quinta-feira, 29 de julho de 2010

Festival de Veneza 2010 - Seleção


A 67ª edição do Festival de Veneza, que acontecerá entre 1º e 11 de setembro próximos, divulgou hoje sua lista de concorrentes ao Leão de Ouro, além de diversos outros títulos integrantes das mostras paralelas do evento.

Na competição pelo Leão de Ouro, os nomes mais famosos são os de Darren Aronofsky (o seu "Black Swan" abrirá o Festival), Sofia Coppola, Julian Schnabel (diretor de "O Escafandro e a Borboleta"), Vincent Gallo (voltando à direção, sete anos depois do polêmico “Brown Bunny”), além dos franceses François Ozon e Abdellatif Kechiche, o alemão Tom Tykwer, o japonês Takashi Miike, o vietnamita Tran Anh Hung (diretor de "O Cheiro da Papaia Verde" e que trará o seu "Norwegian Wood", filme que só o título já me desperta entusiasmo!), o chinês Tsui Hark e o espanhol Alex de la Iglesia. Apenas um latino-americano entrou na competição oficial: o chileno Pablo Larraín, diretor de “Tony Manero”, que apresenta seu novo trabalho, “Post Mortem”.

O Brasil, que ficou de fora da disputa principal (pra variar...), é representado por dois filmes: o longa “Lope”, coprodução Brasil-Espanha, assinada por Andrucha Waddington, a qual revisita a figura do famoso dramaturgo espanhol do século 16, Lope de Vega, contando com Selton Mello e Sonia Braga no elenco; e mais o curta “O mundo é belo”, de Luiz Pretti, integrante da mostra paralela "Horizontes".

John Woo reberá o prêmio especial pelo conjunto da obra.

O Júri será presidido por Quentin Tarantino.Confira abaixo os filmes em competição e fora de competição:

COMPETIÇÃO

"Black Swan", Darren Aronofsky (EUA) – filme de abertura
"La Pecora Nera", Ascanio Celestini (Itália)
"Somewhere", Sofia Coppola (EUA)
"Happy Few", Antony Cordier (França)
"La Solitudine dei Numeri Primi", Saverio Costanzo (Itália-Alemanha-França)
"Silent Souls", Aleksei Fedorchenko (Rússia)
"Promises Written in Water," Vincent Gallo (EUA)
"Road to Nowhere", Monte Hellman (EUA)
"Balada Triste de Trompeta", Alex de la Iglesia (Espanha-França)
"Venus Noire", Abdellatif Kechiche (França)
"Post Mortem", Pablo Larrain (Chile, México, Alemanha)
"Barney's Version", Richard J. Lewis (Canadá, Itália)
"Noi credevamo", Mario Martone (Itália-França)
"La Passione", Carlo Mazzacurati (Itália)
"13 Assassins", Takashi Miike (Japão-EUA)
"Potiche", François Ozon (França)
"Meek's Cutoff", Kelly Reichardt (EUA)
"Miral", Julian Schnabel (EUA-França-Itália-Israel)
"Norwegian Wood", Tran Anh Hung (Japão)
"Attenberg", Athina Rachel Tsangari (Grécia)
"Detective Dee and the Mystery of Phantom Flame", Tsui Hark (China)
"Drei", Tom Tykwer (Alemanha)

FORA DE COMPETIÇÃO

"The Town", Ben Affleck (EUA)
"I'm Still Here: the Lost Year of Joaquin Phoenix", Casey Affleck (EUA)
"Sorelle Mai", Marco Bellocchio (Itália)
"Niente Paura -- Come siamo come eravamo e le canzoni di Luciano Ligabue", Piergiorgio Gay (Itália)
"Dante Ferretti -- Production Designer", Gianfranco Giagni (Itália)
"Notizie degli Scavi", Emidio Greco (Itália)
"The Last Movie" (1971), Dennis Hopper
"Gorbaciof", Stefano Incerti (Itália)
"That Girl in Yellow Boots", Anurag Kashyap (Índia)
"Showtime", Stanley Kwan (China)
"Sei Venezia", Carlo Mazzacurati (Itália)
"Zebraman" (2004), Takashi Miike (Japão)
"Zebraman 2: Attack on Zebra City," Takashi Miike (Japão)
"The Child's Eye 3D", Oxide Pang and Danny Pang (China, Hong Kong)
"Vallanzasca – Gli angeli del male," Michele Placido (Itália)
"All Inclusive 3D", Nadia Ranocchi and David Zamagni (Itália/Áustria)
"Raavan", Mani Ratnam (Índia)
"1960", Gabriele Salvatores (Itália)
"La prima volta a Venezia", Antonello Sarno (Itália)
"A letter to Elia", Martin Scorsese and Kent Jones (EUA)
"Shock Labyrinth 3D", Takashi Shimizu (Japão)
"L'ultimo Gattopardo: Ritratto di Goffredo Lombardo", Giuseppe Tornatore (Itália)
"Passione", John Turturro (Itália)
"Lope", Andrucha Waddington (Espanha/Brasil)
"Space Guy", Zhang Yuan (China)

terça-feira, 27 de julho de 2010

Trilha Sonora #12


Há poucos dias assisti a "Encontro Explosivo" na telona (veja a resenha mais abaixo) e me lembrei do filme que transformou Tom Cruise em mega-astro: "Top Gun - Ases Indomáveis". Verdadeira mania nos anos 80, o longa-metragem tem na trilha sonora a bela canção "Take My Breath Away", da meteórica banda Berlin, vencedora do Oscar de melhor canção e sucesso tão estrondoso quanto o filme. Na realidade, a música é melhor do que o filme... ;=) Ouça!




domingo, 25 de julho de 2010

Para Ver Em Um Dia de Chuva


Inauguro aqui a série "Para Ver em Um Dia de Chuva", destinada àqueles filmes que não são tão essenciais quanto os da série "Filmes Para Ver Antes de Morrer", mas que mesmo assim merecem ser vistos. Ótimos para aqueles dias chuvosos e com friozinho em que não há nada melhor do que ficar em casa vendo um bom filme. E o primeiro é justamente "O Homem que Fazia Chover". Boa sessão caseira para todos.


O Homem Que Fazia Chover
(The Rainmaker)


O Quixote de Coppola



Não há dúvidas de que Francis Ford Coppola é um dos mais importantes diretores da história do cinema. Apenas a trilogia “O Poderoso Chefão” já lhe renderia o status de gênio, mas, além disso, ele ainda nos brindou com obras como “Apocalypse Now” (considerado por muitos como o melhor filme de guerra já realizado) e “Drácula de Bram Stoker”. Contudo, Coppola costuma alternar momentos de puro brilhantismo com outros mais apagados, resultando numa obra bastante irregular. “O Homem Que Fazia Chover”, seu filme de 1997, parece se situar em um nível intermediário. Não é memorável como os longas acima citados, mas também não configura um desastre como “Jack” (1994), filme totalmente esquecível e esquecido.

Não posso negar que, no caso deste “The Rainmaker”, há uma identificação pessoal com a trama apresentada pelo roteiro, que é uma adaptação do próprio Coppola para a obra de John Grisham, o rei dos best-sellers de tribunal. Afinal, eu sou formado em Direito, trabalho em um tribunal e advoguei durante 5 anos. Nada mais natural, então, que sinta uma imediata empatia pelo personagem do advogado Rudy Baylor (Matt Damon, ainda um garoto), um jovem idealista e recém-formado que acaba de ser aprovado no exame da Ordem e tem como um de seus primeiros casos uma ação contra uma seguradora de saúde. Sua cliente é uma família que busca que o seguro cubra o transplante de medula que poderá salvar a vida do filho, portador de leucemia. Rudy conta apenas com a ajuda de Deck Schifflet (Danny DeVito, ótimo), um bacharel que jamais passou no exame de ordem.

Essa posição quixotesca, do homem comum e de caráter contra o podre sistema, já foi, em inúmeras oportunidades, levada para as telas. Por outro lado, em poucas ocasiões temos a oportunidade de vê-la conduzida por mãos talentosas como as de Coppola, um diretor (e roteirista) que não deixa a plateia perder o interesse pelo que está assistindo. A trama segue sempre redonda, sem barrigas cansativas e contando com uma ótima direção de atores (uma das características do velho Francis). Damon já mostra porque se tornaria uma dos principais astros do cinema atual, mas é Danny DeVito (como ele anda sumido!) quem rouba a cena como o divertido e ao mesmo tempo realista Deck. Aliás, a contraposição dos dois lembra bastante a famosa e imortal obra de Miguel Cervantes, tanto nas características psicológicas como físicas dos personagens. Rudy é o idealista, enquanto Deck é o baixinho pragmático e esperto. A fórmula de sucesso é aqui mais uma vez utilizada para fisgar o espectador e não se pode negar que há sucesso na empreitada. Há ainda a personagem de Claire Danes, interesse romântico de Rudy, que a princípio parece um tanto deslocada na trama, mas que ao fim se encaixa como motivo relevante para algumas escolhas do jovem causídico (não vou revelar quais, obviamente).

O ponto fraco do longa, e isso se torna ainda mais problemático quando lembramos que o diretor é o mesmo de “O Poderoso Chefão”, é o maniqueísmo embotado nos personagens. Desde o início percebemos que Rudy é aquele herói incorruptível, enquanto outros, como o Leo Drummond (John Voight, o pai de Angelina Jolie), chefe da banca de advogados que defende a seguradora, são os “maus” pelos quais teremos que torcer contra e esse esquema preto-e-branco sempre enfraquece uma obra (a não ser que se trate de uma aventura-diversão, o que está longe de ser o caso). Talvez o único personagem que se situa entre um extremo e outro é justamente o de Danny DeVito já que, mesmo buscando ao máximo ajudar Rudy, ele algumas vezes se vale, digamos assim, de métodos pouco ortodoxos.

Contudo, o longa ainda assim funciona como filme-denúncia. A questão dos sistemas de saúde, principalmente aqueles dominados por seguros/planos privados, é algo que preocupa as sociedades de vários países e é absurdo como boa parte da sociedade americana parece ainda não ter se convencido disso, vide a resistência recente que Barack Obama enfrentou na última reforma do sistema ianque não só no congresso, mas também por parte da população (a qual, segundo pesquisas, se dividiu com relação à reforma). Não é à toa que a questão mereceu recentemente um documentário do sempre barulhento Michael Moore (o interessante “Sicko”), o que nos leva à conclusão que “O Homem Que Fazia Chover” é um longa-metragem de 1997, mas ainda muito atual, mesmo 13 anos depois.


Cotação:

Nota: 8,5

sábado, 24 de julho de 2010

Musas do Escurinho #15


A inesquecível Shophia Loren no auge de sua beleza! É interessante como nos lembramos dela apenas como uma grande diva, mas a verdade é que ela também é uma grande atriz. Inesquecível sua interpretação em "Um Dia Muito Especial"!

domingo, 18 de julho de 2010

Encontro Explosivo


Feliz encontro


Desde “Uma Aventura Na África”, clássico de 1951 protagonizado pelos ícones Humphrey Bogart e Katharine Hepburn, Hollywood consagrou um gênero que é a fusão do cinema de ação com a comédia romântica. Nada mais natural, já que, com uma cajadada só, consegue agradar tanto ao público feminino quanto ao masculino. Não que mulheres não possam gostar de filmes de ação, ou homens de filmes românticos. Afinal, nada mais pobre do que estereótipos. Mas não resta dúvida de que essas aventuras românticas, quando bem realizadas, acabam sendo tiros certeiros, capazes de agradar a gregos e troianos. Foi assim com o citado clássico, passando por outros exemplares como “Tudo Por Uma Esmeralda” (com Michael Douglas e Kathleen Turner) e o mais recente “Sr. e Sra. Smith” (estrelado pelo casal Branjolie).

“Encontro Explosivo”, que teve estreia nesta sexta-feira no circuito nacional, é mais um dos exemplares das aventuras românticas. Protagonizado por duas das grandes estrelas do cinema atual, Tom Cruise e Cameron Diaz, o longa é uma agradável surpresa e se mostra muito eficiente em suas pretensões. Possui, com sua ação inverossímil, mas ao mesmo tempo muito agradável, um tom bastante semelhante ao do citado “Sr. e Sra. Smith”, muito embora algumas diferenças sejam cruciais e até bem-vindas. No primeiro, Angelina Jolie encarna a figura que já está lhe sendo característica, a da mulher super-poderosa, capaz de enfrentar qualquer homem no mano a mano, conhecedora de técnicas de luta, que sabe atirar como ninguém, cheia de conhecimentos especiais relativos à espionagem, entre outras proezas. Se, por um lado, isso se coaduna com uma visão moderna da mulher, por outro lado esta super-heroína está distante da realidade de quase 100% das mulheres e, normalmente, estas sentem necessidade de se identificar com as personagens para que apreciem uma película (na realidade, super-heroínas nas telas acabam agradando muito mais aos homens do que às mulheres, isso é fato). Já neste “Encontro Explosivo” (título nacional genérico, bem inferior ao original “Knight and Day”), a personagem de Cameron Diaz, June Havens, é uma mulher comum (e a pouca maquiagem usada pela atriz em cena acaba acentuando ainda mais essa percepção), com preocupações de mulheres comuns. Ela está viajando para participar da cerimônia de casamento da irmã mais nova, o que lhe causa aquela angústia natural de estar “ficando pra titia”. Marca, contudo, via internet, um encontro com Roy Miller (Tom Cruise) no avião onde irão viajar. Ela apenas não sabe que Roy é um agente secreto da CIA e que está sendo perseguido pela própria corporação.

É a partir daí que as ótimas seqüências de ação se desenrolam. E também as boas sequências de humor e romance. A trama se desenrola redonda, apesar de algumas eventuais falhas de roteiro (comuns em filmes de ação, por sinal), deixando muito espaço para que os atores brinquem com os personagens. Diaz, que já havia trabalhado em filmes de ação com a nova versão de “As Panteras”, mas que é ainda mais conhecida por suas CRs, aqui consegue personificar um perfeito misto de mulher independente e romântica. Já Cruise está mais Tom Cruise do que nunca, se auto-parodiando com seu super-ultra-seguro-de-si Roy Miller, capaz de dar cabo de toda a tripulação de um avião enquanto June está no banheiro e depois ainda lhe oferecer um drinque. Antes de tudo, os dois parecem estar se divertindo muito e a química flui perfeita, talvez ainda melhor na tela do que a do casal Branjolie em “Sr. e Sra. Smith” e olha que esse foi o longa responsável pela união do casal fora das telas. Várias são as cenas que farão a plateia dar boas risadas, nunca forçadas.

Para tanto sucesso, a direção de James Mangold também é primordial. A edição é muito bem realizada e qualquer aresta no roteiro parece ter sido podada, vez que a duração do longa mostra-se a ideal. Mangold parece mesmo ter uma boa mão na direção de atores, principalmente casais (ele dirigiu anteriormente a interessante biografia “Johnny & June”). É bom lembrar que trabalhar com grandes astros sempre é difícil, principalmente um como Tom Cruise. Entretanto, à parte algumas crises de desequilíbrios, sabe-se que Cruise é extremamente profissional e também tem experiência suficiente para ajudar um diretor na condução de um filme (bom lembrar que até dublês ele dispensa em 90% das cenas de perigo).

Com tantas peças boas juntas e fórmula de sucesso, o projeto não poderia mesmo dar errado, resultando em um ótimo programa para casais no fim de semana (e a recepção fria da crítica americana só mostra o quanto ela costuma se equivocar). Em outros tempos do cinema, a parceria ente Cruise e Diaz iria render vários outros rebentos (algo comum na Hollywood da era dos estúdios), já que o encontro foi verdadeiramente feliz. Quem sabe eles não virão?


Cotação:

Nota: 8,0

sábado, 17 de julho de 2010

Cinema Com Pimenta - 2 anos

No último domingo, 11 de julho, o Cinema Com Pimenta completou 2 anos e, por motivos de ordem pessoal (não foi apenas a Copa do Mundo, hehhehehe!), acabei deixando a data passar em branco. Minha pretensão era escrever um texto sobre "... E o Vento Levou", um dos meus filmes favoritos (está entre os 5 mais na minha lista). Entretanto, além do tempo que foi escasso, tenho grande dificuldade em escrever sobre estes filmes "maiores do que a vida". Talvez porque muito já tenha sido dito sobre os mesmos e fica aquele receio de cair no lugar-comum. Contudo, estava vasculhando a net e acabei encontrando esta matéria exibida na Bandnews quando do aniversário de 70 anos do longa. Creio que ela resume muito bem a importância e a razão de, depois de tanto tempo, "... E O Vento Levou" continuar fascinando multidões. Abaixo, como uma forma de lembrar e agradecer a todos pelos dois anos do blog, segue a matéria. Espero que todos aqueles que gostam do Cinema Com Pimenta, e também aqueles que não gostam tanto assim, continuem visitando este espaço, que foi criado devido à minha paixão pela sétima arte, desafiando os contratempos do dia a dia para continuar de pé. Um grande abraço e muito obrigado!



quinta-feira, 15 de julho de 2010

"O Beijo da Mulher Aranha": obra de arte à venda


A versão restaurada de "O Beijo da Mulher Aranha" foi exibida agora há pouco na abertura do 3º Festival Paulínia de Cinema. Considero "O Beijo..." como o grande filme de Hector Babenco (quem diria que, anos depois, ele faria bobagens como "Carandiru"). Estrelado por William Hurt, Raul Julia e Sonia Braga (que trabalharam em troca de percentuais na arrecadação), o longa já completou 25 anos e venceu diversas premiações internacionais – incluindo os prêmios Oscar, BAFTA e Cannes de Melhor Ator para William Hurt (que está realmente soberbo). O "Beijo da Mulher Aranha" foi o único representante da América Latina na mostra Cannes Classics, realizada durante o Festival de Cannes 2010.

Interessante que este será o primeiro filme a ser vendido como obra/objeto de arte. Ideia inédita no mundo até hoje, contando com a anuência de todos os produtores e envolvidos, os direitos do filme serão vendidos, inclusive de refilmagem, para aqueles que apresentarem a melhor oferta, seja um estúdio, uma pessoa, um museu, ou qualquer outro que se comprometa a proteger, divulgar e preservar o longa e seu material. Embora a iniciativa seja inovadora, não deixa de ser um risco. Vamos torcer para que não caia em mãos erradas...

terça-feira, 13 de julho de 2010

Shrek Para Sempre


Síndrome de Toy Story


Em 2001, a Dreamworks criava uma nova fórmula para as animações. Dirigido por Andrew Adamson e Vicky Jenson, “Shrek” era uma divertidíssima e inteligente paródia do gênero do conto de fadas, criando um universo todo especial com aqueles personagens conhecidos de todos, como a princesa presa na torre, Pinóquio, o burro falante, além de outras figuras presentes em tais estórias. Tudo se tornava ainda mais interessante e divertido com a sacada do protagonista: um ogro mau-humorado que fazia as vezes do príncipe encantado, salvando a princesa da torre onde estava confinada. O longa foi um sucesso gigantesco de público e crítica e, inevitavelmente, gerou mais duas continuações - com um ótimo segundo episódio e uma fraca terceira parte. E eis que surge agora um quarto episódio da franquia (que prometem ser o último). Eu mesmo fui ao cinema não acreditando muito no que veria, esperando o mais do mesmo em que já tinha se transformado a série. Contudo, tive uma boa surpresa.

Não que “Shrek Para Sempre” (dirigido por Mike Mitchell, que saiu dos filmes live action para as animações) tenha aquela centelha de brilhantismo do início da série, mas com certeza conseguiu recuperar uma boa parte do seu humor afiado. Várias foram as seqüências que me arrancaram risadas e, de fato, a premissa é interessante. O roteiro, de Josh Klausner e Darren Lemke, mostra o nosso conhecido ogro na sua feliz vida em família no reino de Tão Tão Distante, com sua amada Fiona e os rebentos ogrinhos. O problema é que Shrek está tendo dificuldades de se adaptar à rotina de pai de família, sentindo uma enorme falta de seu tempo de ogro mau-comportado. No dia do primeiro aniversário de seus filhos, Shrek se descontrola e fala besteira para Fiona. O maior problema, contudo, é que o duende trapaceiro Rumpelstiltskin vê o ocorrido e traça um plano ardiloso: ele faz uma proposta “vantajosa”, pela qual Shrek voltará a ser o ogro de outros tempos durante 24 horas. Em troca, Rumpelstiltskin terá o direito de apagar um dia da vida do Shrek. E esse dia acaba sendo justamente o do nascimento do ogro. Ou seja, depois das 24h, Shrek se vê em um mundo em que ele nunca existiu.

Acredito que qualquer semelhança com o clássico “A Felicidade Não Se Compra” não é mera coincidência. Há muitos pontos de identidade com o filme de Frank Capra, restando clara a fonte de onde beberam os roteiristas. Afinal, Shrek vê as consequências do simples fato de nunca ter existido e, tal como na citada obra-prima, elas não são nada positivas. A diferença é que, em vez de um anjo temos Rumpelstiltskin como responsável por essa viagem a um mundo alternativo, além de, obviamente, termos um texto recheado de humor, desta vez muitíssimo eficiente. Diz o ditado que piada velha não tem graça, mas é interessante como algumas tiradas da série, principalmente envolvendo o Burro e o Gato de Botas, ainda se mostram muito eficientes. Ademais, a trama aventureira se resolve muito bem. Alguns críticos têm apontado a ideia dos mundos alternativos como confusa demais para crianças, o que não é verdade. Eu mesmo, quando garoto, lia as HQs da DC Comics, com toda a sua profusão de dimensões paralelas, sem muita dificuldade. Não vejo porque agora, quando as crianças estão ainda mais espertas que em outros tempos, isso seria um problema.

Talvez o grande problema deste “Shrek Para Sempre” seja o fato de ser lançado nos cinemas logo após “Toy Story 3”, uma espécie de obra-prima definitiva da Pixar. Quando comparamos as duas animações, vemos que “Shrek”, por maior que seja sua eficiência no quesito diversão, fica pálido e comum diante de mais este triunfo dos estúdios Pixar (pra mim, até o momento, o melhor filme do ano). Entretanto, acho que a comparação é válida entre todos os filmes de ambos os estúdios. Parece que todos os filmes da Dreamworks se conformam em apenas trazer algumas horas de entretenimento para o grande público. Os longas da Pixar, por seu turno, sempre trazem um lado artístico mais trabalhado e capaz de emocionar a plateia, fugindo de apenas ministrar algumas doses de humor no dia do espectador, tornando-se, desta forma, memoráveis.

De qualquer forma, mesmo que vítima desta síndrome de Toy Story, “Shrek Para Sempre” vale a ida ao cinema, nem que seja para sair da sala falando “é divertido, mas Toy Story 3 é melhor”.

Obs. Não vi o filme em 3D, portanto não posso opinar sobre este aspecto técnico.


Cotação:

Nota: 8,0

segunda-feira, 12 de julho de 2010

A Copa acabou



Com a vitória da Espanha (e do Polvo Paul!), terminou a Copa do Mundo. Prometo a mim mesmo procurar atualizar este blog com mais frequência agora. Abraços!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Dica de livro


Eis um livro que deve pegar de jeito todos os cinéfilos. "O Clube do Filme" narra os dias em que o crítico de cinema David Gilmour (xará do guitarrista do Pink Floyd) se viu desempregado e com o seu problemático filho Jesse sem qualquer vontade de estudar. Como ambos estavam com muito tempo à disposição, o pai concorda que o filho deixe a escola, desde que ambos assitam a 3 filmes por semana (com escolhas feitas por David). Essa é a única educação que Jesse receberá.

Antes de tudo, o livro trata da difícil relação entre pais e filhos e de como muitas vezes eles habitam mundos completamente distintos. Entretanto, à parte esta relevante abordagem, é saborosa a apreciação da sequência de filmes assistidos pela dupla. Sempre ficamos curiosos para saber quais serão os próximos, além dos comentários sempre inteligentes de Gilmour sobre os mesmos. Ademais, é emocionante constatar como, de fato, assistir a um bom filme pode ajudar a estabelecer uma ponte entre pais e filhos, tornando possível a comunicação e as descobertas sobre o outro. Sensível e sempre interessante (a leitura flui embalada), acredito que todos aqueles que amam a 7ª arte irão apreciar a obra. Recomendadíssimo!

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Coco Antes de Chanel




Novela das 8


Um dos gêneros mais complicados para a arte cinematográfica, sem dúvida, é a biografia. Em verdade, o gênero já apresenta muitas complexidades na literatura devido ao fato notório de que é muito difícil sintetizar a vida de um ser humano em algumas páginas (mesmo que este “algumas” se transforme em centenas). E mais: procurar abordar todas as nuances da personalidade do biografado é algo praticamente impossível. Até porque somente cada indivíduo conhece realmente todos os meandros que habitam sua consciência, o que torna automaticamente toda tentativa de elucidá-la apenas uma cópia borrada da mesma. E, se na literatura a tarefa já não é das mais simples, quem dirá no cinema, onde a limitação de tempo gera ainda maiores obstáculos para que se atinja esse objetivo.

Para tornar a tarefa menos árdua, é comum que diretores e roteiristas optem por abordar apenas alguns ou mesmo apenas um dos vários aspetos que compõem a vida de um biografado. E a diretora Anne Fontaine, responsável por este “Coco Antes de Chanel”, não foge a este padrão. Afinal, ao longo dos 110 minutos de duração da película, praticamente só vemos a vida amorosa de Gabrielle Chanel, mais conhecida como “Coco”, a referência máxima de todos (as) os (as) estilistas que povoam o mundo da moda. Aliás, o próprio nome “Chanel” tornou-se sinônimo de moda e estilo. E talvez seja exatamente por isso que esta cinebiografia se torne tão frustrante. Quando imaginamos uma biografia de Coco Chanel logo nos vem à mente a figura de uma mulher forte, desafiando seu tempo e respectivas convenções. Claro que ela teve vida amorosa, mas não é por seus amores que nos interessamos. E este é o grande erro de Fontaine.

O roteiro (escrito pela própria diretora juntamente com Camille Fontaine) se arrasta contando as venturas e desventuras românticas de Coco (Audrey Tautou). Desde seu caso com Étienne Balsan (Benoît Poelvoorde), o qual serviu de pontapé para sua inserção na alta sociedade francesa, até seu outro romance com Boy Capel (Alessandro Nivola), que o filme dá entender ser uma espécie de “grande amor de sua vida”, um inglês sedutor de quem foi a “outra” durante muito tempo. E vamos assistindo a essa novela das 8 insossa, sendo que seu desenvolvimento profissional, suas inovações estilísticas, suas atitudes estranhas à sua época, são mostrados apenas circunstancialmente, meio que servindo tão somente, e estranhamente, de “pano de fundo” para os relacionamentos da protagonista. Ademais, alguns aspectos mais polêmicos da persona de Chanel são suavizados ou mesmo ignorados pelo longa, como sua ligação com o nazismo (que lhe rendeu o exílio e o ódio dos franceses). A Chanel que fica externada parece até mesmo uma marionete do destino ao afirmar que sempre soube que jamais casaria, meio que retirando essa circunstância do âmbito de sua vontade para atribuí-la àquela entidade abstrata (o que deve deixar muitas feministas de cabelos em pé).

Mesmo Audrey Tautou não parece especialmente interessante em sua interpretação. Falta alguma coisa, um brilho mais intenso, que torne o seu desempenho memorável. O que me faz lembrar imediatamente de Marion Cotillard e sua “Piaf”. Nesta não faltou intensidade, garra, vibração. Alguns podem afirmar que a personagem de Edith Piaf naturalmente dava margem a uma atuação mais intensa, pelo próprio fato de Piaf ser uma mulher bastante passional. Pode haver verdade nisso, mas também é verdade que se Chanel era uma pessoa tal como Tautou a representou, pode-se dizer que a mesma era uma mulher bem menos interessante do que se imagina.

Enfim, “Coco Antes de Chanel” resta bastante insatisfatório. Claro que tem uma perfeita reconstituição de época; figurinos (indicados ao Oscar) impecáveis (e tinha que ser mesmo, né?). Mas a excelência destes aspectos técnicos, dentro do cinema contemporâneo, nada mais é do que obrigatória. Ninguém mais vai ao cinema apenas para ver uma reconstituição caprichada ou uma boa trilha sonora (no caso, de Alexander Desplat). Ainda utilizando como comparação “Piaf – Um Hino ao Amor”, filme sobre outra grande mulher francesa, é interessante como o longa sobre a diva da música consegue emocionar e capturar a essência da personagem (mesmo que também seja omisso com relação a alguns aspectos mais polêmicos de sua vida), resultando em uma película diferenciada. Já este “Coco” consegue apenas igualar aquele tipo de dramaturgia que costumamos ver nas telenovelas. E telenovelas atuais, pois as velhas e ótimas telenovelas (parece que a rede dos Marinho esqueceu como fazê-las) estavam pelo menos um degrau acima desta pálida biografia.


Cotação:

Nota: 5,5

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Cartão vermelho!


Mas como o Mick Jagger é pé-frio, hein?

Agora, só em 2014...