quarta-feira, 29 de junho de 2011

"Brave": poster e teaser trailer


Enquanto o primeiro grande fiasco da Pixar está em exibição nos cinemas (preciso dizer que se trata de "Carros 2"?), foram divulgados o primeiro poster e o primeiro trailer de sua próxima produção, "Brave". Aparentemente, o filme promete honrar o nome do estúdio de John Lasseter e fazer o público esquecer desse tropeço de 2011. A trama do novo longa se passará nas místicas montanhas da Escócia, onde Merida é a princesa do reino governado pelo Rei Fergus e a Rainha Elinor. Filha rebelde e ótima arqueira, Merida acaba por fazer escolhas erradas que colocam o reino e os seus pais em perigo. Ela vai ter que lutar contra as forças da natureza, magia e uma antiga maldição, tudo para poder salvar o seu reino. O poster você já viu acima e o trailer você pode conferir logo abaixo. Aguardando!


domingo, 26 de junho de 2011

Restaurando a Película



Meus Vizinhos São Um Terror
(The 'Burbs)


Do tempo em que Tom Hanks fazia rir


Quem é cinéfilo deve se lembrar do início da carreira de Tom Hanks. Antes de ser uma astro do primeiro escalão de Hollywood, ele atuava em comédias de orçamento mediano. Ficou famosa sua parceria com Meg Ryan em “Sintonia de Amor” (Sleepless In Seatle), uma das melhores comédias românticas a que já tive oportunidade de assistir. Sua identificação com a comédia era tão forte que, quando ele foi indicado para o Oscar de melhor ator por um drama pesado, “Fildélfia”, encarei a notícia com profunda estranheza na época. “Aquele ator de 'Meus Vizinhos São Um Terror' vai levar um Oscar?! Nossa!”... Você não conhece “Meus Vizinhos São Um Terror”? Trata-se de uma comédia-suspense protagonizada por Hanks em 1989. Passou repetidas vezes na “Sessão da Tarde” e eu o considerava um barato. Ri muitas vezes com aquela trama curiosa dos vizinhos que, desde a mudança de novos moradores para uma casa mal cuidada do bairro, passam a bisbilhotar a vida destes. E, vendo hoje, com um olhar mais adulto e crítico, percebi que o filme resistiu muito bem ao tempo e pude verificar, ademais, as fortes referências ao mestre Alfred Hitchcock que possui tanto no roteiro quanto nos aspectos técnicos.

A começar pelo protagonista. Interpretado por Tom Hanks, Ray Peterson está de férias, sem dinheiro para viajar e cansado de ir à sua casa de campo em uma localidade próxima. Logo, passa os dias bisbilhotando a vida dos vizinhos (é bom lembrar que na época não havia internet) e, especialmente, começa a perceber que os novos moradores da casa ao lado, os Koplek, são estranhos além da conta. Passam os dias trancados em casa e cavam buracos no quintal durante a noite. Ajudado por seus vizinhos, e depois do sumiço de um deles, Ray resolve investigar o comportamento dos estranhos e descobrir se eles estão envolvidos com o desaparecimento. Como se percebe; a relaação com o personagem L. B. Jeffries de James Stewart em “Janela Indiscreta” é, desta forma, óbvia. Mas a recauchutagem promovida pelo diretor Joe Dante (seu trabalho mais famoso é “Gremlins”) é que torna a experiência divertida. Ele eleva o suspense, tanto por meio de recursos como closes e slowmotion ou levando a trilha sonora ao último volume, ao nível da caricatura, arrancando inevitavelmente o riso do espectador. Dante soube, ademais, utilizar muito bem o potencial imagético da trama. Claro que não chega à maestria de Hitchcock, mas o diretor mostra competência na utilização da câmera. Ademais, os tais Koplek também são caricaturados, o que acentua ainda mais o tom cômico daquilo que primordialmente deveria ser um suspense. Muito embora o roteiro (escrito por Dana Olsen, que participa em cena como um policial) tenha lá suas falhas, ele se desenvolve a contento e mantendo sempre o interesse do público no seu desenrolar.


Por outro lado, os personagens também são bem caracterizados e não deixa de ser um barato observar seus intérpretes com o olhar de hoje. Estão lá, além de Hanks, Carrie Fisher, a eterna pincesa Leia da saga Star Wars (não deu para fugir do chavão), como a esposa de Ray, além de Corey Feldman, ator adolescente quase que onipresente nas produções voltadas para o público mais jovem nos anos 80. Fazendo um garoto que passa os dias observando o movimento do bairro, chamando seus amigos para acompanhar aquilo que afirma ser “melhor do que cinema”, ele é sempre uma presença carismática, assim como Bruce Dern fazendo o caricato militar Rumsfield.

O longa, vale dizer, também pode ser visto como uma obervação e comentário sobre a vida nos subúrbios estadunidenses, então ocupados por uma classe média conservadora que via na estranheza um motivo de preocupação (não é à toa que seu título original poderia ser traduzido como “Os Suburbanos). Neste ponto, todavia, talvez o filme tivesse mais sucesso em sua crítica caso o desfecho tomasse um outro rumo do que foi realizado. De qualquer forma, se você pretende apenas ver uma comédia sem maiores consequências, esta é uma boa pedida. O citado “Gremlins”, ademais, é mais feliz e marcante em seu humor negro para o grande público. Mas, mesmo não sendo nada que vai mudar sua vida, “Meus Vizinhos São Um Terror” é um filme que lhe traz um ótimo entretenimento ao longo de 101 minutos de projeção, merecendo ser resgatado do esquecimento e figurar entre as boas lembranças do cinema oitentista. Ah, e também é bom ver Tom Hanks em um tempo em que ele tinha vontade de atuar...


Cotação:

Nota: 7,5

sábado, 25 de junho de 2011

Quero Ver Novamente #12

Se pedirem para eu escolher a melhor sequência de créditos que já vi em um filme, certamente optarei pela de "Prenda-me Se For Capaz". Um verdadeiro curta de animação inserido no filme e que, observando atentamente, consegue sintentizar toda a sua trama. E isso com a trilha sonora genial de John Williams, na minha opinião uma de suas melhores composições. Por sinal, o longa é uma joia de Steven Spielberg não muito conhecida do grande público. Está entre os meus preferidos do diretor. Veja abaixo essa forma inteligentíssima de apresentar os créditos ao espectador!


quinta-feira, 23 de junho de 2011

Meia-Noite em Paris



A Rosa Púrpura do Cairo + Manhattan = Um belo filme


Se você já assistiu a “A Rosa Púrpura do Cairo”, longa-metragem de Woody Allen realizado em 1985, provavelmente também irá apreciar este seu novo trabalho, “Meia-Noite Em Paris”, cuja premiére mundial aconteceu no último Festival de Cannes. Tanto um como outro utilizam-se de componentes imaginários, surreais, para compor sua narrativa. Em ambos, o velho Allen enfrenta a necessidade que frequentemente sentimos de fugir da realidade em que vivemos, comumente dura demais e insatisfatória. Se no filme protagonizado por Mia Farrow sua personagem mergulha na fantasia do cinema para esquecer a realidade, neste “Meia-Noite Em Paris”, o Gil de Owen Wilson deseja viver em um tempo que não é o seu. E consegue.

Gil Pender é um romancista frustrado. Seu grande sonho é a literatura, da qual ele abriu mão para escrever roteiros para o cinema, já que é mais fácil ganhar dinheiro trabalhando para Hollywood do que vendendo livros. Ele está de férias em Paris acompanhado de sua noiva Inez (Rachell McAdams) e da família desta, vivenciando dias na cidade que sempre habitou o seu imaginário e para a qual planeja se mudar para que tenha uma maior inspiração para o seu livro em andamento. Gil considera os anos 20 da capital francesa como a melhor época e lugar para se viver que já existiram, o tempo em que seus ídolos literários e artísticos estavam em plena atividade. Em uma noite, Gil resolve voltar a pé para o hotel, e sozinho, já que sua noiva não compartilha de sua ideias românticas de caminhadas ao ar livre pela Cidade Luz. No caminho, surge um antigo táxi cujos passageiros o convidam para um passeio e, de repente, Gil se vê na era dos seus sonhos. Lá ele encontra nomes como Ernest Hemingway (Corey Stoll), F. Scott Fitzgerald (Tom Hiddleston), o cineasta Luis Buñuel, Pablo Picasso e Salvador Dalí (Adrien Brody), entre outros, além de um novo interesse romântico na figura de Adriana, personagem da sempre encantadora Marion Cotillard.

Logicamente, como em todo filme de Allen, há muito dele mesmo nos sentimentos e pensamentos representados na tela. Como se sabe, Allen é um leitor voraz e, provavelmente, sempre nutriu o desejo de seguir uma carreira literária mais prolífica e profunda. Fica nítido que ele acabou se rendendo aos roteiros cinematográficos por terem um resultado financeiro maior e mais imediato. Ademais, o diretor não é apenas um comediante, mas também um grande investigador de nossas fraquezas e limitações humanas. Aqui ele analisa nossa eterna insatisfação com a realidade que vivemos, normalmente cruel demais, o que nos faz romantizar e deseja viver em outras eras (eu mesmo tenho uma certa fascinação pelos anos 60). No fundo, uma forma de escapismo disfarçada, um engano que muitas vezes não conseguimos enxergar. Assim também como é a relação de Gil com sua noiva Inez. Talvez levado pela sua beleza e sensualidade, Gil não consegue perceber que ela, uma mulher superficial, não é a pessoa adequada para dividir sua vida. E quantas vezes nós mesmos já não estivemos mergulhados nesses enganos? De uma forma ou de outra, parece que estamos sempre querendo esquecer ou não enxergar a realidade em que estamos, iludidos por uma falsa sensação de felicidade.


Temas tão complexos, porém, são abordados com a leveza habitual dos longas com a assinatura de Woody Allen. Várias são as passagens divertidas, com aquele humor inteligente típico do autor, todas com supedâneo em um ótimo elenco. Apesar de emular a persona cênica de Allen, nunca havia assistido a uma atuação tão boa de Owen Wilson. Acredito até que Allen deveria repetir a experiência e convidá-lo a representar seu alter-ego em outras oportunidades. Rachell McAdams, todavia, apesar de bela e especialmente sensual, tem um personagem ingrato que acaba por nos gerar uma certa antipatia, o que, em verdade, talvez seja um sintoma de sua boa atuação. Já Marion Cottilard está ótima como de costume, ficando fácil entender o imediato interesse de Gil por ela. Além desses, destacam-se o mencionado Brody, impagável como Salvador Dalí, Corey Stoll como Hemingway e Khaty Bates como a escritora Gertrude Stein, a qual acaba avaliando o inacabado romance de Gil (há ainda uma participação da primeira-dama da França, Carla Bruni). O aspecto leve do roteiro ainda é complementado pelas tiradas que mostram o protagonista influenciando na criação de futuras obras dos artistas inseridos na trama. Contudo, tais recursos não deixam de trazer um certo hermetismo ao loga, já que o espectador precisará de uma base cultural bastante razoável para compreender plenamente as nuances do roteiro.

Por outro lado, se “Midnight In Paris” traz várias lembranças de “A Rosa Púrpura do Cairo”, também não se pode negar que “Manhattan”, outro clássico absoluto do velho Woody, também parece deixar suas marcas aqui. Sua introdução, mostrando o dia-a-dia de Paris e dos parisienses lembra muito o princípio do já clássico filme de 1979. Mas não só isso. Ambos os longas promovem uma ótima viagem introspectiva, em busca das repostas para o eterno vazio presente nos seres humanos. Na maioria dos filmes de Woody, ele nos oferece uma conclusão otimista. Neste, assim como em “Manhattan” essa linha é seguida e no desfecho saímos com a alma suave da sala de projeção. As obras deste gênio nos mostram que a vida pode ser bem menos complicada do que parece, basta usar a inteligência e ouvir o coração.


Cotação:

Nota: 9,0

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Meia-Noite em Paris será exibido em Natal! (???)


Eu levei um susto quando, agora há pouco, vi que a programação do Cinemark do Shopping Midway Mall para a próxima semana inclui "Meia-Noite em Paris", o novo de Woody Allen. Um filme de Allen ter sua exibição em Natal na mesma data da estreia em circuito nacional é um fato extremamente raro (se não for inédito)! Parabéns aos exibidores por acreditarem que nem só de blockbusters vive o cinema. Agora é conferir e prestigiar!

Ah, e esse poster, que combina uma imagem do filme com a tela "A Noite Estrelada", de Vincent Van Gogh, merecia estar na série "Eu quero esse poster". Genial!

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Trilha Sonora #17


"Suplício de Uma Saudade" (Love Is A Many Splendored Thing, 1955) não é exatamente um grande filme. É cheio de altos e baixos, intercalando belas cenas românticas (não se pode negar que a fotografia é ótima) com algumas outras que descambam para a cafonice. De qualquer forma, a história de amor protagonizada por Jennifer Jones e William Holden acabou por se tornar inesquecível devido ao seu final, belamente trágico, e que o faz deixar de ser um longa apenas mediano e ganhar um status verdadeiramente cult. Outro fator importante para torná-lo memorável é sua linda trilha sonora, composta por Alfred Newman, que nos legou a belíssima canção-título (vencedora do Oscar) e que você pode ouvir clicando abaixo, em mais uma das interpretações marcantes de Nat King Cole, a mais bela voz da música popular em todos os tempos (os fãs de Sinatra que me perdoem...)!



domingo, 5 de junho de 2011

Filmes Para Ver Antes de Morrer



Dr. Jivago
(Dr. Zhivago)


O público tinha razão



O conflito entre público e crítica sempre existiu na história da sétima arte e, talvez, com uma intensidade ainda maior do que em qualquer outra forma de expressão artística. No cinema, a crítica sempre teve um papel muito forte, muitas vezes determinando o sucesso ou o fracasso de um longa-metragem. Não é à toa que no mundo cinematográfico as premiações sempre acabam por trazer uma sensível adição de interesse por um filme. Basta o longa ser premiado com alguns prêmios da Academia de Hollywood ou uma Palma de Ouro em Cannes que o desejo de vê-lo já é despertado em muitos, como se tais prêmios fossem um atestado de qualidade da obra em questão, o que nem sempre ocorre, como sabemos (só a título de comparação: que diferença faz para você se um disco ou cantor ganhou ou não ganhou um Grammy?). Em alguns casos, porém, o grande público acaba ignorando obras excelentes e amadas pelos críticos - como os filmes de Ingmar Bergman, para citar um exemplo claro. Por outro lado, algumas vezes o público presta reverência a filmes não muito queridos ou mesmo apedrejados pela crítica, o que faz com que uma parcela de apreciadores do cinema acabe esnobando aquilo que tem um apelo popular mais evidente.

Um filme que se mostra como notável exemplar do conflito entre público e crítica é justamente “Dr. Jivago”, uma megaprodução dirigida por ninguém menos que David Lean. Quando do seu lançamento, em 1965, muitos críticos torceram o nariz para o que consideraram pieguices, pouco apuro na reconstituição de época (os cenários teriam sido feito “às pressas”) e pouca profundidade no trato do contexto político. Algumas críticas foram tão virulentas que trouxeram desgosto a Lean, levando o diretor a pensar em se afastar do ofício (e graças a Deus ele não levou a ideia adiante). Em contrapartida, o público lotou as salas, fazendo da história de Yuri Jivago um grande sucesso. Até hoje o filme é amado por muitos espectadores, os quais costumam sempre dar boa audiência às reprises televisivas. E, ressalte-se, com muita razão.

“Dr. Jivago” é, de fato, um super-espetáculo cinematográfico. Poucas são as oportunidades de vermos, em um único filme, uma sucessão tão grande de imagens estonteantes, com grandes atuações, além de uma reconstituição de época preciosa (ao contrário do que os críticos tacanhos afirmaram à época do seu lançamento). David Lean foi, possivelmente ao lado de Stanley Kubrick, o cineasta mais perfeccionista dentre os cineastas perfeccionistas. Entretanto, diferentemente do diretor de “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, conhecido pelo teor cerebral de seus longas, Lean deixava a emoção correr solta em suas obras. Ele, ademais, parecia ter alguma fixação com amores impossíveis, corações divididos. Em vários aspectos, “Dr. Jivago” me faz lembrar “Desencanto” (Brief Encounter), filme de Lean realizado em 1945. Contudo, se este último possui contornos mais intimistas, o filme de 1965 é um verdadeiro épico, até mesmo pelas suas pretensões e conotações também político-históricas. Aqui, Lean não se presta “apenas” (assim mesmo, entre aspas, pois que “Desencanto” é um longa excepcional) a narrar um romance. Ele ambiciona retratar também o momento histórico vivido pela Rússia quando revolução comunista de 1917, buscando estudar os reflexos desta convulsão política na sociedade e, mais ainda, como ela afetou a individualidade de seus integrantes. Essa visão orgânica de indivíduo-coletividade permeia toda a sua extensa duração, constituindo um dos grandes trunfos da produção.


O roteiro de Robert Bolt adapta o romance de Boris Pasternak, que acabou levando o Nobel de Literatura devido a ele, mas sendo proibido de recebê-lo pelo Partido Comunista soviético. Não conheço a biografia de Pasternak, mas só este fato já mostra que muito da narrativa de sua obra tem contornos bastante pessoais. Não é à toa que seu Yuri Jivago (no filme interpretado pelo egípcio Omar Shariff), além de médico, é também poeta. Idealista e sensível, ele nutre simpatia pela causa socialista, a despeito de pertencer a uma camada privilegiada da sociedade. Todavia, ao longo do processo revolucionário, acaba se deparando com violências e arbitrariedades que tornam a nova ordem social bastante semelhante à primeira. Arbitrariedades tais que suprimem sua criatividade, já que o governo revolucionário considera sua obra muito “pessoal”, “burguesa”, extravasando sentimentos íntimos (considerados “individualistas”) em detrimento de uma arte voltada para a coletividade. Estabelece-se, então, o conflito indivíduo-sociedade, embate este insolúvel, pois que um não existe sem o outro. De maneira instigante, o filme tece fortes críticas tanto ao czarismo feudal de outrora, quanto ao comunismo castrador nascente, demonstrando o quanto circunstâncias histórico-sociais podem acabar afetando irremediavelmente a vida pessoal dos indivíduos. A vida íntima de Jivago, por seu turno, representa bem essa cisão experimentada pela própria Rússia. Dividido entre o sentimento tranquilo por sua esposa, Tonya (Geraldine Chaplin, filha de Charles Chaplin), e a paixão por Lara Antipova (Julie Christie, belíssima, em um papel que lhe alçou à condição de estrela), a oscilação do médico-poeta coloca-se como marcante metáfora para o momento vivido pela sociedade russa – e que talvez tenha passado despercebida pelos críticos míopes do seu tempo.



Todavia, Lean não se conforma em realizar um épico histórico. O longa possui uma carga sentimental acentuada, um dos motivos, por sinal, que o tornou tão popular. Longe de fazer julgamentos acerca das fraquezas dos personagens, a narrativa, muito pelo contrário, procura entender as motivações do seu comportamento, ao mesmo tempo em que também não busca justificá-los. Narrado em flashback pelo meio-irmão de Jivago, Yevgraf (Sir Alec Guinness), o roteiro acaba por se constituir em três atos para melhor apresentar a trama e seus personagens. Na primeira parte, ocorre uma atenção maior para Lara e sua intrincada relação com Victor Komarovsky (Rod Steiger, um pouco exagerado, mas ainda assim eficiente), aristocrata de poucos escrúpulos de quem se torna amante, apesar de estar noiva de Pasha (Tom Courtenay). Em um segundo ato, mais focado em Jivago, vemos o nascimento de seu tranqüilo casamento com Tonya, ao mesmo tempo em que ele acaba convocado para servir como médico na Primeira Guerra Mundial, ocasião em que acabará conhecendo Lara, a qual serve como enfermeira no front. É no terceiro ato que acompanhamos o nascimento e cisão do romance entre os dois que, no fim, termina por adquirir contornos trágicos. É triste, realmente consternador, perceber como os personagens acabam infelizes em decorrência tanto de suas próprias fraquezas, quanto da inevitabilidade de fatos que fogem ao controle de todos.

Ademais, toda essa narrativa carregada de História e sentimentalidades é exibida com uma carga imagética poucas vezes igualada ao longo de décadas de arte cinematográfica. Várias são as cenas e sequências marcantes, inesquecíveis, daquelas que grudarão na sua mente por muito tempo, como a travessia das paisagens nevadas dos Urais na interminável viagem de trem (ocasião em que Klaus Kinski faz uma breve, mas marcante participação); a investida das tropas do czar contra os manifestantes nas ruas de Moscou, oportunidade em que Lean não necessita mostrar a violência na tela para conseguir nos transmitir todo o horror do acontecido; a corrida de Jivago no interior do palacete congelado de Varykino, buscando enxergar Lara, que está partindo... Bem, eu poderia escrever mais algumas páginas apenas descrevendo belas cenas deste filme, mas vamos nos poupar, pois melhor do que ler a descrição é ver, ou rever, ditas sequências. Só a acrescentar, ainda, a importância da magnífica trilha sonora, cujo tema central (o famoso “Tema de Lara”), composto por Maurice Jarre, tornou-se uma das mais lembradas e populares trilhas já concebidas.

Detentor de múltiplas leituras, “Dr. Jivago” pode ser visto ora como um filme de estudo histórico-político, ora como uma jornada passional. O que não se duvida é que ele constitui uma verdadeira obra-prima e que o tempo mostrou que o público, ao menos neste caso, tinha plena razão ao consagrar nas bilheterias o talento de David Lean. Hoje, este é um filme querido de muitos, enquanto os críticos que o espezinharam são lembrados por poucos.


Cotação e nota: Obra-prima.

sábado, 4 de junho de 2011

X-Men - Primeira Classe



De primeira classe!


Em 2000, Bryan Singer levou os filmes baseados em histórias em quadrinhos a um novo status. A despeito das dúvidas e incredulidade de muitos, que achavam difícil transpor para as telas o universo dos “X-Men” com a qualidade técnica necessária, mas, principalmente, a carga dramática característica dos mutantes, Singer foi extremamente bem sucedido em sua adaptação. E quando falo em “carga dramática” não é à toa. Entre os tradicionais heróis tanto do universo Marvel quanto da DC (as maiores editoras de quadrinhos dos EUA), certamente os mutantes são aqueles com maior densidade psicológica, dada a questão central que permeia as suas tramas: o preconceito (acredito que apenas Batman, na DC, se equipare neste aspecto, mas com outras motivações e temáticas). Singer, todavia, encarou muito bem o desafio e nos trouxe um ótimo filme, cheio de ação, mas sem nunca perder o foco dos dramas pessoais vividos por seus personagens. O sucesso em qualidade se refletiu também em sucesso de público, catapultando Hugh Jackman, com sua caracterização perfeita de Wolverine, ao estrelato e gerando mais duas continuações diretas, além de uma prequel exclusiva do citado Wolverine. Com o segundo episódio, vale salientar, Singer conseguiu superar o primeiro, tanto em termos técnicos quanto no aprofundamento dos conflitos, fazendo de “X-Men 2” um dos melhores filmes de super-heróis até hoje realizados. Após se afastar da franquia para assumir a direção de “Superman – O Retorno” (um dos seus antigos sonhos era dirigir um filme do homem de aço), Singer retorna agora ao universo mutante, mas como produtor, deixando a direção para um dos nomes promissores da Hollywood atual, Matthew Vaughn (que dirigiu anteriormente “Kick Ass – Quebrando Tudo”). A missão de ambos era dar um novo fôlego à série, cujo terceiro episódio (“O Confronto Final”), dirigido por Brett Ratner, não teria apresentado resultado tão satisfatório quanto os seus dois predecessores (está um pouco abaixo, realmente, mas, na minha opinião, ainda é muito bom).

O conceito de “X-Men – Primeira Classe”, o qual consiste em revelar as origens dos conflitos desenvolvidos na série e de alguns dos personagens já conhecidos do público, mormente o Professor Charles Xavier e seu amigo-inimigo Magneto, teve início com um projeto para um filme solo do famoso mutante mestre do magnetismo. Felizmente, perceberam que um filme de Magneto sem a presença de Charles Xavier seria um tiro na água e a ideia evoluiu para um contexto mais amplo, qual seja, mostrar como nasceu a tal amizade-inimizade entre os dois, além da escola para jovens superdotados gerida pelo professor.

É com esse intuito que somos levados aos anos 60, não sem antes acontecer uma passagem pelos campos de concentração da Segunda Guerra Mundial. É neles que o garoto Erick Lehnsherr (interpretado já adulto pelo excelente ator alemão Michael Fassbender) vê sua mãe ser assassinada por um nazista, o cientista Sebastian Shaw (Kevin Bacon), o qual já havia percebido os poderes magnéticos do menino. A vingança torna-se, desta forma, a obsessão de sua vida e é em busca dela que Erick acaba esbarrando em Charles Xavier (o sempre ótimo James McAvoy), ainda um jovem professor estudioso das mutações genéticas. A amizade entre os dois levará à busca de jovens mutantes (à serviço da CIA, convencidos pela agente Moira MacTargget) e criação da tal escola para superdotados, ensinando-os a canalizar seus poderes e oferecendo uma convivência com outras pessoas também detentoras de habilidades especiais. A trama mutante tem como pano de fundo os fatos reais acontecidos na década de 60, principalmente a crise dos mísseis em Cuba, a qual acaba servindo também como força motora de vários aspectos da narrativa (com direito até a inserções de imagens de John Kennedy na projeção). O resultado, e isso afirmo como apreciador não só da franquia cinematográfica como também das HQs, é vibrante e, por vezes, emocionante.


O roteiro, escrito por Ashley Miller, Zack Stentz, Jane Goldman e o próprio cineasta Matthew Vaughn , é realmente ótimo e muito feliz em realizar uma verdadeira fusão entre elementos ficcionais e verídicos. Além disso, sabe equilibrar quase à perfeição os momentos de ação e reflexão. Aliás, neste último aspecto, este é o filme ao mesmo tempo mais reflexivo e introspectivo de toda a série, onde se percebe uma verdadeira aula de como se fazer uma aventura cheia de neurônios. Se a metáfora do preconceito está presente em todos os episódios, aqui, ressalte-se, ela é trabalhada de maneira ainda mais sólida e consistente, principalmente através dos ricos diálogos entre Xavier e Magneto (que estão entre os melhores momentos do longa, vale dizer). A força deste manifesto anti-preconceito é ainda corporificada nos personagens de Mística (Jennifer Lawrence, de “Inverno da Alma”, bonita e talentosa) e Hank McCoy, o Fera (Nicholas Hoult, muito competente), cujas mutações também lhes confere uma aparência física “diferente”, o que redunda em um sentimento de exclusão ainda mais forte do que os dos outros mutantes.

Claro que toda a carga dramática do filme cairia no descrédito não fossem as ótimas atuações do elenco. Difícil afirmar quem está melhor em tela. Tanto McAvoy quanto Fassbender dão um show de competência como Charles Xavier e Erick Lehnsherr, respectivamente. Fassbender deverá, inclusive, deixar de ser um ator pouco conhecido para construir uma carreira sólida em Hollywood, não tenho dúvidas. Mesmo Kevin Bacon, um ator cheio de altos e baixos, está ótimo como o pedante Sebastian Shaw, um dos vilões mais marcantes das antigas estórias dos X-Men, quando estes viviam seus embates contra o Clube do Inferno. Por outro lado, fica a desejar a caracterização de Emma Frost, a Rainha Branca do clube e esposa de Shaw, aqui interpretada por January Jones. Lembrada nos quadrinhos não apenas por sua beleza e sensualidade, mas também por sua inteligência e personalidade manipuladora, ela aparece na projeção sem destaque para essas duas últimas características, quase se transformando em uma loira de butique, o que é uma pena.

Além da pobreza desta transposição de Emma Frost, o roteiro ainda peca por se utilizar da velha muleta de apresentar os mutantes e seus poderes de forma muito didática (um verdadeiro lugar-comum em filmes de super-heróis). O didatismo aqui se torna ainda mais acentuado até mesmo devido às técnicas de controle desenvolvidas na escola de Charles Xavier. Ademais, os efeitos especiais deixam a desejar em algumas passagens e a caracterização do Fera me pareceu um pouco artificial (creio que o uso de CGI teria sido mais feliz do que a maquiagem, neste caso).

Todavia, estes são problemas pontuais que não comprometem o conjunto. O diretor Vaughn jamais deixa a peteca cair, com um ótimo ritmo. Apesar de um pouco longo, o filme nunca se torna cansativo. Muito pelo contrário. Ele vai crescendo em envolvimento e emoção, resultando em um final sensacional e marcante, que só deixa o espectador ainda mais ansioso para ver mais um capítulo da saga. Um desfecho que, se não nos faz tomar o lado de Magneto em sua batalha, também nos leva a compreender suas motivações, fazendo com que evitemos pronunciar julgamentos acerca de suas atitudes. Uma aula de como realizar um produto voltado para as massas sem maniqueísmos. Esperemos que, tal como os alunos do Professor X aprenderam com este a dominar seus poderes, os produtores e diretores aprendam com Singer e Vaughn a usar seus altos orçamentos para gerar obras que podem ser um ótimo entretenimento com respeito à inteligência e sensibilidade do espectador. E, neste aspecto, a nova aventura dos X-Men é mesmo de primeira classe!


Obs. Há duas participações especiais no filme: Hugh Jackman (hilário!) e Rebecca Ronmjn-Stamos. Fique atento (a)!


Cotação:

Nota: 9,5