que lhe foi deixada por seu pai e que ele acredita trará uma mensagem do seu genitor tão logo seja colocada em movimento. É tentando furtar uma peça necessária para o autômato que ele acaba sendo flagrado pelo dono de uma loja de brinquedos da estação (Ben Kingsley), o qual lhe confisca seu caderno de anotações. Tentando reaver o caderno, Hugo acaba conhecendo a sobrinha do proprietário da lojinha, Isabelle (Chloë Grace Moretz), uma garota inteligente que o ajudará na montagem do autômato e a resolver alguns mistérios que se seguirão.

Com um premeditado clima lúdico e de fantasia, o enredo se desenrola de maneira completamente envolvente, algo perfeitamente esperado de um diretor que dispensa apresentações. Com um ritmo irretocável ditado pela edição primorosa de Telma Schoonmaker, velha colaboradora de Scorsese, o longa ainda se destaca pela belíssima fotografia em 3D e aqui eu vou abrir parênteses. Honestamente, nunca havia assistido a um 3D tão eficiente quanto este. Acho que nem mesmo “Avatar” havia atingido um poder de imersão tão grande quanto aqui. Em algumas sequências, principalmente nos travellings iniciais, temos de fato a sensação de estar naquele ambiente, tamanha a eficácia do recurso (o que implica dizer que você perderá muito se não assistir ao filme em uma sala de projeção). Mas não é só no uso da terceira dimensão que a fotografia se apresenta notável. O uso da perspectiva de Hugo para mostrar o cotidiano das pessoas na estação é algo que remete ao cinema documental dos irmãos Lumière, estabelecendo o cinema como observador da realidade. No mesmo nível, a direção de arte também é perfeita tanto no auxílio ao tom de fábula, como na reconstituição de época, trazendo-nos uma linda Paris da primeira metade do século passado. Tudo isso auxiliado por um bom elenco, desde o veterano Kingsley ao garoto Asa, com seus expressivos olhos azuis, passando até por Sacha Baron Cohen (para a minha surpresa, pois não costumo gostar dos seus trabalhos), que interpreta o inspetor da estação que vive a perseguir o pequeno Cabret, todos entregam atuações competentes (de quebra, ainda temos uma participação elegante de Christopher Lee).


Mas as qualidades da produção vão bem além dos seus aspectos técnicos. Se Scorsese, como já frisado, presta reverência aos Irmãos Lumiére, criadores da Sétima Arte, por outro lado ele opera uma autêntica declaração de amor ao cinema enquanto magia, enquanto fábrica de sonhos aptos a encantar multidões, ou seja, o cinema tal como concebido por Georges Méliès, o primeiro artista a enxergá-lo como espetáculo. Méliès foi um visionário que entendeu por bem usar seus conhecimentos de ilusionismo como forma de enriquecer a narrativa exibida na tela, sendo, desta forma, considerado o pai dos efeitos especiais e dos filmes elaborados como entretenimento e fantasia. Foi ele o diretor de “Viagem à Lua” (curta-metragem que você pode assistir aqui mesmo no “Cinema Com Pimenta clicando neste link), adaptação da obra de Julio Verne cuja cena em que um foguete atinge o “olho da lua” ficou eternizada. Contudo, mesmo tendo realizado um quantidade enorme de filmes (mais de 500), Méliès acabou indo à falência, sendo resgatado do ostracismo apenas nos seus últimos anos de vida (ele faleceu em 1938). Boa parte de sua filmografia inclusive se perdeu. Poucas foram as suas obras que chegaram ao século XXI.

Com “Hugo”, Scorsese parece afirmar que todos os cineastas atuais são herdeiros de Méliès. Inclusive a própria concepção da película, uma fantasia repleta de efeitos especiais, não deixa de ser uma versão atualizada e potencializada pela tecnologia das ideias do seminal diretor francês. “Sabe quando você se pergunta de onde vêm seus sonhos?” questiona a certa altura um dos personagens. “Eles vêm daqui; estão à sua volta”, responde ele próprio apontando para um set de filmagens. Scorsese promove, assim, um belíssimo uso de metalinguagem que com certeza irá tocar o coração de qualquer um(a) que tenha uma relação de amor com a Sétima Arte. Mesmo que ele se faça valer de alguns clichês no desfecho, talvez inevitáveis em um filme destinado ao público infanto-juvenil, a força desta verdadeira declaração de amor ao cinema se faz sentir e provavelmente se manterá como um registro memorável não apenas da capacidade, mas, principalmente, da paixão que move o trabalho deste grande cineasta chamado Martin Scorsese.


Cotação:

Nota: 9,5

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O Artista


Embalagem ousada, conteúdo convencional


Sempre defendi a posição de que cinema é imagem e, sendo assim, o filme que consegue contar a sua estória privilegiando seu poder imagético sobre as palavras normalmente alcança um nível de acuidade artística superior. Não que isso seja uma regra absoluta. Woody Allen é autor de filmes bastante verborrágicos, mas nem por isso deixam de atingir uma admirável qualidade. Contudo, não custa lembrar que o cinema começou sem som, ou seja, podemos tirar o som de uma película e ela continuará sendo cinema. Todavia, se tirarmos sua imagem poderemos afirmar que se trata de qualquer outra arte, menos cinema. É justamente deste conflito entre imagem e som de que trata “O Artista”, longa indicado a 10 prêmios Oscar e que vem sendo considerado o grande favorito para a noite da premiação no próximo dia 26.

Não que a temática seja exatamente nova. O clássico “Cantando Na Chuva” (Singin' In The Rain, 1952) já abordava a fase de transição do cinema mudo para o sonoro que se iniciou a partir de 1927, quando “O Cantor de Jazz” (The Jazz Singer, de Alan Crosland) surgiu como o primeiro longa em que se podia ouvir a voz dos atores – mesmo que, ao contrário do se pode pensar, ele não tenha sido inteiramente falado, possuindo apenas duas sequências com diálogos (o primeiro filme inteiramente falado foi “Luzes de Nova York”, de 1928, dirigido por Brian Foy). Essa alteração técnica no modo de produzir filmes talvez tenha sido a que gerou mais impacto em toda a história da Sétima Arte, possivelmente ainda mais do que a introdução das cores, gerando resultados por vezes catastróficos para profissionais que não se adaptaram aos novos tempos. Isso aconteceu notadamente com os atores do cinema mudo, vários dos quais estrangeiros com forte sotaque que acabaram por ser alijados do processo.


É esta a dificuldade enfrentada por George Valentin, o personagem interpretado por Jean Dujardin em “O Artista”. Astro adorado pelo público, ele vê sua carreira ir por água abaixo após subestimar o potencial da nova tecnologia e acreditar que as pessoas iriam continuar vendo sua imagem não se importando se ele falaria ou não. Em contrapartida, uma de suas fãs, Peppy Miller (interpretada pela argentina Bérénice Bejo), a quem ele deu uma força para ingressar nos meandros hollywoodianos, termina por alcançar enorme sucesso valendo-se de sua bela voz em filmes musicais. Aliás, esse é um gênero que, decididamente, só pôde surgir no cinema a partir da criação dos filmes sonoros. Esta trama simples é o suporte para que o quase desconhecido diretor e roteirista Michel Hazanavicius ponha em prática um grande exercício de metalinguagem, trazendo resultados formais belíssimos, mas que não alcançam o mesmo patamar em termos substanciais.


Não se pode negar que Hazavicius foi ousado em conceber um longa-metragem mudo e em preto e branco em pleno século XXI. Diante dos barulhentos filmes contemporâneos, vários dos quais promovem poluições sonoras semelhantes ao trânsito da hora do rush, é um alívio assistir a uma produção silenciosa continuamente sublinhada por uma bela trilha sonora (composta por Ludovic Bource). Ademais, o seu p&b, realizado a partir da descolorização de uma filmagem tradicional, possui um contraste perfeito, assemelhando-se àquelas fotos antigas que adoramos admirar (a fotografia também me lembrou bastante a de “A Lista de Schindler”). Ademais, o roteiro é fluido, fazendo a projeção correr redondinha, sem atropelos ou furos, além de contar com as ótimas atuações de Dujardin e Bejo (a cena em que Peppy Miller usa um casaco para “se fazer abraçar” por Valentin é deveras bonita e expressiva) . Ou seja, em vários aspectos constitui realmente aquele tipo de filme que os Weinstein costumam produzir ou, como nesse caso, apadrinhar para alcançar êxito nas festas da Academia de Hollywood.

Tudo funciona certinho, bem calculado (tem até um cachorrinho para deixar a plateia encantada). Entretanto, lembra aqueles desfiles de samba em que uma das escolas, com um desempenho vibrante, rouba a cena na avenida, mas acaba perdendo o campeonato para uma outra que nem chamou tanta atenção assim, levando o troféu com um desfile sem alma, mas tecnicamente irrepreensível. E talvez seja esta a metáfora perfeita para “The Artist”. É uma película muito agradável, mas lhe falta um tanto de alma, vibração, entranhas. Seu aspecto calculado em detalhes parece por vezes disfarçar uma certa ausência de conteúdo. O romance que lhe dá esteio pode até mesmo soar prosaico demais. Basta lembrar que costumamos criticar as comédias românticas por serem extremamente previsíveis, atributo que também recai com facilidade no longa de Hazanavicius. Desde o princípio já percebemos que rumos os personagens e seus sentimentos tomarão e, se você tiver o conhecimento prévio da temática que será abordada, já será possível antecipar qual a crise pela qual passará o personagem de Dujardin. Esta ausência de surpresas ou complexidades torna a experiência fugidia, por melhor que seja a sua mise-en-scène.

Este conflito entre embalagem e conteúdo me acompanhou durante a maior parte dos 100 minutos da produção. Ao mesmo tempo que admirava sua plástica, não me empolgava a sua trama que, como já mencionado, faz um uso de metalinguagem já visto em tempos antanhos. Ademais, também me preocupa constatar que hoje em dia uma obra é considerada “original” ao copiar fórmulas de 80 anos atrás. Nem sempre ousadia significa originalidade e muitas vezes ela pode ser usada para desviar a atenção de uma trama comum, que passaria despercebida caso fosse filmada de maneira convencional. “O Artista” pode até levar as dez estatuetas a que está concorrendo, mas isso não significa que será lembrado daqui a alguns anos.


Cotação:

Nota: 8,0

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Trilha Sonora Especial


A essa altura, o mundo inteiro já está sabendo da morte da talentosíssima cantora Withney Houston, aos 48 anos, mais uma que se vai cedo demais em virtude das drogas (o ano passado tivemos Amy Winehouse, mais jovem ainda). Em virtude delas, sua carreira entrou em decadência até chegar ao ponto final na noite de ontem. Para qualquer pessoa minimamente interessada em cinema, é inevitável não relacionar sua imagem com a do filme "O Guarda-Costas" (The Bodyguard, 1992), no qual a diva foi protagonista ao lado do astro Kevin Costner. O filme não é grande coisa (em verdade, é fraquinho mesmo, sendo mais uma veículo para a cantora), mas sem dúvida sua trilha-sonora capitaneada pela canção "I Will Always Love You" marcou época (inclusive tornou-se a trilha mais vendida de todos os tempos). Abaixo, segue o video da sequência final do longa, onde é ouvida a poderosa voz da já saudosa diva. Descanse em paz, Withney!


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

80 anos de François Truffaut

François Truffaut e Alfred Hitchcock, um verdadeiro encontro antológico


Se fosse vivo, François Truffaut, um dos mais amados cineastas de todos os tempos, teria completado, no último dia 06 de fevereiro, 80 anos de vida. Talvez Truffaut seja o símbolo máximo da cinefilia, possivelmente o maior de todos os amantes do cinema, um ex-delinquente de rua que foi literalmente salvo pela arte. Foi pelo seu amor ao cinema que ele passou a frequentar cineclubes (chegando até a praticar furtos para mantê-los) e daí foi parar na lendária revista “Cahiers Du Cinéma”, de onde mais tarde saltaria da condição de crítico brilhante para a de diretor genial. Na referida publicação, ele conheceu outros jovens em ebulição, como um certo Jean-Luc Godard e um tal de Eric Rohmer, o quais, juntos, conceberam uma nova forma de materializar a Sétima Arte que seria chamada de Nouvelle Vague (“Nova Onda”, em francês), baseada no que se convencionou chamar de “Teoria do Autor”. Entretanto, nenhum dos diretores do movimento foi tão querido por público, críticos e cinéfilos quanto Truffaut. Seus filmes, repletos de ternura, batem antes no coração do que na razão e, desta forma, é inevitável se tornar seu fã.

Uma de suas obras mais conhecidas é “Os Incompreendidos” (Le Quatre Cents Coups, 1959), filme que se tornou um símbolo da Nouvelle Vague, obrigatório para qualquer pessoa que queira conhecer o cinema. O melhor cinema, é bom sublinhar. Com forte teor autobiográfico, o longa trata da vida errante do garoto Antoine Doinel, personagem que retornaria à filmografia de Truffaut em outras quatro ocasiões, sempre interpretado pelo mesmo ator, o ícone da Nouvelle Vague Jean-Pierre Léaud. Abaixo, segue a sequência mais lembrada do longa e, por tabela, uma das mais famosas da história da Sétima Arte. A corrida sem rumo de Doinel sinalizava que o cinema estava para desbravar novos caminhos, sem saber ao certo para onde iria, mas com certeza se afastando do antigo e buscando outras maneiras de enxergar a vida e a arte. Era só o início de uma revolução.





Confira também a resenha do "Cinema Com Pimenta" para "Beijos Proibidos" (outro dos longas com Antoine Doinel) clicando aqui.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Histórias Cruzadas


Passado ou presente?


Este é apenas o segundo longa-metragem de Tate Taylor, um ator sem grande destaque que agora acabou obtendo uma abrupta ascensão em Hollywood diante do sucesso que “Histórias Cruzadas” (The Help) obteve nas bilheterias ianques, ultrapassando os 170 milhões de dólares arrecadados. Um ótimo resultado, principalmente diante de seu custo relativamente baixo (US$ 25 milhões). Claro que tal circunstância também se deve ao fato de que o longa é uma adaptação do best-seller “A Resposta”, de Kathryn Stockett, o que, já de imediato, acaba levando o público que gostou da obra literária para a sala de cinema. Por outro lado, não se pode negar que, para um principiante cineasta, o filme se mostra redondo e apto a agradar o grande público, principalmente diante uma temática que é ainda uma ferida aberta na sociedade norte-americana (e em várias outras): o racismo.

A trama essencialmente feminina, com roteiro adaptado para o cinema pelo próprio diretor (1), relata o cotidiano de uma cidade do Mississipi - estado sulista dos mais racistas - no início dos anos 60, período em que o movimento pelos direitos civis, por meio de expoentes como Rosa Parks e, claro, Martin Luther King Jr., ganhava imensa força. A despeito disso, o citado recanto estadunidense ainda vivia um clima de apartheid, meio alheio aos acontecimentos e encontrando pessoas dispostas a transformar em lei costumes discriminatórios como obrigar as empregadas domésticas negras a usarem banheiros apartados dos seus patrões. E são exatamente as empregadas negras o motor da narrativa. Entre elas está Aibileen Clark (Viola Davis, simplesmente excelente), empregada que perdeu o próprio filho e há anos dedica especial atenção às crianças brancas de suas patroas (2). Inteligente e sensível, ela é procurada pela jovem filha da classe média local Eugenia “Skeeter” Phelan (Emma Stone), uma jornalista novata que precisa de sua ajuda para escrever uma coluna sobre tarefas domésticas em um periódico local. No entanto, depois de descobrir que a governanta que praticamente a criou foi demitida por sua mãe após quase 30 anos, Skeeter decide escrever um livro para dar voz às empregadas discriminadas, tentando mostrar desta forma o outro lado da moeda. Assim, ela pede a Aibileen para relatar suas vivências, a qual acaba convencendo sua melhor amiga, Minny Jackson (Octavia Spencer) a também participar da elaboração do livro. Minny, por sua vez, é empregada de Celia Foote (Jessica Chastain), uma mulher recém-casada que é rejeitada no seu círculo social e acredita que isso se deve à sua condição de esposa não prendada, pedindo ajuda à doméstica para ser uma esposa “melhor”. Se estas compõem o lado das “heroínas” das história, da outra ponta temos as vilãs comandadas por Hilly Holbrook (Bryce Dallas-Howard), desprezível mulher que parece passar o tempo elaborando maldades contra as domésticas afro-descendentes.


O grande problema de “Histórias Cruzadas” é justamente essa divisão entre “mocinhas” e “vilãs”, numa estrutura maniqueísta que lembra muito as novelas globais. É impressionante como a personagem de Hilly é unidimensional, jamais demonstrando qualquer traço de humanidade, o que compromete em parte o valor de denúncia histórica a que o longa se propõe. O exagero é tão acentuado que leva o espectador a ser leniente com algumas maldades também nada desprezíveis cometidas contra Hilly, inclusive induzindo-nos a querer justificar algumas atitudes reprováveis das empregadas contra a vilã. Por outro lado, é indubitável a eficácia da película em retratar as humilhações sofridas pela minoria negra antes da garantia dos direitos civis. De banheiros apartados a lugares restritos no transporte público, além de faculdades e escolas distintas de acordo com a raça, inúmeras eram as formas legalizadas de segregação. Uma ferida que não deve ser esquecida para que jamais venha a se repetir.


O sentimento de revolta que impregna a tela se torna ainda maior diante da excelência das atuações, principalmente a de Viola Davis. Impecável como Aibileen, em cada cena é possível sentir as dores de sua personagem, deixando transparecer o seu interior, seus sentimentos de humilhação e revolta, sem jamais extrapolar para a super-atuação. Sua indicação ao Oscar não é por acaso, assim como não é a de Octavia Spencer, mesmo que esta me pareça emular a Whoopi Goldberg de outros tempos, alternando humor e drama nem sempre com a mesma eficácia. Mesmo assim sua presença é forte e, lembrando os prêmios que já levou pelo trabalho (como o Globo de Ouro e o SAG), dificilmente não levará a estatueta da Academia. Jessica Chastain também levou uma indicação pela sua composição estilo Marilyn Monroe para Celia e Emma Stone, como a jornalista Skeeter, se mostra competente em igual medida. Bryce Dallas-Howard aparece caricata, mas aqui o problema é do roteiro, responsável por concebê-la, como já mencionado mais acima, como uma espécie de megera sempre disposta a uma próxima maldade. Aliada ao peso das atuações, temos ainda uma direção de arte impecável na sua reconstituição de época, além de uma edição e ritmo que nos fazem esquecer um pouco a extensa duração do longa (mostrando que Taylor soube fazer o dever de casa mais básico).

Alguns críticos norte-americanos disseram que o filme foi corajoso ao expor um tema complicado para os Estados Unidos. Não vejo assim. Em uma sociedade que se diz livre, tratar dessa chaga não deveria ser um tabu, mas antes de tudo uma obrigação. Seria algo equivalente a considerarmos um “tabu” os cineastas brasileiros remexerem no período negro do governo militar, algo que para nós é tão comum que muitos até já veem o tema como repetido e cansativo. Essa reação da crítica ianque parece denotar que, na verdade, ainda existe de fato muito racismo nos EUA, mesmo que hoje a nação tenha um negro como presidente. Contudo, se essa minha conclusão for verdadeira, o filme de Taylor se mostra, talvez, mais relevante, já que deixaria de apenas se constituir em um registro histórico para tratar também do presente, mesmo que sua tentativa de radiografia passe por um filtro ideológico típico da sociedade estadunidense, notadamente condicionada a simplismos. Um drama racial para americano ver, mas que não deixou de produzir bons resultados cinematográficos.


Cotação:

Nota: 8,5

(1) Foi a escritora que impôs ao estúdio, quando da cessão dos direitos, que o diretor deveria ser Tate Taylor, seu amigo pessoal.

(2) Alguns jornais, como o New York Times e o britânico Daily Mail, denunciaram que a autora Stockett teria se apropriado da história de Abilene Cooper, uma empregada negra que trabalhou para sua família por 12 anos. "Sua família me contratou como empregada doméstica por 12 anos mas então ela roubou minha vida e fez dela um filme de Disney”, disse Abilene ao Daily Mail. Confira no link do jornal (em inglês): http://www.dailymail.co.uk/femail/article-2033369/Her-family-hired-maid-12-years-stole-life-Disney-movie.html

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Atenção! Pense bem antes de comprar um Renault Sandero

Pausa no cinema.

Gostaria de pedir um espaço na cinefilia para comunicar um fato que aconteceu comigo nesta semana que passou. Foi algo bastante grave que me ocorreu enquanto estava indo ao trabalho na última quarta-feira, 01 de fevereiro.

De início, peço que pensem muito antes de comprar o automóvel modelo Sandero, marca Renault. Se você está planejando adquirir um automóvel, ou trocar um velho por um novo, aconselho descartar a mencionada montadora francesa, principalmente o modelo referido. Não estou falando isso de maneira leviana, por simpatia ou antipatia com o carro ou a montadora ou, muito menos, porque esteja recebendo algum benefício, de ordem financeira ou de qualquer outra natureza, para denegrir a imagem da marca, até porque nem tenho poder de influência para tanto. Além disso, quem me conhece, sabe que eu jamais me prestaria a tal papel. Esclareço, ainda, que estas linhas também não se constituem em mais um boato de internet ou lenda urbana que costumamos receber através de “correntes” ou spams. O que aconteceu comigo no último dia 01/02 foi sério, bastante sério.

Eu estava trafegando na BR 101, nas imediações do Shopping Via Direta, aqui em Natal, quando sem mais nem menos a direção do carro parou de responder, girando em falso. Eu simplesmente não tinha mais nenhum controle sobre o veículo. O carro desgovernado saiu da faixa da direita e foi esbarrar na mureta de proteção do lado esquerdo da rodovia. Quero acreditar que foi Deus que me livrou de algo mais grave, pois eu achei, sinceramente, que a minha hora havia chegado. Quando me vi inteiro depois da colisão quase nem acreditei. Detalhe extremamente relevante: o carro tem menos de 1 mês de uso. Retirei o mesmo 0KM da Concessionária no último dia 05 de janeiro (hoje ainda tem menos de 800 km rodados). Há outro dado importante: está acontecendo um recall dos veículos Sandero 2012. Há aproximadamente 10 dias, procurei informações na concessionária se o meu automóvel estava incluído, mas obtive a informação negativa, de que não seria necessária a manutenção no meu caso. Vale dizer que (para verificar a veracidade basta vistar o site da Renault) o recall dizia respeito justamente à troca da caixa da direção hidráulica de veículos Sandero modelo 2012. Na concessionária, quando fizeram uma avaliação superficial das causas, disseram-me que estava faltando um parafuso na coluna da direção e ainda me faltaram com o respeito ao me questionarem se eu não tinha mexido no carro, que até hoje ainda se encontra aguardando uma perícia de um técnico para verificar as causas do acidente, por mais óbvias que elas já sejam. Vou entrar em breve com uma ação de indenização por danos morais contra a montadora Renault, buscando não deixar impune tamanha negligência durante o processo de fabricação dos veículos. Nós consumidores e cidadãos merecemos respeito, principalmente quando nossas vidas estão em jogo.

Faço um pedido a todos: espalhem pela net este fato, pois não quero que outros consumidores corram o risco que corri e nem se sintam lesados como estou me sentindo. Isso foi muito sério! Pensem bem antes de adquirir um carro Renault Sandero modelo 2012. Abraço a todos e agradeço a ajuda!

ATUALIZADO - 07/02/12 - Ontem, recebi uma ligação da própria montadora Renault porque eles descobriram esta postagem no blog. A funcionária que falou comigo disse que seria feito o máximo para que a avaliação técnica fosse realizada ainda ontem e que entraria em contato tão logo fosse efetuada. Hoje ninguém ligou pra mim. Quando entrei em contato novamente com a Assistência, informaram-me que ainda não tem previsão. Ou seja, o desrespeito continua. Ah, e se tem alguém da Renault lendo isso aqui, é melhor fazer algo urgente. Quanto mais o tempo passar, mais a situação da empresa vai piorar.



ATUALIZADO em 01/12/2013:

Fico surpreso que, mesmo após tanto tempo, este post continua sendo visitado e se transformou no recordista de acessos do blog, colocando para trás todo e qualquer post sobre cinema.

Diante da repercussão que a denúncia adquiriu, me sinto no dever de prestar mas informações sobre como terminou a querela com a Renault. Tudo foi resolvido em uma ação que tramitou no Juizado Especial Cível da Zona Sul da Comarca de Natal, tendo a montadora sido condenada ao pagamento de R$ 12.000,00 reais como indenização por danos morais. A sentença já transitou em julgado, bem como a ré pagou a obrigação imposta na sentença condenatória (com atraso, mas pagou).

Percebo que, como diz o provérbio, Deus escreve certo por linhas tortas: a indenização veio justamente no momento em que estou esperando meu primeiro filho que nascerá provavelmente em março. O pequeno Davi já teve assim o seu quarto e enxoval garantidos. :=)

Aliás, o blog anda parado por conta dele: estou na correria para comprar todo o necessário até o seu nascimento! :=)

Grande abraço a todos e obrigado pelo apoio.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Eu Quero Esse Pôster #18


Mais uma vez em busca de artes singulares para a promoção das películas, descobri este poster do artista Jay Ryan para o superclássico "Metrópolis", de Fritz Lang. Criativo e original!