quinta-feira, 29 de abril de 2010

Quero Ver Novamente # 2

Há exatos 30 anos morreu Alfred Hitchcock, provavelmente o mais famoso diretor de cinema de todos os tempos*. Um gênio absoluto! Mesmo quem não tem muita intimidade com assuntos cinematográficos já ouviu falar no diretor e provavelmente já assistiu a pelo menos um dos filmes de sua extensa obra. Abaixo, segue uma das mais famosas sequências da história, lembrada até mesmo por quem nunca viu o filme – e é bom recordar que, em 2010, “Psicose” também está completando uma data redonda: 50 anos. As imagens falam por si só. Se você quiser dicas sobre 7 obras essenciais do mestre do suspense, clique aqui e terá acesso a uma lista elaborada pelo Cinema com Pimenta há algum tempo. A sétima arte em estado puro!




* Chaplin talvez seja mais famoso, mas também era ator o que contribuiu para a sua imagem mítica.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Alice no País das Maravilhas


Sentado à beira do caminho



Se algum desavisado, que nunca tenha entrado em contato com a obra do inglês Lewis Carroll, der uma rápida lida no livro “Alice no País das Maravilhas” é possível que acredite que o mesmo foi escrito durante os anos 60, em meio a alguma viagem lisérgica do seu autor, tal o grau de psicodelia presente em suas páginas. O que aconteceria então se tal obra fosse adaptada para o cinema pelo diretor mais excêntrico da Hollywood atual, o imagético, gótico e talentoso Tim Burton? Esta pergunta martelou por muito tempo nas mentes de cinéfilos e mesmo do grande público desde o anúncio do projeto. Apesar de não ser uma ideia nova para Burton, que já havia repaginado outras estórias famosas, dentro da sua ótica peculiar (como em “A Fantástica Fábrica de Chocolates”), a expectativa era grande e o diretor convocou novamente a gangue costumeira para levar a cabo a adaptação. Estão lá Johnny Depp (sempre ele), sua esposa Helena Boham Carter e o trilheiro Denny Elfman. Bem, mas... e o resultado foi digno da expectativa gerada?

A verdade é que muita gente esqueceu de um fator importantíssimo que, com certeza, afetaria o sabor final da obra: o longa é uma produção dos estúdios Disney. E isso tem um peso enorme, não há quem duvide.

Percebe-se que Burton tentou realizar uma obra pessoal, como lhe é característico, mas parou no meio da trajetória. Uma das suas ideias que soam características foi crescer Alice para, desta forma, poder lhe atribuir um caráter sensual nunca antes explorado. Na trama, Alice (interpretada pela competente novata Mia Wasikowska) tem 19 anos, não se lembra dos eventos no País das Maravilhas que ocorreram na sua infância e está prestes a se casar com um homem de quem não gosta, por pura convenção social. Fugindo da festa programada para que tal pretendente pedisse sua mão, Alice corre seguindo um coelho e acaba caindo no fundo de um poço. Pronto. Está de volta ao mundo encantado de anos atrás. A sexualização da personagem, vale dizer, não se limita à sua idade casadoira. Várias são as passagens do filme em que ao diminuir e aumentar de tamanho, Alice tem sua nudez insinuada, uma vez que a cada transformação as roupas se tornam grandes ou pequenas demais. Ademais, o Chapeleiro Louco, que no livro é uma figura assexuada, de tom paternal, também oferece contornos sedutores na pele de Johnny Depp (que, em rara ocasião, pareceu estar no piloto automático), convertendo-se em um quase par romântico para a heroína.

Contudo, como dito acima, a mão da Disney (onde Burton deu os seus primeiros passos no meio cinematográfico) pesa e o trabalho não pode fugir do padrão “para toda a família”. Sendo assim, essas nuances adultas não ultrapassam certos limites e são contrabalançadas por elementos extremamente infantis. A forma como o roteiro se desenvolve muitas vezes parece simplória e óbvia demais, passando a impressão de que o longa foi feito apenas para o público mirim (principalmente depois que nos acostumamos às “animações infantis apenas na aparência” da Pixar), além de trazer uma “mensagem” muito explicadinha, talvez duvidando da inteligência de quem assiste ao longa. Desta forma, o filme se perde, sem saber se quer ser adulto ou criança.

Há, entretanto, um lado em que o famoso diretor teve plena liberdade para criar: as imagens. Sabe-se que Burton é, talvez, a mente mais criativa neste quesito no cinema mundial da atualidade e ele faz jus à fama. O filme é visualmente belíssimo, com soluções excelentes para uma obra literária que estimula como poucas a imaginação do leitor (a despeito de seu 3D esquisito em várias seqüências, fruto de uma conversão posterior ao formato, vez que o filme não foi originalmente concebido desta maneira). Não será estranho que venha a receber prêmios e mais prêmios pela sua impecável direção de arte.

É importante ressaltar que o longa não é ruim ou chato. Ele funciona, principalmente para o público infantil que ainda não conhece a trama, e não haveria nenhum mal caso a intenção fosse a de realmente apresentar a obra para as novas gerações. O problema é que de Burton sempre se espera um algo mais e esse “algo mais” está insinuado em vários momentos. Contudo, a sensação que permanece é a de que o diretor ficou sentado à beira do caminho, impedido pela Casa do Mickey de ir adiante em suas ambições. Ou será que faltou coragem ao mesmo para enveredar por tais avanços? Afinal, não se pode negar também que Burton anda um tanto acomodado, utilizando-se de premissas, estilos e até elenco já cansados dentro de sua obra. Ao fim da narrativa (que possui um tom capaz de alegrar qualquer feminista), Alice mostra que é preciso ter coragem para enfrentar novos caminhos. Talvez seja isso mesmo que esteja faltando a Tim Burton.


Cotação:

Nota: 7,5

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Festival de Cannes 2010 - Seleção


A organização do mais importante festival de cinema do mundo, anunciou nesta última terça-feira, dia 20/04, a seleção de filmes da mostra paralela Quinzena dos Realizadores. Há um filme brasileiro presente, "A Alegria", de Marina Méliande e Felipe Bragança. Também foi incluído hoje mais um filme brasilis, o curta "Estação" , dirigido por Márcia Faria, que disputará a Palma de Ouro na categoria de curtas-metragens. Assim, a participação de produções brasileiras em Cannes, até agora, soma quatro filmes: "Cinco Vezes Favela", dirigido por Luciana Bezerra, Cacau Amaral, Rodrigo Felha, Wavá Novais, Manaíra Carneiro, Cadu Barcellos e Luciano Vidigal, na Seleção Oficial; o curta "A Distração de Ivan", de Cavi Borges e Gustavo Melo, na Semana da Crítica; o citado "A Alegria", de Felipe Bragança e Marina Meliande, na Quinzena dos Realizadores; e, agora, o curta "Estação".

Com isso, a seleção do Festival está quase completa - sempre acabam entrando um ou dois filmes fora de competição na última hora. A 63ª edição do Festival de Cannes acontece de 12 a 23 de maio e "Robin Hood", dirigido por Ridley Scott, será o filme da abertura. Tim Burton é presidente do júri.

Um dos meus maiores sonhos de cinéfilo é acompanhar este festival "in loco"...


Confiram a seleção, com destaques para os novos trabalhos de Woody Allen, Abbas Kiarostami e Alejandro González Iñarritu. E notem que que há um filme de Gordard na mostra "Un Certain Regard".

Competição

Another Year, de Mike Leigh
Biutiful, de Alejandro Gonzalez Iñarritu
Burnt by the Sun 2, de Nikita Mikhalkov
Certified Copy, de Abbas Kiarostami
Fair Game, de Doug Liman
Hors-la-loi, de Rachid Bouchareb
The Housemaid, de Im Sang-soo
La Nostra Vita, de Daniele Luchetti
La Princesse de Montpensier, de Bertrand Tavernier
Of Gods and Men, de Xavier Beauvois
Outrage, de Takeshi Kitano
Poetry, de Lee Chang-dong
A Screaming Man, de Mahamat-Saleh Haroun
Tournee, de Mathieu Amalric
Uncle Boonmee Who Can Recall His Past Lives, de Apichatpong Weerasethakul
You, My Joy, de Sergey Loznitsa

Fora de competição

Carlos, de Olivier Assayas
You Will Meet a Tall Dark Stranger, de Woody Allen
Tamara Drewe, de Stephen Frears
Wall Street - Money Never Sleeps, de Oliver Stone
Kaboom, de Gregg Araki
L'autre Monde, de Gilles Marchand
Inside Job, de Charles Ferguson
Over Your Cities Grass Will Grow, de Sophie Fiennes
Nostalgia de la Luz, de Patricio Guzman
Draquila - L'Italia che Trema, de Sabina Guzzanti
Chantrapas, de Otar Iosseliani
Abel, de Diego Luna

Mostra Un Certain Regard

Adrienn Pal, de Agnes Kocsis
Aurora, de Cristi Puiu
Blue Valentine, de Derek Cianfrance
Chatroom, de Hideo Nakata
Chongqing Blues, de Wang Xiaoshuai
The City Below, de Christoph Hochhausler
Film Socialisme, de Jean-Luc Godard
Ha Ha Ha, de Hong Sang-soo
Les Amours Imaginaires, de Xavier Dolan
Life Above All, de Oliver Schmitz
Los Labios, de Santiago Loza
Octubre, de Daniel Vega
Qu'est-il Arrive a Simon Werner?, de Fabrice Gobert
Rebecca H., de Lodge Kerrigan
R U There, de David Verbeek
The Strange Case of Angelica, de Manoel de Oliveira
Tuesday, After Christmas, de Radu Muntean
Udaan, de Vikramaditya Motwane

Quinzena dos Realizadores

A Alegria, de Marina Méliande e Felipe Braganca
All Good Children, de Alicia Duffy
Alting bliver Godt Igen, de Christoffer Boe
Año Bisiesto, de Michael Rowe
Benda Bilili, de Renaud Barret e Florent de la Tullaye
La Casa Muda, de Gustavo Hernandez
Cleveland Vs. Wall Street, de Jean-Stéphane Bron
Des Filles en Noir, de Jean-Paul Civeyrac
Ha'Meshotet, de Avishai Sivan
Illégal, de Olivier Masset-Depasse
The Light Thief, de Aktan Arym Kubat
Little Baby Jesus of Flandr, de Gust Van den Berghe
La Mirada Invisible, de Diego Lerman
Picco, de Philip Koch
Pieds Nus sur les Limaces, de Fabienne Berthaud
Le Quattro Volte, de Michelangelo Frammartino
Shit Year, de Cam Archer
Somos lo que Hay, de Jorge Michel Grau
Tiger Factory, de Woo Ming jin
Todos vós Sodes Capitáns, de Oliver Laxe
Two Gates Of Sleep, de Alistair Banks Griffin
Un Poison Violent, de Katell Quillevéré

Sessões Especiais da Quinzena

Stones In Exile, de Stephen Kijak
Boxing Gym, de Frederik Wiseman

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Botafogo Campeão Carioca de 2010 - E das Taças Rio e Guanabara!


Pausa no cinema para registrar mais um título do Glorioso conquistado ontem! Ou melhor, dois! Vencendo o malfadado time de listras horizontais vermelhas e pretas, o Botafogo de Futebol e Regatas venceu a Taça Rio e, como já havia sido campeão da Taça Guanabara, o Campeonato Carioca que estava engasgado havia 3 anos! Bom dizer que havia 12 anos um clube não conquistava o título carioca sem precisar de jogos finais! É isso aí, Fogão! Valeu Loco Abreu! Valeu, Herrera! E, claro, valeu Jefferson, o maior herói desta épica partida! E parabéns para os demais guerreiros que mostraram o que é jogar com brios!!!!!!

FOOOOGGGGGGGGGGGGGGGGOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!!!!!!

Veja o video da vitória!!!!


domingo, 18 de abril de 2010

Filmes Para Ver Antes de Morrer


Um Lugar Ao Sol
(A Place In The Sun)


Obra-prima trágica sobre a sociedade americana

Sabe aquele filme adorado pela crítica que você imaginava que era muito bom e, depois de vê-lo, você chega à conclusão de que é mesmo tudo que falavam dele? Pois bem, esse é o caso de “Um Lugar Ao Sol”, um dos clássicos absolutos da era de ouro de Hollywood. Dirigido brilhantemente por George Stevens, um dos grandes diretores deste período, trata-se de uma adaptação para as telas do livro “Uma Tragédia Americana”, de Theodore Dreiser, o qual, por sua vez, havia se inspirado em um caso real bastante conhecido nos EUA do início do século XX.

É sabido que o romance possuía contornos de crítica social ainda mais fortes do que a versão cinematográfica. Stevens teve que realizar adaptações para deixar o material mais palatável ao público (e também fugir da censura cada vez mais castradora dos EUA no início dos anos 50). Entretanto, talvez tais concessões sejam justamente as responsáveis pelo longa ter resultado repleto de tanto brilho, apto a cativar plateias de qualquer época. Para tanto, Stevens investiu no lado romântico do trágico personagem de George Eastman (Montgomery Clift, então com 29 anos) um rapaz de família pobre que busca a ajuda do tio empresário e milionário para conseguir um trabalho decente. É interessante como Clift consegue, muitas vezes através apenas de pequenas nuances de expressão, mostrar como George se sente deslocado e ao mesmo tempo deslumbrado diante do mundo fausto dos seus parentes ricos. Sua inadequação ao novo meio é tão grande que, logo de início, infringe uma das regras básicas das indústrias Eastman, envolvendo-se com uma de suas empregadas, Alice Tripp, interpretada pela ótima Shelley Winters. Curioso que Winters era conhecida por encarnar papéis de mulheres sensuais e a sua personagem aqui é quase o oposto, uma trabalhadora braçal cansada e sem glamour. Todavia, hoje percebe-se o quanto a opção de Stevens foi realmente acertada, assim como foi perfeita a escolha da então adolescente Elizabeth Taylor (com apenas 17 anos) para o papel de Ângela Vickers, a integrante da alta sociedade por quem George acaba perdidamente apaixonado. Liz Taylor se assemelha a uma deusa andando por entre os simples mortais, e fica difícil censurar o jovem Eastman pelo seu rápido desencanto com Alice e total envolvimento com Ângela, tamanha a beleza desta (e ainda caindo de amores pelo rapaz...). Além disso, Ângela representa não apenas o seu ideal de beleza, mas também o mundo do qual gostaria de participar.


Tal contraposição entre o mundo real de George e a sua vida de sonho é exemplificada de forma bastante perspicaz pelo roteiro ao abordar o dia de aniversário do protagonista. Alice havia preparado uma pequena comemoração no quarto de pensão onde mora. George, entretanto, é convidado por seu tio para uma festa em sua casa. Em tal festa, George tem o primeiro contato mais próximo com Ângela, inclusive dançando com a mesma. Depois de horas de atraso, chega ao quarto de Alice. Não é necessário ser qualquer expert em cinema para notar a diferença de sedução que os dois ambientes exercem. O quarto de Alice é tudo aquilo que George quer afastar definitivamente de sua vida, muito embora busque esconder tal desejo até de si mesmo.


Bom ressaltar que vários são os outros momentos geniais de Stevens na condução do longa-metragem. Em vários momentos, marcadamente os que mostram a relação de Eastman com Alice, a fotografia lembra a do cinema noir, utilizando-se do famoso chiaroescuro, enquanto outros são dotados de uma luminosidade belíssima, usada quando das vivências do personagem na alta sociedade. Alguns dos enquadramentos utilizados por Stevens foram mesmo revolucionários, colocando a câmera sobre os ombros dos personagens e realizando um super-close, quase desfocado, recurso que seria muito imitado a partir daí. Bom lembrar que Stevens começou sua carreira no cinema exatamente como fotógrafo e que serviu às forças armadas dos EUA durante a Segunda Guerra realizando documentários das ações americanas na Europa (filmou o desembarque na Normandia e a chegada das tropas ao campo de concentração de Dachau, por exemplo). Natural então que suas obras possuam uma fotografia destacada e não nego o especial apreço que possuo por tramas muito bem desenvolvidas imageticamente (afinal, cinema é imagem).

Por outro lado, o filme nos mostra George com extrema compaixão e é assim como percebemos que o sistema acaba sendo muito mais responsável pelo fim trágico que se anuncia. Alice fica grávida ao mesmo tempo em que George pensava em deixá-la e ele não sabe mais como resolver o problema, levando-o a cogitar sobre atitudes extremas. Todavia, Eastman é apenas uma rapaz ingênuo que é seduzido por um mundo do qual não faz parte e que não está preparado para enfrentar. De forma irônica, entretanto, a culpa pelo fim trágico recai apenas sobre os seus ombros, na realidade muito mais uma vítima das circunstâncias do que um algoz indiferente. Engenhosamente, ademais, o julgamento final é dado pelo espectador, já que algumas informações cruciais são sonegadas para que este não saiba o que de fato aconteceu no desenrolar dos eventos.

O filme acabou levando 6 estatuetas no Oscar de 1952, incluindo melhor direção e roteiro (escrito impecavelmente por Michael Wilson e Harry Brown) e é o primeiro da trilogia de Stevens sobre a formação dos Estados Unidos da América (os outros dois seguintes são “Os Brutos Também Amam” e “Assim Caminha a Humanidade”). Contudo, talvez esta seja mesmo sua grande obra-prima, dona de um impacto ímpar na história do cinema. Reza a lenda que, ao terminar de assistir ao longa, Charles Chaplin teria dito que este era o melhor filme que ele tinha visto em toda sua vida. Preciso dizer mais alguma coisa?


Cotação e nota: Obra-prima.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Musas do Escurinho #14


Na realidade, esta é uma "edição especial" da série para lembrar uma data marcante: há exatos 20 anos, no dia 15 de abril de 1990, faleceu Greta Luvisa Gustafson, mais conhecida pelo seu nome artístico: Greta Garbo. Abaixo a sequência de "Grande Hotel" onde ela profere a famosa frase que se transformaria no epitáfio da sua vida: "I want to be alone" (eu quero estar sozinha). E Garbo (seu sobrenome tornou-se até nome de loja no Brasil, no auge de sua fama) realmente terminou como queria: sozinha, mas jamais esquecida.


quarta-feira, 14 de abril de 2010

Preciosa - Uma História de Esperança

Haja sofrimento...


“Preciosa” faz parte de uma tradição de filmes que poderia ser catalogada como “filme-martírio”. Suas trajetórias de desventuras são tão extensas que chegam a se assemelhar à quantidade de sofrimentos de Jesus Cristo nos seus últimos momentos de vida. Esse tipo de exemplar cinematográfico possui películas memoráveis, como “As Cinzas de Ângela”, e encontra novo eco neste longa-metragem dirigido por Lee Daniels. É interessante ainda notar como o Oscar deste ano resolveu dar destaque para filmes de “superação” e que possuem negros enfrentando as adversidades, vide o exemplo também de “Um Sonho Possível” (ambos os personagens também são obesos). Essa política de quotas empregada pela Academia acaba cheirando muito mais a um conservadorismo velado do que a uma real pretensão de dar espaço ao cinema com enfoque nas minorias.

Contudo, existe uma essencial diferença de abordagem entre as duas produções acima citadas. Se no filme com Sandra Bullock o diretor optou por maquiar a abordagem, transformando a história de dificuldades de Michael Oher em um drama mais palatável, apto a agradar o grande público, aqui temos a história de Claireece Precious Jones mostrada da maneira mais “mundo-cão” possível. As concessões ao meio comercial são praticamente zero (se é que existem). Baseado em uma história real, transformada em livro pela escritora Sapphire, o roteiro (adaptado por Geoffrey Fletcher e premiado com o Oscar) narra a vida da protagonista sem firulas: obesa e negra, vivendo no Harlem da Nova York dos anos 80, Claireece está grávida pela segunda vez do próprio pai e vive sob o mesmo teto com uma mãe megera que lhe maltrata física e verbalmente. Pra completar, é semi-analfabeta e acaba expulsa da escola justamente pos estar grávida novamente. O longa, por sinal, é filmado de forma quase documental, com o diretor optando por uma câmera na mão para gerar um sensação ainda maior de realidade (as sequências na sala de aula me lembraram bastante o francês “Entre os Muros da Escola”). Algum alívio só advém quando, em algumas sequências muito chocantes e permeadas de violência, são mostrados os sonhos de Precious, sempre cheios de glamour, opostos ao mundo em que vive. Também há algumas tiradas cômicas, como na paródia ao clássico italiano “Duas Mulheres”. Contudo, o humor, pelo menos comigo, não funcionou, talvez pela carga dramática enorme, que não consegue ser diminuída com cenas de alívio.Tais cenas acabam não se tornando orgânicas, parecendo fotogramas intrusos em um ambiente impróprio.

Ademais, a despeito das ótimas interpretações, tanto de Gabourey Sidibe quanto de Mo’Nique como a protagonista e a mãe da mesma, respectivamente, o desenvolvimento dos personagens parece um tanto equivocado. A mãe mais parece uma bruxa com vassoura e verruga no nariz ou, ainda, a madrasta de Cinderela. Não sei até que ponto é possível considerar este personagem como adaptado de um ser humano verdadeiro. Muito embora se possa afirmar que existam pessoas extremamente más, assim como há extremamente boas, não consigo conceber que alguém seja só maldade (dá mesma forma que não há alguém que seja apenas bondade). Isso acaba fazendo com que o personagem de Mo’Nique acabe no limite da caricatura e só não termina descambando inteiramente para o caricatural devido à mencionada excelente atuação da intérprete (ela realmente mereceu o Oscar de coadjuvante). É bom ressaltar, ademais, que muito da força do longa vem dessas atuações. Todo o elenco está bem, como Paula Patton, que interpreta a professora que ajuda e dá um novo alento para que Claireece enxergue novos horizontes, além das participações especiais de Mariah Carey e Lenny Kravitz, ela como uma assistente social e ele como um enfermeiro boa gente.

Não sei até que ponto este tipo de cinema agrada ao público. Todos gostamos de histórias de redenção (pelo menos os seres humanos normais, não os críticos chatos). Mas, ao fim do longa, fica difícil de enxergar alguma possível redenção para a personagem-título. Por mais que possa ter acontecido de fato, é duro entrar na sala de cinema e sair com a sensação que o mundo ainda pode ser pior do que você imagina. De qualquer forma, a cena em que Claireece chora na sala de aula afirmando que ninguém a ama é de quebrar qualquer coração. Só por ela, Gabourey jé mereceu a indicação ao prêmio da Academia e todos os elogios que lhe foram feitos por Oprah Winfrey durante a cerimônia.

Cotação:

Nota: 8,0.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Brasil X Argentina


O prêmio de melhor filme estrangeiro dado a "O Segredo de Seus Olhos", filme de Juan José Campanella, no Oscar 2010, parece ter levado para o âmbito cinematográfico a rivalidade existente entre Brasil e Argentina no futebol. Há alguns dias, o filósofo Luís Felipe Pondé publicou, na Folha de São Paulo (e que você pode ler aqui), artigo, com conteúdo beirando o reacionário, em que afirmava a superioridade do cinema argentino sobre o brasileiro. O texto gerou várias reações (até no site do Zé Dirceu houve manifestações contrárias sobre a posição de Pondé). Uma destas reações veio de Marcelo Lyra, crítico que contribui com o site "Cinequanon" e que publicou resposta interessante que você pode ler aqui. Não concordo em todos os pontos, mas o texto de Marcelo é extremamente bem fudamentado e demonstra um conhecimento muito mais aprofundado sobre cinema (e mesmo cultura) que o Sr. Pondé em suas linhas toscas. Vale à pena ler, até para se inteirar da discussão e procurar formar uma opinião. Recomendo.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Quero Ver Novamente # 1

Inauguro aqui uma nova série, destinada a vermos e revermos aquilo que é a essência do cinema: cenas inesquecíveis! Para abrir a série, escolhi uma cena especial com a incrível, única e inesquecível Audrey Hepburn. Trata-se de Holly Golightly, sua personagem em "Bonequinha de Luxo" ("Breakfast at Tiffany's"), cantando "Moon River", canção memorável composta por Henry Mancini. Você vai querer ver novamente! Isso é cinema! ;=)


domingo, 4 de abril de 2010

Chico Xavier


Supere seus preconceitos


Daniel Filho costuma ser alvo de severas críticas por parte do meio cinéfilo nacional. A maioria delas se centra no fato de que seus longas possuem uma forte estética televisiva e passam a sensação de estarmos assistindo a mais um programa da TV Globo. Há uma certa verdade nisso, mas a reação que a crítica vem apresentando a “Chico Xavier”, filme que teve estreia no circuito nacional na última sexta-feira, 02 de abril, atribuindo-lhe apenas cotações medianas, parece ser fruto de um preconceito arraigado contra a obra do referido cineasta. É verdade que, se o longa possui tiques televisivos, ele consegue envolver bastante o espectador e consegue traçar um belo panorama da vida do biografado.

Chico Xavier teria comemorado 100 anos caso fosse vivo na data de estreia do longa e, sem dúvida, é uma figura que desperta polêmica, admiração ou mesmo rejeição. Ele foi o grande responsável pela popularização da doutrina espírita no Brasil, demonstrando poderes que desafiam a lógica racional e colocam em dúvida até mesmo o ateu mais convicto. Acusado de charlatanismo por alguns, a verdade é que o médium jamais recebeu um centavo pela sua atividade de psicografia, seja prestando auxílio e consolo a pessoas que perderam entes queridos, seja escrevendo livros atribuídos a espíritos (como o de seu mentor Emmanuel), doando todos os direitos autorais para instituições espíritas ou de caridade.

Tamanho era o burburinho que sua atividade vinha causando que Chico Xavier, no início dos anos 70, foi o entrevistado do programa Pinga Fogo, da extinta TV Tupi. O programa durava apenas 60 minutos, mas, no caso de Chico, o tempo extrapolou e estendeu-se por mais de 3 horas (houve ainda um segundo, que durou cerca de 4 horas). O médium foi sabatinado por jornalistas ávidos por encontrar contradições ou inconsistências em suas palavras. O que aconteceu, todavia, foi que ele saiu com uma popularidade multiplicada após as sabatinas, conquistando cada vez mais admiradores em todas as classes sociais. E foi a partir da participação de Chico Xavier neste mencionado programa televisivo que foi desenvolvido o roteiro do longa-metragem em questão. Escrito por Marcos Bernstein, a partir da biografia “As Vidas de Chico Xavier”, de Marcel Souto Maior, o roteiro mostra a infância de Xavier (interpretado neta fase por Matheus Costa), uma daquelas infâncias no estilo “Preciosa”, repleta de agruras e sofrimentos mil. Contudo, o garoto demonstrava desde logo a sua mediunidade, o que causava a ira da madrinha que o criava (Chico perdeu a mãe logo cedo). Vários são os momentos da vida, a partir daí, que vão sendo abordados e, embora de uma forma um tanto quanto episódica (pois que através de flashbacks relacionados com as falas do personagem no programa Pinga Fogo), é fato que os momentos escolhidos são felizes em mostrar o amadurecimento do biografado. Por outro lado, também é certo que o longa não teria sucesso não fossem as presenças de Ângelo Antônio (que utilizou até algodões e perfumes para ficar mais parecido com o personagem) e Nélson Xavier, intérpretes de Chico em sua juventude e velhice, respectivamente. Nélson, até pela sua semelhança física, parece mesmo, para utilizar o linguajar da doutrina espírita, ter “encarnado” Chico Xavier, tamanha a excelência de sua composição.

Por outro lado, também é verdade que Daniel Filho (que é ateu) soube conduzir muito bem o material que tinha em mãos. A edição mostra-se precisa como em poucas oportunidades se viu na sua obra cinematográfica, além de utilizar recursos muito interessantes nas transições entre os diversos momentos da narrativa. Uma outra boa ideia, que deve ter partido dele em parceria com o roteirista, foi a inserção de momentos cômicos no desenrolar da trama, momentos estes que vêm de causos contados pelo próprio Chico que, ao contrário do que muitos podem pensar, era uma pessoa extremamente bem humorada, cheia de anedotas. Tais inserções cômicas tornam-se bem-vindas, até mesmo para aliviar o clima pesado de diversas passagens.

É verdade que longa acaba sendo parcial em seu fim. O personagem mais questionador, interpretado por Tony Ramos (que está competente como sempre), acaba meio que “se convertendo” no desfecho (muito embora a trajetória do seu personagem também seja verídica). Contudo, pode-se alegar em defesa do diretor que todos têm o direito de possuir a visão que sua consciência lhe permite e externar sua posição através de uma obra artística. E, sendo sincero, a despeito da empatia ou antipatia que cada um possa ter com relação ao personagem, o filme se sustenta enquanto cinema e deixo a recomendação para que seja visto. Assim, afirmo que se você tem preconceitos com relação à temática espírita, supere-o, pois o longa-metragem é bom e a mensagem do seu personagem supera qualquer diferença religiosa, seja você seguidor de outros credos ou ateu. Da mesma forma, se você tem preconceito com a obra de Daniel Filho, supere-o, pois ele, aqui, mostrou que pode fazer cinema de qualidade, mesmo que sempre voltado para as massas.


Cotação: * * * * (quatro estrelas)
Nota: 9,0

Obs. Eu não sou espírita.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

"Hoover" terá Clint Eastwood na direção e Leonardo DiCaprio no elenco


"Hoover", a cinebiografia de John Edgar Hoover, polêmica figura política dos Estados Unidos e primeiro diretor do FBI, já tem Clint Eastwood confirmado na direção e agora o elenco está sendo escalado.

Segundo notícias que circulam na net, Leonardo DiCaprio negocia para interpretar Hoover. A informação não é oficial, mas tudo indica que será ele o novo itérprete de J. Edgar Hoover, que já foi vivido no cinema por nomes como Bob Hoskins (em "Nixon") e, mais recentemente, Billy Crudup (em "Inimigos Públicos").O projeto da Imagine Entertainment, produtora de Ron Howard e Brian Grazer, encontrou abrigo na Warner Bros. depois de incertezas na Universal.

Hoover foi diretor do então Bureau of Investigation a partir de 1924 e ajudou a fundar, em 1935, o FBI, onde permaneceu no cargo até falecer, em 1972. A autoridade da instituição foi conquistada parte pela sua intolerância com os dissidentes, parte através da formação de dossiês secretos sobre políticos. Ele é reconhecido por seu combate às guerras de gângsteres nos anos 1930 e, posteriormente, à Máfia. Também perseguiu John Lennon, quando este mudou-se para Nova York, devido ao seu ativismo político.